Não pare a Música

By AliceHAlamo

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A dança é composta por vários elementos. Você tem a coreografia, o tempo, a música, o dançarino, a técnica... More

Capítulo 1 - Sasuke
Capítulo 2 - Naruto
Capítulo 3 - Ino
Capítulo 4 - Gaara
Capítulo 5 - Quebra de rotina
Capítulo 6 - Suas lentes
Capítulo 7 - Interesses
Capítulo 8 - O que os outros pensam
Capítulo 9 - Encantado
Capítulo 10 - Ajuda "mútua"
Capítulo 11 - Punição
Capítulo 12 - Fora de Foco
Capítulo 13 - Desafio
Capítulo 14 - Intensidade
Capítulo 15 - Mudanças
Capítulo 16 - Tensão
Capítulo 17 - Entre jogos e bebidas
Capítulo 18 - Escolhas
Capítulo 19 - A queda
Capítulo 20 - Bolha
Capítulo 21 - Luz acesa
Capítulo 22 - Segredos
Capítulo 23 - Permissão
Capítulo 24 - Montanha Russa
Capítulo 26 - Amarga Vitória
Capítulo 27 - Forjada em veneno
Capítulo 28 - Aberto
Capítulo 29 - Relações
Capítulo 30 - Linda
Capítulo 31 - Cores
Capítulo 32 - Oportunidades
Capítulo 33 - Elos
Capítulo 34 - Marcas da alma
Capítulo 35 - Resgate
Capítulo 36 - Suporte
Capítulo 37 - O que tem atrás das cortinas
Capítulo 38 - Socos da vida
Capítulo 39 - A morte do Cisne
Capítulo 40 - Acerto de contas
Capítulo 41 - Vida
Epílogo

Capítulo 25 - Gravidade

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By AliceHAlamo


Gaara ainda tinha em mente cada palavra de Konan depois que Ino havia deixado a reunião. O feedback das fotos foi ótimo, tinham ajustes a fazer, mas estava aliviado e feliz pelo trabalho ter sido reconhecido. Konan tinha feito algumas considerações para Ino, pontuado os elogios que o cliente havia feito e até mesmo pedido um pequeno vídeo. O cliente estava interessado na possibilidade de divulgarem a marca com curtos vídeos dos atletas e queria uma prévia para a próxima semana.

Ino recebeu aquela notícia como quem tira um enorme peso das costas. A animação dela era tão visível que Gaara se pegou sorrindo ao observá-la discutir com Konan cada ideia que a chefe possuía. Depois, ela se levantou e avisou que iria se arrumar com a equipe de maquiagem, e Konan sorriu de forma encorajadora antes de fixar os olhos em Gaara.

Já esperava que fosse ouvir alguma coisa, não estava nem um pouco surpreso ao ver Konan ajeitar a postura e bater com a caneta na mesa. Com os braços cruzados, apenas esperou, ciente de que a conversa seria longa.

— Nós precisamos conversar, Gaara. E eu acredito que você saiba sobre o que.

— Considerando que não acredito que tenha quebrado nenhuma regra, prefiro deixar que você me diga o assunto — ele respondeu com calma, e Konan sorriu de canto discretamente.

— Eu vi as fotos, a de vocês dois.

— Fora do horário e ambiente de trabalho — ele adicionou.

— Sim, felizmente sim. Mas o que nos preocupa é como o que fazem do lado de fora pode influenciar o que acontece aqui dentro.

Ele não respondeu, e Konan olhou rapidamente através do vidro da sala antes de prosseguir.

— Você é um dos nossos melhores fotógrafos, e o resultado de Suna sai no final do ano, o estágio começará em março se for aceito. Ino é uma modelo expressiva e com uma desenvoltura maravilhosa, o nosso cliente amou as fotos dela e a ideia dos vídeos só surgiu porque ele ficou curioso sobre como seria vê-la dançar. Não metam os pés pelas mãos agora, Gaara, não desperdicem as chances que estão tendo.

— Sei disso.

— Não acho que entende bem o que estou dizendo — ela falou, com cuidado e sem soar arrogante. — Ela entrou nesse mundo agora, Gaara, ela não está acostumada a ele como você ou Hanabi. E você sabe o quanto as pessoas aqui sabem ser cruéis. Não queremos perder uma modelo por causa de fofoca.

— Eu fiz a minha parte, Konan. Nós saímos, longe daqui, para não influenciar no trabalho. Mas não podemos impedir o que os outros dizem ou deixam de dizer. Entendo, mesmo, a sua preocupação, mas, eu e a Ino mantendo ou não contato, você sabe que eles vão falar. Foi assim com Hanabi.

— Bem, já dei meu conselho. — Ela suspirou, cansada. — Pain decidiu tomar uma medida de qualquer forma. Ino recebeu um novo trabalho, vou apresentar a ela a proposta amanhã, e não será você o fotógrafo. Antes que diga qualquer coisa — ela o interrompeu. — essa decisão já havia sido tomada, mas com as fotos e as fofocas Pain só teve certeza de que não seria ideal manter você nesse projeto.

Gaara estreitou o olhar e inclinou-se para cruzar os braços sobre a mesa.

— Posso saber qual o trabalho pelo menos?

— Claro. Será uma campanha para uma marca de roupas. Cinco modelos foram selecionadas. Não é algo grande.

— Quem irá fotografar?

— Isso Pain não me disse. Mas não é algo com que você deva se preocupar. Até porque terá que fazer um outro trabalho nesse meio tempo, eu mesma que separei. Acho que te ajudará na hora da entrevista com Suna.

Gaara a olhou, surpreso.

— Entrevista? — perguntou de repente, não sabia que teria uma entrevista.

— Sim, todos os selecionados passam por uma entrevista antes do estágio. Se você for um deles, precisa de variedade no portfólio. Sei que inconscientemente já faz isso, mas vamos ter uma campanha de esportes ao ar livre, nas dunas e em outro estado. Achei uma boa ideia te mandar para lá. Outra iluminação, vento, uma dinâmica completamente diferente. Ficará um tempo fora, umas duas semanas talvez. Pense um pouco, vou te passar os detalhes em breve depois de discutir com Pain.

— Obrigado.

— Disponha. — Ela sorriu e pareceu lembrar-se de algo de repente. — Ah, e tenho outro trabalho para você, mas esse vai ser pessoal e por fora da empresa.

Gaara franziu o cenho e ouviu a cadeira de Konan deslizar pelo chão para trás. Tombou a cabeça para o lado, confuso, e arregalou os olhos gradativamente à medida que a mente processava o sorriso de Konan e a mão dela sobre a barriga.

— Isso é... — não conseguiu dizer, e Konan riu.

— Por favor, não desmaie, já pasta Pain.

— Isso é sério? — ele conseguiu formular, e Konan achou adorável a forma como ele lhe sorriu, esquecido da frustração anterior.

— Sim, é sim, e eu quero um álbum de fotos agora, depois que nascer e se prepare... eu vou ser a mãe mais coruja do mundo. Uma foto a cada espirro. — Ela riu.

— Meus parabéns... de verdade, isso é... incrível...

— Isso quer dizer que fará as fotos?

— Eu? Ah, sim! Com certeza! Eu não tenho experiência para fotografar recém nascidos, mas tenho... o que? Nove meses para aprender?

— Sete — ela corrigiu. — Sete meses ou um pouquinho menos.

— Farei o meu melhor.

— Sei que sim. — Ela sorriu. — Mas, agora, boa sorte com Ino. Quero essas fotos de hoje incríveis.

Gaara concordou com um sorriso discreto e se levantou, saindo da sala ainda em choque. Caminhou até a sala de organização, onde havia um quadro em que anotavam a distribuição das salas ocupadas para o dia e reviu para qual deveria levar Ino naquele dia. Checou a mensagem que Konohamaru havia lhe mandado e balançou a cabeça incrédulo ao vê-lo comemorar ter conseguido o usuário de Hanabi em um dos jogos em que era viciado. Aquele garoto era realmente muito animado e pouco discreto...

— Noite boa?

Gaara travou o celular ao ouvir a pergunta, olhou para a porta e reconheceu, com um grande desprazer, Sasori entrando. Aquele homem lhe dava nos nervos... Ainda mais porque eram fisicamente parecidos e comumente confundidos na agência. E ser confundido com um filho da puta como Sasori era de foder. Não sabia o que mais o irritava, se era o sorriso cretino que ele exibia sempre ao fazer uma provocação, se era os comentários que fazia sem se importar com os sentimentos alheios, ou se era tudo isso e mais as péssimas experiências que tinha tido quando trabalharam juntos em um projeto. Mas, em síntese, Sasori era alguém de que não gostava e não conseguia nem ao menos disfarçar isso mais.

— Não. Tenho insônia, demorei para dormir — respondeu, ciente do que Sasori queria insinuar com a pergunta.

— Ué, achava que sexo ajudava a lidar com insônia — ele falou e pegou a caneta para anotar seu nome no quadro para reservar uma das salas.

— Vou testar um dia — devolveu simplório e esperou Sasori sair de sua frente.

— Sim, sim, agora deve ser mais fácil até. Me diga, como é dispensar Hanabi para ficar com... sério, qual o nome da plus size mesmo?

Gaara sorriu irônico, Sasori nunca mudava, até o modo como as provocações fluíam eram sempre as mesmas. Encarou os olhos rubros e se perguntou o quão longa seria a repreensão de Pain se quebrasse algum osso de Sasori. Não era uma pessoa violenta, longe disso, havia deixado essa fase para a adolescência, mas ainda se lembrava de como era fácil quebrar o braço de alguém. Respirou fundo. Sua irmã mais velha não ficaria nada contente se a lembrasse dos velhos tempos ligando da delegacia.

— Bem, se você se esforçar para ser menos canalha, talvez um dia possa se dar ao luxo de dispensar alguém quando não estiver interessado — respondeu com um sorriso leve nos lábios enquanto via Sasori fechar a expressão. — Até lá, eu imagino como deve ser horrível não ter escolha e mendigar atenção por aí... Vou torcer por você, não desista.

Sasori riu anasalado, e Gaara fingiu não o ver cerrar os punhos ao passar por ele chocando os ombros para sair da sala. Ah, sim, o único bom de seus encontros com Sasori era poder destilar um pouco de ódio. Não que tivesse muito, mas era bom descontar o pouco que havia acumulado durante a semana.

— Gaara! Gaara! — Konohamaru apareceu de repente, afobado e com um dos maiores sorrisos que Gaara já havia visto nele. — Você viu o que eu mandei?

— Sim — respondeu enquanto andavam na direção da equipe de maquiagem. — Parabéns. Vai adicioná-la?

— Você acha que eu devo? — ele perguntou animado, e Gaara riu baixo enquanto assentia com a cabeça. — Vou fazer isso hoje mesmo! Ou melhor amanhã? Acha que ela vai jogar hoje? Quer dizer, ela tava meio triste... bem, é claro que você já sabe disso ou... deve imaginar... ah, meu Deus, eu tenho que parar de falar, não é?

— Konohamaru — Gaara o cortou quando começou a vê-lo começar a se perder nas próprias palavras. — Jogue hoje, vai ser bom para ela se distrair, sim?

Konohamaru concordou após pensar, e Gaara deu um toque em seu ombro.

— Certo. Vou jogar hoje — Konohamaru repetiu, e então olhou para Gaara em dúvida. — Melhor à tarde ou à noite? Porque eu não quero atrapalhar e pode ser que ela vá dormir cedo, não é? Ela tem aula? Eu não perguntei. Ela pode ter que acordar cedo amanhã também.

Gaara respirou fundo, prendendo a vontade de rir enquanto disfarçava ao passar a mão pelo rosto.

— Você...

— Sim — Konohamaru se virou para ele, enérgico, como se esperasse a resposta para seus problemas.

— Manda uma mensagem antes. Já aproveita e pergunta se ela tem aula e puxa uma conversa. Que tal?

Konohamaru sorriu, mas Gaara viu que o assunto não acabaria ali quando percebeu uma nova dúvida fazer o outro parar e segurá-lo pelo ombro.

— Sim! Isso! Você é demais! Obrigado! Vou fazer exatamente isso! Ou eu posso perguntar para ela depois do ensaio... acha que seria muito invasivo se eu perguntasse?

* * *

Naruto entrou nas casas dos pais com um pouco menos de brilho no olhar que o de costume. Kushina estava bem, dormindo, e o pai havia ido para o hospital passar a noite com ela. Tinha ido ali para pegar algumas roupas para a mãe, um livro, algo que a distraísse, embora soubesse que dificilmente Kushina conseguisse deixar de lado a frustração por ter de ficar internada. Ainda não sabia ao certo o que havia acontecido, o pai tinha se recusado a contar no hospital e pedira que esperasse, mas só a menção ao seu avô já o deixava... desconfiado.

E o fim de semana estava indo tão bem...

Revezou com o pai no hospital, felizmente só teria que comparecer à companhia na terça-feira, o que lhe dava tempo com a mãe. Kushina tinha aceitado fazer os exames, talvez pelo medo que o infarto tinha lhe causado, talvez por insistência sua e de Hinata, não importava ao certo o motivo. Os resultados demorariam um pouco, o que levaria a um tempinho adicional no hospital. O plano de saúde cobria parcialmente as despesas, e Naruto nunca agradeceu tanto ao fato de não ser compulsivo e ter à disposição a chance de arcar com o que faltava.

Os dias haviam sido tão corridos que só se lembrou do celular na própria terça-feira. Tinha avisado Sasuke do que tinha acontecido, para justificar caso não o respondesse (o sinal no hospital era péssimo), mas estranhou olhar o celular dias depois e perceber que o outro não havia nem ao menos visualizado sua mensagem.

A lembrança do tio dele lhe veio a mente, seria engraçado se Sasuke com aquela idade tivesse o celular confiscado como castigo. Engraçado, mas, por algum motivo, não duvidava. Sua mãe ainda tentaria fazer isso mesmo que ele tivesse quase trinta anos, então não duvidava mesmo da hipótese. Ainda assim, mandou-lhe uma mensagem desejando boa sorte, o resultado das audições seria anunciado naquele dia e estava ansioso, quase tanto quanto os próprios alunos. Havia acompanhado os ensaios de Sasuke, tinha visto sua apresentação e a de muitos outros profissionais, ele tinha uma chance real de conseguir o papel, e isso o fazia sorrir, confiante e orgulhoso mesmo que soubesse que era Sasuke, e não ele, que devia se sentir assim.

Chegou cedo na companhia, pura afobação, estacionou o carro e caminhava pelo estacionamento em direção à escola quando estancou no mesmo lugar e recuou três passos. Reconhecia o cabelo rosa no carro ao lado, sabia ser Sakura, o cabelo era inconfundível, não havia dúvidas à respeito disso, a dúvida era se devia ou não interferir enquanto ela chorava contra o volante.

Ah... bagunçou os cabelos, ele era péssimo para ignorar aquele tipo de situação, ainda mais quando conhecia a pessoa.

Parou ao lado do carro e bateu no vidro com calma, sem querer assustar Sakura. Ela secou o rosto com pressa e o olhou rapidamente antes de forçar um sorriso, como se nada tivesse acontecido, e Naruto se afastou da porta quando ela pegou a mochila e saiu do veículo. Não dava para disfarçar que ela chorava, os olhos estavam inchados, os lábios tremiam, e ela parecia que iria voltar a chorar a qualquer momento; mesmo assim, Naruto a viu fingir um sorriso calmo enquanto o cumprimentava.

— Também chegou cedo — ela comentou, e Naruto reparou na força com que ela segurava a mochila.

— Estava curioso — ele justificou. — Toma um café comigo? Tem uma cafeteria aqui perto muito boa. Podemos tomar algo lá antes do horário — sugeriu.

Se ela entrasse daquele jeito na companhia, com certeza chamaria atenção, e a ideia de chorar dentro do próprio carro provavelmente era para evitar aquilo, e um café quente sempre ajudava a acalmar os ânimos ou espantar um pouco da tristeza.

Sakura não pareceu hesitar, aceitou quase como se agradecesse por aquilo, e Naruto sorriu enquanto caminhavam. Os resultados ainda não teriam saído, e Sakura não tinha entrado para conferir, então o choro não era pelos papéis. Ou era? Afinal, ela era afilhada de Tsunade, podia estar sabendo de alguma coisa. Não tinha como saber, o melhor seria deixá-la falar se assim o quisesse.

Entraram na cafeteria, e Sakura lamentou ver alguns alunos ali. Não eram os únicos ansiosos afinal. Naruto pareceu notar também, havia bloqueado a visão dela e apontando para uma das mesas mais ao canto, ainda que não existisse a possibilidade de passarem despercebidos se qualquer um quisesse mesmo achá-los.

Sentou-se enquanto reparava em Naruto. Ele não combinava muito com a companhia, não possuía a seriedade que o antigo pianista e parecia alegre e bom demais para aquele ambiente tóxico, quase como um pontinho luminoso em meio a tanto cinza. E tinha sido justamente por isso que ela gostara tanto quando ele havia se aproximado de Sasuke.

Sasuke merecia alguém assim, alguém que brilhasse tanto que fosse capaz de ofuscar seus medos e todos os demais ao seu redor. Ainda mais porque ela o entendia, ela sabia, de tudo, conseguia compreender como ele se sentia e o silêncio que mantinha. E Naruto estava limpo, ele não fazia parte da sujeira da companhia, e por isso ela também não via mal algum em baixar as defesas com ele. Naruto passava confiança, segurança, e isso era tão raro...

— Estava chorando pelos resultados? — Naruto perguntou, direto, e ela gostava de como ele sempre soava sincero, sem muita enrolação.

— Não exatamente, mas não posso falar disso — ela explicou com um sorriso triste. — Desculpe, eu sei que me chamou para cá para ajudar e que, no mínimo, eu deveria te contar algo para não ficar preocupado, mas... não posso mesmo falar sobre isso.

— Você não me deve nada — Naruto se apressou a dizer. — Eu sei o quanto o ballet é pesado, acredite. A rotina de vocês é insana, eu não aguentaria.

— É o preço que se paga...

— Não deveria. A escola é renomada, já deveria ter mudado a grade de vocês. Eu não me conformo ainda que duas alunas se mataram e tudo o que foi feito foram notas de pesar. No dia seguinte, eu soube que a rotina foi a mesma de sempre, as aulas nem ao menos foram suspensas. — Naruto respirou fundo e percebeu como Sakura encarava as próprias mãos sobre a mesa. — Ah, desculpe, você as conhecia?

Sakura ergueu a cabeça com os olhos um pouco arregalados antes de negar com a cabeça e dar de ombros.

— De vista, não éramos da mesma turma.

— Sinto muito, de verdade.

— Eu também...

— Imagino que para você deva ter sido pior, não? Tsunade deve ter ficado de cabelo em pé quando aconteceu.

Sakura engoliu em seco, os olhos verdes focados de novo nas mãos enquanto as lembranças a invadiam.

— Ela... — a voz saiu baixa, obrigando-a a limpar a garganta antes de continuar. — ficou. Precisou cuidar de tudo em pouco tempo e com as reclamações, acusações, queixas, ela parecia que iria explodir a qualquer momento. Era tanta coisa... e piorou depois.

— Piorou? — Naruto perguntou curioso, e Sakura pareceu despertar. Ela piscou e colocou o cabelo atrás da orelha enquanto olhava para o balcão da cafeteria como se buscasse algo.

— Foi uma época difícil — ela respondeu enfim, e se sentiu aliviada quando um dos atendentes se aproximou para anotar os pedidos. — O que achou das audições? — ela mudou de assunto quando o atendente voltou a se afastar.

Naruto cruzou os braços sobre a mesa e brincou com o guardanapo.

— Não sei dizer. Para mim, foi ótimo, não tenho dúvida de que consegui acabar com qualquer intriga que Orochimaru tenha criado a meu respeito. Mas não sei como as audições funcionam para vocês, bailarinos. É claro que deu para ver que tem gente muito boa, que alguns ainda precisam melhorar uma coisa ou outra, mas escolher só um... teve gente que foi tão bem que eu não saberia como desempatar.

— O desempate é fácil — Sakura respondeu dando de ombros, sem olhá-lo.

— Fácil?

— Sim. Primeiro, por gosto pessoal dos avaliadores. Os papéis carregam um peso, os bailarinos levam o nome da companhia. Entre um cão comportado e um que late demais e ameaça morder sua mão, é fácil saber que o cão obediente será sempre escolhido.

— Está se comparando a cães, Sakura — Naruto disse assombrado.

— Eu? Não... eu to dizendo o que eles fazem — ela corrigiu. — Depois disso, se ainda tem empate, vão por experiência. Os profissionais sempre vão ter preferência sobre alunos em graduação. E, depois, o voto de minerva de Tsunade.

— Isso não parece justo.

— Eu disse que era fácil, não que era justo — Sakura devolveu com simplicidade. — Acho que você já viu coisas demais nas aulas para saber que justiça não é um dos pilares da companhia, não é? Alguns alunos já desistem antes mesmo de tentar, inscrevem-se em papéis menores para que tenham alguma chance. Todo mundo sabe que, dentre os profissionais, há preferidos que só não conseguirão se não participarem das audições, caírem ou se tiverem algum rabo preso com Tsunade.

— Então, hipoteticamente — Naruto estreitou o olhar. — se Sasuke conseguir se destacar a ponto de ser escolhido, mas sendo o que Tsunade chamou de "aluno problemático", ela pode simplesmente escolher um outro e não ser contestada por isso?

— Viu? Agora você entendeu como as coisas funcionam por aqui. Para o Sasuke conseguir o papel principal, ele precisaria ter sido muito melhor que os profissionais. O que já é difícil por, bem, eles serem profissionais, e o Sasuke não. Mas só sendo muito melhor mesmo, porque os avaliadores são pessoas conhecidas e importantes, eles vão escolher a melhor pessoa nas audições. Se Tsunade escolher alguém muito abaixo, é o nome dela que fica manchado, as escolhas dela que serão questionadas, e ela não vai mais ser tida como alguém com uma avaliação confiável.

Naruto balançou a cabeça, indignado, enquanto Sakura agradecia ao atendente.

— O que Sasuke fez para Tsunade? — perguntou enfim. — Eu sei que ele responde Orochimaru nas aulas, mas nada que justifique o modo como Tsunade se refere a ele. Aconteceu alguma coisa?

Sakura mexeu com a colher o chocolate quente e tomou um gole antes de responder:

— Vai ter que perguntar a ele, Naruto, mas Orochimaru é um amigo muito antigo de Tsunade, então... bem, dependendo do que ele contou a ela, Sasuke pode ser a reencarnação do próprio demônio. Orochimaru gosta de exagerar quando conta os fatos e de manipular as pessoas. Olhe o que ele fez com você por exemplo... — Ela riu sem humor. — Ele não presta, mas Tsunade... acho que ela não quer ver, não sei mais.

— Ela não ouve nem mesmo você?

— Eu? — Sakura o encarou em dúvida.

— Você nunca tentou contar a ela o que acontece nas aulas?

Sakura engoliu em seco e sorriu triste.

— Claro que já. Ela disse que era o método de ensino de Orochimaru, que não havia nada demais porque o mundo era pior e que devíamos nos acostumar a isso. Não adianta, Naruto, quando a pessoa não quer ver, ela fura os próprios olhos para se tornar cega.

Naruto não respondeu depois disso, mudou de assunto porque sabia que não conseguiria se manter quieto ou imóvel enquanto ouvia aquilo. Estava irritado, e se surpreendeu por estar assim apenas com a possibilidade de Tsunade ter prejudicado Sasuke em prol de Orochimaru. Quando os resultados saíssem, dependendo dos nomes... não, não podia prometer nada, precisava do emprego, ainda mais sabendo que a mãe faria uma cirurgia (sim, porque ele a convenceria com toda certeza).

Voltaram à escola no horário, e Naruto se despediu de Sakura logo na entrada, aliviado pelo rosto dela já não possuir vestígios do choro. Subiu as escadas para o vestiário onde imaginava que pudesse encontrar Sasuke e avistou dentre os alunos Sasuke e Neji sentados em um dos bancos ao canto, mas se deteve quando Neji pareceu sinalizar que não se aproximasse.

Observou Sasuke à distância por um momento, Neji era o único que falava, em tom baixo e calmo. Sasuke mantinha os olhos fechados, mas era claro que ele ouvia atentamente ao outro. Reparou na cacharrel escura que Sasuke vestia e perguntou-se se aquilo era pelas marcas ou pelo tempo gelado. Reparara que Sasuke era um tanto quanto... contraditório. Ele gostava quando o apertava, mordia e chupava deixando um rastro de marcas pela pele clara, contudo, depois de um tempo, era como se ele não soubesse como reagir a elas, indeciso entre escondê-las ou ignorá-las. No carro, enquanto voltavam da feira gastronômica, notara como ele tinha puxado a gola da camisa e como deixava as mãos perto do pescoço...

Desceu as escadas para a sala de aula, o dia seria longo. Primeiro, tocaria para a sala de Sasuke, depois para o segundo ou terceiro ano, ainda não estava certo e deveria esperar pelos respectivos professores. Os corredores estavam lotados, todos a espera dos resultados, e Naruto teve dificuldade para entrar na sala.

Orochimaru já estava ali, pensativo, conferindo alguma coisa nos papéis que segurava antes de notá-lo ali. Percebeu o desagrado, a forma como ele havia estreitado os olhos em sua direção antes de guardar os papéis e lhe dirigir um sorriso falso ao se aproximar.

— Boa tarde, Naruto.

— Boa tarde — respondeu de pé, próximo ao piano. — Deseja algo diferente para a aula de hoje?

— Não. Pode seguir com o que programou para hoje.

Naruto estranhou e, transparente como era, viu que Orochimaru percebera.

— Algum problema? — Orochimaru cruzou os braços, estranhamente animado.

— Nenhum.

— Ótimo. Irei fixar no quadro de avisos os resultados das audições. Prepare-se para o clima de enterro da sala.

Naruto não respondeu, preferiu apenas fingir que estava concentrado em abrir as teclas do piano para que não tivesse que dizer algo sobre a felicidade com que o outro falava aquilo. Sentiu o coração acelerado pelo nervosismo enquanto organizava as músicas sobre o piano... Não saberia o que dizer a Sasuke caso ele não conseguisse o papel e, com a mãe internada, não se via com tempo ou cabeça para consolar outra pessoa, não poderia ficar com Sasuke ou levá-lo para sua casa já que iria direto para o hospital passar a noite com a mãe. Uma coisa era conversar por dez ou vinte minutos com alguém para que se sentisse melhor, outra bem diferente era permanecer disponível para ela, e, com Sasuke, o que desejava poder fazer era a segunda opção, afinal, ele era importante para si. Riu com nervosismo, estava com medo de errar, com medo de não ser suficiente para o outro num momento importante e... ah... como odiava perder a segurança apenas porque estava apaixonado!!

E Sasuke era... pelos céus, como não se apaixonar por ele? Hinata tinha razão, como sempre, era difícil que se interessasse pelas pessoas, mas, quando fazia, era tão certo que entraria de cabeça naquilo que ele sabia desde o começo que as coisas chegariam naquele nível. Não! Mentira! Ele não tinha imaginado algo tão intenso e profundo, não pensara que Sasuke fosse conquistá-lo mais do que qualquer outro havia feito, que iria gostar tanto da presença dele a ponto de querer levá-lo a todo e qualquer lugar só para que os olhos escuros brilhassem com tanta emoção quanto no teatro.

Era a competitividade, a teimosia, a persistência, o gênio difícil, a ironia, o gosto pela música, a dança, o sorriso que conseguia arrancar dele, os olhares carinhosos que ele escondia, os toques urgentes e inexperientes! Sasuke era interessante por completo, em suas qualidades e defeitos, e Naruto estava apaixonado, tão apaixonado por cada detalhe, pelo conjunto todo, que tudo o que queria fazer era beijá-lo e falar isso com todas as letras. Mas não podia... Sasuke lhe parecia o tipo de pessoa que fugiria se ouvisse uma declaração do tipo, e não podia deixá-lo ir tão fácil, não queria perdê-lo...

Ainda assim, sorria de forma boba ao recordar dos muxoxos sonolentos que o outro soltava quando acordava em sua cama, Sasuke lembrava muito um felino quando esfregava o rosto em sua pele, escondendo-se da luz. A pele tinha um aroma fresco, os vestígios do sabonete usado ainda presente, e Naruto amava poder perder alguns segundos da manhã correndo a ponta do nariz por ela e assistindo os pelos da região se eriçarem lentamente. Gostava do silêncio de Sasuke pela manhã, da música clássica que ele colocava para tocar enquanto treinava, apreciava o ritmo lento e gradual como aquela parte do dia se desenrolava. Tinha que confessar, porém, que sua vontade era de abraçar Sasuke, levá-lo de volta à cama e convencê-lo a adormecer novamente em seus braços, estava ficando mal acostumado com o quanto relaxava ao ter Sasuke consigo na cama, e isso com Sasuke tendo dormido poucas vezes lá...

Era inevitável se apaixonar....e, quando cogitava que talvez fosse melhor ir devagar ou retroceder, o coração acelerava, agitado, fazia questão de trazer de volta o calor que lhe invadia o peito quando Sasuke sorria de leve, quando se permitia pequenos gestos de afeto como entrelaçar os dedos aos seus no carro, abraçá-lo possessivamente enquanto dormiam, quando os olhos dele pareciam brilhar encantados de alguma forma e sem ser pelo teatro, pela dança ou pela música, mas sim por ele!

Engoliu em seco, receoso ao dar-se conta de que... não se via mais sem Sasuke. Acordava com uma mensagem dele, preocupava-se se ele estava se alimentando, ouvia-o falar da faculdade (o pouco que conseguia que Sasuke dissesse), amava vê-lo dançar, e os olhares de desafio que recebia enquanto tocava para que Sasuke ensaiasse eram como adrenalina, como se aquilo fosse o gatilho para que se esquecessem do mundo e criassem sua própria gravidade, uma que tinha apenas a função de aproximá-los, de deixá-los cada vez mais próximos e conectados.

Gostava de como isso soava, poético e romântico, e isso só o fez rir sozinho ao lembrar que Sasuke deveria achar tal comparação piegas demais.

Ah, merda... estava tão fodidamente apaixonado... e amava essa sensação, recebia-a com deleite e ria de nervoso de ansiedade enquanto a mente viajava entre lembranças e planos, entre as reações que já havia conseguido tirar do outro e todas aquelas que ainda desejava ver, todas as coisas que queria apresentar e compartilhar com Sasuke.

Suspirou, rendido, não adiantava lutar contra aquilo afinal e nem mesmo queria essa briga. Recebia aquele sentimento de braços abertos e apenas desejava ser o suficiente para conseguir afastar qualquer medo ou hesitação de Sasuke para que ele pudesse fazer o mesmo.

Ouviu a correria, as vozes anunciando que os resultados haviam saído, e viu Orochimaru voltar à sala com um sorriso suspeito no rosto. Esperou um momento, impaciente, até que alguns alunos entrassem na sala e outros começassem a descer as escadas. A sala estava quieta, demais, um clima diferente do usual e do que Naruto estava esperando. Era quase como se os alunos estivessem mais com raiva do que tristes ou decepcionados...

Saiu da sala com a garrafa de água vazia, desviou dos alunos tentando entender por que alguns o olhavam e franziu ainda mais o cenho quando Neji passou por si, com pressa, de casaco, jeans, mochila nas costas e fones de ouvido no volume máximo. Sasuke vinha ao fundo, decidiu por esperá-lo e não conseguiu ler a expressão séria no rosto dele nem a confusão de Sakura ao seu lado.

Respirou fundo, ansioso à medida que Sasuke se aproximava.

— E então? — perguntou, acompanhando-o de volta à sala e alternando o olhar entre Sasuke e Sakura. — Boas notícias?

— Não — Sakura respondeu de imediato, os demais alunos passando por eles para se dirigirem cada um a suas respectivas salas.

— Não conseguiram? — Naruto engoliu em seco, e então Sasuke parou, nitidamente irritado enquanto passava as mãos pelo cabelo e encarava Sakura de forma indignada.

— Não é isso — Sakura sussurrou.

— Então qual é o problema? — Naruto perguntou, assustado.

— O problema é justo esse! — Sasuke estourou, os olhos brilhando de raiva de uma forma que Naruto ainda não havia visto. — O problema é justo esse... — ele repetiu e então olhou para a sala, de onde Orochimaru parecia contente em assistir a discussão. — Nós conseguimos.



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