Era o terceiro ano de Shoto na UA. Estudante de medicina por obrigação por dois anos, conseguiu, depois de um estafante acordo com o pai, finalmente se matricular no bendito curso de direito, o qual sonhava desde os dez anos de idade.
Sua presença não era algo que poderia passar despercebido, afinal ele era um dos raros alfas lúpus da instituição e a fama que esse título biológico trazia consigo era algo incontrolável.
Detestava ser o centro das atenções, ainda mais por um fator genético, mas não podia negar que isso trazia consigo uma certa vantagem. Ômegas praticamente se atiravam em seus pés, e outros alfas pensavam duas vezes antes de disputar território com um outro mais alto e forte. Era o orgulho de seu pai, o único lúpus de sua descendência. Herdeiro privilegiado, ainda que fosse o irmão caçula de quatro.
Desceu do carro ajeitando a postura e se dirigindo ao auditório onde os calouros se reuniam para serem apresentados ao corpo docente.
Mal deu dois passos e foi cercado por ômegas que, tendo-o como alvo, exalavam seus feromônios sem nenhum pudor, apressando-se em cercá-lo com risinhos e gritinhos histéricos. Outros alfas o repeliam com sua presença, enciumados com aquela atenção exagerada.
Sorte ser um lúpus e ter um auto controle efetivo, caso contrário já teria avançado em alguns daqueles ômegas. Mesmo tendo plena ciência de que sua presença instigava-os, Shoto os repreendia por estarem brincando com algo muito sério ao liberar tantos feromônios de uma só vez, era perigoso e arriscado.
- Parem com isso, já! - usou a voz de comando, rouca, quase um rosnado, e como resposta eles se afastaram momentaneamente, submissos. Era impossível um ômega resistir ao comando de um alfa.
Não demorou para que os outros alfas se reunissem em alguns grupos na tentativa de suprimir sua presença. Uma atitude desnecessária e inútil.
No auditório reencontrou alguns antigos amigos do curso de medicina e passou um tempo conversando com eles, distraindo-se. Seu olfato aguçado estava impregnado com o aroma de centenas de essências, mas nenhuma em especial lhe incomodava ou instigava.
Até a chegada daquele aroma que lhe perturbou, desestabilizando-o.
Seus instintos gritaram, guiando seus olhos para o ponto exato de onde o aroma era exalado. Prendeu o ar por um momento, arrebatado pela presença que emanava naturalmente do ômega de cabelos verdes, e assim que ele virou-se, caminhando meio acanhado por estar sendo o centro das atenções de muitos alfas, betas e ômegas, o coração de Shoto quase parou no peito.
Tão perfeito.
Antes que se desse conta estava caminhando até ele, de olhos fixos e lábios entreabertos, totalmente surpreso. O ômega sorria timidamente enquanto conversava com uma alfa de cabelos castanhos curtos.
Cada gesto tão delicado... a essência enlouquecedora que mesclava o aroma de morango e baunilha. Em toda a sua vida Todoroki nunca havia experimentado um cheiro tão agradável e ridiculamente atraente. Era quase um convite obsceno.
Chegou próximo, ainda encantado demais pela presença daquele ômega tão singular para pronunciar qualquer coisa.
Pela primeira vez, o sempre centrado Shoto estava sem reação, perdido enquanto se enebriava com o aroma exalado pelo ômega.
Seus instintos aguçados, sempre atentos ao ambiente que o cercava, acusavam perigo ao perceber a manifestação de outros alfas perante seu encantamento com o ômegamais cobiçado que já pisara ali, no entanto ele os ignorou completamente.
- Algum problema, cara? -A pergunta rude o tirou do transe, feita em um tom de desagrado e prepotência que o fez comprimir os olhos para avaliar o dono.
O alfa loiro que acompanhava o ômega tinha o semblante fechado, e não demorou muito para liberar sua presença na intenção de afugentar Shoto. Na verdade ele já estava há algum tempo fazendo isso, afastando os demais alfas com sua essência, porém abrangeu a área quando reconheceu em Shoto uma ameaça iminente.
Era realmente forte, bem mais do que a média, e continuava a se espalhar, mas não mais que um lúpus. O loiro mesmo assim não se intimidou ou recuou, mesmo quando Todoroki instintivamente liberou um pouco da própria essência, fazendo frente ao desafio, instigado por aquele convite silencioso a luta de dominação.
O ômega, que estava de costas até então, se virou incomodado.
- O que houve, Bakugou? Por que está liberando a sua essência assim, sabe que é perigoso e...
Calou-se assim que seus olhos encontraram os de Shoto, pasmo com a presença que o alfa liberava. O aroma de madeira e hortelã, bem como o porte e postura de Shoto excitavam-no de uma forma diferente do que já havia experenciado até então.
Ambos estavam irremediavelmente presos no olhar um do outro, só quebrando o contato quando Izuku, em resposta aos feromônios do alfa, prendeu os lábios inferiores com os dentes, mordendo-os. Aquela presença dominadora estava começando a afetá-lo demais, não seria capaz de responder por si mesmo se ele não parasse. Ia pular em seu pescoço e exigir que o alfa o fizesse dele naquele espaço lotado se ele continuasse liberando sua essência.
- Oi...Oi! - a alfa chamou insistente, rindo da cara abobalhada de ambos - Gente, sei que estão animados, todos estamos afinal, mas vamos nos controlar ou daqui a pouco vai ter mais ômega no cio do que vocês podem dar conta - brincou.
A alegação acordou Todoroki que imediatamente recolheu sua presença. De fato, alguns ômegas já começavam a se contorcer e arfar, liberando os próprios hormônios em resposta a sua liberação de presença.
Bakugou por outro lado não se importou, e continuou a exalar sua presença cada vez mais forte. Como alfa era natural que disputasse território com outros alfas, ainda que não desejasse Izuku como um ômega para si, mesmo que seus feromônios o atraíssem sexualmente, não o queria como parceiro. Na verdade não queria ninguém. Mas sendo alfa seu instinto natural ordenava que mantivesse o ômega ao seu lado seguro.
- Me desculpem pelo descontrole momentâneo. Me chamo Todoroki Shoto, do curso de direito - apresentou-se enfim, apertando a mão de Uraraka e por fim de Izuku. O toque dele lhe causou deliciosos calafrios.
O ômega sorriu, e nunca um sorriso pareceu tão bonito a Shoto.
- Midoriya Izuku, também vou cursar direito - Shoto captava cada movimento dos lábios dele, desejando capturá-los - Prazer conhecê-lo, senhor Todoroki. Esse aqui é Katsuki Bakugou.
O outro alfa estalou a língua em desagrado, olhando com desdém para Shoto. Aparentava ter uma personalidade muito difícil e explosiva, diferente de Izuku e isso desagradou o lúpus que reconheceu nele um rival em potencial.
- Ochako Uraraka, curso de jornalismo. A propósito, você por acaso não seria o filho do Endeavor? O tal Alfa Lúpus Rubro?
- Sim, sou eu. - conteve a vontade de revirar os olhos ante a menção da alcunha do pai.
Uraraka quase explodiu de felicidade, abrindo um sorriso tão radiante que parecia quase infantil. Faltava pular de felicidade.
- Ah que legal! Você se importaria de me ajudar em algum trabalho futuro? - perguntou com as mãos juntas.
- Ochako, você acabou de conhecê-lo, não o encha de perguntas! -Izuku se adiantou - Desculpe, ela sempre foi assim, muito animada e faladeira, desde pequena.
- Assim você me ofende, Izuku! - inflou as bochechas em protesto.
Tão bonitinha e meiga que Shoto poderia confundi-la com uma ômega não fossem os feromônios que ela exalava, aliada a sua intuição que lhe dizia para ser cauteloso com ela.
- Não tem problema, eu não me importo - respondeu com um sorriso. Seus olhos ainda estavam postos em Midoriya que corava com a atenção - Eu poderia guiá-los pela Universidade, apesar de ser o meu primeiro ano de direito é o meu terceiro ano aqui.
- Ninguém pediu a porra da tua ajuda. - o loiro rezingou.
- Não se importe com o Bakugou, Shoto, ele é ignorante e mal educado assim mesmo. Não tem nada a ver com você.
- Diga por si mesmo, Deku.- resmungou.
Uraraka ria divertida da cara azeda do Katsuki, mas para Todoroki aquele alfa, além de rude era um risco pois estava constantemente lutando por território. Talvez fosse bom se manter longe dele.
- Adoraríamos que fosse o nosso guia. - Izuku riu segurando momentaneamente a mão de Shoto que novamente sentiu faíscas subirem por seu corpo.
Bakugou resmungou segurando Midoroiya pela cintura, separando-os, em um ato que irritou a personalidade alfa do lúpus, que se controlou ao máximo para não arrancar a mão dele dali.
- Vamos, já vai começar. - ordenou praticamente arrastando o esverdeado que acenava enquanto discutia algo com o loiro.