Não pare a Música

By AliceHAlamo

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A dança é composta por vários elementos. Você tem a coreografia, o tempo, a música, o dançarino, a técnica... More

Capítulo 1 - Sasuke
Capítulo 2 - Naruto
Capítulo 3 - Ino
Capítulo 4 - Gaara
Capítulo 5 - Quebra de rotina
Capítulo 6 - Suas lentes
Capítulo 7 - Interesses
Capítulo 8 - O que os outros pensam
Capítulo 9 - Encantado
Capítulo 10 - Ajuda "mútua"
Capítulo 11 - Punição
Capítulo 12 - Fora de Foco
Capítulo 13 - Desafio
Capítulo 14 - Intensidade
Capítulo 15 - Mudanças
Capítulo 16 - Tensão
Capítulo 17 - Entre jogos e bebidas
Capítulo 18 - Escolhas
Capítulo 19 - A queda
Capítulo 20 - Bolha
Capítulo 21 - Luz acesa
Capítulo 23 - Permissão
Capítulo 24 - Montanha Russa
Capítulo 25 - Gravidade
Capítulo 26 - Amarga Vitória
Capítulo 27 - Forjada em veneno
Capítulo 28 - Aberto
Capítulo 29 - Relações
Capítulo 30 - Linda
Capítulo 31 - Cores
Capítulo 32 - Oportunidades
Capítulo 33 - Elos
Capítulo 34 - Marcas da alma
Capítulo 35 - Resgate
Capítulo 36 - Suporte
Capítulo 37 - O que tem atrás das cortinas
Capítulo 38 - Socos da vida
Capítulo 39 - A morte do Cisne
Capítulo 40 - Acerto de contas
Capítulo 41 - Vida
Epílogo

Capítulo 22 - Segredos

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By AliceHAlamo

Capítulo não revisado, me perdoem qualquer erro ^^"


Ino não havia ligado nem para ele nem para Neji, e Sasuke tentava se convencer que isso não era um mau sinal. A audição dela havia sido no dia anterior, e agora ele e Sakura estavam no metrô, a caminho da deles. Um silêncio confortável se estabelecia, tinham saído cedo de casa e estavam sentados, cada um com seu fone de ouvido e seu modo de se acalmar. Sakura lia, o livro aberto já estava no final, mas Sasuke não duvidava que ela fosse tirar um segundo da bolsa quando o terminasse. Já ele mantinha apenas os olhos fechados, a playlist que Naruto havia adicionado ao seu celular tocava, e ele precisava reconhecer que o pianista tinha mesmo um bom gosto.

Sentiu o celular vibrar e espiou rapidamente quem era. Leu a mensagem de Madara e sorriu discreto antes de guardar o aparelho. O tio iria buscá-lo, como sempre nas audições, e ele podia apostar que Mito havia já convencido Madara e Hashirama a irem todos jantar fora. Lembrava-se sim de que Sakura queria conversar consigo, mas devia isso aos tios, fazia um tempo já que se esquivava dos jantares em família por saber que a pressão da audição o faria falar ou fazer algo de que se arrependeria depois.

— Chegamos. — Sakura tocou o braço de Sasuke o fez olhar para o painel das estações sobre as portas do vagão.

O sentimento de competitividade os atingiu assim que deixaram a estação de metrô e ganharam a rua. Sasuke reconheceu algumas das bailarinas que caminhavam perto deles para o teatro, sentia a mão gelada de Sakura na sua e respirou fundo, assim como ela, quando entraram no teatro. Cada um precisaria ir para seu camarim, e Sasuke estreitou o olhar quando Sakura olhou para trás indecisa.

— Você não está disputando os papéis principais — Sasuke a lembro. — Não precisa ficar tão nervosa.

— Eu sei... — Ela respirou fundo para se acalmar e então ficou de frente a Sasuke. — Boa merda, Sasuke!

Ele assentiu e retribuiu de leve o abraço dela, demorando-se um pouco de propósito para poder falar sem que os demais curiosos por perto ouvissem.

— Coloque o fone, leia o livro e não ouça nenhum desses idiotas. Mande mensagem se preferir para se distrair, mas não fique ouvindo essas idiotas.

— Eu sei — ela respondeu. — Obrigada.

— Madara vai vir me buscar depois, jantar em família ou algo assim. Vai ser bom para você se distrair, faz tempo que eles não te veem.

Sakura respirou fundo, e Sasuke sentiu o abraço ficar mais forte e Sakura apenas concordar com a cabeça antes de se afastar e lhe sorrir forçadamente. Ele odiava quando ela achava que podia enganá-lo com aquilo.

— Boa merda — ela desejou de novo.

— Merda — ele respondeu e esperou até que ela sumisse pelo corredor até os camarins.

Diferente de Neji, Sasuke não conseguia ficar calmo enquanto esperava. Era um dos últimos, e isso deixava agoniado. Deixou o celular no vibratório, contudo, silenciou todos os contatos exceto o de Sakura. Leu as mensagens dos amigos e parou no chat de Naruto. O pianista seria avaliado aquele dia também, o último dia, e começaria a tocar em breve, daria para ouvir dos camarins caso não usasse os fones. Teriam uma folga no dia seguinte, e Sasuke havia aceitado passá-la com ele após a faculdade, contudo, a conversa tida na manhã após a noite da boate tinha sido a última. Não conseguia responder as mensagens, não ainda, sentia o rosto quente toda vez que abria o chat, e isso lhe cobrava que pensasse sobre o que tinha acontecido, uma coisa que definitivamente ele não queria fazer. Respirou fundo e leu mais uma vez o "Boa merda" que Naruto tinha enviado naquele momento. Digitou apressado uma resposta e fechou o celular. Não podia pensar em Naruto naquele momento, com toda certeza não.

Teria no mínimo seis horas de espera. Precisava se manter ocupado nesse tempo, depois teria que se aquecer, não podia se dar ao luxo de errar as coreografias logo no dia da audição porque o corpo não estava devidamente preparado. Neji tinha ido bem pelo que comentara, saber que o amigo não competia por Giselle era um alívio, entretanto, não podia baixar a guarda, Neji não era o único com quem tinha que se preocupar.

Invejava quem conseguia dormir um pouco; como não conseguia, aproveitava para estudar para a prova que teria da faculdade. O resumo de Shikamaru era sempre muito bom, e era bom que o amigo permitia que ele fizesse anotações no documento original para complementar trechos ou contestar alguns outros. Em certo momento, o estudo já não rendia, o coração ansioso passava a bater mais alto, calando o cérebro e o impedindo de continuar o estudo. Esperaria faltar duas horas para trocar de roupa e começar a se aquecer, assistiria os vídeos da coreografia enquanto isso, fingindo não ouvir o cochichar dos demais bailarinos, dos olhares sobre si.

O piano ao longe podia ser escutado, e Sasuke imaginou como Naruto deveria estar se saindo. Queria vê-lo tocar, não havia tido a oportunidade de vê-lo sentado diante do piano fora da escola. Na casa de Naruto, havia um piano antigo, no canto da sala, onde a luz era maior. Chegara a admirar o instrumento e quase se imaginou dançando ali mesmo enquanto Naruto tocava alguma coisa. Talvez pudesse pedir Danse Macabre, Naruto deveria conhecer.

De repente, o som parou de forma abrupta, e todos no camarim olharam para a porta.

— Um a menos — alguém comentou com maldade.

Quando a música parava daquela forma, só podia significar duas coisas: ou alguém tinha caído ou os avaliadores haviam interrompido a audição, e em ambos os casos a pessoa estava desclassificada.

— Soube que desclassificaram metade dos que foram fazer o teste, mesmo dentre os profissionais — sussurraram.

— Também soube. Mas é isso que acontece toda vez que Tsunade está na banca. Aquela mulher foi uma bailarina incrível e se preocupa demais com a imagem da escola, ela não vai perder tempo avaliando quem não vale a pena.

— Uma das professoras na banca disse que eles já meio que sabem quem serão os solistas.

— Por isso que não coloquei meu nome para os papéis principais, a gente sempre sabe que não vamos mesmo ser avaliados pelo que apresentamos aqui. Mais fácil garantir um papel bom e sem tanto destaque do que ficar pra corpo de baile depois.

Sasuke voltou aos fones e ergueu o volume da música sem se importar se o som estaria vazando a ponto dos mais próximos ouvirem também. Não tinha paciência para aquela conversa, já sabia de tudo aquilo. As audições não eram justas, a escola inteira sabia, sabia e aceitava. Em vez de contestar, sentavam-se ali e discutiam sobre como tiveram que escolher papéis menores porque não queria se arriscar contra os favoritos da vez. Tsunade tinha uma forte tendência de só escolher profissionais para personagens grandes, um outro professor odiava quando alunos não formados erravam nas audições, dizia ele que "se era para fazê-los perder tempo avaliando um aluno, então que pelo menos a audição fosse bem feita", poucos eram os que realmente davam uma chance a eles. Só que, se havia uma coisa que Madara havia lhe ensinado mais do que bem, era a não desperdiçar suas chances. Se existia a possibilidade, por menor que fosse, de conseguir aquele papel, a agarraria e só soltaria se fosse obrigado a isso e depois de muita luta. Não havia ensaiado tanto por nada. Sua técnica era boa, sua linguagem corporal também, tinha mais chance que os demais ali com ele, isso ele sabia, seus adversários eram somente os profissionais, com eles que deveria se preocupar e só com eles.

Respirou fundo quando percebeu que já era hora de se aquecer. Tomou cuidado com o joelho e reforçou a bandagem em volta dele. Colocou a música que dançaria para ouvir e vestiu-se. A sala de espera estava quase vazia, tinha mais espaço para se preparar com os outros.

Quando seu nome foi anunciado, ele fechou os olhos e controlou a respiração em dez tempos, inspirando durante três segundos, segurando por mais três e expirando em quatro como Mito o havia ensinado para se acalmar. Parou ao centro do palco e percebeu a expressão de desagrado de Tsunade assim que ela ergueu a cabeça e o viu à frente. Da expressão descontraída dela, não restou nada, o olhar severo o avaliou com rapidez enquanto ela batia a caneta contra o papel.

— Sasuke Uchiha, vinte e três anos, aluno do oitavo ano — falou alto e agradeceu por não ver Orochimaru nem entre os professores nem na plateia.

— Sasuke Uchiha — Tsunade repetiu olhando as duas fichas que tinha em mãos. — Irá tentar Les Sylphides e Giselle, correto?

— Sim.

— Está bem. — Ela suspirou resignada. — Comece por Giselle.

Sasuke respirou fundo. Tinha focado na coreografia de Giselle, mas ele seria louco de não arriscar Les Sylphides mesmo sabendo que as chances eram pequenas. Posicionou-se no palco de acordo com a coreografia, e seus olhos correram pelo chão até encontrarem o piano. Naruto o observava, firme, confiante. A postura do pianista era impecável, e Sasuke notou o sorriso de encorajamento dele se abrir quando sorriu de volta. Seria ele dançando Giselle e Naruto tocando, assim como em todos os ensaios, só os dois, não havia com que se preocupar. "Ouça e sinta a música", lembrava-se de Naruto dizendo, "Não conte o tempo, sinta-o".

Respirou fundo, ergueu o rosto e, ao som da primeira nota, deixou que a música de Naruto o conduzisse pelo palco como se sua arte se entregasse a dele, como se a melodia movesse as linhas presas a seus membros tal qual em um fantoche. E o segredo talvez fosse esse, a entrega, esquecer-se completamente da plateia e dos avaliadores, deixar apenas a música se personificar no parceiro perfeito a conduzi-lo pelo palco.

Não contou o tempo, seu coração parecia tão habituado à melodia que ele poderia jurar senti-lo bater de acordo com as pausas, clímax e anticlímax. Não olhou para Naruto, por mais que a curiosidade o fizesse desejar isso, concentrou-se nas expressões, no que havia visto e aperfeiçoado. Esqueceu-se do joelho, não podia pensar nele. Dançou, com tudo que tinha, com todos os conselhos de Neji e Naruto em mente, com a técnica mais limpa que já havia reproduzido, com tanto empenho que, quando a música ditou que finalizasse a coreografia, sentiu-se até mesmo decepcionado por ter de parar o corpo.

A expressão de Tsunade era impagável, a dos avaliadores, um mistério, mas a de Naruto... a de Naruto simplesmente lhe gritava que o papel era seu.

— Um minuto para Les Sylphides — Tsunade falou, alto, fazendo Sasuke desviar o olhar do pianista para ela.

Assentiu, usou a toalha deixada perto da colchia para secar o rosto e bebeu apenas alguns goles de água. Posicionou-se ao centro e esperou o momento de reiniciar a audição. Encarou Tsunade, sem medo, sem ser intimidado. Lembrava-se das acusações, de cada uma delas, do descaso, da humilhação, e tudo isso só o fez sorrir com escárnio ao se perceber tão perto do papel que desejava. Provaria para Tsunade que era mais do que "um aluno problemático", e não só isso! Faria com que ela engolisse cada palavra, com que se arrependesse de cada atitude não tomada, de cada momento em que preferiu se calar e se esconder atrás das cortinas daquele palco. Conquistaria o papel e, com ele, em certo tempo, talvez alguma voz para gritar ao mundo tudo o que desejava.

— Naruto, por favor — Tsunade pediu.

Naruto voltou a se sentar de frente ao piano, olhou Sasuke e sorriu antes de pousar as mãos sobre as teclas. Sasuke respirou fundo e, ao final da audição, quase podia afirmar que metade da satisfação que sentia ao sair do palco era pela decepção e frustração que tinha visto em Tsunade ao preencher suas notas. Ah, sim, ganhar qualquer um daqueles papéis com certeza lhe traria um sentimento a mais de vitória... Ah, se traria...

* * *

Não conseguiu se despedir de Naruto, ainda havia outras audições em que ele tocaria, e Sasuke tinha que se lembrar que o pianista também estava sendo avaliado, provavelmente iriam querer discutir algumas coisas com ele. Encontrou Sakura na recepção do teatro, sentada já com o cabelo solto e a expressão cansada enquanto mexia no celular. Ela se virou quando o ouviu se aproximar e sorriu ao se levantar.

— E então? Como você foi? — ela perguntou, animada, esperançosa.

— Acho que bem. Errei uma parte de Les Sylphides, mas só uma coisa pequena, também não pude saltar tanto no final por causa do joelho. E você?

— Não sei... — ela respondeu, pensativa. — Eu não errei as coreografias, mas não sinto que foi o meu melhor...

— Vamos esperar os resultados agora. Pelo menos, essa parte do pesadelo acabou.

— Sim. Você já ligou para Madara?

— Enviei uma mensagem. Ele deve chegar em uns quarenta minutos.

— Está com fome? Tem um café aqui perto.

Sasuke assentiu, jogou a mochila nas costas e saiu do teatro já com o céu escuro. Entrou no café, apreciando o aroma e deixando Sakura escolher a mesa. Sentou-se com ela em uma parte afastada, e Sakura sorriu educada para o atendente que vinha anotar os pedidos.

— Um cappuccino sem canela e um bolo de chocolate — ela pediu.

— Um frappuccino apenas — Sasuke falou.

O atendente sorriu em resposta e retirou o cardápio da mesa antes de se afastar. Sakura colocou a mecha do cabelo atrás da orelha, e os olhos verdes passaram atentamente pelo local, pelas pessoas, e pousaram em Sasuke enfim. Ele sabia porque ela o havia chamado ali, Sakura tinha plena ciência de que o amigo conseguia entendê-la no silêncio e reconhecer suas ações. Ele tamborilava os dedos na mesa de madeira escura, como se contasse os segundos para que ela começasse a falar, o cenho estava franzido de leve, e Sakura quase achava graça da forma discreta com que ele fingia ser paciente.

— Tsunade deu uma festa recentemente — comentou, e Sasuke ergueu o olhar até ela.

— Foi ruim?

— O de sempre eu acho. Ela me apresentou umas pessoas, falou com outras, me fez tocar um pouco de piano para me exibir, o de sempre. Ela convidou muitos músicos dessa vez, mas seu Naruto não foi se é o que quer perguntar. — Ela sorriu e esperou que o atendente colocasse os pedidos sobre a mesa. — Obrigada.

Sasuke removeu o chantilly do frappuccino com a colher e depositou sobre a taça de Sakura enquanto ela mesma roubava parte dele com sua própria colher.

— Naruto não foi convidado? — estranhou.

— Não. Tsunade me disse que era porque ele estava sob avaliação, que não pegaria bem ele estar ali porque iriam comentar que ela o estava favorecendo. Só que ela convidou Tobirama — Sakura falou com cuidado, e percebeu quando Sasuke parou a colher no ar e a encarou sério. — E ele foi.

— Pula os rodeios, Sakura, sabe que eu não tenho paciência para isso. — Colocou a colher no pires e cruzou os braços ao apoiar as costas na cadeira.

— Ele não parecia muito feliz durante o evento e encarava Tsunade com certa raiva. Me disseram que ele estava em uma outra companhia menor, não sei qual — Sakura comentou, atenta às reações de Sasuke, que apenas ficou em silêncio por alguns segundos e se escondeu atrás de um grande gole em sua bebida.

— E o que que tem? Qual o problema disso? — Sasuke perguntou com tranquilidade, e Sakura pareceu decepcionada.

— Você não vai me contar, não é? — Ela suspirou. — Eu já imaginava isso... Eles conversaram durante o evento, teve uma hora que Tsunade o chamou para falarem a sós. E eu os segui.

Sasuke não ergueu os olhos, manteve as mãos frias em volta do copo e a expressão indiferente enquanto o coração acelerava em apreensão. Não queria olhar para Sakura, embora talvez pudesse assim enxergar até onde ela sabia sobre o assunto. Preferiu continuar em silêncio, e Sakura olhou para o chão antes de prosseguir.

— Ela falou que Tobirama foi demitido por sua causa, Sasuke, que você o enganou e o fez acreditar em absurdos. Ele disse que acreditava em você, que o absurdo era Tsunade não ter feito nada mesmo quando duas alunas se mataram e acrescentou que, com professores como Orochimaru, não seria de se estranhar se houvesse mais suicídios e que ela se arrependeria por não ter ouvido vocês dois. — Sakura respirou fundo e soltou o ar contrariada ao finalizar. — Ela o expulsou depois disso, acusou ele de estar querendo arruinar a companhia, de difamar um professor, que ela conhecia Orochimaru desde quando ela havia sido bailarina, que tinham sido da mesma turma e que ela o conhecia bem o suficiente para dar ouvidos às reclamações de aluno frustrado.

Sasuke deixou um riso de escárnio escapar e manteve a boca cheia com sua bebida para se impedir de dizer o que queria. Sakura o analisava, e ele não sabia se era porque ela sabia mais do que dizia ou porque esperava que ele contasse logo toda a história.

— Ele foi embora depois?

— Foi. Tentei ir atrás dele e perguntar a que ele se referia, mas ele me mandou perguntar pra você...

— Sakura — chamou, sério, massageando a têmpora antes de olhar para ela. — Acredite em mim, você já tem problemas demais com que se preocupar.

— Sasuke, vo-

— Sakura — chamou de novo, firme. — Você, melhor que todos, deveria entender quando alguém não quer contar uma coisa, mesmo que os outros achem que podem ajudar se souberem.

— Eu... — Sasuke a viu querer dizer algo, mas a voz sumiu à medida que o olhar dela caía, as mãos buscando a sua na mesa e as apertando, geladas. — Desculpe, não vou tocar no assunto, sinto muito.

Sasuke apertou a mão dela de volta, apenas para que ela o encarasse de novo.

— Você já tem os seus problemas, eu lido com os meus. E essa questão do Tobirama já está resolvida, pelo menos por hora. Não tem motivo para você se preocupar — reforçou, e Sakura engoliu em seco antes de concordar com a cabeça apesar do olhar não o convencer muito. — Madara está chegando, você vem?

Sakura concordou, soltando as mãos de Sasuke e segurando sem muita firmeza o cappuccino. Havia algo errado, Sasuke sabia, e o irritava também estar ciente de que Sakura não lhe contaria o que. Como sempre, coube a ele apenas se conformar com aquilo, continuar a tomar sua bebida e fingir que estava tudo bem quando Mito, Madara e Hashirama apareceram para buscá-los.

* * *

Ino acordou de forma pesada, sem muito ânimo e com sua gata deitada sobre sua barriga preguiçosamente. Acariciou-lhe os pelos e suspirou, o despertador ainda não havia tocado, e ela poderia voltar a dormir se não fosse a falta de sono naquele sábado. Possuía um ensaio naquele dia, tinha uma nova sessão de fotos para a campanha em que ela e Gaara trabalhavam, mas ela daria tudo para continuar na cama, apenas passando a mão no pelo de Bom-Bom.

Sua audição havia sido boa, ela não tinha errado nada grave de Giselle nem de Les Sylphides, havia sido quase uma das melhores performances que já havia apresentado, mas o desgosto nas faces dos avaliadores ainda a atormentava, fazia com que rolasse na cama perseguida pelo julgamento silencioso, pela crítica não dita.

Talvez, ir para a sessão de fotos a fizesse se sentir melhor, Gaara sempre tinha esse poder, mas odiava colocar essa responsabilidade nas mãos do fotógrafo.

— Carpe diem, Ino, carpe diem... — repetiu de olhos fechado ao se sentar sob visível reclamação da gata que pulou para longe.

Assim como pedido, não se maquiou, colocou roupas leves e se sentou com o pai para o café da manhã. O pai estava estranho, desde o episódio das ofensas, piadas e gozações na internet, o pai vinha mais calado, mais sério, e ela temia o que isso podia significar.

Estavam agindo em silêncio, ela sabia, nem seu pai nem Madara deixariam aquele assunto quieto. No dia de sua audição, Madara havia ido com Sasuke e Neji lhe desejar boa sorte, e não havia passado despercebido a forma como seu pai e Madara pareciam conversar em voz baixa a alguns passos de distância. Por um lado, até queria aquela interferência; por outro, tinha medo do que aquilo podia causar, uma vez que, embora seu pai fosse calmo, Madara não era conhecido por tal qualidade.

Quando deu o horário, entrou no carro com o pai, cantaram em voz alta todas as músicas de Michael Jackson que havia em um dos pendrives esquecidos no carro, e Ino se imaginou afastando os problemas da mente à medida que dava vazão à voz. Sasuke tinha razão ao dizer que não havia problema no mundo que não pudesse ser esquecido ou confortado por uma boa música.

Despediu-se do pai e entrou na agência sem muita pressa. O mundo parecia outro sem o peso das audições sobre os ombros. Saiu do elevador e caminhou pela agência já acostumada com a correria mesmo àquela hora da manhã. Conferiu o relógio e percebeu que ainda tinha trinta minutos para o horário marcado com Gaara e, por isso, dirigiu-se à área de descanso.

Sorriu ao ver Hanabi ali. Ela estava com as mesmas roupas casuais de sempre, o cabelo solto, fones no ouvido e cabeça jogada para trás no puff. Foi até uma das geladeiras e pegou um suco antes de se sentar no puff do lado. Tocou o braço de Hanabi e a viu abrir os olhos de maneira preguiçosa, ressaltando as olheiras que Ino reconhecia fácil terem sido causadas por choro.

— Você está bem? O que houve? — perguntou, preocupada, e, por um instante, percebeu Hanabi a analisar.

Os olhos perolados demoraram-se nela, como se Hanabi não a enxergasse logo ali a sua frente. Ino notou algumas pessoas ao redor pararem o que faziam, mas já tinha se acostumado, tudo que envolvia Hanabi chamava atenção dos corvos de plantão.

— Precisa de alguma coisa? Não me diga que foi aquele fotógrafo idiota de novo! — exaltou-se, e Hanabi fechou os olhos ao respirar fundo e negar.

— Não foi nada, não se preocupe — ela respondeu, séria, para então forçar um sorriso e mudar de assunto. — Como foi sua audição? Soube por Konan que você se apresentou esses dias.

— Acho que fui bem. Um problema a menos com que me preocupar. Agora é esperar o resultado. Enquanto isso, preciso adiantar as fotos com Gaara para vermos a campanha. Soube que hoje o cliente vai ver as primeiras para aprovação. Estou ansiosa.

— Eu aposto que você fez um excelente trabalho, não precisa ficar nervosa — Hanabi comentou, sincera, sem encará-la, e então se levantou segurando o fone nas mãos. — Eu vou me preparar para as minhas fotos. Boa sorte hoje.

— Obrigada! Para você também. — Ino sorriu. — Vai trabalhar até o período da tarde também?

— Sim, hoje o dia vai ser longo infelizmente.

— Quer almoçar comigo?

Hanabi hesitou com o fone próximo aos ouvidos, e Ino estranhou, ainda mais porque, de alguma forma, as pessoas pareciam ansiosas pelas resposta de Hanabi, atentas demais à conversa delas. Hanabi concordou com a cabeça e colocou os fones, aumentando o volume enquanto se distanciava de deixava claro que gostaria de permanecer quieta e sozinha.

Olhou o celular quando ouviu a notificação de mensagem, era de Gaara, um aviso. A reunião com o cliente seria apenas com Konan e, depois, ela os chamaria para discutir o feedback das fotografias e qualquer alteração que o projeto tivesse sofrido. E isso poderia demorar um pouco mais do que o esperado, afinal, clientes eram difíceis de lidar e muito mais de agradar.

Sem outra alternativa, ela se acomodou no puff e retirou da mochila o pequeno caderno de anotações onde Shikamaru a havia feito anotar alguns resumos das matérias em que tinha mais dificuldade e se colocou a lê-los. Havia algo errado, Ino tinha certeza disso ao sentir os olhares sobre si mesmo depois de Hanabi a deixar sozinha.

Arqueou a sobrancelha para as duas modelos que a encaravam e esperou para ver se uma delas enfim se aproximaria; como não fizeram, limitou-se a revirar os olhos e continuar a leitura. Contudo... Engoliu em seco... Conhecia aquele tipo de olhar, era similar ao que recebia nos primeiros anos de ballet, e aquilo não era nada bom...

As mãos buscaram o celular e abriram as redes sociais. Digitou o próprio nome e fechou os olhos. O sangue gelou, e o coração ainda fez questão de mandá-lo para todo o corpo enquanto acelerava medroso. Não queria ver, não queria mesmo buscar seu nome e achar mais piadas, mais ofensas, mais imagens... Ainda assim, queria entender o que se passava.

Bloqueou o celular e abriu os olhos. Não, não naquele lugar, não podia ficar mal depois nem sair correndo para casa, era melhor se manter na ignorância. Sim, olharia em casa, com calma, com um pote de sorvete do lado e o número de Sasuke já pronto para ser discado. É, era um bom plano. Voltou a atenção ao caderno de resumos, acalmando o coração ao respirar fundo e tentar se concentrar no que lia. Ou era o que faria se não fosse as risadas cínicas a alguns passos de distância.

Ergueu a cabeça e encarou o grupo de três mulheres que a observavam, uma delas rindo com a mão na boa na falsa tentativa de disfarçar. A mulher que ria mordeu o lábio e se aproximou, os dedos enrolando o cabelo e colocando a mecha atrás da orelha ao se abaixar na altura de Ino, olhando para as amigas com frequência antes de Ino suspirar entediada e fechar o livro.

— Desculpa incomodar, mas — ela começou a dizer, e Ino a viu mais uma vez olhar para trás e segurar o riso. — é verdade?

— Verdade? O quê? — perguntou sem paciência e sem saber se de fato queria saber a que ela se referia.

— Como assim o que? — Ela riu e, quando pegou o celular e o desbloqueou, Ino teve certeza de que não gostaria nada do que estava para ver. — Gaara. E então? É verdade? Uma amiga estava na fila para entrar quando reconheceu ele e...

Ino parou de ouvir qualquer coisa ao segurar o celular em choque e olhar desacreditada para as fotos de quando ela e Gaara saíam da Kyuubi. Respirou fundo e devolveu o celular, aquilo não podia ser assim tão ruim, não é? Afinal, o que havia de errado em sair com Gaara fora do local de trabalho?

— O que você quer saber? — perguntou, direta, e fingiu não ver o sorriso maldoso que lhe era direcionado.

— Ora, se é verdade... se saíram juntos. Até porque isso explicaria muita coisa.

— Ah é? Tipo o quê?

— Bem — A mulher a mediu, e Ino estreitou o olhar já antevendo o que seria dito e realmente não acreditando que passaria por isso ali. — explicaria porque nem a Hanabi teve muita chance com ele, parece que o gosto de Gaara é... não me entenda mal, mas... bem, diferente.

Ino preparou-se para rebater, a resposta afiada na ponta da língua, contudo, parou, uma parte em especial do que havia sido dito lhe chamando a atenção.

— Hanabi? O que a Hanabi tem a ver com isso? — indagou, embora a mente já trabalhasse na busca da resposta.

— Ué, você não sabia? Ele dispensou a Hanabi um tempo atrás. Tadinha, ela ficou arrasada.

Ino fechou os olhos e massageou as têmporas. Quando parecia que tinha se livrado de um problema, esbarrava em outros. Será que a vida não podia lhe dar uma folga só de vez em quando? Deixá-la aproveitar um pouquinho que fosse as coisas boas que lhe aconteciam?

— E então? É verdade? — a mulher insistiu, e Ino revirou os olhos antes de cuspir com raiva:

— Você tem uma foto na merda desse celular? É cega por acaso? Ou só sente prazer em vir importunar os outros? Quer saber? Com licença.

Levantou-se, deixando a outra para trás sem se importar com os sussurros de espanto. Seguiu direto para o banheiro e trancou a porta assim que chegou, apoiou-se na pia e encarou o reflexo sem saber o que pensar no momento.

— Carpe diem, Ino, carpe diem... — repetiu para tentar se convencer.

O celular tocou. Gaara. Ele havia chegado. E ela tinha certeza que o dia só iria piorar... 



Gente, me perdoem mesmo por qualquer erro, amanhã eu dou uma revisada melhor, juro <3

Espero que tenham curtido ;)

Comentários? Teorias? Críticas?

Beijosss

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