VANTE: GIRASSÓIS DE DANTE

By Gabbieah

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[GIRASSÓIS DE DANTE DISPONÍVEL PELA EDITORA EUPHORIA] Depois de doze anos sozinho, seu pai finalmente encontr... More

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Epílogo
Bonus!

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By Gabbieah

Não consigo dormir. Não consigo dormir, porque sempre que fecho os olhos minha mente me trai e me leva de volta para aquele maldito beijo.

Como eu sou idiota!

Eu não deveria ter feito isso, não deveria ter ido atrás dele para conseguir aquele beijo, eu não deveria ter gostado, não deveria querer mais.

Mas meu deus, eu quero!

Eu quero tanto!

Passo a noite inteira me debatendo na cama, virando de um lado para o outro, sem conseguir dormir, sem conseguir esquecer, eu estremeço só com a memória da boca dele na minha, as mãos me tocando por dentro da camisa. Céus!

Me deito de barriga para cima, esfregando os olhos, afundando os dedos dentro do emaranhado do meu cabelo.

– Que merda... – solto grunhido, chutando os lençóis para longe de mim.

Estou tendo uma crise.

Não sei se tudo isso é desejo acumulado, ou a abstinência de sexo. Quando foi a última vez que eu transei? Eu sequer me lembro!

E tudo bem, Taehyung é bonito, ele é gostoso pra caralho, é por isso que estou enlouquecendo com ele.

Me levanto, saio do quarto e passo pela porta dele, notando as luzes acesas. Ignoro isso, fecho os olhos e sigo em frente, descendo os degraus nas pontas dos pés para quando chegar na cozinha, esbarrar em Yerim.

– O que está fazendo acordado uma hora dessas? – ela traz seus olhos para mim, está tomando algo em que vou deduzir ser chá.

– Eu vim... Beber água – aponto para o filtro e ela assente com a cabeça – Você chegou em casa agora? – reparo em suas roupas.

– Sim – ela faz uma careta, parece cansada e deve estar mesmo – Agora são... quase uma da manhã – ela suspira ao conferir às horas no celular – Como foi o seu dia, Hoseok? – pergunta, trazendo seu tom de voz bem humorado de volta.

– Foi bom – abro um sorriso, enchendo o copo com água gelada.

Penso em tudo o que fiz desde que acordei, bebendo das dez até meio dia, beijar Taehyung às 13h e me martirizar com isso pelo restante do dia.

– Foi bom, foi bem tranquilo... – acrescento, soltando o ar e começando a beber antes que ela peça detalhes.

– E Taehyung?

Engasgo. Piscando algumas vezes, pigarreando antes de olhar para ela. Torço para que isso não tenha parecido suspeito.

– O que tem ele? – questiono.

– Vocês estão se dando bem? – arqueia uma das sobrancelhas, brincando com o sachê do chá – Vocês passam o dia inteiro aqui sozinhos, me pergunto se a convivência é tranquila, sabe? Não conheço você muito bem, mas conheço o meu filho – aperta os olhos – E ele sabe como fazer uma bela birra.

Acabo rindo, praticamente me entregando e entregando toda a dor de cabeça que ele já me causou.

– Estou certa, não estou? – ela aponta para mim, com aquele olhar e sorriso confiante – Taehyung é um caos completo – ri soprado, piscando demoradamente – Ele é intenso, pessoas intensas são perigosas.

Concordo. Cruzando os braços e me escorando na bancada, estou curioso, quero ouvir tudo o que ela tem a dizer sobre ele.

– Ele é tão adorável e às vezes tão... tão...

– Irritante.

– Deus me perdoe, mas sim – sussurra, como se estivesse compartilhando um segredo terrível – Eu amo ele, amo muito, mas há momentos em que ele consegue ser tão irritante, com todas as birras, as mal criações, sabe por quanto tempo ele ficou emburrado quando descobriu que eu iria me casar? Muito! Ele também é teimoso, muito teimoso – acrescenta, pondo a caneca vazia dentro da pia, apoiando as mãos na bancada – Então? Vocês estão se dando bem?

– Sim – encolho os ombros, descendo os olhos até os meus pés – Nós nos damos bem, temos quase a mesma idade, então acho que isso facilita as coisas.

– Tem razão.

– Ele é legal, eu gosto da companhia dele.

– Ele gosta de ficar com você?

– Acho que sim – sorrio – Ele me procura quando está entediado, pede para ver um filme ou uma série comigo...

– Então ele gosta mesmo de ficar com você – sorriu fraco, trazendo seus olhos para mim – Isso é ótimo.

Faço que sim.

Se ela soubesse o quanto ele gosta de mim, não sei se acharia isso ótimo.

Às vezes me questiono se não seria melhor que ele me odiasse, seria mais fácil arrancá-lo da minha mente.

Penso nisso, no quanto eu preciso afastá-lo antes que isso vire uma bola de neve enorme e nos soterre.

– Bom, eu vou pra cama – ela anuncia depois de um tempo – Não durmo há tempos, preciso fechar os olhos e descansar – diz, gesticulando de forma exagerada e sorrindo – Boa noite, Hobi.

– Boa noite – murmuro.

Espero que ela saia e suba as escadas, para então apagar as luzes e fazer o mesmo.

Me levo de volta para o quarto, diminuindo o passo quando Taehyung abre a porta e me encontra no corredor.

– Oi – ele murmura, sorrindo fraco – Posso ficar com você?

Droga. Droga. Droga.

Ele veste pijamas, roupas curtas e de um tecido finíssimo.

Quero deixar que venha comigo, quero muito. Eu adoraria tê-lo na minha cama, pertinho de mim, mas eu sei no que isso vai dar.

Tenho que afastá-lo, tenho que parar de me envolver com ele.

– Eu vou dormir agora, então é melhor você ficar no seu quarto hoje.

– Ah... – ele junta as sobrancelhas – Tá... Tá bom – e abaixa a cabeça, antes de voltar para o seu próprio quarto e bater a porta.

Não sei porque, mas isso me fez sentir mal pra caralho.

Penso em voltar atrás, me aproximo da porta dele e quase chego a bater, mas recuo. Aperto os olhos e tento não pensar muito nisso, ainda que cada pensamento meu esteja voltado a ele nesse momento.

Me pergunto se não é errado afastá-lo assim, sem mais e nem menos, mas eu também nunca prometi nada a ninguém.

Desligo a TV assim que ponho os pés dentro do meu quarto, com o pensamento de que ele vai saber que pelo barulho que eu estava mentindo. Eu não deveria me importar tanto, merda.

Me enfio debaixo dos cobertores e conecto os fones de ouvido no celular, deixando um vídeo qualquer rolando no YouTube, só para que algo sobreponha as vozes insuportáveis da minha cabeça.

Às três da manhã ainda escuto Taehyung, ouço passos, o som da porta, ouço tudo que faz.

Acho que nenhum de nós vai dormir hoje.

(...)

Hoje Taehyung não foi pra aula, na verdade acho que ele sequer dormiu. Passei a madruga inteira ouvindo ele andar de um lado para o outro, de manhã cedo foi a mesma coisa e agora parece que está quebrando tudo dentro do sótão.

Saio da cama só para encarar a escada do sótão, quase caindo de sono enquanto olho para os degraus e ouço o barulho dele arrastando alguma coisa.

Um baque alto e decido subir, quero descobrir se ele está tentando pôr a casa abaixo.

Assim que consigo uma visão ampla do sótão, a imagem dele ajoelhado de frente para a janela é o que me chama a atenção, está sem camisa, com o cabelo preso e os braços sujos de tinta. Taehyung afastou boa parte das coisas para os cantos do sótão, estendeu no chão dezenas de folhas de papel e jornais e entre elas está deitada uma tela enorme, pintada pela metade nas cores azul e vermelho.

Me pergunto a quanto tempo ele está fazendo isso.

O garoto respira alto, subindo uma das mãos pela nuca, deixando na pele rastros de tinta amarela, as mãos voltaram a cair em seu colo, os ombros relaxam e ele se senta sobre os tornozelos.

Me perco nele, esqueço tudo o que veio antes e me prendo nesse único momento.

Taehyung parece a porra de um deus, a droga de um santo, é tão bonito que chega a ser surreal, impossível de acreditar que seja humano, feito de carne e osso como qualquer outro.

Me questiono se em algum momento houveram seres tão bonitos como ele, andando e respirando, vivendo como se sua existência não significasse nada, como se fosse só mais um fragmento no espaço. Isso parece errado, parece um erro do universo permitir que ele se iguale a qualquer outro ser humano, porque pra mim ele é superior, é superior a qualquer coisa.

Ele se vira, ainda no chão e está sentado quando me nota ali, seus olhos se arregalaram com a surpresa e logo dão espaço para a frustração.

– Não gosto que subam aqui.

– Foi mal, mas você tá fazendo um barulho do caralho, sabia?

– E daí?

E daí? Ele acha que mora sozinho, porra?

Tento não bufar, tento não revirar os olhos, mas ele continua com seu olhar indiferente sobre mim.

– Você poderia fazer menos barulho, por favor? – indago, nenhum pouco educado e isso parece frustrá-lo ainda mais.

– Eu vou tentar – retrucou – Agora sai.

Junto às sobrancelhas, dobrando minha língua para não despejar sobre ele uma série de ofensas e acabar comprando uma briga. Taehyung é uma coisa de tão bonito, mas sabe ser tão irritante quanto uma criança mimada.

– Hoseok – ele chama, depois de eu ter passado quase dez segundos em silêncio e só olhando para ele – Pode descer agora.

Então sua atenção volta para as tinta, engatinha pelo chão e alcança o pincel, o mergulha em uma lata de tinta amarela, tira o excesso e desliza a ponta pela tela, tão devagar e concentrado nisso que parece ter entrado dentro do seu próprio mundo outra vez.

Faço o que me pediu e desço as escadas. Minha cabeça dá um nó completo, não consigo entender como me sinto atraído por uma criatura tão implicante, não é possível que eu goste disso, de ter alguém me infernizando. Eu sou o que? A porra de um masoquista?

Antes que eu consiga chegar no corredor ouço o toque alto de uma música vindo do sótão, ele está mesmo tentando me fazer surtar. Considero a ideia de voltar lá, mas não vou dar esse gostinho a ele, se quer me ver arrancando os cabelos vai ter que se esforçar mais.

No instante em que piso no térreo, sinto meu celular vibrando no bolso, uma, duas, três vezes até eu o pegar ler as mensagens pela barra de notificação.

O número desconhecido me pega, faz meu coração saltar e no instante em que leio o "oi, é o Jimin", entro em pânico. Minha mente dá um nó fodido, como se soasse um alarme de emergência dentro da minha cabeça e isso deixa minha pulsação acelerada de uma forma assustadora.

Ele começa a me ligar no segundo em que visualizo suas mensagens, respiro fundo, tentando não criar casa em cima disso. Não é possível que depois de dois anos eu ainda seja um otário rendido por ele.

Atendo, e meu coração dá o primeiro passo em falso quando ouço a voz dele.

– Hoseok? – chama baixo.

Mas que droga de sensação é essa?

– Oi.

– Puta merda, Hoseok! – exclama de forma exasperada, acompanhado por um riso carregado de incredulidade – Quanto tempo faz que eu não ouço a sua voz, porra...

Solto um risinho, mordendo o canto dos lábios ao me escorar na parede atrás de mim.

– Senti sua falta, sabia? – ele murmura depois de um tempo – Muita mesmo...

– Também senti a sua – confesso, soltando o ar de forma pesada – O Yoongi disse que você voltou pra Seul – comento, esperando que ele confirme e é exatamente o que faz no segundo seguinte.

– Sim, por causa do trabalho, me transferiram para cá – explica brevemente – O que é bom porque agora eu posso ver vocês! – acrescenta empolgado, me tirando um sorriso espontâneo – Ainda mora no mesmo lugar?

– Não, meu pai vai se casar daqui a alguns meses, então nós...

– CASAR? – ele grita – O seu pai vai se casar? Está brincando.

– Estou falando sério.

– E como ela é? É bonita? Tem filhos? – começa a me bombardear com perguntas sobre Yerim.

– Ela é legal, é médica, trabalha o dia inteiro, então eu quase não a vejo e ela tem um filho – faço um curto resumo.

– E quantos anos ele tem?

– Dezoito – murmuro, me permitindo pensar em Taehyung por um segundo ou dois.

Ele riu fraquinho.

– E ele mora com você agora?

Coço a nuca, erguendo o olhar para enxergar o topo da escada e ter certeza de que o dito cujo não está me vigiando.

– Sim. O garoto é legal... – tento não transformar isso em um grande caso, não quero que Taehyung seja o foco da nossa conversa – Nos damos bem – concluo.

– Podia ser pior, ele podia ser um pirralho insuportável.

Acabo por rir e ele me acompanha.

– Vamos sair hoje – propõe – Você, eu e o Yoon. Às sete, pode ser? – decide, não me dando tempo para pensar, mas eu sequer consideraria negar o convite, sei que vou entrar em colapso se não encontrar com ele pessoalmente o mais rápido possível.

– Tá, pode ser.

– Perfeito! Eu vou desligar agora, tudo bem? Te vejo mais tarde.

Ele atropela as palavras, para logo em seguida encerrar a ligação.

Encaro a tela do celular até vê-la se apagar. Por que caralhos o meu coração bate tão forte agora, porra?

Respiro fundo, desbloqueio o celular e vou direto para o sofá onde me sento e me dedico a perder alguns bons minutos só bisbilhotando a vida de Jimin na internet.

Abro o Instagram, vejo fotos, stories, destaques, marcações. Ele não posta muita coisa no feed, mas os stories são como sua vida inteira documentada, conto mais de seis postados só hoje e ainda são dez da manhã.

Ele não mudou quase nada, na aparência, que eu consiga distinguir de imediato. Com exceção do cabelo que agora está mais comprido, quase escondendo totalmente as orelhas e os brincos brilhantes que usa.

Um story em específico me deixa fissurado ao ponto de assisti-lo três vezes seguidas, um onde ele aparece filmando o seu reflexo no espelho de um elevador, está vestindo roupas sociais e a última vez em que o vi vestido assim foi na nossa formatura. Por deus, ele é tão bonito que me deixa confuso.

Consigo entender perfeitamente o motivo de eu ter passado anos apaixonado por ele, e ainda sim, me sentir fraco só assistindo um maldito story.

Jimin é aquele tipo de pessoa que você costuma gostar no instante em que o conhece, não precisa de muito mais que três minutos com ele pra isso. Então é questão de tempo até se dar conta de que está apaixonado por ele.

Queria poder culpá-lo por todo o sofrimento com que tive que enfrentar durante anos, mas ele não tem culpa por eu ser um fodido de merda. A culpa não é dele se eu só me apaixono por quem não está nem aí pra mim.

Sempre odiei a ideia de namorar, todo esse conceito de ser exclusivo um do outro, de amar, de cuidar, de construir algo juntos, sair em encontros e apresentar para os pais, mesmo que nenhuma dessas coisas parece ser um monstro de sete cabeças, mas relacionamentos vêm acompanhados por brigas, crises de ciúmes, possíveis traições e corações partidos. É esse tipo de merda que eu pretendo evitar, a dor de cabeça infernal e a encheção de saco sem fim.

As pessoas são insuportáveis, esse é o ponto. Eu mal consigo lidar com minhas próprias emoções, quem dirá com as emoções dos outros. Eu sou um desastre, um completo desastre para relacionamentos.

Ao longo dos anos houveram pessoas mais importantes que outras, posso citar uma lista inteira de nomes de caras com quem eu fiquei algumas vezes e que eventualmente desenvolveram sentimentos por mim, e que, no instante em que essas palavras soaram de suas bocas e chegaram até o meu ouvido, todo o encanto que eu tinha, aquela pontinha de consideração e afeto que me permitia continuar vendo aquela pessoa, simplesmente desaparece, como um estalar de dedos eu acordo e de repente tudo some, como quem desperta de um maldito feitiço e eu vou embora, simples assim.

Há inúmeros caras que se eu quisesse, poderíamos estar completando um ano de namoro ou quase isso, estaríamos juntos nos jantares de família e postando fotos juntos no Instagram, encenando todo o clichê básico de casal na internet.

Ou poderíamos ser exatamente como os casais literários dos livros de romance que já li, poderíamos ser como os casais das comédias românticas do catálogo da Netflix.

Poderíamos, se eu ao menos me apaixonasse de verdade por algum desses caras.

É irônico pensar que o único cara por quem me permiti sentir essa droga, me via e sempre vai me ver como seu melhor amigo, e que provavelmente nunca cogitou a ideia de sermos um casal.

Talvez seja carma, por eu ser um cuzão com todo mundo que cometeu o erro de gostar de mim, muito provavelmente o universo me deu Jimin como um castigo, ou quem sabe eu só esteja sendo dramático.

Lembro de todas as festas que fomos, de todos os beijos que ganhei dele no fim de cada uma, quando ele não tinha encontrado ninguém mais interessante que eu. Não me orgulho de dizer que fui a última opção, que todas as vezes em que ele me beijava estávamos bêbados e que no outro dia ele fingia que não lembrava de nada, só para não termos que falar sobre isso. Não me orgulho disso, mas eu também só tinha dezessete anos na época, não dá pra julgar muito um adolescente sofrendo por uma paixão não correspondida.

Eu sempre fui anti amor romântico, mas quando pensava em Jimin esse discurso mudava instantaneamente.

Com ele as coisas eram tipo: "não suporto casais felizes, mas se for a gente eu não ligo."

E sempre que me permito refletir sobre isso, sobre o desespero das pessoas para encontrar alguém, o medo desproporcional que sentem de acabarem sozinhos, nada disso parece fazer sentido na minha cabeça e talvez realmente não faça.

Às vezes me sinto errado por não querer ninguém, mas será que eu preciso mesmo fazer da minha vida uma história de amor? Será que eu preciso ter como propósito de vida encontrar a pessoa certa? Porque no fim, tudo isso só parece ser medo da solidão, as pessoas têm medo de ficar sozinhas, tem medo de não serem amadas, ou simplesmente gostem muito de saber que são amadas, gostem tanto ao ponto de priorizarem isso mais do que qualquer outra coisa.

Eu gosto de estar sozinho, de não sentir nada por ninguém, gosto muito de como minha vida é tranquila assim. Não vou dizer que nunca vou me apaixonar de novo, ou que nunca vou namorar, porque seres humanos são hipócritas, e sei muito bem que há chances de eu mudar de ideia.

Atualmente, no entanto, a impressão que tenho é que vou morrer sozinho. Exatamente como na música.

Mas estou confortável demais para me importar com isso.

Depois de uma hora inteira, Taehyung passa por mim até a cozinha e saí de lá com uma garrafa de água. A barra da calça está dobrada nos joelhos, o cabelo continua preso no topo da cabeça e ele ainda não decidiu vestir uma camisa.

A tinta já parece seca em sua pele, as manchas vão das mãos para os braços, do abdômen até o peito e do pescoço até o pescoço, em vários tons de amarelo, vermelho, azul, rosa e branco. Meus olhos caem sobre a correntinha de prata que usa no pescoço, fina e justa, eu gosto tanto desse detalhe nele.

– Está assistindo o quê?

– Um reality show... – suspiro, apontando para a besteira que passa no canal da Discovery, e que eu particularmente adoro, adoro perder horas do meu dia assistindo pessoas fúteis na TV.

– Ah... – ele arqueia as sobrancelhas, com um claro semblante de descaso – O que vai fazer hoje?

– Vou sair.

– Vai sair? – agora sim ele demonstra interesse, o garoto sai de onde está e vem para perto de mim, juntando as sobrancelhas – Vai pra onde?

– Falei com Jimin hoje cedo, vamos sair no fim da tarde – dou de ombros, cruzando os braços sobre o peito.

– Só vocês?

Solto um riso soprado, levando meus olhos até ele.

– Você é bem enxerido, sabia?

Ele bufa com minha resposta, se afastando de mim para se sentar no braço do segundo sofá.

O olhar que me lança agora é nada mais do que puro desdém. O vejo tirar a tampa da garrafa e tomar um gole longo de água, sem tirar os olhos dos meus.

– Só estou curioso pra saber como vai ser isso.

Respiro fundo, esperando que ele explique melhor.

– Vocês não se veem há dois anos, você era apaixonadinho por ele... – continua, com um riso soprado e um sorriso hostil – Você não está se iludindo com isso, está?

É a minha vez de rir. Não sei que tipo de reação esse garoto está tentando causar em mim, mas com toda certeza não é essa.

– Você acha que eu me iludo com qualquer migalha de atenção? Tenha dó, Taehyung – solto o ar, endireitando a postura – Jimin é meu amigo de infância, conheço ele a vida inteira.

Ele age com indiferença, dando de ombros e desviando o olhar. Se não se importasse como faz parecer, não estaria me enchendo com isso agora.

– Eu não sou assim, Taehyung, eu não sou um fodido emocionado que imagina um romance inteiro com a pessoa logo depois do primeiro beijo – coço meu queixo, pigarreando na sequência – Beijo é beijo. Sexo é sexo.

– Então ontem, foi só um beijo?

– Foi – rio – Vai dizer que você esperava mais do que isso?

– Não.

– Ótimo – volto os olhos para a TV.

Me sinto um puta mentiroso por estar o tratando com tanta insignificância, quando tudo o que eu mais quero agora é beijar ele de novo e quero ir além disso, muito além.

– E se eu te beijar de novo?

– Ainda vai ser só mais um beijo – minto. Não sei do que sou capaz por outro beijo dele.

Ele sai de onde está e se aproxima de mim outra vez, se colocando de pé entre a TV e eu.

– E se eu fizer mais do que te beijar? – sua voz soa como um maldito feitiço, arrasfada e rouca, sinto seu joelho tocar o meu e meus olhos caem para conferir.

– O que você vai fazer?

Ele passa uma das pernas por cima da minha, depois a outra, apoiando os joelhos no estofado, com as mãos nos meus ombros, ele desce devagar e monta no meu colo.

Puxo o ar, tentando não perder completamente o fôlego. Entro em completo pânico com ele em cima de mim, me arrepio inteiro quando ele desliza sua palma pelos meus ombros, empurrando o tecido da minha camisa.

– Isso – ele murmura – Isso também é insignificante?

– É – digo a contragosto, tentando não grunhir quando ele força o quadril contra o meu e se esfrega, mantendo as mãos firmes nos meus ombros.

– E se eu fizer isso? – sussurra contra a minha boca, deixando uma mordida no meu lábio e descendo pelo meu queixo até o meu pescoço.

Meu corpo reage a cada investida, estremecendo quando sinto sua respiração na minha pele, sua boca tocando devagar e sua língua, quente, deslizando da minha clavícula até a minha mandíbula. Me sinto quente, com meu baixo ventre fervendo, me fazendo ofegar com tão pouco.

– Continuo sendo insignificante? – ouço sua voz no pé do meu ouvido, seus dentes prendendo meu lóbulo.

– Taehyung...

Ele gemeu manhoso, me deixando alucinado. Aperto os olhos, respirando fundo, apertando os punhos para não tocá-lo. Parece um crime encostar as mãos nele, como se eu fosse estragá-lo.

Ele força o quadril contra o meu com mais força, se esfregando em mim como quem procura por um contato mais íntimo, ele repete o ato, dessa vez causa um calor infernal na minha virilha, fazendo meu pau fisgar dentro da bermuda.

– Eu sou? – ele questiona, num tom de voz dengoso, enfiando as unhas na pele da minha nuca e me deixando um arranhão.

Não respondo, estou aéreo demais para dizer qualquer coisa, enlouquecendo com a visão do seu quadril encaixado no meu, sua ereção marcando a maldita calça, enquanto ele se dá o trabalho de se esfregar na minha.

– Eu quero ouvir você dizer, comigo em cima do seu pau duro, que eu sou tão insignificante quanto os outros – arranhou minha nuca, deslizando no meu colo, empurrando o quadril com força e dessa vez me tira um arfar desesperado – Que eu me esfregando em você que nem uma cadela, não é merda nenhuma. Quero ouvir você dizer que me ouvir gemendo no seu ouvido, me torna tão insignificante quanto qualquer outro merdinha que você come por aí.

Toco sua cintura, e ele arqueia a coluna, deixando um suspiro falho escapar pela sua boca.

– Eu escuto você no seu quarto, sabia? – lembrou, com um riso soprado, rebolando tão devagar que chega a doer – Você pensa muito em mim?

– Quem disse que eu penso em você? – solto um grunhido, apertando sua cintura e o forçando para baixo.

Ele riu, não acreditando em nenhuma palavra que sai da minha boca. Ele é tão seguro de si que assusta.

Taehyung se afasta, me olha de forma doce, beirando o inocente. Me faz esquecer quase que por um segundo que ele está rebolando no meu pau.

– De que jeito você pensa em mim? – ele ignora a minha pergunta, leva as mãos para trás do corpo e as apoia nas minhas pernas, usando-as como apoio para o tronco.

Puta que pariu, ele parece a droga de uma obra de arte, com manchas de tinta colorindo sua pele, do o peito nu aos braços e mãos. Percorro meus olhos por cada parte sua, decorando cada curva, a forma como seu corpo ondula sobre o meu, a sua ereção roçando a calça, me faz salivar.

Subo o olhar de volta para o seu rosto, gravando bem essa sua expressão rendida, a boca entreaberta e o olhar manso. Presto atenção em cada suspiro arrastado, cada arfar manhoso, certo de que minha mente vai me torturar com tudo isso depois, mas eu to pouco me fodendo agora.

Sinto meu pau fisgar a cada vez que Taehyung desliza sobre ele, estou suando, com as mãos firmes no seu quadril, me perco nisso, nesse único momento, minha mente desliga e agora me pego hipnotizado pela forma como ele rebola, tão devagar e tão gostoso.

– Hoseok – ele segura minhas mãos e as desliza até a sua bunda, arqueando a coluna e jogando o corpo para perto do meu. Ganha toda a minha atenção quando traz sua boca para perto da minha – Como você pensa em mim?

Fecho os olhos, me recusando a responder. Ele traz sua boca para perto da minha, deslizando a ponta do nariz pelo meu.

– Você pensa em mim montando em você? – indaga num sussurro, encaixando a boca na minha e me dando um selinho lento – Pensa em mim te chupando? – sua voz dengosa me deixa totalmente rendido, sinto sua língua no meu lábio inferior recuando quando tentei beijá-lo – Já imaginou como fica o seu pau na minha boca?

Mordi seu lábio como resposta, tão forte que logo o escutei choramingar, o garoto gemeu manhoso quando apertei sua bunda, o puxando para cima do meu pau com uma força e vontade absurda.

Ele sorriu, segurando meu rosto entre suas mãos e me dando um beijo longo, desesperado, sua língua se embola na minha e sua boca parece ter o encaixe perfeito.

Minhas mãos subiam e desciam pelo seu corpo, me atrevendo a apertar cada pedacinho, sentindo nos meus dedos o quão quente é a sua pele.

E quando terminou, Taehyung me empurrou pelo peito, afastando a boca da minha e empurrando minhas mãos para longe da sua cintura.

Ele suspira, deitando a cabeça de lado e lambendo os lábios, para no fim abrir um sorriso.

– E ainda tem a coragem de insinuar que eu sou mais um, você é patético, Hoseok – se ergueu, saiu do meu colo pegou sua garrafa e passou pelo sofá até as escadas – Boa sorte com o seu amigo – disparou em puro desdém, subindo cada degrau em passos apressados.

Me encontro sozinho na sala, como se o que acabou de acontecer houvesse sido uma maldita ilusão.

Olho para a ereção no meio das minhas pernas, puxo o ar e solto pela boca. Esfregando os olhos, subindo até meu cabelo e prendendo os fios entre os dedos.

– Mas que filho da puta!

(...)

Estou me preparando para sair quando meu pai aparece na porta do quarto, dá duas batidinhas no batente para anunciar sua entrada, o que não faz sentido, uma vez que ele já entrou.

– Vai sair?

– Vou – digo breve, olhando para ele através do reflexo do espelho, juntando as sobrancelhas ao notar o tipo de roupa que está usando – E pelo visto você também – rio – Vai pra onde?

– Se liga, garoto. Isso não é da sua conta – apertou os olhos, balançando o cartão de crédito no ar e o deixando na mesa – Pede uma pizza antes de sair, ou sei lá, qualquer coisa pra não deixar o Taehyung com fome.

– Beleza.

– Por que você não leva ele contigo? – cruzou os braços, mirando seus olhos em mim, sei exatamente o que esse olhar significa e não vou dar o braço a torcer dessa vez.

– Nem fodendo!

– Larga de ser cuzão, Hoseok – disparou, tento não me surpreender com o seu modo de falar comigo, é como se ele se esquecesse de que é meu pai, e isso nunca perde a graça.

– Não tô sendo cuzão, só acho que não preciso arrastar o garoto comigo, só isso – encolho os ombros tentando ao máximo provar meu ponto – Você nem sabe se ele curte os meus lugares que eu.

– Provavelmente não, já que você é um perdido.

– Agora você está falando como um pastor – acuso, o vendo revirar os olhos e negar com a cabeça, desistindo de argumentar comigo, meu pai faz o caminho de volta.

– Não vou voltar hoje, então é melhor você estar em casa antes de amanhecer.

– Porra, tá falando sério?

– Eu tô – ele para, virando para me encarar, transmitindo toda a seriedade que deseja e só me resta desistir dessa guerra – Antes de amanhecer – reforça.

– Ta.

– E nem pense em dirigir.

– Não vou.

Meu pai assentiu com a cabeça, suspirando antes de deixar o meu campo de visão e desaparecer no corredor.

Eu pretendia dar as caras em casa talvez às onze do dia seguinte, praticamente me arrastando, no fim das contas não há nada que me impeça de fazer isso, nada além da certeza de que se meu pai chegar em casa antes de mim, e Yerim descobrir que deixei Taehyung a própria sorte a noite toda, eu vou ouvir muito o dia inteiro. E não há nada que eu preserve mais nessa vida do que a minha paz de espírito.

Espero ter certeza de que meu pai e a noiva já estão longe o suficiente de casa para chamar o carro, estou nas escadas quando ouço passos me acompanhando.

– Ei, espera aí – Taehyung chama, vou diminuindo o passo até tê-lo ao meu lado – Que horas você volta?

– Por quê?

– Não gosto de ficar sozinho.

Arqueio as sobrancelhas, coço a nuca e solto o ar ao olhar diretamente nos seus olhos.

– Volto antes das duas – aperto os olhos, sem ter certeza do que estou dizendo – Você provavelmente vai estar acordado quando eu voltar.

– É bom você levar a maldita chave dessa vez, não vou descer para abrir a porta pra você.

Solto um risinho que o faz bufar, deixando claro que não está de graça.

– Vai me deixar trancado pra fora, Tae?

– Vou.

– Vai nada – provoco, levando a atenção de volta para a tela do celular, conferindo quanto tempo ainda falta para o carro chegar – Pedi uma pizza pra você, já deve estar chegando – aviso, mas não ouço uma resposta – Taehyung? – me viro, só para encontrá-lo ainda parado nas escadas, de braços cruzados e emburrado.

Quero perguntar se está com raiva por ser deixado sozinho, mas isso é mais do que óbvio. Muitas outras perguntas passam pela minha cabeça enquanto o observo agir feito criança, estou muito curioso para saber no que ele está pensando agora.

– O que foi, gatinho? – indago, apertando os olhos e amansando a voz, no mesmo tom que usam para falar com bebês e ele revira os olhos, desfazendo toda a pose o que de imediato me tira uma risada.

– Vai pro inferno, idiota.

– Quer um beijinho pra desfazer essa cara? – indago num tom de brincadeira.

Taehyung sai de onde está e joga o corpo contra o meu, me agarrando pela gola da camisa quando ameaça me beijar.

– Eu quero um beijinho, Hobi – pediu manhoso, roçando a boca na minha e sorrindo ao me ver puxar o ar. Esse garoto vai da água pro vinho – Mas aí você vai ter que subir comigo – apontou com a cabeça para as escadas.

– Não é assim que funciona.

– Mas é assim que eu quero – os dedos fazendo o contorno da gola da minha camisa, a boca descendo até o meu pescoço.

Sinto seu hálito na minha pele, arrepiando cada pelo do meu corpo. Sinto sua língua, subindo pelo meu pomo de adão, me tirando um arfar arrastado. Ele sorri, mordiscando meu queixo e me acertando um selinho rápido.

– Não tem ninguém em casa, Hoseok – ele lembra, com a boca de volta no meu pescoço, os dedos deslizando até a minha nuca – Fica aqui... comigo – pediu num murmuro, beijando meu pescoço.

Me ouço grunhir quando ele chupa minha pele, minhas mãos vão até o seu quadril e o arrastam para perto, meu coração salta dentro do peito ao mesmo tempo em que meu baixo ventre se revira.

Suas mãos deslizam para baixo, se aventuram dentro da minha camisa, arranhando minha pele, descem pelo meu abdômen, e seus dedos se prendem no cós da minha calça, empurrando o quadril contra o meu.

– Taehyung... – solto um grunhido, arfando quando mordisca minha pele e volta a erguer a cabeça.

Com um sorriso safado enfeitando seu rosto.

– Você podia ficar aqui comigo – murmurou dengoso, me deixando um selinho – No meu quarto – outro beijo.

– Não vai dar – digo num grunhido, com a plena noção de que isso vai deixá-lo frustrado e é exatamente o que acontece.

Taehyung se afasta de forma brusca, mais uma vez emburrado.

– Não dá pra ser do seu jeito sempre – acrescento, e Taehyung revira os olhos.

Volto a atenção para o aplicativo de carona e me preparando para sair quando vejo que o carro já chegou.

– Me liga se acontecer alguma coisa – aviso, levando meus olhos de volta para ele.

– Você vai voltar logo?

– Já disse que sim.

– Tá bom... – resmungou, ainda emburrado e continuou assim até eu sair de casa.

Durante todo o caminho até lá, sinto o poder de cada pensamento e o meu nível de desespero aumentando um pouco mais a cada segundo, com meu estômago gelado, sequer me lembro da última vez em que alguém me deixou nervoso assim. Me pergunto se, ainda que de forma inconsciente, eu não esteja criando algum tipo de expectativa em cima disso, se não estou indo com esperanças demais.

Assim que chego no local combinado é Yoongi quem encontro primeiro, não tivemos tempo de trocar nem quatro palavras até Jimin aparecer.

Ele, mais do que qualquer outra pessoa ao nosso redor, chama a atenção pra caralho. Meu coração dá um salto em falso quando seu olhar encontra o meu, um sorriso ilumina seu rosto enquanto atravessa a rua na nossa direção.

Está mais bonito do que eu me lembrava.

Cada parte vai de encontro a ele, como um ímã, seus braços rodeiam meu pescoço num abraço afobado e no instante em que sinto seu cheiro, parte de mim desmorona.

Eu errei muito ao negar que não sentia mais nada, porque, definitivamente, estou sentindo algo agora.

– Senti sua falta, Hobi – murmura.

– Também senti a sua – minha voz soa baixa, numa timidez desconhecida por mim.

Jimin se afasta, pressionando os lábios, contendo o sorriso ao olhar para mim e antes que possa ter a chance de dizer mais alguma coisa, Yoongi quase pula em cima dele, o tira do chão quando o abraça, arrancando dele um riso alto.

– Você nunca cresce, porra? – pergunto rindo. Jimin é baixinho, o menor de nós três, ele espichou um tantinho na nossa adolescência, mas não do jeito que Yoongi e eu, por exemplo.

– Vai se foder – o empurrou pelo ombro – Babaca do caralho.

Ele riu, para então passar o braço ao redor de seus ombros e o puxar consigo para dentro do bar.

Pegamos uma mesa ao ar livre, e começamos a conversar como se os últimos dois anos houvessem sido dois meses. Jimin fala sobre tudo, sobre a faculdade, sobre o trabalho, sobre namorados.

– Até que a sua vida amorosa anda bem das pernas – Yoongi comenta para Jimin, entornando sua terceira garrafa de cerveja – Minha ex namorada dormiu com meu vizinho por quase dois meses enquanto namoravamos.

Solto uma risada fraca, começando a sentir meu rosto quente com a bebida. Ambos os pares de olhos se voltam para mim, num silêncio que dura segundos inteiros e eles se entreolham, arqueando a sobrancelha e sorrindo mínimo, como se conversassem telepaticamente.

– Pelo visto a vida amorosa do Hoseok anda bem demais – Jimin comenta com um risinho.

– O quê?

– Né? Olha o tamanho desse chupão – Yoongi me ignora, erguendo a mão para tocar a pele do meu pescoço e rindo quando me esquivo.

– Que chupão? – quase grito, arrancando o celular do bolso para conferir meu reflexo na câmera frontal, apertando os olhos quando noto a marca vermelha bem embaixo da minha mandíbula.

Aquele filho da puta!

– Você não tem vergonha, Hoseok?

– Eu nem vi isso acontecer! – me defendo, desejando morrer quando ouço as risadas ainda mais altas.

– Esse negócio de chupão é tão coisa de adolescentes, eu adorava fazer isso nos meninos – Jimin comenta com um sorrisinho. Me lembro bem disso, me lembro muito bem aliás, já que eu acabei sendo um desses meninos que ganhou um chupão dele enquanto nos agarrávamos, bêbados na casa de um amigo.

– É... – viro o que resta da minha cerveja – É bem coisa de adolescente mesmo – reforço, com a imagem de Taehyung me clareando a mente.

Eu vou matar esse pirralho.

Continuo bebendo, mais e mais até o número de garrafas vazias na mesa ser alarmante, até meu corpo ficar tão dormente e meus pensamentos tão confusos que tudo o que consigo pensar é no quanto Jimin está bonito, no quanto eu gostava dele e talvez ainda goste um pouquinho.

A cada vez que ele se vira para mim sorrindo, enquanto conta sobre uma experiência sua, num tom de voz empolgado, sinto meu coração derreter dentro do peito. O que constantemente me faz questionar se vou ter uma queda por ele para o resto da vida.

Ficamos sozinhos na mesa depois que Yoongi se retira para ir ao banheiro, e Jimin puxa sua cadeira para perto da minha, apoiando ambos os cotovelos na mesa e segurando o queixo em suas palmas ao girar o corpo na minha direção, sorrindo de uma forma absurdamente fofa.

– Você mudou.

Solto um riso soprado.

– Mudei como?

– Você tinha rostinho de menino da última vez que te vi, agora não tem mais.

– E isso é bom? – arqueio as sobrancelhas.

– É – ele dá de ombros – Você ficou mais bonito.

Meu sorriso é instantâneo, agradeço pela bebida já fazer com que meu rosto pareça um pimentão, pois caso contrário ele saberia o quanto isso me deixou tímido, meu coração parece uma bomba agora.

– A gente não deveria ter se afastado – continua, abaixando o olhar e respirando fundo, seus olhos encontram os meus, me deixa esperançoso – Você sempre vai ser o meu melhor amigo.

MAS QUE PORRA!

É óbvio, ÓBVIO, que somos só amigos, sempre vamos ser melhores amigos.

Hoseok, você é um fodido emocionado do caralho, puta que pariu.

Abro um sorriso mínimo, tentando esconder o quanto isso me abala negativamente, desvio o olhar e balanço a cabeça em afirmação.

– Sim, somos melhores amigos.

– Vamos, o uber já tá lá fora – Yoongi aparece, com o celular na mão apontando para a saída.

Dou graças a deus por isso, sinto que se passasse mais dois minutos tendo essa conversa, tentaria suicidio logo depois.

E durante todo o caminho para casa, não consigo deixar de pensar nisso, sinto tudo de novo, tudo, como se esse sentimento houvesse sido guardado bem fundo dentro de mim, só esperando pela presença de Jimin para aparecer e foder com toda a minha cabeça.

Quase dois minutos depois de deixarmos Yoongi em casa, estando só ele e eu dentro do carro, Jimin deita a cabeça no meu ombro, cantando baixinho a letra de Sentimental que soa do rádio. Passo a acompanhá-lo, sentindo o peso de cada palavra, e pode até ser por causa da embriaguez, mas dói ainda mais quando o tenho do meu lado, depois de dizer que somos melhores amigos.

Chegamos em frente ao meu condomínio pouco tempo depois, ele suspira e sorri manso quando olha pra mim.

– Tchau, Hobi.

– Tchau – murmuro, sorrindo de volta antes de descer do carro e passar pelo portão.

Praticamente me arrasto até em casa, demorando um pouco mais até conseguir destrancar a porta e entrar. Quase todas as luzes estão apagadas, com exceção da que vem do corredor do segundo andar, subo degrau por degrau com cuidado, seguindo rumo até a única porta aberta, a de Taehyung.

– São três da manhã, Hoseok – ele diz no instante em que me vê. Está deitado na cama, enrolado embaixo dos cobertores enquanto assiste algo no computador, olho para a caixa de pizza na estante, para os lápis de cor esquecidos em cima de uma folha, e de volta para ele – Como foi?

– Legal... – dou de ombros, me escorando no batente da porta, enfiando as mãos nos bolsos do casaco.

– Não sei, não – sorriu travesso – Você chegou cantando Los Hermanos... – diz, eu sequer notei que estava cantando quando subi as escadas. Abro um sorriso fraco, baixando o olhar até o chão, com a visão meio turva e o corpo mole – Você tá com uma cara horrível, o que foi?

– Nada – omito, não quero dizer a ele que talvez tenha razão, talvez eu seja mesmo um imbecil emocionado – Posso deitar com você?

Taehyung se mostra surpreso com a pergunta, sobrancelha arqueada e lábios entreabertos, seus olhos desviam dos meus por um segundo ou dois, então voltam.

– Pode – murmura, para quando eu começar a me aproximar ele abrir espaço na cama. Tiro os sapatos e me junto a ele por cima do cobertor, dividindo o mesmo travesseiro, tão perto que quando se vira para mim posso sentir sua respiração.

– Ele ainda é seu amigo? – pergunta baixinho, abaixando a tela do computador, juntando as mãos numa concha e as guardando debaixo da bochecha.

– É, ele é meu amigo – confesso, com um sorriso melancólico no rosto.

Taehyung suspira, os olhos ainda presos nos meus, e nenhum de nós diz nada por um bom tempo.

– Você ainda gosta dele? – sua voz soa tão baixo que quase não entendo a pergunta.

– Talvez... Um pouco – aperto os olhos e faço careta, arrancando dele uma risadinha – Eu não sei.

Taehyung esboçou um sorriso, se arrastando pelo colchão até conseguir apoiar a cabeça no meu ombro.

– Eu acho que agora é só mágoa, sabe? – digo meio confuso – Eu não sei, eu não costumo me sentir assim pelas pessoas – rio nervoso – Eu demorei anos pra entender que estava apaixonado por ele. O Jimin foi a primeira pessoa com quem eu já quis alguma coisa, eu queria que ele fosse meu... – digo, e paro no segundo em que me dou conta de que tudo isso está saindo da minha boca, alto e claro e eu nunca desabafei sobre isso com ninguém antes, não de uma forma tão direta – De todas as pessoas com quem eu já me envolvi, ele foi o único por quem eu senti alguma coisa, e ele sequer precisou me beijar pra isso, porra...

Ele ergue a cabeça, tão pertinho de mim que sua boca por muito pouco toca a minha.

– Se ele tivesse dito hoje que queria ficar com você, você aceitaria?

– Provavelmente.

Ele soltou o ar num tipo de riso.

– Então você ainda gosta dele, Hoseok.

– Que merda.

– É uma merda mesmo – voltou a deitar a cabeça no meu ombro – Quando meu ex pediu pra voltar eu aceitei, mesmo depois de todas as merdas, porque eu ainda gostava muito dele.

– E o que aconteceu depois?

– Ele terminou comigo e voltou para a Itália, eu fiquei muito mal – riu triste – Você não faz ideia de como dói ouvir da pessoa que você ama mais do que tudo no mundo, que você não é mais o suficiente, que ele não te ama mais. Isso dói, Hoseok, dói pra caralho.

Não respondo, não sei o que dizer porque o mais longe que já cheguei foi ter uma paixão não correspondida.

– Eu queria gostar de pessoas menos turbulentas, que não fizessem da nossa relação um inferno, queria gostar de pessoas menos intensas. Mas do que iria adiantar se eu também sou assim? – ele puxa o ar – Eu me dou inteiro em troca de nada, sempre. Eu gosto demais, eu amo demais, eu sinto tudo ao extremo, nunca na medida certa, e isso é um inferno!

Acabo rindo, é engraçado porque diferente dele, eu não costumo sentir nada.

– Nunca daríamos certo – comento ainda rindo.

– Eu sei – sorriu, erguendo a cabeça e mais uma vez sua boca roçou a minha – Eu não quero dar certo com você, eu só quero transar – ele joga na lata, com um sorriso tão bonito que me questiono se entendi certo, num tom de voz tão meigo que parece até errado o que ele disse.

– É assim mesmo que começa – murmuro, subindo uma das mãos até o seu rosto, com minha respiração encurtando cada vez que ele encaixa sua boca na minha, mas não me beija.

– Você acha que eu vou me apaixonar, Hobi?

– Você vai? – indago e ele ri, subindo uma das pernas por cima da minha.

– Não – ele encolheu os ombros, se arrepiando quando deslizei os dedos até a sua nuca – Gostar de você parece o mesmo que cometer suicídio.

Acabo rindo. Não sei se essa foi a melhor analogia do mundo, mas não teve um cara com quem fiquei por um tempo que não me odeie hoje em dia.

– Tem certeza? – indago, arfando quando ele joga o quadril contra o meu, me empurrando até conseguir montar em mim.

– Tenho – Taehyung mordeu o meu lábio, puxando devagar e sorrindo – Mas hoje não – ele puxa o ar e sorri, erguendo o corpo, deslizando a palma da mão pelo meu abdômen ao se sentar – Hoje eu não quero.

Está fazendo manha, ele sempre faz manha. Estreito os olhos ao olhar para Taehyung, mal posso crer na situação em que estou agora, com ele montado em mim dizendo que hoje não vamos transar.

Deus me mate agora.

– Por que você não quer?

Ele sorriu safado, correndo a ponta dos dedos pela minha barriga, por cima do tecido da camisa.

– Você não quis mais cedo, então não vai ter agora – deu de ombros, me recordando do momento em que me recusei a furar com meus amigos para ficar com ele – Aliás... – ele toca o meu pescoço, bem em cima da marca vermelha que ele mesmo me deixou, e com um biquinho nos lábios e o olhar inocente ele diz: – Foi mal por isso.

Taehyung é tão cínico que dói.

Agarro seu pulso, afastando sua mão de mim, para então tomar impulso para me sentar, rodeando sua cintura ao arrastá-lo para mais perto de mim, encaixando o seu quadril no meu. Taehyung prendeu um riso inusitado, usando as palmas das mãos para se segurar nos meus ombros.

– Da próxima vez que você me deixar um chupão, eu te mato, moleque – avisei, mal me aguentando com o olhar cheio de luxúria que me lançou.

– Então talvez eu faça outro – provocou num tom manhoso, que desestruturou cada parte minha. Ele aproveitou da minha falta de atenção para enfiar o rosto no meu pescoço, mordiscando minha pele e rindo quando me esquivei.

– Para de brincar – grunhi, o afastando de mim, segurando seu rosto para que ficasse quieto e olhasse para mim.

– Parei – mordeu o lábio ainda sorrindo, agindo como um pestinha. E foram dois segundos até ele me morder de novo, rindo quando o joguei contra o colchão, sendo rodeado pelos seus braços quando me abraçou em reflexo – Já parei! – gritou entre risos – Desculpa.

Acabo sorrindo com a cara de pau desse garoto, desviando o olhar e pressionando os lábios ao voltar a fitar seu rosto, os olhos pequenos curvados por conta do sorriso que esboça.

Sinto como se tivesse apostado todas as minhas fichas e perdido cada uma delas, nesse exato segundo, com Taehyung sorrindo, com seu cabelo enrolado espalhado pelo travesseiro. Porra, ele é uma coisa de outro mundo.

Desci o rosto até meu nariz tocar o seu, e Taehyung fechou os olhos, acompanhando cada movimento, abrindo a boca quando ameacei beijá-lo, respirando forte como se tivesse ansiado por isso a noite toda.

E no instante em que minha boca tocou a sua, suas mãos se aventuraram para dentro do meu cabelo, os dedos presos aos fios, puxando, enquanto encontrava o encaixe da sua boca na minha, quase gemendo quando minha língua deslizou pela sua, quando finalmente senti seu gosto outra vez.

E a essa altura eu já não me importo com merda nenhuma.

Quero beijar Taehyung até não sentir mais a minha boca, e que se foda o resto, quero ir além, muito além, quero me afundar nele, descobrir cada uma das coisas que ele é capaz de fazer, decorar cada uma delas, quero sentir, quero ouvir meu nome saindo dessa boca gostosa, eu preciso ouvi-lo gemer, descobrir como ele se comporta e tudo o que gosta que façam na cama.

Porque ele me parece bom demais pra deixar escapar.

Nos beijamos por minutos inteiros, com pausas demoradas, sem trocar uma palavra sequer, nada além de selinhos, beijos no pescoço, para então voltar para a boca um do outro.

– Você beija bem pra cacete – o ouço murmurar, depois de muito tempo, quando eu já havia praticamente me desmontado em cima dele, com o rosto afundado no seu pescoço.

Solto um riso soprado, deixando um selar naquela região e grunhindo em resposta.

Então apago, sequer noto quando durmo, acordo com o barulho do carro do meu pai e só então percebo que estou agarrado a Taehyung na cama, com suas pernas emboladas na minha e sua respiração tocando meu rosto.

Com um pouco de cautela me levanto, minha cabeça dói e começo a sentir uma puta sede, olho em volta demorando para assimilar o que está acontecendo.

Ouço o barulho da chave, e me levanto, catando minhas coisas e meus sapatos, me assusto quando vejo Taehyung acordado, os olhos apertados enquanto me fita.

– Meu pai chegou – murmuro e ele arqueia as sobrancelhas, parecendo entender – Volta a dormir – me aproximo dele, lhe dando um selinho e me arrependendo logo depois.

O vejo puxar o cobertor, cobrindo quase todo o seu rosto, e só depois deixo o quarto, correndo para o meu e largando minhas coisas, me desmontando na minha cama e fechando os olhos para voltar a dormir.

Ouço a porta abrir e fechar em um certo momento, que me dá a certeza de que é meu pai conferindo se voltei para casa como o combinado.

Me permito pensar em Taehyung, no quarto ao lado do meu, eu deveria evitar, deveria construir uma barreira entre nós, mas parece impossível.

Parece impossível afasta-lo quando a melhor coisa que experimentei nos últimos dias fora ele.

Ele, ele, ele.

E quero mais.

Deus, como eu quero mais dele!

🌻

 não mas esse capítulo kkkkk

taehyung não tem um pingo de vergonha, jurooo

as contas dos personagens no ig são thvvante e hobivvante

se tiverem interesse o meu perfil no twitter é gabbieah_ e no ig é gabbie.ah

beijinnhos

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