Não pare a Música

De AliceHAlamo

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A dança é composta por vários elementos. Você tem a coreografia, o tempo, a música, o dançarino, a técnica... Mais

Capítulo 1 - Sasuke
Capítulo 2 - Naruto
Capítulo 3 - Ino
Capítulo 4 - Gaara
Capítulo 5 - Quebra de rotina
Capítulo 6 - Suas lentes
Capítulo 7 - Interesses
Capítulo 8 - O que os outros pensam
Capítulo 9 - Encantado
Capítulo 10 - Ajuda "mútua"
Capítulo 11 - Punição
Capítulo 12 - Fora de Foco
Capítulo 13 - Desafio
Capítulo 14 - Intensidade
Capítulo 15 - Mudanças
Capítulo 16 - Tensão
Capítulo 18 - Escolhas
Capítulo 19 - A queda
Capítulo 20 - Bolha
Capítulo 21 - Luz acesa
Capítulo 22 - Segredos
Capítulo 23 - Permissão
Capítulo 24 - Montanha Russa
Capítulo 25 - Gravidade
Capítulo 26 - Amarga Vitória
Capítulo 27 - Forjada em veneno
Capítulo 28 - Aberto
Capítulo 29 - Relações
Capítulo 30 - Linda
Capítulo 31 - Cores
Capítulo 32 - Oportunidades
Capítulo 33 - Elos
Capítulo 34 - Marcas da alma
Capítulo 35 - Resgate
Capítulo 36 - Suporte
Capítulo 37 - O que tem atrás das cortinas
Capítulo 38 - Socos da vida
Capítulo 39 - A morte do Cisne
Capítulo 40 - Acerto de contas
Capítulo 41 - Vida
Epílogo

Capítulo 17 - Entre jogos e bebidas

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De AliceHAlamo


Sasuke acordou às cinco da manhã, mas não se levantou. O corpo obrigou-o a permanecer na cama por mais que ele quisesse sim treinar. Estava exausto, acabado, de um jeito que há muito tempo não ficava. Sentiu-se mal por ter exagerado no dia anterior, lembrava-se de Madara gritando consigo e de Hashirama tentando conter a discussão, de ter batido a porta do quarto com força assim como o tio fizera segundos depois.

Eles não entendiam... As datas das audições tinham sido alteradas e eles não entendiam o quanto isso o prejudicava e o quanto significava que precisava treinar mais! Admitia sim que havia exagerado, o corpo desobediente na cama era prova disso, mas o que podia fazer?? Havia assistido aos ensaios de Nej, o amigo havia deixado que ele assistisse na tentativa discreta de ajudá-lo a pegar algum detalhe da coreografia ou de algum passo em que tivesse dificuldade. Aquilo era o máximo que Neji podia fazer por ele, tirar dúvidas e mostrar a diferença entre um profissional e um estudante...

E ele achava que estava indo bem... que ilusão.

Desligou o alarme do celular e fechou os olhos sem culpa por estar disposto a perder a aula da faculdade naquele dia. Acordou de novo apenas com as batidas em sua porta e resmungou qualquer xingamento ao ver que eram quase onze horas.

Estava atrasado, tinha consulta naquele dia, Mito já devia estar chegando para buscá-lo, mas o corpo doía, bem como a cabeça. Arrastou-se para fora da cama, destrancou a porta do quarto e suspirou ao ver Hashirama com um comprimido em uma mão e um copo d'água na outra. A expressão dele estava séria, e Sasuke já podia imaginar que ele se questionava se devia ou não lhe passar o sermão que tanto queria. Hashirama era sempre assim, evitando confrontá-lo talvez por medo de se desentender com ele e isso atrapalhar seu relacionamento com Madara, talvez por não se achar em posição para repreendê-lo, talvez por achar que Mito ou Madara teriam mais sorte. Mas, daquela vez, Sasuke percebeu que não escaparia de algumas palavras...

— Você está bem? — Hashirama perguntou assim que o viu tomar o relaxante muscular, e Sasuke assentiu em silêncio. — Ótimo. Você tem uma hora para tomar café e se arrumar. Mito já está voltando para te levar no médico — falou, e Sasuke arregalou os olhos, enfim prestando atenção no que ele dizia. Hashirama o encarou, com a mesma seriedade de antes. — Eu descobri se é o que quer saber, ouvi Mito marcando a consulta, e, se você não quiser que eu conte sobre isso para o seu tio, você vai começar a obedecê-lo quando ele mandar você parar, Sasuke.

— Eu já disse que mudaram a dat-

— Você não vai ter que se preocupar com isso depois que Madara te arrancar daquele lugar — frisou, irredutível, e Sasuke recuou. — Ou você toma cuidado e obedece o seu tio quando ele mandar você descansar, ou eu conto para ele da consulta, e você conhece o tio que tem. Madara não é... razoável. Ele não vai hesitar de te tirar dessa escola se achar que você está se matando nela. Eu não terminei! — pontuou, firme, quando Sasuke abriu a boca para rebatê-lo e ignorou os punhos cerrados dele ou o olhar irritado. — Eu e Mito convencemos Madara a te deixar continuar depois que a notícia dos suicídios vieram à tona, ele queria mudar você de escola porque odeia aquele seu professor e a notícia dos suicídios realmente o assustou. Nós o convencemos de que você era parecido com ele e que não se deixaria levar pela merda que é aquele ambiente, que nunca chegaria a aquele ponto ou a se machucar por causa dessas malditas apresentações, que pediria ajuda para nós antes de qualquer coisa! Eu sei que é uma grande chance que está tendo, imagino que essa sua mente competitiva deve estar gritando para que use cada segundo para treinar e que, ainda assim, não vai ser suficiente, mas nem eu nem Mito vamos te apoiar se continuar pulando suas refeições ou treinando até a exaustão. Está repetindo o que fez ano passado, a mesma coisa... começa aumentando o tempo de treino, come mal, finge que nos ouve e falta na faculdade. Não vamos te apoiar nem te defender se isso continuar, me entendeu?

Sasuke mordeu a língua para não responder, mas sabia que Hashirama tinha plena ciência de todos os xingamentos que passavam por sua mente. Era grato por ele e Mito terem impedido Madara de tirá-lo das aulas, recordava-se bem de como seu tio havia passado meses incomodado com o descaso dado aos suicídios... Foi como se isso abrisse os olhos dele para o descaso da companhia com seus bailarinos, e definitivamente o fez querer a todo custo mudá-lo para outra escola. Mas qual? Esse era o ponto, nenhuma outra oferecia a Sasuke a chance de crescer na profissão, de poder alcançar as companhias internacionais, de se destacar! Mudá-lo de escola era assinar uma sentença, condenar a carreira do sobrinho, e foi isso e muito mais que Mito e Hashirama repetiram dia após dia. Então, sim, Sasuke era grato por isso, tinha se aproximado muito mais de Mito após esse episódio, do modo dele é claro, e tinha aprendido a tranquilizar Hashirama o mínimo necessário apenas para que o esforço dele em defendê-lo não parecesse em vão. Portanto, essa dívida estava mais que paga.

— Sasuke, estou falando com você.

— E eu já ouvi — respondeu indiferente. — Não se preocupe, não vou dar motivos para você "me defender".

— Sasuke, não queremos que se machuque, só isso. Você sabe que não me meto nos seus assuntos, sabe que não tenho interesse nenhum em te prejudicar, eu só quero que você fique bem. — Hashirama o segurou pelo braço quando Sasuke tentou pôr fim ao assunto, o tom mais ameno enquanto tentava de alguma forma impedir que a conversa fosse em vão.

Sasuke respirou fundo. Não adiantava, eles nunca entenderiam... Compreendia a preocupação, apreciava o cuidado, mas talvez, por não fazerem parte daquela parte tão importante do seu mundo, eles nunca viessem a compreender o porquê seus treinos importavam tanto.

— Tudo bem, eu entendi — respondeu contendo a insatisfação. — Vou tomar mais cuidado, não se preocupe.

Hashirama suavizou a expressão e assentiu.

— Obrigado. Agora vem, fiz seu café dessa vez.

* * *

Redução da cartilagem. As palavras do médico fizeram Sasuke prender a respiração enquanto o médico explicava que ele tinha conseguido perder cerca de 30% da cartilagem do joelho esquerdo e por isso estava sentindo aquela dor. A cartilagem era o que amortecia o impacto dos saltos em seus joelhos, ter perdido parte dela sem nem ao menos ter começado sua carreira profissional era... assustador.

Mito respeitava seu silêncio no carro, ela não havia entrado na consulta consigo, obviamente não sabia o que o médico tinha dito, mas ele percebera o sorriso gentil dela diminuir assim que ele saiu do consultório. Sua expressão devia ter sido resposta suficiente...

Pararam na farmácia, ele devia comprar um remédio para dor e um outro que ajudaria a preservar o restante da cartilagem que possuía. Pegou o celular enquanto aguardava na fila, impaciente, precisava se distrair para não deixar que a recente informação o desesperasse. Passou os aplicativos com pressa e até mesmo considerou mandar uma mensagem para Ino a fim de manter a mente ocupada, mas outra coisa lhe chamou atenção...

Era segunda-feira, tinha marcado de sair com Naruto naquele dia... e, por algum motivo, sentiu-se aliviado, até porque tinha certeza que com Naruto do lado a última coisa em que pensaria era no joelho. Certo que parte seria devido à apresentação a que assistiriam, e nem mesmo se importava de ser Romeu e Julieta (talvez a obra que mais detestava), mas tinha que admitir que era fácil perder o raciocínio com Naruto perto. Ele o distraía, fazia com que risse e se esquecesse do cansaço após os ensaios e, mesmo que quisesse muito socá-lo toda vez que era obrigado a ouvir alguma piada sem graça, acabava sorrindo discretamente. Naruto tinha um dom incrível de arrastá-lo para aquele estranho e constante bom humor em que parecia imerso...

Mandou uma mensagem rápida para o outro, apenas para confirmar onde se encontrariam, e mordeu o lábio quando Naruto perguntou se deveria buscá-lo. Sabia bem o que aconteceria se dissesse sim, sabia onde a noite terminaria, não era idiota, muito menos inocente... mas a questão era que Naruto não era Shikamaru, ele não o conhecia nem tinha obrigação alguma de entendê-lo, não deveria alimentar aquelas expectativas, e Madara não usaria o carro aquela noite, ele iria com Mito para a boate fechar o contrato com o novo DJ. Recusaria a carona, mas isso não o impediria de oferecê-la... assim, se mudasse de ideia, talvez, só talvez, pudesse até mesmo considerar arriscar.

Pagou pelos remédios espiando o celular enquanto Naruto não o respondia e sorriu satisfeito quando ele aceitou que fosse buscá-lo. Voltou para o carro e fingiu não perceber Mito o olhar curiosa.

— Vou ir numa apresentação hoje à noite e depois sair com uma pessoa — informou com falso descaso.

— Está tudo bem? — ela enfim perguntou.

— Sim.

— Quer que eu te deixe em algum lugar ou vai direto para casa?

— Pra casa, quero verificar uma coisa antes de sair.

Mito concordou, um sorriso mais aliviado no rosto enquanto espiava a postura relaxada de Sasuke toda vez que o celular vibrava.

Sasuke desceu do carro assim que ela estacionou, entrou em casa caminhou até o quarto com uma surpreendente animação. Revirava uma de suas gavetas quando ouviu as batidas firmes na porta, não precisava de muito para saber que era Madara e, por isso, apenas gritou um "entre" sem nem ao menos se virar.

Madara abriu a porta, encostou-se no batente com os braços cruzados, e Sasuke não estranhou o silêncio que se seguiu. Nenhum dos dois era bom em se desculpar, os orgulhos se equiparavam e muito dificilmente tinham voltado atrás com suas opiniões, Sasuke pelo menos não havia.

— Hashirama me ligou — Madara falou, sério, e Sasuke parou de mexer nas roupas enquanto esperava que o tio continuasse. — Ele disse que conversou com você, mas eu sei que você não deve ter ouvido um puto do que ele falou porque, bem, ele também tentou falar comigo e eu não ouvi.

Sasuke relaxou e até mesmo se permitiu rir baixo e olhar para Madara, eles realmente eram parecidos...

— Vou sair hoje — avisou, e Madara o olhou surpreso enquanto se aproximava para olhar a roupa que o sobrinho separava.

— Uau... vai se arrumar decentemente dessa vez — debochou e não resistiu em bagunçar o cabelo de Sasuke em provocação. — Volta pra casa?

— Ainda não sei, acho que sim. Vou levar o carro.

— Sem problema, divirta-se — Madara desejou, sincero, e arqueou a sobrancelha surpresa quando, ao se preparar para sair do quarto, ouviu Sasuke respondê-lo:

— Isso com certeza eu vou...

Madara balançou a cabeça em descrença e saiu do quarto, fechando a porta, Sasuke sorriu ao ligar o notebook e apoiá-lo na cama. Aproveitou para ver o conteúdo da faculdade que tinha perdido, não podia se dar ao luxo de atrasar a matéria, essa era a pequena parte da sua vida que tinha a obrigação de manter em ordem. Programou o celular para tocar no horário em que precisaria começar a se arrumar e puxou as canetas e o caderno. Felizmente, Shikamaru havia lhe mandado o resumo do dia, então não teve dificuldade de entender o assunto. Assim, quando o celular tocou, não houve culpa ao fechar tudo e ir para o banho.

Arrumou-se sem pressa, estava dentro do horário e queria se vestir bem. Não só por Naruto, apesar de admitir com bastante relutância que havia pensado no pianista enquanto separava as vestes, mas também pelo teatro em que iriam. Não era um simples teatro, não era uma peça qualquer, era simplesmente o teatro mais luxuoso da cidade recebendo a melhor companhia do estado e apresentando uma obra exclusiva. Aquilo podia não ser só lazer, não duvidava de que pudesse encontrar figuras importantes na plateia, e uma boa impressão era tudo, ainda mais na sua área. Além disso, Sakura também iria, tinha descoberto no dia anterior que a Tsunade havia conseguido ingressos para as duas e, se bem conhecia a amiga, já esperava que ela, em algum momento, o arrastasse para conhecer uma ou outra pessoa. Era não só um encontro, era também uma oportunidade!

Olhou-se no espelho, ajeitou a gola da camisa e agradeceu por Hashirama ser diferente de seu tio e ajudá-lo a escolher as roupas sociais. Penteou o cabelo e colocou o relógio no pulso, conferiu o horário e saiu do quarto atrás das chaves. Ouviu vozes sussurradas na cozinha, seu tio conversava com Hashirama, e tentou ser o mais discreto possível ao pegar as chaves do carro na mesa. Espiou-os por sobre o ombro e se sentiu de certa forma bem ao vê-los próximos enquanto Hashirama cozinhava e ria suave. Saiu antes que o notassem, o caminho para a casa de Naruto não pareceu difícil segundo o GPS e tinha que admitir que chegou a apertar o volante com um pouco mais de força e ansiedade quando parou em frente à casa.

Engoliu em seco e arrumou a postura quando o viu sair pelo portão. Os cabelos loiros e os olhos claros se destacavam no terno escuro, a camisa clara ajudava a quebrar a seriedade, mas o que de fato arruinava de vez com a sobriedade do conjunto era o sorriso grande e caloroso que Naruto exibia enquanto se sentava ao seu lado. O perfume era amadeirado, tinha presença, apesar de não ser muito forte nem enjoativo, e Sasuke respirou fundo inconscientemente.

— Pontual... — Naruto brincou ao travar o cinto. — Ainda bem que uma amiga me aconselhou a adiantar o relógio em uma hora para garantir que eu não me atrasasse.

Sasuke arregalou os olhos antes de virar a cabeça na direção dele com clara indignação.

— Lembrou de pegar os ingressos pelo menos? — indagou com descrença, e Naruto riu.

— Para quem está prestes a ir assistir uma peça tão única, você está muito mal humorado, Sasuke. Não está animado?

Sasuke revirou os olhos e deu partida no carro.

— Diz o cara que nem sabia o quanto valia o próprio ingresso...

— Eu nunca presto atenção nessas coisas — Naruto comentou com descaso.

— Pelo bairro onde você mora e o tamanho da sua casa, eu tenho certeza que não.

— Não to falando disso, falei que não presto atenção porque normalmente vou sozinho e você conhece o ditado... de graça, a gente aceita até injeção. Nunca recuso os convites.

— Por que vai sozinho? — Sasuke não conseguiu impedir a pergunta e se recriminou quando viu Naruto sorrir de volta.

— A companhia nunca é boa o suficiente — respondeu com sinceridade, e Sasuke arqueou a sobrancelha o fazendo reparar nas próprias palavras e arregalar os olhos. — Digo, você entende do assunto, vai realmente apreciar o espetáculo, vai saber falar sobre ela e não vai achar ruim de eu também não calar a boca. Você é a pessoa ideal para isso! E é uma companhia agradável quando não está socando o chão ou querendo matar alguém enquanto ensaia.

— Aham, é claro... — Sasuke sorriu de canto. — E, falando em ensaios, Sakura me disse que você também vai ser avaliado nas audições. Por que isso?

Naruto remexeu-se no banco e bufou, visivelmente incomodado.

— Parece que alguém duvidou da minha competência. Mas não tem problema. — Ele deu de ombros e voltou a sorrir, confiante. — Eu vou tocar nas apresentações, é uma certeza.

— Ah é? E por quê? — Sasuke questionou, desconfiado, olhou para Naruto e, por um momento, sentiu que a desconfiança que vinha tentando manter em relação a Naruto se esvaía, ainda mais quando ele o olhava com segurança, o sorriso tranquilo e a postura quase displicente ao responder:

— Porque não há outra opção, é o meu objetivo tocar e conquistar o meu lugar ali, e eu vou conseguir isso, não vai ser um professor como Orochimaru que vai me impedir.

Sasuke o encarou, o sorriso leve tomando seus lábios sem que percebessem, mas os sentimentos de surpresa e admiração mais que evidentes. Naruto era alguém surpreendente, já havia aceitado isso, era difícil de lê-lo apesar de já ter entendido algumas pequenas coisas sobre ele, como, por exemplo, o fato de ele não ficar nervoso ou irritado por muito tempo, o bom humor quase constante, o sorriso que distribuía fácil a qualquer um e aquela bendita determinação no olhar, muito comum quando o olhava de volta, como se ele fosse seu próximo desafio. Aliás, exatamente como fazia naquele momento...

Umedeceu os lábios sem pensar e desviou o olhar quando o semáforo ficou verde. Tentou se concentrar no caminho, a vã tentativa de se fingir ignorante do coração agitado que se manifestava no peito e que batia ainda mais depressa quando sentia Naruto observá-lo. Não, Naruto não sabia mesmo ser discreto, não sabia disfarçar, mas também o que Sasuke não sabia era que o outro simplesmente não queria isso, não fazia parte do seu jeito nem dos seus planos esconder seus desejos e vontades; pelo contrário, para ele, era mais que satisfatório assistir às reações de Sasuke, cada uma delas, curioso e ansioso pelo momento em que ele deixaria de fingir que não entendia o que queria.

E Naruto o queria, tinha curiosidade, desejava conhecê-o por completo e em cada aspecto. Estava no caminho certo, já havia notado. Sasuke era reservado, mas, se fosse paciente, se continuasse no ritmo que seguia, conseguiria, tinha certeza disso. Já havia sonhado demais com a maldita sensação em seus lábios que o corpo fazia questão de não esquecer, e a vontade de repetir o ato o torturava a ponto de respirar de forma pesada sempre que Sasuke umedecia os lábios ou o olhava ofegante após os ensaios.

Além disso, Sasuke não era indiferente a ele, via a forma como ele lhe respondia, e o modo como haviam se beijado, o descontrole daquele momento não era de alguém que não sentia nada...

Viu Sasuke estacionar o carro e checar o relógio de pulso. Saiu do carro primeiro, ajeitando a roupa no corpo e esperando Sasuke dar a volta e parar ao seu lado. Sorriu com o brilho que os olhos escuros adquiriram diante do prédio, o lugar era majestoso, uma construção antiga em arquitetura clássica, e estava lotado pelo horário.

— Vamos? — Naruto perguntou animado, e Sasuke concordou sem ainda conseguir responder decentemente.

Sasuke o seguiu, sem prestar muita atenção no caminho e sim no prédio à frente. Já havia estado ali, uma única vez, Hashirama tinha um amigo que havia permitido que ele conhecesse o lugar, mas aquilo era diferente... As pessoas subiam os degraus, as colunas sustentavam a entrada, e todas as pequenas imagens esculpidas no arco sobre a porta pareciam ter brilho próprio. Já havia fotografado aquilo, já tinha talvez até mesmo decorado a posição de cada pequeno elemento que compunha o arco, mas o sentimento de estar passando por aquela porta para assistir uma peça, uma importante!, naquele lugar era maravilhoso.

O hall de entrada era esplêndido. Havia uma escada central que acabava em um grande quadro e depois se dividia em duas laterais, o lustre era tão grande que praticamente dois terços da altura do prédio era preenchido pelos cristais e a luz suave que se refletia neles, as paredes eram claras, mas continham cortinas vinho e de algumas partes do teto caíam longos banners com fotos da apresentação do momento.

— Cuidado. — Naruto o segurou pelo ombro e o desviou das pessoas em que esbarraria. — Encantador, não é? É um dos meus lugares favoritos da cidade toda.

Sasuke concordou, ainda olhava ao redor tentando apenas aproveitar ao máximo a magia daquele ambiente. Tinha algo no ar que lhe era familiar, como todo teatro onde entrava, mas aquele era especial, era o seu sonho! Dançar ali, para pessoas tão importantes, receber os aplausos e os holofotes... Era por aquele lugar, por aquele reconhecimento, que lutava com todas as suas forças, ali era o primeiro grande passo para a carreira internacional.

— Já podemos nos sentar, se você quiser — Naruto falou, a mão na cintura de Sasuke o ajudando a caminhar entre as pessoas.

Sasuke respirou fundo quando viu o palco. Era enorme... As cortinas fechadas pareciam pesadas, negras, e a plateia tinha um leve aroma de madeira de qualidade, limpa e reluzente. As pessoas caminhavam sem pressa para seus lugares, conversavam entre si e riam como se aquele fosse apenas mais um dia em suas vidinhas ricas.

— Como a sua amiga recusou um ingresso desses? — perguntou para Naruto, inconformado.

— É uma ótima pergunta, mas, pelo menos, os ingressos vão ser melhor utilizados, não acha? — Naruto devolveu otimista, indicando a fila em que seus lugares ficavam.

— Melhor utilizados... você ao menos conhece o espetáculo? — Sasuke provocou, e Naruto se sentou ao lado dele.

— Já assisti duas vezes outras companhias apresentarem Romeu e Julieta — Naruto rebateu, confiante, e Sasuke balançou a cabeça com uma careta de desagrado.

— Sem ofensa, mas Romeu e Julieta só vale a pena porque é a Coin Doux apresentando; qualquer outra companhia seria perda de tempo.

— Não gosta de Romeu e Julieta?

— Alguém gosta de um casal de adolescentes que se mata por um amor de, sei lá, uma semana?

— Meu Deus... o que você acha de Hamlet?

— Rei Leão contou a mesma história de forma bem melhor.

— Otelo?

— Sério? O cara louco que mata a esposa por ciúmes doentio?

— Sonho de uma noite de verão?

— Isso realmente era para ser um título?

— Ah não, Sasuke, você não gosta de Shakespeare? — Naruto arregalou os olhos, a pergunta saindo alto demais e chamando atenção desnecessária para eles.

— Só acho que, se é para tentar escrever um romance dramático, ele ainda tinha muito que aprender com Byron. Adolescente jurando amor em uma semana não desce.

— Não acredito que convidei para Romeu e Julieta alguém que nem gosta de Shakespeare. Isso é como ir num restaurante japonês sem gostar de lamen!

Era nessa hora que Sasuke falava que também não gostava de lamen? Não... Estava engraçado ver Naruto bufar e tentar achar uma explicação plausível para que ele não gostasse do grande escritor britânico.

Um som alto e agudo cortou o ambiente, a primeira campainha que indicava que a apresentação começaria em cinco minutos. A luz do lugar foi reduzida, mas ainda era possível ver perfeitamente as pessoas caminhando entre os corredores. Sasuke respirou fundo, a ansiedade se manifestava enfim, cinco minutos e enfim começaria! Viu Naruto desligar o telefone e fez o mesmo. A segunda campainha tocou, e a voz do representante da companhia soou por todo o ambiente com os agradecimentos e recados de sempre. Todos sentados, a luz apagada, celulares desligados, seus dedo tamborilando no apoio para o braço enquanto as cortinas não se abriam.

Naruto olhou do palco para Sasuke. Havia uma sensação estranha que lhe pedia que fizesse algo, qualquer coisa, em relação ao outro. Não havia lhe passado despercebido que Sasuke não o tinha afastado quando o conduzira até os assentos, sua mão tinha permanecido na cintura dele do hall até o momento em que se sentaram, e Sasuke nem mesmo tinha se mostrado incomodado com isso. Eram essas pequenas aberturas que o confundiam, que pareciam formar um rastro de migalhas até o outro; entretanto, quando tentava fazer uso delas, Sasuke escorregava, esquivava como se tudo fizesse parte somente de sua imaginação.

Não, Sasuke com certeza estava lhe dando uma abertura. Não estava? Quer dizer, ele já havia aceitado seu convite para sair, mesmo que também tivesse dito que faria o mesmo com qualquer um por causa dos ingressos, mas ele iria depois no bar de Mei! Ou não... ele não confirmara isso.

Os olhos de Sasuke estavam fixos no palco numa ansiedade tão palpável que Naruto achou bonito. Aliás, Sasuke estava mais lindo do que se recordava... A camisa era vinho, combinava com o lugar, ele todo parecia fazer parte daquele ambiente, como se um completasse o outro. O cabelo um pouco comprido estava dividido como sempre, mas as mechas que caíam sobre os olhos estavam presas para trás, deixavam o rosto de Sasuke mais visível, mais fácil de ser visto e apreciado. O filho da puta era, com toda a certeza do mundo, bonito.

Percebeu a mão sobre o apoio, Sasuke batia os dedos em um ritmo até que calmo contra o estofado, mas que denunciava sua impaciência. Foi automático para Naruto se ajeitar no assento e então estender a mão para apertar a de Sasuke, a surpresa do outro ao olhá-lo o fez encará-lo um tanto quanto inseguro, mas Sasuke não disse nada, as cortinas se abriram, e todo e qualquer questionamento foi esquecido.

Naruto suspirou, voltando a atenção para o primeiro ato que se desenrolava. As mãos ficaram esquecidas, como todo o resto, mas Naruto sorriu aliviado quando sentiu Sasuke relaxar e se deixar ficar.

* * *

Os aplausos obrigaram Sasuke a soltar a mão de Naruto, e foi estranho porque estava gostando de fingir que não se importava com o agradável conforto que o toque lhe trazia. Aplaudiu com animação, o espetáculo havia sido tudo o que tinha imaginado e muito mais, os olhos se fecharam por um momento, e ele se deixou se imaginar ali, no meio daqueles aplausos que um dia seriam seus. Ao abrir os olhos, encontrou os de Naruto e quase pôde afirmar que ele sabia exatamente o que pensava.

— Valeu a pena mesmo não gostando de uma das mais famosas tragédias românticas? — Naruto perguntou ao se levantar.

Sasuke limitou-se a revirar os olhos, sentiu mais uma vez o toque suave em sua cintura enquanto caminhavam com os demais para fora do anfiteatro e parou no hall com Naruto ao ouvir seu nome sendo chamado.

Sakura, já havia quase esquecido que a amiga estaria ali. Viu Naruto sorrir para ela, a mão ainda em sua cintura, o que Sasuke fez questão de corrigir quando notou Tsunade acompanhando a amiga.

— Naruto! Não sabia que viria hoje! — Sakura o cumprimentou sorridente enquanto Tsunade fazia o mesmo.

— Não perderia uma apresentação dessas. Diferente de algumas pessoas, eu sei apreciar Shakespeare. — Naruto riu ao apontar para Sasuke, mas a atenção dele já não estava em Sakura, e sim em Tsunade.

— Mentira, você admitiu que não leu os livros, o Sasuke pelo menos leu antes de falar mal — Sakura o defendeu.

— Mas sei todas as peças e músicas, não conta? — Naruto piscou, divertido.

— É claro que sim, Naruto — Tsunade interferiu, a postura descontraída de quem estava ali por puro lazer. — Afinal, para o seu trabalho, você precisa saber as notas e não as frases do livro.

— Com licença, eu preciso fazer uma ligação — Sasuke falou, e Naruto franziu o cenho enquanto Sasuke já se distanciava.

— Já volto também. — Sakura lhe sorriu sem graça, e ele ficou sem entender quando ela partiu atrás do amigo.

— Está saindo com um dos meus alunos, Naruto? — Tsunade perguntou, o tom mais sério que antes.

Ela caminhou pelo hall, fazendo Naruto a acompanhar enquanto se aproximavam do café que ali havia. Sentaram-se, o atendente se aproximou rápido e anotou o pedido de Tsunade antes de sair e deixá-los novamente a sós.

— Até onde eu sei não é proibido nem estou fazendo nada errado. Por quê? — Naruto questionou confuso.

Tsunade suspirou e olhou ao redor. Naruto seguiu o olhar dela, Sakura falava com Sasuke e com outras duas pessoas que ele não reconheceu, mas que fez Tsunade balançar a cabeça em negação.

— Sasuke não é nosso aluno mais disciplinado. Infelizmente, é amigo da minha afilhada, por mais que eu já a tenha alertado várias vezes. Tome cuidado, não quero que perca seu emprego por causa dele.

Havia algo no tom dela que fez Naruto olhá-la com atenção, a postura agora não tão relaxada quanto antes nem mesmo a voz tão amigável, embora ela mantivesse a educação.

— Você é a única que pode me demitir, e não entendo como eu sair com um aluno seu, maior de idade, possa atrapalhar meu trabalho. Eu não sou professor dele, não tenho relação alguma com suas avaliações ou com qualquer coisa dentro da escola, sou apenas o pianista.

— É só um aviso, Naruto — Tsunade repetiu, o alerta explícito. — Sasuke é problemático e gosta de causar confusão. Orochimaru vive tendo problemas com ele.

— Se o seu parâmetro é Orochimaru, preciso te dizer que precisa de um novo. Eu já o vi castigando seus alunos depois da aula, e o cara é insano, eu não sei mesmo como você ainda o mantém dando aulas — Naruto baixou o tom à medida que via Sakura e Sasuke se aproximarem. — Se me dá licença, eu tenho um outro compromisso depois daqui.

— Naruto, estou falando para o seu próprio bem.

— Agradeço a preocupação, mas está tudo bem, não tem motivos para isso me prejudicar. Ou tem e eu não estou sabendo?

Tsunade agradeceu ao atendente que deixou a bebida sobre a mesa, bebericou o café quente e olhou a afilhada rindo ao lado de Sasuke.

— Não — decidiu responder por fim. — Aproveite o resto da sua noite, Naruto.

— Obrigado. — Ele sorriu educado e então olhou para Sakura e Sasuke. — Vamos embora, Sasuke?

Sasuke concordou, despediu-se de Sakura e acenou com educação para Tsunade antes de deixar a mão de Naruto em seu ombro o guiar para fora daquele lugar.

— Estou morto de fome e você? — Naruto perguntou enquanto andavam até o carro.

Sasuke o analisou, não tinha ouvido a conversa dele com Tsunade nem ao menos visto, já que Sakura o apresentava para dois professores de música que faziam parte da comissão de avaliadores da maior parte dos musicais do estado. Entretanto, Naruto era uma pessoa sincera, era fácil ver que ele estava desconfortável ou incomodado ao se despedir de Tsunade e Sakura e agora tentava agir como se estivesse tudo bem.

Não o questionou, fosse o que fosse não tinha o mínimo interesse, ainda mais se tivesse ligação com Tsunade. Ino uma vez tinha lhe dito que não julgava tanto a dona da companhia pelos problemas que viam e vivenciavam, afinal, ela ficava distante, na sede, controlando a parte financeira e decidindo os espetáculos, ela não sabia o que acontecia entre as paredes, o piso de madeira e os espelhos de suas salas de aula. As informações que chegavam a ela eram trazidas por professores, e Sasuke sabia bem o quanto eles definitivamente não eram uma fonte confiável. E era por isso que ele culpava sim Tsunade; ao contrário de Ino, achava sim que ignorância não livrava ninguém da culpa. Tsunade tinha tido a chance de saber o que acontecia em sua escola, mas preferira fechar os olhos, e ele não a perdoaria fácil por isso.

Encarou Naruto apoiado em seu carro, ele o olhava do outro lado, esperando-o destravar as portas. Era ingenuidade querer acreditar que Naruto era diferente? Que ele não fazia parte daquela podridão? Não, era difícil demais imaginar que alguém que sempre iluminava o ambiente e que trazia certa paz para ele estaria maculado com aquela sujeira.

— É bom o bar da sua amiga ter comida — respondeu, abriu o carro e então esperou por Naruto enquanto se sentava.

Naruto ouviu o som da porta bater e sorriu ao olhar para o céu e mover os lábios em um agradecimento mudo.

— Olha, não tem comida, mas eu conheço um restaurante maravilhoso no caminho!

— Não sendo lamen...

— Mas quê? Como assim? Você não gosta de lamen? Quem no mundo não gosta de lamen?

— Não me faça mudar de ideia, Naruto.

Naruto bufou, bagunçou o cabelo, e Sasuke o viu cruzar os braços e, em menos de um minuto, já voltar a sugerir outra coisa com a mesma animação de antes.

— E então... vamos? — Naruto perguntou sorrindo, e Sasuke tentou se manter indiferente enquanto concordava, mas era difícil...

Queria aceitar como se Naruto lhe sugerir um restaurante diversificado levando em conta sua alimentação para o ballet não fosse importante nem lhe mostrasse o quanto o outro prestava atenção nele, queria concordar sem ter que fingir não ouvir o próprio coração, mas era impossível... olhava Naruto ciente de que já estava mais do que preso no magnetismo que ele possuía. E era bom, melhor do que podia imaginar, bom demais para dar certo talvez, mas, enquanto desse, aproveitaria cada segundo.

* * *

Haviam jantado sem pressa, Naruto parecia um adolescente no primeiro encontro, e Sasuke ficava entre rir ou se fazer de indiferente apenas para que um deles parecesse o adulto no restaurante. O bar onde iriam chamou atenção logo no primeiro momento; quando Naruto tinha lhe dito que não era como a boate do seu tio, esperava algo simples, menos barulhento e mais... recluso? Sim, algo similar, mas em menor escala, não uma... casa de jogos?

Encarou Naruto incrédulo, e talvez sua expressão de choque e de quem queria fugir com todas as forças estivesse muito mal disfarçada porque Naruto foi rápido em sorrir sem graça e se aproximar, parando à sua frente.

— Dê uma chance, uma hora, menos talvez, e, se você não gostar, eu juro que vamos embora.

— Naruto...

— Eu juro que você provavelmente nunca pisou em um lugar como esse. É só a inauguração, ficamos um pouco e vamos embora se não gostar, Sasuke, eu juro.

Sasuke suspirou pesadamente e revirou os olhos diante da expressão pidona de Naruto. Concordou sem ter outra escolha, entraram livres da fila assim que Naruto os identificou e não demorou para que Sasuke visse uma mulher se levantar numa mesa ao longe e gritar o nome de Naruto.

O lugar não era mesmo o que esperava... A iluminação era fraca, mas ele conseguia ver um amplo espaço com várias mesas espalhadas pelos cantos, sofás e almofadas, além de um longo balcão em "U" que permitia que bancos altos se dispusessem dos dois lados. Além disso, sobre o balcão e sobre cada mesa, havia uma iluminação própria, o suficiente para que aqueles lugares em específicos ficassem a parte da escuridão. As pessoas estavam todas sentadas, o que não condizia com a música agitada do ambiente. Se fechasse os olhos, podia se imaginar com facilidade na boate do tio, mas ali a música tocava num volume agradável, preenchia todo o lugar, porém não dificultava a conversa. Garçons perambulavam entre as mesas, bandejas da cor prata nas mãos com bebidas caras com certeza, mas que as pessoas sentadas tomavam sem se preocupar e rindo. Conversavam, riam e jogavam. Sobre as mesas e bancadas, havia tabuleiros, cartas, jogos que Sasuke reconhecia de nome ou por alguma propaganda na televisão.

Observou a mulher caminhando até eles. Ela era linda, mais velha que os dois com toda certeza, o vestido azul era decotado e possuía duas mangas longas folgadas, justo no corpo e com fendas laterais a partir da metade da coxa, Ino com certeza amaria aquela roupa. Os cabelos eram castanhos, soltos, longos até mais da metade das costas, a maquiagem era leve, exceto pelo batom que se destacava e que ele tinha visto ficar mais que marcado no rosto de Naruto quando ela o cumprimentou. Percebeu o olhar analítico sobre si, arqueou a sobrancelha e ouviu Naruto rir enquanto lhe tocava o ombro.

— Esse é Sasuke, Mei. Sasuke, essa é a idealizadora e dona desse lugar incrível.

— Muito prazer — Sasuke respondeu, polido, e estendeu a mão. A mulher riu, deixando-o na dúvida se estaria ou não bêbada, mas apertou sua mão com força enquanto sorria de canto.

— Bem-vindos! Quase achei que não viriam mais — ralhou com Naruto. — Venham, tem uma mesa para vocês, já estão te esperando há um tempo, Naruto.

— Todo mundo veio? — Naruto se espantou.

— É óbvio que sim! — Mei falou com a cabeça erguida. — Hinata já tinha avisado que você usaria os convites da pirralha dela, não se preocupe. Agora vai lá curtir a noite, eu vou ter que fazer a parte social com umas figuras importantes da área por mais um tempo.

— Não se esqueça de vir beber com a gente depois! — Naruto cobrou enquanto ela se afastava e então riu pelo beijo que ela lhe lançou por sobre o ombro.

Sasuke seguiu Naruto, a ideia de passar a noite entre pessoas que não conhecia não lhe agradava em nada, mas a mão quente de Naruto na sua enquanto o guiava afastou tal pensamento. Além disso, não que ele não fosse chegado em jogos, ainda mais os de tabuleiro ou envolvendo baralho, mas... bem... como podia dizer... o seu lado competitivo não era algo que desejava mostrar ao outro tão cedo, já era suficiente que Naruto soubesse como ele ficava com os ensaios. E tal receio não era infundado, ele havia aprendido bem com Madara a como ser um péssimo perdedor...

Sentaram-se numa mesa com outras duas mulheres muito parecidas e dois homens. Sasuke viu Naruto cumprimentar um deles com animação, apertar a mão do outro e abraçar carinhosamente as mulheres. Limitou-se ao aperto de mão, ensaiando um sorriso cordial para as mulheres enquanto se sentava ao lado de Naruto e sentia a pele arrepiar quando percebeu a boca dele próxima ao seu ouvido.

— Vai querer beber algo?

A boca secou, quase que por magia, e ele espiou os demais da mesa para ter certeza que ninguém prestava atenção neles.

— E quem te leva de volta pra casa? — devolveu, como se fosse óbvio, afastando-se mesmo que sua real vontade não fosse essa.

— Eu tenho uma ótima tolerância a álcool! — Naruto sorriu, confiante, e Sasuke virou-se na direção da risada escandalosa que seguiu o comentário.

— Você ouviu isso, Hina? O Naruto disse que sabe beber! — Sasuke viu o homem animado de antes rir ainda mais, passando a mão pelas marcas vermelhas nas bochechas.

— Fica quieto, vira lata, a conversa não chegou no canil! E eu sei beber sim, Kiba! — Naruto respondeu alto, e Sasuke viu as duas mulheres rirem de forma discreta.

— Vira lata? Shino, você vai deixar ele falar assim de mim? Ah, não, chama o garçom que eu quero tirar isso a limpo então! — ele respondeu de pé já, sinalizando para um garçom se aproximar.

— Kiba... — Sasuke viu o tal Shino tentar interceder, massageando a têmpora antes de se livrar do casaco pesado que vestia, enquanto a mais nova das mulheres puxava o cardápio de drinks. — Hanabi, não o estimule... ele vai passar mal depois.

— Desculpe, Shino, mas essa vai ser a primeira vez que eu bebo com o Kiba e o Naruto, preciso desse momento. Eu posso, né, Hina? — Ela sorriu e virou-se para a outra como uma criança em busca de autorização. Irmãs.

— Seu dia está livre amanhã, mas não exagere, Nabi... — Hinata respondeu, e Naruto bufou inconformado chamando atenção.

— Ninguém aqui vai me defender? — Naruto olhou um a um e então cruzou os braços. — Ótimo então, me vê então o mesmo que o vira lata aí pedir. E você, Sasuke? Aguenta?

Se Naruto tivesse feito outra pergunta, se tivesse lhe oferecido alguma bebida como antes em vez de convidá-lo para um desafio, talvez pudesse recusar...

— Eu aposto — Kiba falou alto, colocou a mão no centro da mesa e olhou para Naruto e depois para Sasuke. — que aguento mais que os dois juntos.

Sasuke sorriu de canto e estreitou o olhar, o indicador bateu na mesa ritmicamente enquanto tentava se convencer a não aceitar num desafio tão idiota, mas Kiba parecia muito o tipo de cara que ele gostava de provar que estava errado. Além disso, era um tanto difícil de pensar enquanto a mão de Naruto estava confortavelmente em sua cintura, um carinho intencional que ele estava permitindo bem como a aproximação desnecessária toda vez que ele queria lhe dizer algo ao ouvido.

— Não precisa aceitar se não quiser, Kiba vai ficar provocando a noite toda com desafios, ele é bem animado — Naruto sussurrou, risonho, e Sasuke sentiu o ar quente da boca dele em seu ouvido.

Olhou-o, sustentando o sorriso convencido antes de encarar Kiba e estender a mão para Hanabi lhe entregar o cardápio.

— Vamos beber o mesmo que você, pode escolher então — respondeu, estendendo o cardápio para Kiba sem o soltar quando ele o segurou. — Mas falou que aguentava mais que nós dois juntos, então vai ter que pedir sempre dois drinks, um por mim e um por Naruto. Feito?

Kiba sorriu, confiante, Shino balançou a cabeça em negação enquanto Hanabi comemorava animada e Hinata bebericava o drink que já estava antes em sua mão.

— Feito.

E foi assim que Sasuke entendeu que Naruto era tão competitivo quanto ele. As bebidas rodavam a mesa em todo jogo, e Sasuke não percebeu quando se sentiu perfeitamente à vontade para se deixar levar. Bebia com Naruto, Kiba e Hanabi enquanto Hinata e Shino escolhiam os jogos da vez. Ao redor da mesa, eles se revezavam em duplas, e era difícil saber quando a situação ficava mais engraçada e acirrada: se quando Sasuke ia contra Naruto ou com ele. Formavam uma dupla boa, era um fato, mas se entendiam entre xingamentos exaltados e ordens; quando competiam, era ainda pior, suas duplas riam enquanto lhes assistiam disputar uma partida de truco como se perder fosse um absurdo! "Revanche" foi, com certeza, a palavra mais dita da noite.

Quando o jogo de mímica começou, Sasuke soube que devia parar de beber se não quisesse mesmo ficar bêbado. Já estava "feliz" demais até mesmo para concordar com aquele jogo e aceitar fazer mímica para o grupo à frente, seus olhos não desviavam dos de Naruto, era como se só ele importasse, como se só a voz dele chegasse aos seus ouvidos enquanto tentava transformar as palavras do cartão em gestos. E eles nem eram do mesmo time...

Sentou-se no sofá ao lado de Kiba enquanto Naruto se levantava para fazer sua mímica. Viu-o ficar de frente para Hinata e Hanabi, o time dele, e então começar a interpretar. Naruto era bom, muito bom, já ele... bem, nem todo ballet e bebida do mundo o faria ser bom em pagar mico na frente de pessoas que tinha acabado de conhecer, e era só por isso que estava em desvantagem.

Piscou, Naruto parecia bem, disposto, como se o álcool realmente não o afetasse, mas as bochechas coradas denunciavam o contrário. A boca secou quando passou a prestar atenção na mímica que ele fazia e, de repente, Sasuke se perguntou por que tudo que Naruto fazia lhe parecia tão sensual. Álcool. A resposta era fácil, mas nem tanto. O clima que estavam mantendo desde o teatro, até antes, já estava lhe deixando no limite, os drinks estavam somente soltando as cordas que o seguravam...

Ouviu a comemoração do time adversário e viu Naruto se inclinar sobre o tabuleiro para andar as casas restantes e vencer o jogo. Kiba deixou-se cair no sofá e resmungou alguma coisa enquanto Shino comentava que naquele jogo aquilo já era esperado. Naruto sorriu para eles, contornou a mesa para desligar o cronômetro do celular que auxiliava no jogo e deu de ombros:

— Ganhei, de novo — enfatizou enquanto Kiba o xingava e se levantava trôpego para escolher o próximo jogo. — Eu já volto, podem ir escolhendo as duplas.

Sasuke terminou de beber o resto que ainda havia em seu copo, acompanhou com o olhar o caminho que Naruto fazia e mordeu o lábio antes de se decidir.

— Com licença, já venho.

Não esperou uma resposta, não olhou para ninguém por não querer saber se suas intenções estavam tão óbvias e seguiu pelo mesmo caminho que Naruto havia feito. Entrou no banheiro do lugar e o viu de frente à pia, puxando o papel para secar as mãos sem percebê-lo ali. Olhou para os lados e esperou que o outro homem deixasse o banheiro para então caminhar até Naruto.

A surpresa nos olhos azuis não o impediu, sua mão estava fechada com firmeza na camisa de Naruto enquanto o arrastava até uma das cabines e fechava a porta com o corpo. Seu coração gritou que sim, sua mente preferiu se omitir, e seus lábios foram espertos para aproveitarem essa deixa e colarem-se aos de Naruto com desejo.




Olá! Primeiro, quero pedir desculpas por ainda não ter respondido os reviews. Tenho prova essa quarta e tive a semana bem corrida :x

Prometo que semana que vem tento botar tudo em ordem <3

Enfim, gostaram?

Reviews?

Surtos?

Até próxima semana ;)

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