Não pare a Música

By AliceHAlamo

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A dança é composta por vários elementos. Você tem a coreografia, o tempo, a música, o dançarino, a técnica... More

Capítulo 1 - Sasuke
Capítulo 2 - Naruto
Capítulo 3 - Ino
Capítulo 4 - Gaara
Capítulo 5 - Quebra de rotina
Capítulo 6 - Suas lentes
Capítulo 7 - Interesses
Capítulo 8 - O que os outros pensam
Capítulo 9 - Encantado
Capítulo 10 - Ajuda "mútua"
Capítulo 11 - Punição
Capítulo 12 - Fora de Foco
Capítulo 13 - Desafio
Capítulo 15 - Mudanças
Capítulo 16 - Tensão
Capítulo 17 - Entre jogos e bebidas
Capítulo 18 - Escolhas
Capítulo 19 - A queda
Capítulo 20 - Bolha
Capítulo 21 - Luz acesa
Capítulo 22 - Segredos
Capítulo 23 - Permissão
Capítulo 24 - Montanha Russa
Capítulo 25 - Gravidade
Capítulo 26 - Amarga Vitória
Capítulo 27 - Forjada em veneno
Capítulo 28 - Aberto
Capítulo 29 - Relações
Capítulo 30 - Linda
Capítulo 31 - Cores
Capítulo 32 - Oportunidades
Capítulo 33 - Elos
Capítulo 34 - Marcas da alma
Capítulo 35 - Resgate
Capítulo 36 - Suporte
Capítulo 37 - O que tem atrás das cortinas
Capítulo 38 - Socos da vida
Capítulo 39 - A morte do Cisne
Capítulo 40 - Acerto de contas
Capítulo 41 - Vida
Epílogo

Capítulo 14 - Intensidade

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By AliceHAlamo

Mano, temos até o capítulo 20 pronto! Primeira fic que eu vou postar 20 capítulos direto e sem atraso hahahahaha


Ino acordou. O calor das cobertas trazia-lhe conforto, e os olhos inchados voltaram a se fechar quando as lembranças retornaram à mente. A música ao fundo a embalava com suavidade, e ela preferiu se concentrar nas notas tão bem conhecidas. O quarto estava escuro, e a tela do celular que ela se esticou para pegar fez os olhos arderem pela luminosidade quando o destravou para verificar o horário. Quase onze da noite...

Sentou-se, a garganta arranhou, ela abraçou as pernas dobradas e puxou as cobertas até os ombros. Não queria sair do quarto. Sabia o que encontraria da porta a fora: a realidade, e não a queria encarar. Maldita a hora quando procurou por seu nome nas redes sociais... nunca o tinha feito! Nunca precisara... uma amiga a tinha citado e, por isso, só por isso, buscou pelo próprio nome. E achou! Mas não só a citação da amiga. Havia dezenas de comentários sobre si, outras dezenas de fotos debochadas. Sabia que era motivo de piada, já tinha ouvido uma ou outra, tinha ciência de que não era querida, mas nunca daquele modo, nunca com aquela intensidade, com toda aquela maldade e ódio. Sentiu-se diminuta, indefesa, exposta como nunca antes em todos os anos diante de uma plateia atenta.

O que ela era? Um bobo da corte? A diversão secreta da turma? Porque foi isso que pareceu! Tinha pelo menos duas novas imagens suas por semana em um dos perfis, ela contou! Eram publicações programadas às terças e sextas-feiras, legendas que a ofendiam, humilhavam... E isso nem se comparava aos comentários, às conversas, às ofensas dos "colegas" que a cumprimentavam todo dia.

O coração voltou a acelerar, era como cair num precipício sem saber quando se chocaria no chão e em quantos pedaços a alma iria se partir. Cobriu os ouvidos, por puro hábito, as mãos não impediriam que a mente repassasse cada texto maldoso que tinha visto mais cedo. E perceber isso a fez tirar as cobertas e levantar-se de uma vez, apenas para que não caísse na tentação de deitar de novo e se esconder sob as cobertas. Ela não era de se esconder, não era de baixar a cabeça, não era de se diminuir para que os outros não a vissem!

Não. Cabeça erguida, coração aos prantos, mas o rosto impecável, o sorriso pintado na face apenas para que ninguém pudesse ver o quão ferida estava. Já tinha aprendido isso, havia aprendido há muito tempo que, quanto menos parecesse se importar, menos a infernizariam.

Conferiu o celular. Havia tantas mensagens de Sakura e de Neji... Mas não queria respondê-los, não tinha palavras para explicar o caos interno em que estava.

Saiu do quarto com um suspiro doloroso, meias no chão e coberta ao redor do corpo. Ouvia um digitar adiante, Sasuke torturava as pobres teclas do notebook, e isso significava que estava irritado.

Gelou. Se ele estivesse respondendo as ofensas... Ah não! Meu Deus, não!

Apressou-se, deixando a coberta cair no caminho... e Sasuke deu um pulo quando ela se apoiou no braço do sofá e se pôs em sua frente para ver a tela do notebook.

— Mas que merda é essa? — Sasuke a olhou indignado, e Ino suspirou ao perceber que nenhuma das guias abertas no navegador erram sobre ela, mas sim uma página para uma extensa conversa com Shikamaru e... aquele era Naruto? — Ino, sai de cima.

Ela resmungou e olhou para trás, encabulada, fugiu do olhar do amigo e buscou a coberta esquecida no chão. Voltou para a sala novamente enrolada e aquecida, sentou-se ao lado dele no sofá, e Sasuke fechou a tela do computador para colocá-lo na mesa de centro.

— Fome? — ele perguntou ao se levantar.

— Não muita... — ela respondeu.

— Temos quatro pedaços de pizza portuguesa e quatro de frango com catupiri com borda recheada. Se Madara achar mais que dois pedaços daquilo de manhã, ele vai nos acordar para nos arrastar pro hospital — ele falou da cozinha, já com a caixa de pizza na mão e uma de suco na outra.

Ino sorriu de leve, esperou o amigo colocar tudo sobre a mesa de centro e o acompanhou no primeiro pedaço. Deitou a cabeça no ombro dele e riu quando o estômago roncou só de colocar o primeiro pedaço na boca.

— "Não muita"... — ele debochou.

— Não sabia que tava com tanta fome... nossa, essa pizza é uma delícia... — Ela lambeu o dedo com o recheio que escapou da borda.

— Ta melhor?

— Não quero falar disso agora — ela sussurrou, e Sasuke apenas assentiu.

— Quer por um filme? Tem brigadeiro na geladeira ainda.

— Pizza, chocolate e filme. Tá querendo me conquistar, é? — ela tentou brincar, e Sasuke ligou a televisão e entregou o controle para ela. — Posso escolher romance? — perguntou, manhosa, e Sasuke revirou os olhos antes de continuar a comer. — Ah, poxa, Sasuke, eu to triste! Preciso de filmes melosos com finais felizes para adoçar minha pobre alma...

— Não me xingue se eu dormir, então. E não vale nenhum dos que já me obrigou a assistir — apressou-se em completar, e Ino bufou indignada enquanto passava pela lista de filmes e sorria ao achar um perfeito. Sasuke franziu o cenho e a encarou incrédulo. — Romance e musical? Não tá abusando demais da minha boa vontade?

— Pensei que gostasse de musicais... — Iniciou o filme e pegou mais um pedaço de pizza.

— E gosto quando bem feitos e não esses hollywoodianos com duas ou três músicas que não sei como se classificam como musicais.

— Sasuke, você é chato, eu já te disse isso?

Ele deu de ombros, indiferente, e Ino se apoiou melhor nele com um suspiro divertido.

— O que tava falando com o Shika? Dava para ouvir você martelando seu teclado lá do corredor. Brigaram de novo?

— Não. Eu e Neji precisamos de um favor dele, estava só explicando e vendo se ele iria mesmo nos ajudar.

— Tem a ver com os filhos da puta da faculdade do Neji? — ela pausou o filme para o olhar, receosa.

Sasuke pegou o controle e deu continuação ao filme.

— Sim, nada que valha muita preocupação. Não vamos nos meter em nenhuma briga se é nisso que está pensando, mas não vamos deixar barato o que fizeram.

Ino não gostou; na verdade, odiava quando Sasuke e Neji se juntavam para resolverem qualquer coisa porque sabia que nunca seria pelo método pacífico do diálogo a que ela era adepta. No entanto, já conhecia aquela expressão que Sasuke agora lhe exibia e sabia que de nada adiantaria fazer mais perguntas ou tentar dissuadi-lo. Resmungou, voltando a comer a pizza, e Sasuke passou um dos braços pelos ombros dela como se dissesse que ela realmente não precisava se preocupar.

— Mas, se não era então por isso que estava irritado, o que aconteceu? — ela mudou de assunto, e Sasuke fechou a cara.

— O filho da puta do Neji passou meu celular para o Naruto.

— E o que que tem? Pensei até que ele já tivesse, vocês ensaiam praticamente todos os dias, não? — ela não entendeu.

— E se, mesmo assim, eu não passei meu telefone, devia ter algum motivo, não acha? — perguntou com ironia.

— Pensei que gostasse dele, Naruto é uma boa pessoa, não achei que se dessem tão mal.

Sasuke passou uma das mãos pelo rosto e obrigou-se a comer a pizza para manter a boca cheia. Não se dava mal com Naruto, e esse era o problema! Mas explicar isso para Ino significava contar tudo o que tinha acontecido, e ele não conseguia dizer se essa era a melhor escolha, afinal, por mais que gostasse de Ino, ela ainda era justamente a Ino. Contar para ela significava ter que aturar todos os dias os olhares e os risinhos, embora também fosse poder contar com alguns bons conselhos e até mesmo ter alguém confiável com quem conversar. Era uma escolha difícil para alguém que queria discrição, mas era melhor do que contar para Neji com toda a certeza.

Terminou de mastigar e estalou a língua no céu da boca. Ino conhecia o gesto e estreitou o olhar enquanto Sasuke evitava olhá-la e permanecia falsamente interessado no filme.

— Me dou bem com Naruto — ele falou simplório e então enfatizou para que ela entendesse seu ponto sem mais delongas. — Bem demais.

Ino arregalou os olhos à medida que as palavras entravam e eram processadas pelo cérebro. A boca aberta logo formou um sorriso empolgado, e Sasuke a viu pegar o controle para pausar o filme mais uma vez.

— Explique-se! Vamos, detalhes!

— Não tem detalhes. Nós só nos damos bem e acabou que... — Suspirou, desconfortável, e olhou desconfiado para Ino. Já era tarde, teria que falar se não Ino levaria seu silêncio como uma ofensa e ficaria verdadeiramente chateada, e ele não queria ser mais um dos motivos para a tristeza dela. — A gente acabou se beijando em um dos ensaios.

Ino deixou um gritinho animado escapar e pegou mais um dos pedaços de pizza enquanto Sasuke fazia o mesmo fingindo não ter dito nada demais.

— Eu sabia que ele tava te secando durante a aula! Eu tinha certeza! — ela afirmou rindo.

— Não exagera, Ino. — Revirou os olhos, Naruto não era tão indiscreto assim também. Sasuke sentia, é claro, a atenção do pianista durante as aulas, mas Naruto o observava com... admiração, como um espectador diante de um bom dançarino. Não havia nada sexual na forma como era assistido, pelo menos não durante as aulas, e Sasuke seria com certeza o primeiro a notar se houvesse já que detestava quando viam mais seu rosto e corpo do que sua dedicação e técnica.

— Quando foi isso?

— Um dia antes de ele faltar. Lembra?

— Ah... — uma sombra de compreensão passou pelos olhos dela. — Por isso você estava tão agitado!

— Eu não estava agitado — defendeu-se.

— Sasuke, você parecia um animal assustado e pronto para morder qualquer um que chegasse perto. — Ela riu. — Você deu tanta patada no Orochimaru que não sei como ele não te pôs para fora de novo. Mas, tá, me diz, foi bom?

— Não quero falar disso. Só te contei para explicar o porquê não queria que Neji passasse meu número.

— Ahhhh então foi tão ruim assim? — ela lamentou. — Poxa, ele parece ter uma pegada tão gostosa...

Antes que pudesse bloquear, as imagens do dia invadiram a mente de Sasuke, as sensações voltaram como uma lembrança agradável, e ele corou ao engolir em seco e perceber que Ino ainda o observava atenta.

— Foi bom, né? — ela perguntou maliciosa antes de rir. — Eu sabia! Tinha certeza que um homem desses tinha uma pegada boa! Mas, pera, se foi bom, por que não quer falar com ele?

— Porque não. Aconteceu uma vez e pronto. Não tem motivo para repetir isso ou para dar a entender que quero. Não era nem para ter rolado uma primeira vez.

— Sasuke, você beijou um cara legal, bonito, maior de idade e vocês dois curtiram. Qual o problema disso? Se foi bom, pronto, uma lembrança boa e acabou, não precisa dessa defesa toda. Vocês são adultos, um beijo não é sinônimo de casamento — ela falou, confusa, e então encarou Sasuke por alguns segundos antes de retomar. — A menos que você...

— Nem se atreva — Sasuke a cortou, frio. — Eu só não quero que ele ache que estou dando uma abertura que não existe e não quero que me atrapalhe nos ensaios ou nas aulas. Orochimaru já enche meu saco, imagina se ele do nada descobre que to saindo com o pianista. Aí sim que vai ser um inferno.

— Ah, isso é... — ela concordou. — Mas é só vocês serem discretos, então.

— Eu vou tirar o filme se você não voltar a assistir.

— Ah, Sasu! Você dificilmente se interessa por alguém, esse é um dos poucos momentos em que posso me divertir um pouquinho por não ser a perdida do grupo precisando de conselhos.

— Eu não preciso de conselhos, Ino.

— Aposto que vão acabar se pegando de novo, você só tá tentando dificultar sua vida — ela falou satisfeita e pegou o controle para dar continuidade ao filme, calando Sasuke e voltando a se ajeitar nele.

Sasuke preferiu encerrar a discussão ali, sentiu o celular vibrar espiou o visor. Falando no diabo... Virou o celular para baixo, não responderia, não com Ino do lado pelo menos. Ou não! Bastava ser discreto e responder como faria com qualquer outra pessoa, não é?

Jogou a cabeça para trás, resmungando um "foda-se" antes de pegar o celular e abrir a conversa para responder sob o olhar divertido da amiga.

— Nem uma palavra, Ino.

— Eu não ia dizer nada — ela cantarolou. — O Neji sabe disso?

— Não.

— Não de "não contei" ou não de "acho que ele não sabe"? Porque você conhece o Neji, esse aí tá sempre uns dez passos na frente.

— Não contei para ele.

— Vou descobrir se ele sabe de algo. — Ela sorriu, animada.

— Ino.

— O quê?

— Assiste à porra do filme.

— Você definitivamente não sabe brincar.

Sasuke não respondeu, manteve a atenção na televisão e silenciou o celular. Não queria pensar em Naruto, não precisava de mais essa dor de cabeça para si. Já tinha desmarcado o ensaio do dia seguinte, e sairia da aula o mais rápido possível. Estava fugindo, não era burro para não ver isso, mas tinha um bom motivo. Ele queria repetir o que tinha acontecido após o ensaio, havia pensado e repensado naquilo no dia anterior e enquanto conversava com Naruto pelo celular. Contudo, ao mesmo tempo em que queria sim repetir, sabia que não deveria. Primeiro, não mentira ao citar Orochimaru, sua vida seria ainda pior se o professor descobrisse e começasse a descontar sua raiva em nele ou em Naruto. Depois, estava um pouquinho assustado, o que certamente não admitiria nunca em voz alta nem para ninguém, já era um grande esforço fazê-lo para si mesmo. Estava assustado porque, por mais que tentasse tirar, era como se o gosto de Naruto ainda estivesse em sua boca, como se seu corpo ainda se lembrasse de cada sensação, do calor que havia sido tê-lo se esfregando contra si, do sorriso luxurioso, da intensidade do desejo dos olhos azuis... Era tudo intenso demais, muito além do que estava acostumado e, assim, novo. Então, isso era ter química com alguém? Era daquela forma bagunçada que deveria se sentir? Achava que isso era o que tinha com Shikamaru, então que porra era Naruto?

Dois filmes, uns episódios de uma série, a caixa de pizza e o brigadeiro, haviam acabado com tudo isso por volta das seis da manhã quando Madara subitamente entrou pela porta sendo empurrado por Hashirama. Sentados no sofá, Sasuke e Ino apenas viram os dois se beijarem antes de sumirem pelo corredor enquanto Mito fechava a porta e jogava a chave do carro sobre a mesa da cozinha antes de segui-los.

— Acho que eu nunca vou deixar de invejar o relacionamento deles. — Ino riu ao bocejar enquanto seguia Sasuke para o quarto dele e ignorava o olhar de censura que recebeu por estar se deitando ali quando o quarto de hóspedes estava arrumado. — Eu ainda to triste, ok?

Sasuke bocejou e fechou a porta, deitou-se na cama e sorriu, discreto e incrédulo, quando Ino logo se acomodou em seus braços.

— Não vai ensaiar hoje, né? — ela perguntou, sonolenta.

Ele ia, às oito, já estava para arrumar o despertador até... Entretanto, em vez disso, negou, cobriu os dois e deixou a mão brincar com o cabelo loiro da amiga até que ela adormecesse primeiro. Era só um dia, só porque Ino realmente precisava dele, conhecia-a para enxergar a verdade por trás de cada pedido, de cada pergunta. Ela ainda não queria se sentir vulnerável, então a deixaria dormir consigo; ainda não queria se sentir sozinha, então estaria ao lado dela quando acordasse e, com sorte, depois que ela voltasse para casa, poderia falar com o tio sobre o que de fato fariam a respeito daquilo.

* * *

Naruto acordou irritado, e isso era algo novo. Para começar, tinha conseguido convencer a mãe a fazer os exames que Hinata solicitara, mas não sem antes terem uma longa e não muito calma discussão. Maldita a hora que tinha puxado o gênio de Kushina. Depois, tinha um problema chamado Orochimaru, que parecia ter se queixado sobre ele a Tsunade e afirmado que ele não seria capaz de tocar nas apresentações do fim do ano. Normalmente, a palavra de um professor bastava para que a direção da companhia mudasse a escala da orquestra, mas Tsunade o conhecia e, por isso, havia lhe dado a chance de se provar durante as audições. Tocaria em todos os dias das audições, responsável por cobrir todo o horário matutino. Soava como um castigo, um que ele não merecia. Qual era o problema de Orochimaru afinal?? E como se isso não bastasse, havia Sasuke...

Sasuke era um problema a parte porque, em tese, não era um problema, mas Naruto odiava, com todas as forças, ser ignorado. Achara que, ao conseguir o telefone dele, se aproximariam, mas tudo o que conseguiu foi descobrir o quão escorregadio Sasuke sabia ser. Duas semanas e meia... já tinha duas semanas e meia que só conseguia falar com ele por mensagens trocadas perto da meia noite ou durante a manhã. Os ensaios haviam sido cancelados, Sasuke se opusera a continuar porque, segundo ele, começaria a ensaiar Les Sylphides, a outra obra que apresentariam, e desejava treinar a coreografia sozinho no começo.

Esfregou o rosto com força, bufou chamando a atenção de Kurama que subiu na cama e se arrastou até ele. Até mesmo seu cachorro sabia que seu humor estava péssimo! Acariciou as orelhas dele e pegou o celular na cômoda ao lado da cama, havia algumas notificações, que ele rapidamente checou. O sono sumiu de repente ao ver a mensagem de Hinata, sentou-se na cama de súbito enquanto o sorriso decidido se abria no rosto. Se tinha algo que amava era como Hanabi não gostava tanto de música clássica nem de apresentações de dança! Amava principalmente o fato de Hinata sempre lhe dar os ingressos que a irmã recusava! Eram ingressos caros, não que ele não pudesse comprar, mas era sempre bom poder ir a apresentações caras, em bons lugares, com bons assentos, sem ter que pagar nada. E era ainda melhor quando Hinata decidia agir como o anjo que era e lhe mandava não apenas um, mas dois ingressos.

Levantou-se da cama em um pulo, aprontou-se para a aula daquele sábado com pressa e saiu de casa após encher o pote de ração de Kurama. Chegou mais cedo do que deveria para sua aula, mas era a intenção, sabia onde esperar Sasuke e por isso foi até os vestiários. A aula de música dele logo terminaria, bastava ser paciente, o que não era lá o seu forte... Era ansioso e, tratando-se de Sasuke, isso ficava ainda mais evidente.

Ridículo. Tinha que rir da situação porque era uma realmente ridícula. Sasuke estava, sem dúvida alguma, fugindo dele desde o ocorrido no último ensaio, não haviam tido uma única conversa pessoalmente desde aquele dia, e não foi por falta de tentativa! Entretanto, pelo celular, conversavam como se nada tivesse acontecido, e isso era pior! Era uma agonia para Naruto porque parte de si ainda tinha achado que, quando falasse mais com Sasuke, seu interesse pelo bailarino poderia desaparecer, o que não aconteceu... No celular, naquele instante mesmo, Sasuke havia enviado uma foto da professora de música com dois chifres desenhados muito mal, mas que o fez rir por concordar, Kaguya só perdia o posto de diabo para Orochimaru.

Os olhos passaram pela conversa interrompida da noite anterior. Sasuke tinha dito que sairia naquela noite e por isso não puderam conversar como sempre, mas Naruto não queria encerrar a noite por ali. Lembrava-se de que Sasuke tinha comentado que o tio tinha uma boate e, por isso, chamara Sakura para perguntar se, por acaso, iriam a ela naquela noite. Sua intenção era só saber se sim para poder ir também, apesar de já não se achar muito confortável naquele tipo de ambiente. Mas uma boate era longe dos olhares dos demais, era um lugar onde poderia conversar com Sasuke mais livremente e, talvez, só talvez, tinha cogitado que até poderiam repetir o que aconteceu no ensaio. Tinha estranhado a demora de Sakura em responder, o aplicativo mostrava que ela digitava e digitava e digitava, mas que hesitava em mandar e, quando enfim lhe enviou a resposta, ele entendeu. Sasuke não iria à boate, tinha marcado de sair com o ex namorado.

Não negaria que havia sido um balde de água fria... um pouco pior do que somente um balde de água fria aliás... Ler a resposta de Sakura fez seu coração disparar incomodado, Sasuke nunca tinha mencionado estar num relacionamento e queria acreditar que ele não possuía vontade de reatar o antigo. Ah, sim, havia sido por isso que havia ido dormir mais mal humorado do que normalmente...

Mas se Naruto soubesse a verdade... se ele de fato tivesse a mínima noção do que se passava na mente de Sasuke, veria que Sasuke estava puto. Tinha voltado à adolescência sem que ninguém o avisasse antes?? Os últimos dias haviam sido a melhor definição de inferno que ele podia ter. Primeiro, Ino ainda não estava cem por cento, tinha deixado sua casa com um sorriso falso que não o enganava, mas Sasuke ficou mais aliviado quando o tio saiu do quarto para o café da manhã com um sorriso característico.

— E então? — perguntou quando Madara serviu-se de uma xícara de café e se apoiou na parede da cozinha.

— E então o que, moleque? Eu disse que resolveria, não disse? — Madara arqueou a sobrancelha, os olhos brilhando em uma satisfação fria que Sasuke bem conhecia. — Hashirama falará com um amigo dele, advogado. Você fez o que pedi? Ótimo, vou mandar a cópia desses arquivos para ele e ver o tamanho do processo que podemos abrir antes de falar com Inoichi. Não conte a ela por enquanto.

— Certo. Mito concordou com isso?

— Não só concordou como me ajudou a convencer Hashirama — respondeu, e Sasuke preferiu fingir não ter visto o sorriso malicioso que o tio deixou escapar antes de voltar a beber seu café. — E você? O que houve?

— Eu? — Sasuke perguntou confuso.

Madara cruzou os braços depois de deixar a xícara na mesa e manteve o olhar em Sasuke.

— Sim, está tudo bem? Você parece agitado nos últimos dias.

A imagem de Naruto com os olhos fechados, a respiração pesada e a boca aberta puxando o ar antes de voltar a beijá-lo invadiu sua mente com uma rapidez e força que o fez corar e fingir olhar para a comida para disfarçar.

— Nada, está tudo bem.

— Aham... — Madara ironizou.

E essa não havia sido a última vez que Naruto aparecia em sua cabeça sem ser convidado. Depois da terceira noite, já estava até acostumado, ainda que isso não mudasse a irritação no dia seguinte, a sonhar com Naruto. Talvez conversar com o pianista à noite, logo antes de ir para a cama, não fosse uma boa ideia. Não, definitivamente não era; tinha que colocar um alarme para se lembrar de ir dormir porque, caso contrário, viraria a noite conversando e, puta que pariu, ele não podia ser assim tão indisciplinado! Tinha aula no dia seguinte! Não podia deixar as notas da faculdade caírem, mas... era tão bom falar com aquele idiota.

Os sonhos variavam, na maioria ele apenas dançava enquanto Naruto tocava, e Sasuke gostava desses, parecia uma cena tão certa, como se sua dança e a música de Naruto se completassem enquanto um não conseguia deixar de admirar o outro. Contudo, nos outros, vinha aquilo que ele estava tentando esquecer: os beijos, os toques, o calor, o desejo e, diferente do que havia acontecido no ensaio, sua mente não colocava limites nem para ele nem para Naruto quando o corpo exigia mais. Além disso, acordar insatisfeito era a pior das traições, e ele se recriminava por despertar desejando ter continuado no sonho.

Evitou Naruto o máximo que pôde. Sentia o olhar dele em si durante as aulas, percebia a inquietação e a confusão com que Naruto buscava alguma resposta para aquele distanciamento...

— Brincando de gato e rato? — Neji provocou cínico um dia no vestiário, observando Sasuke terminar de se vestir com pressa.

— Não enche — respondeu irritado sem o olhar, e Neji cruzou os braços.

— Vocês se pegaram, não foi?

— Não.

Neji estreitou o olhar.

— Vocês se pegaram — afirmou com certeza. — Por isso tá fugindo dele? Não precisa só dar um fora? Nisso, você é bom.

— Neji — Sasuke se virou para colocar a mão no ombro dele. — Cuida da sua vida, não é hoje que você vai levar Ten-Ten para jantar? Aliás, já é a quinta vez que vocês saem, isso já não está sério?

Neji sorriu de canto antes de responder:

— Está como tem que estar, não sou que nem você ou a Sakura que fogem toda vez que a situação sai do seu controle.

Sasuke riu com ironia.

— Isso é uma confissão? Apaixonou, foi?

— Cuida da sua vida, Sasuke. — Neji colocou a mochila nas costas e andou até a saída do vestiário. — E o Naruto tá lá embaixo provavelmente te esperando de novo. Dispensa logo o cara se não quer nada.

Sasuke não queria nada! Pelo menos, essa era a maldita certeza que tinha até o celular apitar com uma nova mensagem de Naruto e, então, tudo ia pelo ralo... Acordar com uma maldita ereção foi o estopim, precisava resolver isso. E faria... mas antes tinha que dar um jeito em outras prioridades.

À noite, Shikamaru já lhe tinha mandado uma mensagem para confirmar se iria à casa dele, e Sasuke confirmou enquanto gritava para Madara que usaria o carro. Seria bom ver Shikamaru, por vários motivos, mas o principal que o levava ali era Neji. Tinha prometido ao amigo que o ajudaria a se vingar dos idiotas da faculdade que o tinham cercado e foi com muito esforço que conseguiu que Shikamaru aceitasse hackear as contas deles de todas as redes sociais que haviam encontrado. Ouvia o digitar rápido de Shikamaru enquanto abria a garrafa de vinho na cozinha e se servia uma taça generosa, o que não passou despercebido pelo outro. Deixou a garrafa na sala, no chão, perto do sofá onde se sentava ao lado de Shikamaru. Retirou os tênis para esticar as pernas no sofá e apoiou o tronco no braço de Shikamaru.

— Virou alcoólatra ou problemas? — Shikamaru perguntou com certo tédio após soprar a fumaça do cigarro para o lado oposto a Sasuke. Já tinha conseguido três e-mails e quatro logins de facebook e twitter, faltava pouco para acabar e deixar a mente vingativa de Sasuke trabalhar.

— Problemas.

— Quer falar?

"Sim" era a resposta, mas Sasuke a engoliu com outro gole do vinho tinto, afinal, o que falaria exatamente? Que estava interessado pelo pianista da sua companhia? Que havia não só deixado ele o beijar como também correspondido e desejado mais? Que estava tão fodido que até mesmo sonhar com Naruto tinha começado? Remexeu-se, espiou a tela do computador de Shikamaru e sorriu quando o quarto e-mail foi conseguido.

— Madara sabe disso? — Shikamaru perguntou enfim.

— Não, ele está cuidando do caso de Ino agora. E Neji não quer processar os filhos da puta, disse que isso implicaria nas audições, o que é verdade, a companhia tiraria ele na hora de qualquer papel importante para não se envolver em escândalos. O processo de Ino é por danos morais, não afeta tanto, mas o de Neji ia acabar puxando homofobia pra história e aí chamaria muita atenção.

— Não sabia que Neji era gay.

— Neji ficaria até com uma parede se de repente quisesse, o que vier tá valendo, ele não liga pra nada disso. — Sasuke riu e bebeu o restante do vinho em sua taça.

— E como ele não vai processar, vocês decidiram expor os e-mails e conversas pessoais? — Shikamaru perguntou com um tom divertido de quem discordava da atitude, mas que não faria nada para impedir. — Um tanto infantil.

— Ah é? — Sasuke sorriu frio e se esticou para pegar a garrafa e encher de novo a taça. — Você olhou o perfil deles por acaso?

— Um bando de moleques idiotas que gastam dinheiro em bebida e festa.

— E que fazem estágios obrigatórios na faculdade como qualquer aluno, estágios em empresas de verdade, duas delas com políticas bem fortes contra racismo e qualquer tipo de preconceito.

— Vai fazer eles perderem os estágios? — Shikamaru apagou o cigarro no cinzeiro ao lado do sofá e esticou a mão para pedir a taça de vinho.

— Eu? Eu só vou mostrar e-mails e conversas, o conteúdo delas é de responsabilidade deles. Se perderem os estágios, bolsas ou o curso, vai ser unicamente culpa deles.

— Isso não é certo, Sasuke, sabe disso.

— Sei e não ligo, não vou deixar barato o que fizeram com Neji.

Shikamaru assentiu e devolveu a taça para Sasuke, que a terminou de uma vez.

— Por que estou com a impressão de que você quer ficar bêbado em vez de pedir ajuda logo para o seu problema, Sasuke?

— Álcool é o soro da verdade — ironizou.

— Problemas com o ballet ou com as pessoas?

— Que tipo de pergunta é essa? — Sasuke reclamou ao se sentar direito.

— Pra te fazer ficar nesse estado ou é algo com o ballet, as audições e Orochimaru; ou você fez alguma cagada com alguém e agora tá se remoendo aí.

— Nenhum dos dois — Sasuke rebateu, incomodado, o cenho franzido e as mãos puxando de novo a garrafa do chão. — Não exatamente quer dizer... — Respirou fundo e deixou Shikamaru encher sua taça. Olhou o líquido rubro preenchendo o vidro e suspirou. — To a fim do pianista — disse de uma vez e de forma clara para não ter que repetir. Bebeu o vinho como se virasse um shot e estendeu a taça de novo.

— Quanto a fim? — Shikamaru perguntou depois do choque e voltou a encher a taça de Sasuke.

— Mais do que gostaria — respondeu sincero.

— Está com medo?

Sasuke ergueu o rosto para encará-lo, sem entender.

— Medo? Por que eu estaria com medo?

Shikamaru revirou os olhos e encarou Sasuke.

— Porque você tem pânico de relacionamentos, Sasuke.

— Estou delirando ou a gente já namorou uma vez? — ironizou.

— Sasuke, a gente já terminou, somos amigos, então seja sincero pelo menos com você. Você tem pavor de se entregar.

— Não é porque não transo que tenho medo — Sasuke respondeu, ríspido.

— Eu não me referia a isso — Shikamaru pontuou e colocou o computador sobre a mesa de centro para puxar outro cigarro do maço, mas Sasuke foi mais rápido em roubar-lhe o objeto. — Você não confia, não divide o que sente nem o que pensa e parece que tá sempre esperando algo dar errado.

— Eu devo estar mesmo delirando porque, por um momento, achei que estivesse falando aqui dos meus problemas — debochou ao se levantar.

— Depois de meses e só os superficiais, porque eu sei, Sasuke, você pode negar e ficar escondendo o quanto quiser, mas eu sei que tem algo errado, algo que você não conta e finge que não existe. Eu não sou o seu tio que vai surtar e tentar resolver ou te poupar, não vou agir por impulso, então não entendo por que não confia em mim para contar o que realmente tá te incomodando.

Sasuke paralisou e então se virou para encarar Shikamaru com raiva. Os olhos negros eram um mistério, Shikamaru via a irritação e o pânico que dividiam e não precisou de esforço para perceber a rigidez do corpo dele nem os punhos cerrados.

— Espaço pessoal, já ouviu falar? — Sasuke cuspiu, frio. — Ninguém é obrigado a compartilhar o que não quer, mesmo os problemas. Se você esperava que eu fizesse isso, quem errou foi você, não é minha culpa não corresponder às expectativas que você criou. Se eu tenho um problema, como você disse, e considerando que confio o suficiente em você para falar de qualquer outra coisa, não parou para pensar que eu simplesmente possa não querer falar dele?

Shikamaru soltou o ar dos pulmões em um suspiro pesado, Sasuke era tão... problemático. Deu de ombros, derrotado, mas não convencido. Levantou-se e passou por Sasuke em direção à cozinha.

— Já jantou?

Sasuke fechou os olhos, de costas para onde Shikamaru estava, e contou até dez pedindo por paciência. Olhou para o computador, os programas de Shikamaru para acesso às contas ainda rodavam, então respirou fundo por saber que ficaria ali por mais tempo.

— Não — respondeu e foi até a cozinha, apoiou-se na parede enquanto Shikamaru ligava o fogão para esquentar uma das panelas.

— Qual é o problema do pianista?

Sasuke encostou a cabeça na parede e mirou o teto. Shikamaru não era Ino, ele era mais velho e, odiava dizer, compreendia-o muito melhor, por isso, não adiantava repetir o que tinha dito à amiga, Shikamaru saberia que o problema não era só aquele.

— É que... foi... — Tentou achar a palavra certa, mas mordeu a língua ao perceber o quanto soaria estúpido. — Foi...

... intenso demais...

— Foi? — Shikamaru incentivou, e Sasuke apenas balançou a cabeça não querendo responder em voz alta; ainda assim, fez:

— Bom... quer dizer, foi... quente — completou contrariado, e Shikamaru conteve a vontade de rir do quanto Sasuke parecia uma criança emburrada e perdida.

— Algo te impede de tentar algo com ele?

Sasuke encarou Shikamaru com aquela pergunta e engoliu em seco quando a resposta pareceu ser gritada em sua mente. Shikamaru sorriu discreto, como se tivesse ouvido justo o que ele não falou e lhe mostrasse que, mais uma vez, estava certo porque, justamente por ter sido intenso demais, por parecer que Naruto conseguia tirar de si o que muito demoravam tanto para conseguir, Sasuke estava com medo...



Ora, ora, temos um Sasuke perdido?

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