Não pare a Música

By AliceHAlamo

221K 24.2K 38K

A dança é composta por vários elementos. Você tem a coreografia, o tempo, a música, o dançarino, a técnica... More

Capítulo 1 - Sasuke
Capítulo 2 - Naruto
Capítulo 3 - Ino
Capítulo 4 - Gaara
Capítulo 5 - Quebra de rotina
Capítulo 6 - Suas lentes
Capítulo 7 - Interesses
Capítulo 8 - O que os outros pensam
Capítulo 9 - Encantado
Capítulo 10 - Ajuda "mútua"
Capítulo 11 - Punição
Capítulo 12 - Fora de Foco
Capítulo 14 - Intensidade
Capítulo 15 - Mudanças
Capítulo 16 - Tensão
Capítulo 17 - Entre jogos e bebidas
Capítulo 18 - Escolhas
Capítulo 19 - A queda
Capítulo 20 - Bolha
Capítulo 21 - Luz acesa
Capítulo 22 - Segredos
Capítulo 23 - Permissão
Capítulo 24 - Montanha Russa
Capítulo 25 - Gravidade
Capítulo 26 - Amarga Vitória
Capítulo 27 - Forjada em veneno
Capítulo 28 - Aberto
Capítulo 29 - Relações
Capítulo 30 - Linda
Capítulo 31 - Cores
Capítulo 32 - Oportunidades
Capítulo 33 - Elos
Capítulo 34 - Marcas da alma
Capítulo 35 - Resgate
Capítulo 36 - Suporte
Capítulo 37 - O que tem atrás das cortinas
Capítulo 38 - Socos da vida
Capítulo 39 - A morte do Cisne
Capítulo 40 - Acerto de contas
Capítulo 41 - Vida
Epílogo

Capítulo 13 - Desafio

4.8K 614 766
By AliceHAlamo


Hinata tinha marcado aquele almoço para conversar com Naruto sobre diversos assuntos, mas, assim que sua atenção caiu nos olhos azuis do amigo, percebeu que não seria a única a trazer novidades à mesa. Com o cenho franzido e a voz preocupada, permitiu-se perguntar enquanto erguia a mão para chamar o garçom:

— Está tudo bem?

Naruto coçou a nuca e olhou para o lado de fora do restaurante antes de bagunçar os cabelos e encará-la. Hinata estava com roupa social, calça escura de corte caro, uma camisa vermelha com delicados detalhes nos pulsos e na gola, a cintura marcada pelo modelo. A maquiagem básica chamava ainda mais atenção para a beleza singela dela e o batom escuro lhe lembrava o quão bonita ela era mesmo sem se esforçar para isso.

— Você primeiro — ele respondeu com um riso envergonhado, e só isso foi o bastante para que ela entendesse que, pelo menos, não era nada muito sério. — Aconteceu alguma coisa?

— Muitas. — Ela sorriu amável, mas logo o sorriso se perdeu ao se lembrar do assunto mais sério de que deveria tratar com Naruto. — Quero falar primeiro sobre sua mãe, o resto pode esperar.

Naruto endireitou a postura, o garçom parou ao lado deles, e Hinata fez os pedidos. Conforme o garçom se afastava, Naruto pôde observar as mãos de Hinata brincando com os guardanapos, algo que ela fazia quando não sabia como iniciar um assunto ou quando não o queria fazer.

— Ela piorou? — ele perguntou, direto, com a seriedade não usual.

— Não é uma piora — Hinata falou com cuidado. — Sua mãe possui um problema em uma estrutura, o que faz com que o coração dela tenha que trabalhar mais para compensar isso. Se ela trocasse essa estrutura, o problema não desapareceria, afinal, o que está feito, está feito, mas ele não se agravaria, entende? Se ela não trocar, vai continuar agravando essa sobrecarga, e nós dois sabemos como é o temperamento de Kushina. Por mais que ela diga que não vai se estressar, eu soube do que houve com seu avô.

— Ela piorou, Hina? — Naruto repetiu, os olhos azuis pedindo pela verdade enquanto a observavam com atenção.

— Eu ainda não sei. Pedi para ela repetir os exames, para eu comparar com os antigos, mas ela não quer mais isso, Naruto... — Suspirou, cansada e triste, Kushina lhe era querida, e doía ver uma mulher tão forte não aceitar passar por um procedimento que, com certeza, só lhe traria benefícios. — Eu te chamei aqui porque preciso que a convença a fazer os exames. Pelo menos, por enquanto...

— E esse seu "por enquanto" é porque também vai me pedir para convencer ela de fazer a cirurgia, não é? — Naruto abaixou a cabeça em derrota.

— Isso vai depender dos exames.

— Sabe que ela não vai deixar, ela não confia em ninguém para isso, tem pavor. — Naruto passou a mão pelo rosto.

— Eu farei a cirurgia se ela aceitar. — Hinata segurou a mão dele sobre a mesa. — Eu e a minha equipe, reúno cada profissional que conheço e confio, e eu mesma faço a cirurgia dela. Ela confia em mim, não confia?

— Ainda assim, não é certeza de ela aceitar, Hina...

— Mas é uma chance.

Naruto soltou o ar pela boca e jogou a cabeça para trás. Sua mãe era difícil de lidar, mas teria que dar um jeito; se Hinata estava lhe pedindo aquilo, era porque não dava mais para adiar o que ele, na verdade, já sabia que aconteceria.

— Falarei com ela sobre os exames.

— Obrigada. — Hinata suspirou aliviada, e o garçom pediu licença para colocar os pratos sobre a mesa.

— Ela não corre nenhum risco imediato, não é? — perguntou, precisava saber ao menos aquilo, e ver Hinata negar foi a única coisa que lhe fez relaxar um pouco. — Certo, vou arrastar ela para esses exames, pode esperar.

— Obrigada, é realmente importante.

— Eu sei. — Ele sorriu, compreensivo. — Você não me pediria se não fosse e se não estivesse preocupada. Sei disso, minha mãe que é... um pouco teimosa. — Ele riu, e Hinata o acompanhou enquanto começava a comer. — Agora me fala que essa é a única má notícia do dia, por favor...

— É sim. Quer dizer, minha irmã levou um fora do fotógrafo e está ouvindo músicas tristes sem parar em casa agora.

— Não sei se lamento por ela ou por você que está ouvindo as músicas também — Naruto provocou. — Ela gostava dele?

Hinata ponderou por um momento.

— Sim, acho que ele foi a primeira pessoa por quem ela se apaixonou. Eu não sei o que eles conversaram, mas ela ficou arrasada. Só que ela me garantiu que ele não foi um idiota e, pelo que conheço dele, acho que apenas deve ter sido sincero demais na hora.

— E isso é ruim? — Naruto arqueou a sobrancelha, e Hinata deu de ombros.

— Algumas pessoas não sabem lidar com isso. Hanabi sempre conseguiu tudo o que queria, ela sempre se esforçou para alcançar seus objetivos, receber um não e saber que não pode mudar isso não é fácil para ela. Só espero que isso não prejudique a carreira que ela tanto lutou para construir.

— Mas para isso ela tem você — Naruto disse, sincero. — Ela sempre te ouve, não? Nós já passamos por essa dor do "primeiro amor", faz parte, é só agora ajudar ela a seguir em frente.

Hinata levou a taça de suco aos lábios e concordou. Amava a irmã mais nova mais do que qualquer outra coisa no mundo, ouvi-la chorar por coração partido fazia com que o seu próprio se quebrasse. Contudo, assim era a vida, Hanabi ainda ia cair muito pelo caminho que tinha escolhido, e era então função dela estar do lado para ajudá-la a levantar e cuidar de cada arranhão novo.

— E você? — Naruto perguntou de repente, e Hinata corou com o sorriso animado dele e o olhar de quem já estava ciente de mais do que deveria.

— Kushina! — ela acusou ao cobrir o rosto com as mãos, sem graça.

— Ah, não culpe ela! — Naruto riu. — Eu sou lerdo, mas sei juntar algumas peças. Faz tempo que não nos vemos, minha mãe cheia de segredos, e você está de aliança, porque, sim, eu sei diferenciar anéis de alianças, Hinata! Eu sou lerdo, mas não tão burro assim. Por favor, vamos, quem é?

— Não acredito que sua mãe contou...

— Sendo justo com ela, tudo o que recebi foi "ela está apaixonada" e um "vocês dois acham que me enganam! Uma mãe sempre sabe". — Naruto imitou a voz da mãe ao telefone. — Mas estou ofendido por não ter me contado primeiro!

— É complicado...

— É um paciente?

— Não, quer dizer, não meu pelo menos.

Naruto arregalou os olhos.

— Sou todo ouvidos, pode explicar.

— Não posso explicar tudo, só um pouco, está bem? — ela perguntou, e Naruto assentiu, ainda que eles soubessem que ele ficaria se remoendo pela curiosidade. — É um paciente que começou a fazer acompanhamento com uma médica amiga minha, a gente se encontrou algumas vezes, ele me deu uma carona quando meu carro quebrou e eu precisei buscar Hanabi na aula. E... — Riu, a vergonha a fazendo desviar o olhar enquanto corava. — Não sei... só continuamos a nos ver e conversar. E...

— E estão namorando? — Naruto resumiu impaciente.

— Bem, ele pediu ontem, e eu... bem... por que não? Eu gosto dele... — ela tentou se explicar, o sorriso animado de Naruto a deixando ainda mais nervosa a ponto de ela gaguejar como há tempos não fazia. — Ah! Você entendeu!

— Estou feliz por você, Hinata. Ele é uma boa pessoa?

Ela deixou as mãos sobre a toalha, o olhar perdido na taça à frente enquanto o sorriso doce moldava os lábios.

— É... — ela respondeu, sincera, e encarou Naruto. — É sim.

— Hanabi sabe? Ela era um pouco ciumenta quando estávamos juntos.

Hinata riu, discreta.

— Sim, ela sabe e gosta dele. Está na fase de achar que atrapalha minha vida, então está apoiando com todas as forças esse relacionamento. Agora, me conta, e você? Aconteceu algo?

— Bem... — Ele se endireitou e coçou a nuca.

— Naruto...

— Calma. — Ele riu, sem graça, e engoliu em seco antes de disparar num único fôlego: — Eu ia falar que não poderíamos mais manter nossos encontros, mas agora é um pouco desnecessário, porque você está namorando, então é óbvio que não vamos mais e então eu não preciso mais explicar e já não faz sentido falar sobre isso porque você já resolveu e entã-

— Naruto! — ela o interrompeu com os olhos arregalados. — Devagar... Eu não entendi metade do que você falou.

Ele respirou fundo e tomou um gole de água.

— Eu ia dizer que não podemos mais nos-

— Essa parte eu entendi. — Ela corou ao interrompê-lo mais uma vez e balançar a cabeça em descrença. — Estamos de acordo sobre isso, e você sabe os meus motivos. Agora, quais os seus?

Naruto mordeu o lábio inferior e suspirou ao apoiar as costas na cadeira. Hinata o observava, tranquila, com a mesma postura calma e gentil que o fazia se sentir confortável para abrir-se sobre todo e qualquer problema em sua vida.

— Eu tenho um... problema — preferiu responder.

— E esse problema tem nome?

Uma das coisas de que Hinata podia se orgulhar era de sua atenção, da capacidade de observação que havia desenvolvido graças à timidez durante a adolescência. Por isso, ela viu quando a postura defensiva de Naruto se desmanchou com sua pergunta, como quando todos os músculos do corpo recebem uma pequena dose de endorfina e relaxam diante de uma boa lembrança. Os olhos azuis tinham um brilho leve, mas ela reconhecia bem o sorriso sincero e delicado que o homem à frente tentou logo esconder. Como se ele soubesse disfarçar alguma coisa, ainda mais dela que o conhecia tão bem!

Naruto voltou a olhar para ela e riu, nervoso. Hinata sorriu, apoiou os cotovelos sobre a mesa e o queixo sobre as mãos unidas.

— Você nunca teve problema em me dizer o nome das pessoas com quem estava saindo. Então, ou eu conheço, o que duvido muito, ou você ainda não faz ideia de onde está pisando — ela arriscou.

— Não faço ideia de onde estou pisando — ele respondeu com um suspiro. — E, para piorar, algo me diz que é um terreno bem...

— Escorregadio?

— Acho que problemático definiria melhor. Sasuke não parece alguém fácil de lidar.

— Oh, nós temos um nome agora! Mas por que acha isso?

— Intuição? — Ele pendeu a cabeça para o lado em dúvida.

— Vai dar certo, não se preocupe.

— Como pode afirmar isso?

— Naruto — Ela riu como se fosse mais do que óbvio. — É justamente por ser "problemático" que eu sei que você vai dar um jeito.

* * *

Madara estreitou o olhar quando chegou em casa e viu Sasuke na cozinha. Primeiro porque, pelo horário, ele não deveria estar ali, mas no ballet, embora ainda houvesse tempo para a aula, segundo porque seu sobrinho raramente cozinhava, muito menos doces, ele os odiava, mas ambos conheciam alguém que rasparia por completo o fundo daquela panela de brigadeiro, ainda mais se estivesse abalada.

Dobrou as mangas da camisa social e abriu os primeiros botões, o barulho de salto pela casa indicava que Mito já deveria estar terminando de se arrumar. Foi até Sasuke e cruzou os braços ao se apoiar na pia ao lado do fogão.

— Ino? — perguntou.

— Ino.

— Quem e o que dessa vez?

Sasuke desligou a panela, seu tio lhe estendeu a vasilha de vidro, e ele transferiu o doce com cuidado para não se queimar. A expressão séria de Sasuke não enganava Madara, e talvez aquilo o tenha deixado ainda mais irritado apesar de nem saber o que se passava. Conseguia perceber a força com que o sobrinho segurava a colher, o modo como o maxilar parecia cerrado, e os olhos... fazia tempo que não via tanto ódio no olhar de Sasuke, ódio esse que soube estar nos seus também assim que Mito apareceu na cozinha e o observou dividida entre acalmá-lo ou enfrentá-lo; ela odiava quando eles se deixavam levar pela raiva.

— Preciso ir — ela falou com receio.

Madara viu Sasuke respirar fundo e fechar os olhos, podia ouvi-lo mentalmente contando até três antes de soltar os utensílios e virar-se para ela.

— Vocês não vão ajudar nada desse jeito — ela pontuou, e nem mesmo o respeito impediu que Sasuke risse com ironia naquela hora. — Volto pela manhã. Não acho uma boa ideia irem para a aula hoje.

— Não vamos.

— Certo... Vejo vocês amanhã então. Qualquer coisa, me ligue, ok? — ela perguntou após se aproximar e beijou a testa de Sasuke com carinho antes de vê-lo concordar. — E você — Caminhou até Madara, a voz verbalizando o apelo que o olhar trazia. — Seja responsável.

Foi um pedido em vão, ela soube disso assim que o encarou após o leve selar dos lábios, mas não tinha tempo para argumentar. Madara e Sasuke esperaram a porta anunciar a saída de Mito para então se olharem.

— Ela está mal, muito mal — Sasuke disse primeiro.

— Quem foi?

— Muita gente. — Sasuke respondeu com raiva. — Ela foi procurar algo na internet e achou o nome dela... muita coisa, mesmo.

— Manda para mim. — Madara pegou a travessa com o doce e colocou na geladeira. — Vou pedir uma pizza pra agora. Fica com ela e manda no meu celular um dos links, eu acho o resto. Neji vem pra cá?

— Ele não sabe ainda, ela não quer contar... eu só sei porque ela me ligou do cursinho.

— Certo, vai lá com ela. Vou avisar Inoichi.

Sasuke pegou o celular sobre a mesa e encaminhou um dos links para o celular do tio enquanto voltava para o quarto. Entrou. Ino estava da mesma forma como quando ele a tinha deixado com Mito, deitada encolhida em sua cama, abraçando o travesseiro e coberta até o pescoço. Ela chorava em silêncio, os olhos fechados com força, e ele via o corpo chacoalhar de leve. A música clássica não parecia acalmá-la, ainda que ela tivesse insistido para que ele não a desligasse.

Mito já havia dito tudo o que era preciso, acreditava ele. Ino o conhecia, ela sabia que ele não teria palavras para confortá-la, que ele não mentiria dizendo que tudo ficaria bem sem antes ter essa certeza. E tinha sido por essa razão que ela ligara exatamente para ele... ele não mentiria, não a iludiria com esperanças para depois assisti-la desmoronar sozinha... não! Sasuke seria a pessoa que se deitaria ao lado dela, a abraçaria e a deixaria chorar, e tudo isso em silêncio porque era justo na falta de palavras incertas que ela sabia que a mente dele acharia um jeito de consertar tudo, mesmo que nem sempre ele escolhesse o meio mais correto para isso.

Ela se virou para ele assim que ele se deitou e a abraçou, escondeu o rosto no peito dele, ainda abraçada ao travesseiro. Sentiu-se mal por um momento... conhecia o amigo para saber que a respiração pesada e a postura rígida era pela raiva, e odiou-se por o importunar mais uma vez com seus dramas. Sabia que Sasuke se irritaria, ele sempre se irritava quando a magoavam, mas, ao abrir todos aqueles comentários sobre ela, que nem sabia antes que existiam!, não soube lidar...

A mente não processou muito bem as piadas, as ameaças, as fotos dela em momentos ou posições para deboche, era um ódio que ela não soube assimilar que de fato alguém podia direcionar a outra pessoa, a ela! E eram várias pessoas! Não uma, não duas, várias.... conhecia os nomes, muitos deles... e o que a mente não suportou, o corpo fez questão de exteriorizar.

O choro rompeu no metrô mesmo, o segurança a ajudou a se sentar e lhe ofereceu água enquanto ela digitava o número de Sasuke com os dedos trêmulos. Quando ele apareceu correndo na estação, sentiu-se culpada pelo alívio imediato e ainda mais culpada pela expressão preocupada que ele exibia e que logo se transformou em ódio quando, já na casa dele, ela lhe explicou e mostrou aos prantos o que havia acontecido.

Os dedos dele passaram pelos seus cabelos, devagar, e ela segurou-se mais ainda nele quando foi abraçada com mais força.

— Fiz seu brigadeiro, e Madara vai pedir aquela pizza que você gosta — ele falou, a voz baixa e perigosamente calma.

A mão em seu cabelo seguia o ritmo da música que tocava baixinho, e o choro voltou com mais força por isso. Não devia estar atrapalhando justo alguém que se importava com ela. Sasuke perderia a aula! E ela sabia o quanto ele odiava isso... Não devia o incomodar tanto, não deveria se abalar com o que tinha lido, afinal, ela já sabia que grande parte da companhia de ballet não gostava dela.

Ah, mas eis a diferença, não? O dia tinha lhe ensinado o peso das palavras "não gostar" e "odiar"... E, infelizmente, ela não aguentava sozinha.

— Me desculpa... — ela pediu, pela... Sasuke já havia perdido a conta de quantas vezes ela repetira aquilo. — Desculpa, Suke, desculpa...

Ele não respondeu, não adiantava, então apenas manteve o abraço e o carinho no cabelo dela até que, aos poucos, depois de um tempo, o cansaço emocional ganhou, e ela adormeceu. A pizza havia chegado, mas nem ele nem Madara a acordariam tão cedo. Sentado agora no sofá de frente para o tio, relaxou ao vê-lo desligar o telefone e sorrir frio enquanto fechava o notebook.

— Coma alguma coisa, moleque, eu vou falar com Hashirama e volto em uma ou duas horas. — Levantou-se e pegou as chaves do carro. — Nesse meio tempo, salve tudo o que tiver em qualquer rede social sobre Ino.

— Salvar? É muita coisa — Sasuke falou, sem entender.

— Ah, garoto... agora, quanto mais falarem, mais munição vamos ter. — Madara riu, ácido. — Faça o que mandei, vou resolver esse problema. Isso não vai ficar assim.

* * *

Neji estranhou a ausência de Ino o chegar à sala e estranhou mais ainda a de Sasuke, afinal, Sasuke vinha treinando num ritmo absurdo, não fazia sentido perder uma aula justo quando alguns bailarinos profissionais se reuniram para assistir o tão comentado oitavo ano. Orochimaru também não pareceu contente, Neji viu quando ele olhou ao redor, como se buscasse pelos alunos que faltavam. E foi constatar a irritação do professor que o fez preferir não participar da aula naquele dia. Sentou-se junto dos bailarinos profissionais, conhecia a maioria deles, e conversaram enquanto Orochimaru dava instruções novas ao pianista.

Ah, sim, Naruto também parecia curioso, tinha o cenho franzido um leve ar de descontentamento. Percebeu quando o olhar dele voltou-se para si e deu de ombros enquanto negava com a cabeça a pergunta que silenciosamente os olhos azuis lhe faziam.

Tinha algo ali, sabia que sim, não era cego, e Sasuke não mentia tão bem quanto achava. Até mesmo Sakura havia lhe chamado numa mensagem no dia anterior para perguntar por que Sasuke estava tão agitado na terça, e Ino, logo em seguida, havia lhe perguntado por que Sasuke estava tão aéreo na quarta quando o pianista faltara. Não fazia ideia das respostas, mas sabia que Naruto estava envolvido nisso, e, se Sasuke ainda não lhe tinha contado nada, era porque nem ele devia saber o que contar.

Pegou o celular e tirou uma rápida foto do pianista, enviou no grupo de conversa que tinha com os amigos e adicionou a legenda "Acho que tem alguém sentindo sua falta, Sasuke". Era tão bom irritar o amigo que não conseguia disfarçar o sorriso maldoso. Não se sentia mal, ainda, por não entender o que estava acontecendo ali, Sasuke sempre lhe contava tudo quando achava que valia a pena compartilhar ou quando precisava de ajuda, então, esperaria até essa hora. Só não podia prometer que ficaria quieto até lá, afinal, provocar Sasuke tinha se mostrado uma estratégia muito eficaz para distrair todo mundo da pressão das audições que se aproximavam.

Diferente dos demais dias, a aula transcorreu bem, sem nenhum problema, tirando, é claro, o favoritismo que Orochimaru fazia questão de mostrar a todos por Sakura. Ela sorria, sem graça, desconfortável, e Neji quase conseguia ouvi-la pedir para que as horas corressem mais depressa. Como profissional, ele conseguia enxergar bem o problema de Sakura... não era só uma falta de confiança que a prendia no chão quando deveria estar deslizando por sobre o palco, era a aceitação da derrota. Sakura parecia já estar conformada com suas próprias habilidades, como se não valesse mais a pena se esforçar tanto para melhorar. Ela dançava bem, claro que sim, mas faltava vida. Assisti-la dançar era o mesmo do que assistir a uma boneca, sempre a mesma expressão, sempre a mesma técnica, sempre o mesmo ritmo embora a música mudasse. Um mero fantoche guiado por cordas que ditavam a coreografia.

Era melancólico. Vê-la se afogar na própria tristeza daquela forma deixava-o nervoso, irritado, e não importava quantas vezes ele já lhe tivesse estendido a mão para tirá-la daquele fosso (aliás, não importava quantas mãos estivessem disponíveis para ela!), ela parecia apenas olhá-lo de volta, com o mesmo sorriso triste, enquanto fechava os olhos e deixava o corpo afundar.

E ele odiava pessoas que simplesmente se acomodavam e desistiam de lutar... talvez tenha sido isso que o tinha afastado de vez de Sakura. Apesar de manterem contato, depois da briga dela com Ino tinha ficado difícil para ele tolerar os erros dela. Sendo sincero, conversavam mais por educação do que por amizade, e ele lamentava por isso. Sakura tinha um grande futuro pela frente, bastava ela abrir os olhos, erguer a mão para aceitar a sua, a de Ino ou a de Sasuke, qualquer uma! Doía vê-la daquela forma, uma boneca solitária e triste com as asas arrancadas pelas próprias mãos.

Quando a aula acabou, prestou atenção nos comentários dos profissionais, afinal, todos ali estavam disputando o mesmo papel, tinham ido assistir àquela aula apenas para estudar os concorrentes, e os comentários só reforçaram o que ele já sabia. Sakura só seria um desafio quando mudasse de postura; não levavam Ino a sério porque não acreditavam que se pudesse escalar uma bailarina acima do peso, então logo a descartavam, e não havia bailarino bom o bastante naquela turma para oferecer qualquer perigo. Bem, isso porque eles não tinham visto Sasuke... Neji sabia que Sasuke era sim um verdadeiro perigo se assim escolhesse ser.

Os alunos deixavam a sala aos poucos, e Neji viu Sakura caminhando em sua direção com uma expressão preocupada.

— Também não to sabendo de nada — respondeu assim que ela se aproximou.

— Será que aconteceu alguma coisa? Eles não são de faltar.... e sempre avisam quando isso acontece.

Neji não respondeu, percebia Naruto olhar na direção deles, atento, e revirou os olhos. Por que as pessoas tinham que complicar tanto? Se Naruto queria saber se ele tinha notícias, bastava perguntar, e não ficar olhando para eles sem discrição alguma e tentando ouvir a conversa.

Aproximou-se de Naruto com Sakura ao seu lado o olhando confusa.

— Nada ainda — falou direto ao se apoiar no piano. — Manda uma mensagem para ele, talvez Sasuke te responda. Até agora a gente não tá sabendo de nada.

Naruto fechou o piano com cuidado e chegou até mesmo a pegar o celular... mas...

— Não tenho o número dele — lembrou-se, e Neji arqueou a sobrancelha em descrença enquanto Sakura pegava o celular dela na bolsa.

— Vocês ensaiam quase todo dia e você não tem o número dele? — Neji perguntou incrédulo. — Sério?

— Resolvido — Sakura falou, e o celular de Naruto apitou em seguida. — Te mandei o número, agora é só mandar a mensagem.

— Obrigado — Naruto respondeu ao conferir.

— Espero que tenha mais sorte que a gente, ele nem visualizou as nossas mensagens ainda. — Neji conferiu o celular.

— Podemos tentar falar com Madara.

— Sasuke não é criança para a gente ter que falar com o tio dele para sabermos se está ou não vivo, Sakura. Se ele não veio, aconteceu algo; se ele anda não nos falou o que, deve ter motivos. Amanhã, quando ele vier para a aula, a gente pergunta. Simples assim. Se ele não vier amanhã também, aí a gente vê com Madara se aconteceu algo sério. Eu tenho que ir agora, vai ter jantar de família em casa hoje. Boa sorte, Naruto. Tchau, Sakura.

— Até amanhã — ela respondeu e virou-se para Naruto depois que Neji saiu. — Está ajudando o Sasuke a ensaiar, né?

Naruto se levantou e pegou a maleta.

— De vez em quando. Eu normalmente só fico tocando as músicas, não sei bem se isso conta como ajuda mesmo. — Riu enquanto a acompanhava para fora da sala.

— E ele está indo bem? Sasuke costuma ser muito exigente consigo mesmo.

— Ah, eu percebi... Tenho que obrigar aquele Teme desgraçado dar algumas pausas entre os ensaios. Ele realmente não sabe o significado da palavra "limite".

— Ou sabe demais, afinal, limites também servem para serem ultrapassados, não concorda?

— Essa filosofia de vocês do ballet é meio masoquista, você sabe disso, não sabe? — Naruto fez uma careta, e Sakura riu enquanto concordava. — E então? Decidiu se irá tentar o papel?

— Vou sim, mesmo achando que não vou conseguir, para ser sincera. — Ela suspirou.

— Precisa de ajuda para ensaiar?

— Não, não, está tudo bem.

— Quando precisar, eu não me importo mesmo de tocar, viu?

— Tudo bem, obrigada. — Ela sorriu. — Bem, eu fico por aqui agora — falou ao chegar ao vestiário. — Depois me fala se conseguir alguma notícia do Sasuke, ok?

— Pode deixar. Obrigado pelo número.

— De nada!

Naruto a viu entrar no vestiário e deu meia volta. Orochimaru não precisaria mais dele, então caminhou até o carro e encarou o celular por alguns minutos antes de decidir se devia ou não mandar uma mensagem. Neji havia dito que Sasuke não estava respondendo, por isso, mesmo que enviasse algo naquele momento, Sasuke não o responderia tão cedo. O que era bom por um lado....

Bagunçou os cabelos e colocou o cinto de segurança. Olhou o celular mais uma vez....

— Foda-se...

Digitou um rápido "oi", enviou e travou o celular. Ligou o carro e dirigiu para casa. Kurama estava dormindo quando chegou, mas acordou rapidamente com o som da chave na fechadura, e Naruto acariciou o animal antes de jogar de qualquer jeito a pasta, as chaves e o celular sobre o sofá. Estava com fome e desconfiava que o animal também, então encheu o pequeno pote de ração antes de separar as panelas e alguns ingredientes para a janta. Enquanto esquentava água para preparar alguma coisa para comer, paralisou ao ouvir o som característico de uma mensagem nova recebida. Largou os utensílios e inclinou-se sobre o sofá para pegar o telefone e abrir a mensagem. Sentou-se no sofá com Kurama rapidamente lhe reivindicando o colo.

Sasuke...

Ele havia respondido...

E com toda a delicadeza com a qual Naruto já estava acostumado e que o fazia sorrir divertido:

"Mas quem é q te passou o meu número, Dobe?"  



Gostaram?

Teorias?

Sugestões? 

Continue Reading

You'll Also Like

My Luna By Malu

Fanfiction

218K 19.3K 27
Ela: A nerd ômega considerada frágil e fraca Ele: Um Alfa lúpus, além de ser o valentão mais gato e cobiçado da escola Ele sempre fez bullying com el...
268K 18.2K 78
Nosso caos se transformou em calmaria. Plágio é crime!!
2.4M 224K 86
Com ela eu caso, construo família, dispenso todas e morro casadão.
2.2K 268 22
AMIGO. Um companheiro favorito. Uma pessoa ligada a outra por sentimentos de afeto ou consideração pessoal. Uma pessoa que dá assistência. Alguém que...