Não pare a Música

By AliceHAlamo

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A dança é composta por vários elementos. Você tem a coreografia, o tempo, a música, o dançarino, a técnica... More

Capítulo 1 - Sasuke
Capítulo 2 - Naruto
Capítulo 3 - Ino
Capítulo 4 - Gaara
Capítulo 5 - Quebra de rotina
Capítulo 6 - Suas lentes
Capítulo 7 - Interesses
Capítulo 8 - O que os outros pensam
Capítulo 9 - Encantado
Capítulo 10 - Ajuda "mútua"
Capítulo 11 - Punição
Capítulo 13 - Desafio
Capítulo 14 - Intensidade
Capítulo 15 - Mudanças
Capítulo 16 - Tensão
Capítulo 17 - Entre jogos e bebidas
Capítulo 18 - Escolhas
Capítulo 19 - A queda
Capítulo 20 - Bolha
Capítulo 21 - Luz acesa
Capítulo 22 - Segredos
Capítulo 23 - Permissão
Capítulo 24 - Montanha Russa
Capítulo 25 - Gravidade
Capítulo 26 - Amarga Vitória
Capítulo 27 - Forjada em veneno
Capítulo 28 - Aberto
Capítulo 29 - Relações
Capítulo 30 - Linda
Capítulo 31 - Cores
Capítulo 32 - Oportunidades
Capítulo 33 - Elos
Capítulo 34 - Marcas da alma
Capítulo 35 - Resgate
Capítulo 36 - Suporte
Capítulo 37 - O que tem atrás das cortinas
Capítulo 38 - Socos da vida
Capítulo 39 - A morte do Cisne
Capítulo 40 - Acerto de contas
Capítulo 41 - Vida
Epílogo

Capítulo 12 - Fora de Foco

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By AliceHAlamo

As coisas estão começando a esquentar hahahaha

Gaara manteve o copo de chá gelado em mãos enquanto subia no elevador. Estava indo mais cedo para a agência em pleno sábado apenas para se certificar de que conseguiria sim terminar as fotos da campanha de Hanabi antes do prazo.

Não tinha escolha, era isso ou ficar de fora do projeto com Ino. Sua sorte era que Ino estava na fase de apresentação, ou seja, os clientes estavam a conhecendo agora, Konan ainda lhes mostrava o booking recém feito, Pain falava sobre o currículo de Ino, a imagem dela começava a ser formada para as outras agências.

Correu para o camarim, tinha uma movimentação incomum no set, olhares demais em sua direção, e não demorou a entender o motivo. Sabe a sensação de "ah, não...."? É aquela sensação que se tem quando, depois de ver muitos problemas e achar uma saída quase impossível para eles, você encontra mais um problema que desestrutura tudo. E o seu tinha nome: Matsuri.

Matsuri era uma maquiadora com quem já havia trabalhado antes e uma das poucas pessoas com quem ele havia saído algumas vezes. E todos sabiam disso, todos, inclusive Hanabi.

Tentou não pensar nisso enquanto pendurava a jaqueta molhada da chuva no camarim, secou o rosto e as mãos e fingiu não perceber o modo como os modelos do lugar o olhavam, como se estivessem apenas esperando a granada explodir.

Saiu com a câmera no pescoço, massageou o ombro dolorido e viu, ainda ao longe, Konohamaru correndo em sua direção com os olhos arregalados.

Más notícias.

— Matsuri vai maquiar Hanabi — Konohamaru explicou assim que chegou, sem fôlego, até onde estava.

— E o que que tem? — perguntou indiferente.

— Você sabe muito bem o problema. — Konohamaru bufou.

— Matsuri é uma excelente profissional, e Hanabi não é uma criança. Não há problema algum — respondeu com profissionalismo, embora ele duvidasse que o gênio de Hanabi pudesse ficar quieto caso outras pessoas começassem a provocá-la.

Para o desânimo de todos aqueles que esperavam um escândalo, Matsuri maquiou Hanabi alheia aos sussurros que se espalhavam por todo o set, e a modelo apenas se manteve quieta, esperando que o serviço terminasse e agradecendo educadamente, como sempre fazia, antes de se levantar e ser levada até o cenário onde seria fotografada. Entretanto, Gaara notou que havia algo diferente.

E como não haveria?

Hanabi estava com um modelo ao seu lado, mas os olhos perolados estavam fixos em Gaara, decididos, sérios e sem a habitual agitação. Era um olhar muito mais de mulher do que de garota, e a temática das fotos não ajudava. Era uma propaganda de perfume, mas o ar sensual predominava. O robe de seda, preto, translúcido, terminava no limite dos glúteos, o decote era suficiente para que o colo todo fosse visto, e o divã que seria usado já deixava claro como a cena entre ela e o modelo se desenrolaria.

Normalmente, Hanabi odiaria aquele tipo de exposição; não era fã de fotos que sugerissem contato sexual, mas não naquele dia. O diretor de propaganda sugeria as poses, eles obedeciam, mas os olhos perolados sempre buscavam as lentes, os lábios se abriam sutilmente, como se perguntassem a Gaara o porquê de não ser ele sobre o seu corpo com o rosto em seu pescoço e as mãos em sua cintura.

E, se ele ainda a via como criança, ela mudaria aquela visão, mostraria que já era mais do que crescida. Afinal, qual era o problema? Ela era bonita, era inteligente, o que mais precisava para chamar a atenção dele? Impossível ele não ter percebido o quanto ela o queria, todos sabiam! Quando Matsuri chegou para maquiá-la, Hanabi ouviu os comentários, estavam todos ali esperando para que fizesse uma cena, um vexame, justamente porque seus sentimentos por Gaara eram de conhecimento geral!

E seria mentira dizer que ninguém sentiu o magnetismo que recaía sobre o set. Hanabi era linda e parecia mais do que empenhada em seduzir a câmera. O diretor amava, vibrava com as fotos e incentivava-os, mas Gaara não compartilhou daquela animação.

As lentes lhe mostravam bem o desejo de Hanabi, capturavam como o corpo belo se encaixava ao do modelo, e a sensualidade que ela mostrava com a atenção voltada à sua câmera o fazia hesitar, a boca seca, as mãos indecisas. Desconfortável.

A cada click da máquina, era um passo para o fim do ensaio, e Gaara não queria que ele acabasse. Não, não estava gostando, muito menos querendo ver mais de Hanabi, contudo, ele sabia que, assim que as fotos chegassem ao fim, ela viria falar consigo.

Ouviu o diretor falando com os modelos, agradecendo por tudo, e Gaara entregou a câmera para Konohamaru antes de sair pelo set. Se fosse conversar com Hanabi, que fosse em particular, sem os fofoqueiros de plantão que não teriam mais do que falar durante a semana. Entrou em um dos camarins vazios, ciente de que Hanabi o tinha visto e que não demoraria muito para que entrasse pela porta. Apoiou o tronco na mesa que havia ali, fechou os olhos e apertou a raiz do nariz antes de cruzar os braços ao ouvir a porta sendo aberta.

Hanabi não havia se trocado, estava com a mesma roupa do ensaio, mas agora, enquanto fechava a porta, não tinha o mesmo olhar sedutor. Ela o olhava com receio, o rosto colorido de leve pela vergonha, as mãos inquietas enquanto ele permanecia em silêncio a observando e esperando que ela começasse o assunto. Entretanto, como ele já esperava, isso não aconteceu, porque, apesar de Hanabi saber como provocar, embora já fosse maior de idade, ela ainda não tinha maturidade para resolver seus assuntos da forma que ele gostava: conversando, de forma limpa e clara.

— Hanabi, eu não posso te corresponder — disse, enfim, de forma calma e tão direta que a pegou de surpresa.

Ela vacilou. De frente a ele, com poucos passos os separando, ela recuou inconscientemente antes de reassumir a postura e tomar o ar necessário para indagar:

— E por quê não?

— Eu não sinto por você o que você acha que sente por mim — ele respondeu, com cuidado, mas as palavras fizeram Hanabi arregalar os olhos, indignada, e então erguer a cabeça.

— O que eu acho que sinto por você? — ela repetiu, incrédula. — E como você sabe, melhor do que eu, o que sinto por você?

— Tudo bem, desculpe — ele falou devagar, sem se abalar, e descruzou os braços para apoiá-los na mesa. — Então, me diga, o que sente por mim?

A garganta dela secou, sentia-se exposta, e não era por causa da roupa que vestia. Os olhos verdes de Gaara, que tanto a fascinavam, olhavam-na com certo pesar, e ela odiava que sentissem pena de si! Entretanto, como não se sentir pequena diante da postura dele? Como não se sentir de novo uma adolescente enquanto ele parecia tão homem?

O coração acelerou à medida que as palavras pediam para sair de sua boca, e ela não as impediu, não tinha vergonha de dizer o que sentia, muito menos o que pensava e, se Gaara precisava ouvir para levá-la a sério, então ela o faria.

— Estou apaixonada por você — respondeu, convicta, ainda que as mãos tenham ido para trás do corpo e o estômago se agitado pelas malditas borboletas que acordavam para pertubá-la. — Não entendo por que me afasta ou finge não saber disso.

Gaara suspirou e olhou para o chão antes de sentir-se péssimo pelo tom magoado que ela usava.

— O que sabe sobre mim, Hanabi?

— O quê? — ela perguntou, confusa.

— O que sabe sobre mim além da minha profissão?

— Não, não faça isso — ela o cortou, entendendo onde ele queria chegar. — Eu não sou idiota, Gaara, posso não saber a sua cor favorita ou se tem ou não um gato, mas isso não me impede de sentir algo por você!

— Sente, não duvido que sinta algo por mim, mas não acho que seja paixão. Você não me conhece para isso, não sabe minhas opiniões, meus gostos, meus hobbies, como eu ajo fora do ambiente de trabalho — ele explicou com calma, e Hanabi balançou a cabeça incrédula. — Você está confundindo desejo, atração, com paixão.

— E por isso você nem ao menos cogita me dar uma chance? — Ela se aproximou, o coração a sufocando enquanto se esforçava para manter as emoções sob controle. — Qual o problema então de eu te desejar? De me deixar te conhecer melhor? Eu fiz algo errado para você estar tão certo de que não mereço essa chance? E não me diga que é porque trabalhamos juntos, todos sabem que você saiu com Matsuri durante uma campanha.

— Eu não te vejo dessa forma — respondeu sincero, mesmo que soubesse o quanto aquelas palavras poderiam soar frias.

Olhou para Hanabi e acompanhou, gradualmente, a postura dela se desmanchar. Os olhos caíram, presos em algum lugar do chão enquanto as mãos abraçavam o corpo e ela buscava se manter firme. Mas Gaara sabia que a tinha quebrado quando ela o respondeu após alguns segundos de silêncio:

— Então o problema sou eu?

Ele desencostou da mesa e caminhou até ela, uma das mãos a segurou pela cintura enquanto a outra lhe erguia o rosto.

— O problema é que eu não quero um relacionamento agora — ele explicou, sério, e buscou os olhos dela quando a viu virar o rosto. Secou as lágrimas que caíam em silêncio e suspirou. — Me ouça... Você é linda. — Ela riu sem humor algum, mas ele continuou. — Mais do que deve imaginar, é decidida, forte, e provavelmente ninguém aqui se recusaria a dividir a cama com você se você assim quisesse. Nem mesmo eu — enfatizou. — Mas, infelizmente, esse é o meu limite, vê? Não posso prometer mais do que isso e sei que para você não vai ser suficiente. Se quiser sexo, sabendo disso, não serei idiota em recusar, mas é tudo o que posso te oferecer.

Hanabi riu, amarga, e segurou com força a camisa que ele vestia. Balançou a cabeça de um lado ao outro e o encarou.

— Ainda tenho um pouquinho de amor próprio, ok? — Ela sorriu magoada enquanto sentia os lábios dele tocarem gentilmente sua testa.

— Sinto muito por não poder te dar o que deseja — ele respondeu ao soltá-la, mas parou quando a mão dela segurou a sua.

— Pode, ao menos, me dar um beijo decente? — Ela deu de ombros e forçou um sorriso. — Beijo na testa é muito brega... não combina com você.

— Ou combina com o que não conhece de mim — ele respondeu ao se aproximar.

Hanabi revirou os olhos, mas logo os baixou ao sentir os dedos de Gaara em sua nuca, o corpo dele a encostar gentilmente ao seu, e o cheiro de hortelã a lhe invadir. Os lábios dele eram suaves, tocaram os seus com carinho, como se desejassem se desculpar pelas palavras que tinham proferido. O calor do corpo dele a confortava, e as mãos em seu corpo davam o apoio necessário para que ela apenas se preocupasse em retribuir o beijo com a mesma delicadeza. Era cuidadoso, lento, envolvente, e ela quis que o tempo parasse para poder desfrutar daquele momento.

Gaara se afastou para poder voltar a beijá-la, dessa vez mais suave, apenas selou os lábios aos dela até que sorriu de leve ao soltá-la e dar um passo para trás. Não era certo alongar o momento, tinha certeza que isso só daria a ela mais esperanças ainda que tivesse acabado de deixar claro o que sentia, ou melhor, o que não sentia.

Hanabi sorriu, delicada, as mãos o soltaram, ele via o rubor no rosto dela e a ouviu limpar a garganta antes de lhe questionar:

— Vai deixar de me fotografar?

— Você quer isso? Eu não tenho problema algum em continuar como seu fotógrafo, é justamente por isso que não gosto de misturar minha vida pessoal com trabalho, mas, se você não quiser, basta falar com Konan ou Pain. Eles me tirarão das campanhas, e não há nada que eu possa fazer.

— Não vou prejudicar o seu trabalho. — Hanabi franziu o cenho ao falar aquilo como se fosse óbvio. — Nem o meu, aliás, realmente gosto das suas fotos.

— Obrigado — ele agradeceu, sincero. — Vamos voltar para o set?

— Pode ir na frente, vão comentar ainda mais se sairmos juntos daqui.

Gaara concordou, e Hanabi o esperou sair para largar o corpo no sofá e esconder o rosto entre mãos enquanto o choro enfim se instaurava.

* * *

Orochimaru não havia ido lecionar aquele dia, o que foi um alívio para todos, embora alguns comemorassem menos que os outros...

— Sakura? — Sasuke perguntou, desconfiado do silêncio da amiga enquanto assumia sua posição na barra logo atrás dela.

— Ah, oi... O que foi? — ela indagou, a mão ajeitando a mecha rosa rebelde que caía do coque.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou sem rodeios.

Sakura olhou para Anko, a professora substituta, e Sasuke a viu ajustar a saia e brincar com a barra, como fazia quando estava nervosa.

— Não — ela mentiu com um sorriso forçado.

Ele arqueou a sobrancelha, deixava claro que não tinha acreditado, mas Sakura o olhou suplicante, pedindo em silêncio para que ele não insistisse no assunto. Sasuke suspirou, resignado, e deu de ombros ao assumir a postura para a reverência que logo deveriam fazer.

Sakura tinha dessas, ele sabia. Por ser afilhada da dona da companhia, Sakura tinha acesso a mais informações do que deveria, e isso nem sempre era algo bom, isolava-a. Com o tempo, deixou de ser tanto um problema, mas, no começo... ainda era clara a lembrança de como os professores a olhavam com desconfiança ou então a mimando de todas as formas possíveis, crendo, erroneamente, que aquilo lhes traria algum benefício.  

Se fossem só os professores, o problema não seria tão grande, não é? Ballet é feito de contatos, sempre foi, conhecer um coreógrafo, um bailarino mais experiente, um músico, qualquer um!, abria portas com que, para alguns, não eram nem mesmo possíveis de se sonhar. Em uma bela obra, Sakura seria a prima bailarina, cercada por seu corpo de baile, aqueles que só estavam no palco para fazer parte do cenário, da construção da cena, mas que não agiam diretamente na história. Mas esse corpo de baile era ambicioso... pequenas aranhas que arrastavam suas pernas em passos graciosos e aparentemente inofensivos, mas sempre deixando suas teias pelo caminho a fim de que uma hora Sakura caísse nelas. E cairia, uma hora ou outra, elas sabiam esperar, e, quando esse dia chegasse, até mesmo ela veria que, no ballet, ninguém parava para lhe estender a mão, o espetáculo tinha que continuar, mesmo com você no chão.

Se isolar era a solução mais prática para se evitar as armadilhas; ao contrário de Ino que era invejada e odiada, Sakura era bajulada. A inveja era algo em comum para as duas bailarinas, as oportunidades que Sakura possuía devido aos contatos de sua madrinha eram motivos de revoltas, que só não explodiam porque preferiam estar perto dela para que algum dos holofotes, alguma hora, talvez, quem sabe, os iluminasse sem querer também.

Tinha sido difícil para Ino se aproximar dela, Sakura era, com toda razão, esquiva, distante, mas a amizade delas se consolidou quando Ino a tinha ajudado a remover algumas teias que já impediam Sakura de deslizar livremente pelo palco. Uma pena... eles tinham esquecido que alguém sempre tão adorada e bajulada por todos não saberia mesmo lidar facilmente com verdades, mesmo que eles só estivessem fazendo o que amigos deveriam fazer: preocupar-se uns com os outros, ajudar uns aos outros, oferecer a mão para que se erguessem!

Não culpava a insegurança de Sakura, mas não seria ele a fazê-la enxergar a verdade. Ela deveria abrir os olhos por vontade própria e escolher quem de fato eram seus amigos. Se ela não confiava mais neles para explicar o que certamente sabia que estava acontecendo entre os professores, infelizmente teria que, mais uma vez, carregar o fardo sozinha.

— Sasuke, você não está prestando atenção! — Anko gritou quando ele terminou a sequência de saltos e concluiu o movimento ao lado de Neji. — Pro final da fila, vocês vão de novo.

Neji bufou, quando teve certeza de que Anko não veria ou ouviria, bateu na cabeça de Sasuke e caminharam até o canto da sala, na diagonal, para repetirem o exercício.

— Se estiver pensando no porquê seu pianista não veio hoje, eu juro que vou te socar, Sasuke!

— Não estou pensando em Naruto! — respondeu, indignado, ainda que não pudesse negar que havia estranhado a falta de Naruto naquele dia. Naruto e Orochimaru faltaram, no mesmo dia, com Sakura nervosa, era um pouco demais para alguém tão curioso quanto ele, ainda mais porque, no dia anterior, tinha treinado o dia inteiro com Naruto, finalmente conseguindo terminar a coreografia para a audição que em breve aconteceria.

— Ele disse que não viria hoje? — Neji limpou o rosto na pequena toalha que tinha deixado apoiada na barra, colocou as mãos na cintura e tentou recuperar o fôlego para repetir o exercício enquanto a fila andava.

— Disse que íamos ensaiar de novo amanhã. Achei que ele só não fosse vir à tarde, não à noite também. — Aceitou a garrafa d'água oferecida.

— Saudades? — Neji debochou com um sorriso de canto e assumiu a postura para se preparar para o exercício.

— Vai se fuder, Neji — Sasuke resmungou, e Anko bateu o bastão no chão de madeira para marcar o início do exercício mais uma vez.

Foco. Sasuke repetiu a si mesmo enquanto os joelhos dobravam-se após o salto. Foco. Tornou a repetir quando a mente cogitou divagar sobre o dia anterior. Tinha conseguido evitar pensar naquilo o dia todo, havia até mesmo dormido mais cedo na noite anterior para não dar tempo que o cérebro quisesse refletir sobre os ensaios! Não, não pensaria, não, negativo, nem pensar! Foco!

E não foi isso que ficou se repetindo no dia anterior enquanto ensaiava? Naruto estava estupidamente animado para aquele ensaio; segundo ele, havia tido um sonho bom e estava otimista por isso, o que para Sasuke não fazia sentido algum, mas não questionou; estava aprendendo que Naruto usaria qualquer abertura que lhe fosse dada ao máximo e cruzaria o limite do bom senso que todas as pessoas deveriam ter.

A animação repercutiu na música, Sasuke fez todo o aquecimento enquanto uma música agitada tocava. O certo teria sido pedir para que Naruto tocasse algo mais lento, para que os exercícios do aquecimento pudessem ser feitos no ritmo da música, mas havia gostado do som, a música realmente transmitia o estado de espírito do pianista, e Sasuke fascinou-se por alguns segundos enquanto o observava pelo espelho.

Era bonito. Os olhos fechados de Naruto só faziam com que Sasuke observasse ainda mais o sorriso aberto que ele exibia ao tocar as teclas, como se estivesse se divertindo ao máximo enquanto tocava cada nota. As mãos moviam-se com agilidade, certa hora inverteram as teclas pelas quais eram responsáveis, e Naruto balançava a cabeça no ritmo da música.

Gostou. Sasuke reconhecia aquela alegria em específico, aquele deixar-se levar pelo que tanto amava, aquela felicidade que parecia dominar o corpo! Era como quando se apresentava, alheio ao mundo, apenas sendo conduzido pela música como se elas fossem as cordas e ele a marionete. E aquilo o atraía. A paixão que Naruto demonstrava pela música o atraía, o êxtase que ele parecia sentir enquanto tocava o fazia engolir em seco à medida que se percebia interessado, interessado demais, para saber se ele saberia dispensar aquela paixão e tempestuosidade para algo além da música...

Ah, não... de todas as pessoas por quem poderia se interessar, tinha que ser logo pelo pianista? Já conseguia ouvir a risada de Ino se ela ficasse sabendo, e as piadas que Neji soltaria provavelmente os fariam iniciar uma discussão nada amigável, de novo, que Ino teria de intervir antes que saíssem aos socos, de novo.

Foco. Foi o que decidiu após perceber que a música acabaria. Finalizou o aquecimento um pouco antes de Naruto tocar as últimas notas. Aguardou, os olhos fechados para apreciar o som lentamente se esvaindo enquanto ele já ficava pronto para o início da coreografia. Não encarou os olhos azuis quando o silêncio chegou, embora sentisse a pressão de ser observado.

— Pronto? — Naruto perguntou.

— Sim — respondeu e ergueu a cabeça para frente, olhos distantes no horizonte, como a coreografia exigia.

— Lá vamos nós então. — Naruto sorriu, acomodou-se melhor no banco e respirou fundo antes de começar a tocar, já sem auxílio da partitura.

Sasuke conseguia visualizar em sua mente os diversos bailarinos que já tinham interpretado aquele mesmo papel, era como se lhes assistisse, de novo, tentando escolher a melhor parte de cada um e apoderar-se daquilo. A expressão de um, a técnica do outro, a altura dos saltos desse, a precisão dos giros daquele... Sasuke  precisava ser perfeito! Havia visto Neji ensaiar e sabia que, assim como o amigo, havia muitos profissionais bons. Não se preocupava tanto com os bailarinos do oitavo ou nono ano, mas os profissionais... Neji era excelente e nem era o melhor dentre eles! E foi pensando nisso que socou o chão com raiva após cair. Mordeu o lábio, fechou os olhos e respirou fundo, contava mentalmente até dez para não gritar de frustração e, em vez disso, levantou-se, penteou o cabelo para trás com os dedos e pediu em tom contido, controlado, baixo, mas extremamente irritado:

— De novo.

— Está se afobando — Naruto apontou, o cenho franzido e as mãos ainda sobre as coxas.

Sasuke riu anasalado e se posicionou ao canto da sala.

— De novo.

Naruto suspirou e então sentou-se de costas para o piano, de frente para Sasuke.

— Está se afobando, não vai conseguir terminar o giro, tá fora de ritmo porque você parece estar com pressa de terminar a coreografia, como se quisesse fugir logo do palco — explicou, e Sasuke sorriu, cínico, do modo que Naruto já tinha entendido que ele fazia quando não gostava de ser contrariado.

— Eu marquei o ritmo, não errei isso.

— Então... — Naruto franziu o cenho, confuso. — você está dançando e pensando no ritmo da música e de cada passo? É isso?

— O que mais poderia ser, Dobe? É por isso que eu sei que não é no ritmo que estou errando — Sasuke respondeu, frustrado, e Naruto o olhou ofendido.

— Você não pensa no ritmo da música, Teme, você ouve a música, sente a música! — respondeu como se fosse óbvio. — Se você dança pensando no tempo em vez de senti-lo, é óbvio que vai errar! Está pensando tanto em se manter no tempo certo que acaba se afobando.

Sasuke levou as mãos aos cabelos e grunhiu irritado. O que Naruto falava fazia sentido, mas não seria ele a admitir aquilo, não em voz alta.

— Você precisa ouvir a música, Sasuke.

— Ah, jura? — ironizou, e Naruto revirou os olhos.

— Vem pra perto do piano — Naruto pediu ao se virar novamente para o instrumento. Olhou para Sasuke por sobre o ombro e repetiu: — Vem logo, senta no chão perto do piano, aproveita para respirar e esfriar essa sua cabeça.

— Pra quê? — perguntou, mal humorado, mas os pés já o levavam para perto do pianista.

— Pra largar de ser surdo e teimoso! — Naruto bufou. — Vamos, senta e fecha os olhos. Eu vou tocar a música de novo. Duas vezes. Na primeira, só ouve a música, tenta sentir a vibração dela, o ritmo. E eu disse sentir, não ficar que nem idiota contando os tempos. Depois, na segunda, visualiza a coreografia.

Sasuke olhou o relógio na parede acima do espelho, não tinha muito tempo, mas, se aquilo ajudasse, pelo menos seria melhor do que gastar as poucas horas em quedas e insucessos. Sentou-se, as costas apoiaram-se no banco onde Naruto estava, sem tocar no pianista.

— Vamos, feche os olhos — Naruto pediu.

— Tá, tá, já entendi.

Fechou os olhos. A música logo começou, a melodia tão conhecida parecia mais alta agora que estava perto do instrumento, e o chão de madeira lhe permitia sentir cada vibração na ponta dos dedos. Não contar o tempo era difícil, já havia se acostumado a isso, mas se concentrou nas mãos, na vibração que parecia invadir-lhe pelos dedos, subindo para todo o corpo. A cabeça parecia cheia, como se a música expulsasse todos os outros pensamentos e ocupasse por completo o crânio. E Naruto soube que seu objetivo tinha sido alcançado quando sentiu a cabeça de Sasuke tombar para trás e tocar suas costas. O bailarino se entregara, sentia a cabeça dele movendo-se seguindo a música, e Naruto sorriu pela vitória.

Visualizar a coreografia não era difícil, Sasuke já a sabia melhor que o próprio nome. Imerso na melodia, os passos se desenrolavam em sua mente com facilidade, como se completassem a música, como se fossem uma única coisa. Não era um bailarino tentando encaixar a coreografia sobre um plano de fundo, não eram passos que reivindicavam para si notas específicas para marcar o tempo, era uma fusão, a melodia envolvia o bailarino e o fazia dançar como o vento fazia as flores se curvarem no campo.

Pelo espelho, Naruto via o sorriso delicado de Sasuke, provavelmente ele havia entendido o que queria mostrar. O alívio o fez sorrir também, não aguentava mais ver Sasuke caindo e insistindo no erro, ainda mais porque Sasuke nem ao menos parecia se importar com os roxos que a pele adquiria! E aquilo agoniava Naruto... Durante todo aquele tempo que o estava ajudando a ensaiar, a quantidade de hematomas que aparecia pelas quedas o alarmavam. Tá, ele sabia que ballet, como qualquer outra atividade física, podia resultar em um ou outro machucado, mas Sasuke exagerava! Os joelhos já estavam vermelhos de tanto que ele os havia batido ao errar as piruetas naquele dia!

Terminou a música, Sasuke se levantaria em breve, e Naruto pegou-se lamentando por aquilo, estava gostando de sentir a cabeça dele contra suas costas e de poder observá-lo tão tranquilo. As mãos exteriorizaram esse desejo, as teclas cederam à sua vontade de manter Sasuke próximo, e ele preferiu não pensar no motivo pelo qual o coração o atrapalhava, batendo de forma barulhenta em seu peito quando buscou pela reação de Sasuke no espelho e o viu continuar apoiado em si, ouvindo-o tocar.

A música em si não importava, Naruto não havia pensado antes de escolhê-la, a memória havia lhe jogado uma e ele a tinha aceito sem pestanejar. Tinha pressa, demorar-se significaria dar chance a Sasuke de se afastar, e isso ele não queria. Felizmente, ela parecia agradar ao outro, Sasuke acompanhava com a cabeça o ritmo lento, os lábios moviam-se sem produzir som, mas marcando as notas, e Naruto não soube quando os olhos escuros tinham se aberto e feito dos seus reféns. Com a cabeça em suas costas, numa postura tão relaxada, com os olhos refletindo todo o magnetismo que o bailarino possuía, os lábios marcando a melodia pareceram sensuais a ponto de Naruto não saber disfarçar ao encará-los.

Sasuke arqueou a sobrancelha, e o sorriso de canto fez Naruto engolir em seco enquanto as mãos, pela primeira vez em muito tempo, atrapalhavam-se pelas teclas quebrando a harmonia da música de modo a obrigá-lo a parar de tocar a fim de respirar fundo para se acalmar. Fechou os olhos, incrédulo, o coração acelerado no peito exigindo saltar pela boca enquanto as mãos apertavam a calça.

Ouviu Sasuke limpar a garganta, viu-o, pelo espelho, levantar-se, o rosto vermelho enquanto tentava disfarçar a situação.

— Acho que já deu por hoje — a voz do bailarino arriscou, e Naruto se levantou ao vê-lo ir até o fundo da sala para pegar a garrafa d'água e a toalha de rosto.

Não... A palavra ecoou na cabeça de Naruto tão clara que ele quase achou que a tinha verbalizado. Não, foi o que o coração protestou; não, foi o que o corpo todo manifestou ao fazê-lo andar até a porta e parar atrás de Sasuke, a mão segurando a dele sobre a maçaneta.

Sasuke prendeu o ar no próprio peito. A respiração de Naruto batia contra sua nuca, quente, arrepiava sua pele e o fazia fechar os olhos. Havia tensão, a mesma desde o momento em que tinha pego Naruto o observando enquanto tocava. Naquela hora, o olhar dele queimava, e não era difícil adivinhar que tipos de pensamento passavam por sua mente. E Sasuke gostou, por isso o tinha provocado, a ideia de atrair Naruto da mesma forma que havia percebido estar atraído por ele o envaidecia e calava de forma eficiente a razão que o aconselhava a parar de joguinhos que não saberia levar adiante. Quando a música se interrompeu, foi como se finalmente a consciência pudesse lhe gritar para fugir dali antes que se complicasse ainda mais. E foi o que fez, esperando que Naruto também tivesse caído em si e se recompusesse, mas a mão sobre a sua e a respiração contra sua pele provavam que não.

Não conseguiu se mover, a respiração acelerou acompanhando o coração de certa forma surpreso pela atitude do outro enquanto a mente não conseguia se decidir sobre o que fazer. O lógico seria se afastar e sair da sala sem olhar para trás, mas havia um calor entre os corpos, e Sasuke mordeu o lábio ao perceber que estava gostando da forma como suas costas encostavam no peito de Naruto toda vez que inspirava. Fechou os olhos ao sentir o toque leve em sua cintura, o correr da mão de Naruto por seu braço o arrepiava, e a intensidade com que era observado parecia tão grande que a curiosidade o fez girar a cabeça, hesitante, para o lado, e nada conseguiria descrever o que aconteceu quando os olhares se encontraram. Talvez, a melhor comparação seria dizer que havia sido como a faísca que antecede uma grande explosão, rápida demais para ser vista ou compreendida, mas que, ainda assim, deixava um rastro de destruição em tudo ao redor.

Houve um barulho oco quando as costas de Sasuke se chocaram contra a porta de madeira, mais culpa dele do que de Naruto, afinal, embora Naruto o houvesse virado para si com afobação, tinha sido Sasuke a puxá-lo pela nuca e colar os corpos. O contato era firme, os corpos tinham aniquilado qualquer espaço que pudesse existir entre eles, e as pernas de Sasuke não se opuseram a de Naruto quando a sentiu entre elas, a coxa o pressionando ainda mais contra a porta. A mão de Naruto o segurava pela nuca e não demorou para que sentisse os dedos dele se fechando em seu cabelo. As bocas... elas tinham fome, uma que Sasuke jamais havia sentido antes, uma vontade injustificável por sentir o calor da língua de Naruto contra a sua, de poder sugar-lhe os lábios, de senti-lo estremecer a cada suspiro audível. Segurava-o pela camisa, sem se importar se amassaria o tecido, e o desespero com que mantinham um ao outro preso se refletia também nos beijos entrecortados pelo ar que faltava, pelos sons de satisfação que deixavam escapar junto do barulho estalado em meio ao beijo úmido.

Naruto era impulsivo, sempre tinha sido!, por isso não estava surpreso com suas próprias ações, mas isso não o impedia de se surpreender com as de Sasuke. Impedi-lo de sair da sala havia sido puro impulso, mais uma vez o corpo cedendo às vontades do coração, mas não conseguia dizer o que exatamente tinha acontecido depois disso! Quem havia beijado quem? Não importava, não para ele, importava somente que Sasuke o correspondia com o mesmo desejo, e que seu corpo queimava ao se esfregar ao do bailarino. Não ligava para os cabelos úmidos pelo suor, apreciava como Sasuke abria ainda mais os lábios quando segurava os fios com mais força, inclinando-lhe o pescoço para trás.

Há pessoas que passam batido em nossas vidas, elas não nos oferecem uma má lembrança, mas são pessoas de que não lembraremos o nome em uma ou duas semanas. Há pessoas que possuem características específicas, de quem nos lembramos pelos detalhes, mas que o conjunto não agrada; pode ser, por exemplo, aquele amante que nos dá prazer, mas a quem não nos apegamos por todas as outras características que não sejam o sexo. Mas há as pessoas com quem simplesmente perdemos o chão, aquelas que encantam a mente e iniciam uma combustão no corpo, aquelas que não esquecemos nem mesmo se tentarmos porque parece que o gosto não sai dos lábios, que o corpo ainda treme pelos toques, que o coração ainda dispara com a simples possibilidade de o encontro se repetir. E Naruto tinha certeza de que não conseguiria olhar mais para Sasuke sem que a imagem do bailarino lambendo os lábios antes de beijá-lo de novo aparecesse em sua mente, não conseguiria vê-lo dançar sem imaginar como o corpo dele movia-se junto do seu, quente, necessitado, excitando-o...

Sasuke segurou o rosto de Naruto com as duas mãos, um arrepio mais intenso o fez gemer baixo quando sentiu as pélvis se chocarem. Estava ficando duro e, para piorar, sua mente lhe gritou que Naruto também. Desceu as mãos para o peito dele, empurrando-o de leve com as mãos vacilantes enquanto diminuía a intensidade do beijo.

— Ah... chega — sussurrou, as mãos empurrando um pouco mais Naruto, embora a boca tivesse se aproximado para selar os lábios algumas breves vezes antes de conseguir mesmo parar.

Naruto tinha os olhos semicerrados, as mãos ainda em sua cintura, firmes, a respiração tão descompassada e os lábios tão inchados que Sasuke amaldiçoou-se por agora ter mais aquela imagem para lhe roubar o sono. Os olhos azuis ergueram-se até os seus, o desejo tão evidente que Sasuke respirou fundo enquanto o mantinha os corpos afastados.

— Sas-...

— Tenho que ir agora. Ensaiamos amanhã de novo — interrompeu-o ao desviar o olhar e tatear a porta com certo desespero até achar a maçaneta.

— O quê? Não, pera. — Naruto tentou segurá-lo, mas Sasuke afastou seu braço como se sua mão lhe tivesse dado um choque e saiu da sala. — Eu não venho amanhã, Sasuke! — gritou, perdido.

Sasuke não respondeu, só precisava se afastar, tomar um banho e então fingir que nada daquilo tinha acontecido. Simples assim! E estava indo tudo bem até Neji fazê-lo lembrar do pianista! E, como consequência, ao terminar os passos do exercício e olhar para Anko pela terceira vez, grunhiu irritado com o veredito:

— Desisto! Isso tá horrível, Sasuke! Onde você está com a cabeça, garoto? Cadê seu foco?

Foco. Ele sabia onde estava, só se recusava a aceitar que estivesse em Naruto...

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