Não pare a Música

By AliceHAlamo

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A dança é composta por vários elementos. Você tem a coreografia, o tempo, a música, o dançarino, a técnica... More

Capítulo 1 - Sasuke
Capítulo 2 - Naruto
Capítulo 3 - Ino
Capítulo 4 - Gaara
Capítulo 5 - Quebra de rotina
Capítulo 6 - Suas lentes
Capítulo 7 - Interesses
Capítulo 8 - O que os outros pensam
Capítulo 9 - Encantado
Capítulo 10 - Ajuda "mútua"
Capítulo 12 - Fora de Foco
Capítulo 13 - Desafio
Capítulo 14 - Intensidade
Capítulo 15 - Mudanças
Capítulo 16 - Tensão
Capítulo 17 - Entre jogos e bebidas
Capítulo 18 - Escolhas
Capítulo 19 - A queda
Capítulo 20 - Bolha
Capítulo 21 - Luz acesa
Capítulo 22 - Segredos
Capítulo 23 - Permissão
Capítulo 24 - Montanha Russa
Capítulo 25 - Gravidade
Capítulo 26 - Amarga Vitória
Capítulo 27 - Forjada em veneno
Capítulo 28 - Aberto
Capítulo 29 - Relações
Capítulo 30 - Linda
Capítulo 31 - Cores
Capítulo 32 - Oportunidades
Capítulo 33 - Elos
Capítulo 34 - Marcas da alma
Capítulo 35 - Resgate
Capítulo 36 - Suporte
Capítulo 37 - O que tem atrás das cortinas
Capítulo 38 - Socos da vida
Capítulo 39 - A morte do Cisne
Capítulo 40 - Acerto de contas
Capítulo 41 - Vida
Epílogo

Capítulo 11 - Punição

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By AliceHAlamo


Naruto não era o tipo que negava seus próprios sentimentos, desejos, opiniões, então, se lhe perguntassem se havia alguém que tinha chamado sua atenção no novo emprego, ele não mentiria, Sasuke obviamente roubava a luz de qualquer um ao redor.

Havia ensaiado até às seis horas com Sasuke, seus dedos formigavam de tanto que havia tocado, e isso porque tinha pedido por intervalos! O bailarino não parecia querer parar, continuaria sem pausas se pudesse, mas Naruto o obrigou a respirar e relaxar por alguns poucos minutos. Uma hora antes da aula começar, viu Sasuke se deitar no chão, os olhos fechados, o corpo exausto. Perguntou-se como ele conseguiria fazer uma aula naquele estado...

Fechou o piano, caminhou até perto do espelho onde Sasuke tinha deixado a garrafa d'água e foi até ele. Seus passos ecoavam devido ao piso de madeira, e não demorou para que Sasuke abrisse os olhos e o encarasse. Estendeu a garrafa d'água e a mão para ajudá-lo a se sentar.

— Não devia forçar tanto antes da aula — comentou, mas Sasuke parecia não dar importância enquanto bebia. — Orochimaru pegará mais no seu pé se você estiver cansado demais na aula dele.

Sasuke riu, irônico, e secou a boca com as costas da mão, atraindo o olhar de Naruto para o sorriso sarcástico.

— Orochimaru vai pegar no meu pé não importa o que eu faça.

— Por quê? — Naruto perguntou sem entender.

— Não interessa — respondeu, indiferente, mas era visível o incômodo enquanto se levantava.

— Claro que importa. Se ele está sendo injusto, você pode falar com a coordenação, ele não pode ficar de marcação em você — Naruto rebateu indignado, e Sasuke virou-se para ele com a sobrancelha arqueada e um brilho divertido no olhar.

— E você alguma vez já viu Orochimaru sendo justo?

Naruto coçou a nuca enquanto acompanhava Sasuke para fora da sala.

— Ok, você tem um ponto. — Riu, sem graça. — Ainda assim, não deveria se forçar tanto antes da aula. Teve câimbras de novo?

— Não.

Alguns alunos passavam por eles no corredor, e Naruto se viu obrigado a andar atrás de Sasuke para lhes dar passagem. Sasuke andava como um felino, os passos não faziam barulho, talvez por conta das sapatilhas que vestia, as costas mantinham a postura ereta como se já fosse parte de sua rotina, e era impossível não seguir as gotas de suor que escorriam dos cabelos negros e invadiam a nuca e as costas sob a camisa branca. Naruto corou ao perceber que os olhos não pararam ali e seguiram pela base da coluna e o quadril bem marcado pelo tecido justo.

Certo, já estava indo longe demais. Era um pouco constrangedor, admitia, mas Sasuke era bonito e interessante, não era sua culpa se estava começando a deixar a imaginação ir um pouquinho além do que a boa educação mandava, principalmente depois de vê-lo dançar! Já tinha entendido muito bem que assistir Sasuke dançar era alimentar a mente fértil com um desejo que não deveria ter.

— Onde você estava?

Naruto ergueu o olhar quando Sasuke parou de andar e encarou o dono da voz. Neji. Percebeu o olhar desconfiado sobre si e arqueou a sobrancelha.

— Eu to há três horas tocando o seu celular, Sasuke! — Neji cruzou os braços e deu passagem para que eles entrassem no vestiário.

— Ensaio, sabe que silencio o celular — Sasuke respondeu e abriu o armário para retirar toalha, sabonete e as roupas limpas para a aula.

Neji respirou fundo, irritado, e conferiu o relógio.

— Anda logo com esse banho, Orochimaru não vai te deixar entrar atrasado! — Neji o apressou e depois olhou para Naruto, que fingia mexer no próprio armário, já que havia acabado seguindo Sasuke até ali sem perceber. Viu o bailarino se dirigir para a área dos chuveiros fechados e então coçou a nuca sem jeito quando notou que Neji o analisava. Por que Neji não podia parecer um pouco menos intimidador? — Estava com ele?

— Ah, sim.

— Por quê? — Neji perguntou com neutralidade enquanto se virava para se vestir para as aulas.

— Eu precisava praticar as músicas do espetáculo, achei que pudesse ajudar.

Neji o olhou por sobre o ombro e não respondeu.

— Eu... vou indo. Vou comer alguma coisa antes da aula de vocês começar. Ah, aliás — começou, mas logo ponderou se devia ou não falar. Olhou na direção dos chuveiros reclusos onde Sasuke estava e a careta de desgosto foi inevitável.

— O que é? — Neji perguntou impaciente.

— Hum... ele ainda não comeu também. E, pelo tanto que ensaiou, vai desmaiar no meio da aula se não botar algo para dentro.

Neji revirou os olhos e pareceu irritado ao abrir a mochila e procurar alguma coisa ali.

— Onde você vai comer? — perguntou, sério, e achou a carteira.

— Tem uma lanchonete aqui em frente, pensei em comprar um hambúrguer ou qualquer coisa assim.

— Ótimo. — Neji sorriu irônico. — Pode trazer um para esse idiota?

Naruto pegou o dinheiro que Neji lhe estendia, mas balançou a cabeça indeciso.

— Duvido que lá tenha alguma coisa do tipo que ele come, só tinha verde no prato dele no almoço.

— Almoçou com ele? — Neji estranhou. — Não, não importa, pode trazer qualquer coisa, ele não está em posição de escolher hoje.

Naruto concordou e saiu do vestiário, mas não sem antes olhar na direção dos chuveiros. Neji terminou de se vestir e manteve as sapatilhas nas mãos enquanto andava até os os boxes fechados de banho. Encostou o corpo na parte ao lado de uma das portas e cruzou os braços ao rir baixo.

— Quer dizer que você almoçou com o pianista, Sasuke? — provocou, risonho.

— Não enche, Neji — a voz de Sasuke saiu abafada por trás da porta.

— Sakura vai adorar saber disso.

— Não se atreva!

— Já enviei. — Sorriu maldoso. — Isso é para você não me deixar mais três horas que nem um idiota te procurando quando está numa sala, sozinho, ensaiando com o novo pianista. Ele secou sua bunda sem nem disfarçar.

Sasuke bufou, e Neji não se importou nem um pouco se estava ou não o irritando.

— Trouxe comida? — Neji perguntou e rapidamente tirou a toalha e as roupas que estavam penduradas na porta quando o chuveiro foi desligado.

— Quantos anos você tem, Neji? — Sasuke berrou do outro lado ao perceber que a toalha não estava mais ao alcance. Respirou fundo e tentou não perder o controle. — Devolve.

— Você já comeu? — repetiu sem se abalar.

— Neji, me devolve. Agora! — gritou com raiva, odiava ficar muito tempo nos chuveiros, Neji sabia disso.

— Naruto foi comprar um hambúrguer, e é bom você comer, ouviu?

— Neji!

— Ok, ok, mas coma o que Naruto trouxer, Sasuke, Orochimaru vai ficar puto se você passar mal durante a aula.

— Eu vou ficar o quê...?

Neji deu um pulo pelo susto ao ouvir a voz do professor de repente. Orochimaru estava na entrada da área dos chuveiros, com três alunos atrás de si, a expressão fechada, mas curiosa. Sasuke fechou os olhos e praguejou, engoliu em seco antes de pedir mais uma vez em tom baixo e pausadamente:

— Neji, a toalha.

— Vocês têm noção de que isso aqui não é a casa de vocês? — Orochimaru falou ríspido ao ver Neji jogar a toalha por cima da porta e pendurar as roupas nela. — Dá para ouvi-los de fora do vestiário. Isso é inaceitável, estão atrapalhando alunos e professores do andar.

— Não vai se repetir — Neji respondeu, recomposto.

Sasuke os ouvia, o coração acelerado enquanto se secava com pressa e se vestia mais rápido ainda. Descalço, abriu a porta e ficou ao lado de Neji com a toalha e as roupas sujas nas mãos. Orochimaru o analisava, friamente, e os olhos pareciam buscar alguma coisa em seu corpo, talvez em sua mente. Sentiu o estômago se manifestar e culpou a fome, Orochimaru suspirou conformado e falou alguma coisa para os alunos que o seguiam.

— A aula de vocês começa em breve. E, Sasuke, nosso pianista não é delivery para ficar comprando sua comida. Que isso não aconteça de novo.

Sasuke não respondeu, e Neji murmurou um pedido de desculpas quando o professor enfim os deixou a sós.

— Não importa.

Voltaram para o vestiário sob os olhares de todos, Sasuke secou o cabelo o máximo que pôde e guardou as roupas sujas no armário antes de calçar a sapatilha. Os alunos já corriam, dava para ouvir os atrasados chegando e batendo os armários, os passos no corredor e as vozes que começavam a se aglomerar, mas nada chamou mais atenção do que o cheiro do hambúrguer que invadiu o vestiário.

Naruto sorriu animado quando Sasuke o olhou e o viu estender uma sacola branca. Por um momento, achou que Neji estava apenas o provocando, mas, diante do lanche e da lata de suco, apenas ouviu o amigo rir discretamente antes de ele se virar de costas para arrumar o cabelo com ajuda do espelho.

— O seu é um X-salada — Naruto explicou, com visível orgulho da escolha, e se sentou ao lado dele enquanto retirava o próprio lanche, com certeza bem mais gorduroso que o seu, de uma outra sacola. — E eu trouxe suco, você não parece tomar refrigerante.

— Sabe que uma folha de alface e duas rodelas de tomate não fazem isso aqui ser saudável, não é? — Sasuke ironizou como se pudesse ler a mente de Naruto.

— O meu tem bacon e dobro de carne, quer trocar? — Naruto provocou, mas ficou aliviado quando viu Sasuke dar a primeira mordida.

— Que é? A gente também come lanche de vez em quando — Sasuke resmungou quando notou que Naruto ainda o observava com surpresa.

— Considerando o seu almoço, achei que vivia de tofu.

— Eu odeio tofu. — Sasuke franziu o cenho.

— Minha mãe ama fazer, tenho que fingir que gosto, apesar de eu achar que ela já sabe disso e se diverte das minhas caretas comendo aquele troço sem gosto.

Sasuke balançou a cabeça, incrédulo, e deixou um sorriso escapar antes de morder de novo o lanche e fazer Naruto rir ao se inclinar em sua direção. Talvez fosse porque a guarda estava baixa, talvez porque não imaginava que o pianista fosse se aproximar, afinal, que motivos ele tinha para isso? Mas a questão é que Sasuke demorou a reagir quando a mão quente tocou o seu rosto com um guardanapo. Encarou Naruto, sem reação, o papel passava pelo canto de sua boca, e Sasuke piscou tentando compreender por que o cérebro ainda buscava uma explicação para aquela atitude antes de reagir a ela. E, para Naruto, não havia muitos segredos sobre o que fazia! Tinha sido automático, Sasuke se sujara com o molho, ele apenas tinha se precipitado para limpar, Sasuke era impecável, tinha reparado no almoço que ele mal sujava os lábios ao comer e que sempre os secava depois de beber o suco, e a mesma coisa com as mãos, Sasuke parecia odiar óleo nos dedos, limpava-os sempre antes de tocar qualquer coisa sobre a mesa. Viram? Tinha sido natural então limpar o molho que sujara o canto da boca e parte da bochecha... ou seria natural, se tivesse liberdade ou intimidade para isso e, quando a ficha caiu, os olhos azuis se arregalaram, viram a boca fina entreaberta em surpresa e se voltaram para encarar os de Sasuke.

— Tinha molh-...

— Sasuke, quinze minutos — Neji interrompeu Naruto ao passar por eles, e Sasuke podia jurar que tinha visto um pouco de diversão no olhar que recebeu do amigo antes de ele lhe balançar o celular e sair.

A interrupção trouxe Sasuke de volta à realidade, e ele encarou Naruto, indiferente, enquanto o via tentar disfarçar o constrangimento, sem sucesso algum.

— É... melhor eu ir também, antes que Orochimaru comece a gritar por mim — Naruto disse, indeciso, e, por fim, limpou a garganta e se levantou com o lanche em mãos. — Coma tudo antes da aula para não passar mal e... é, é isso, até depois.

Sasuke não respondeu, Naruto não tinha dado tempo para isso antes de deixar o local. Alguns alunos observavam Sasuke, ele podia ouvir que cochichavam alguma coisa, mas preferiu ignorá-los, como sempre. Tomou um pouco do suco enquanto destravava o celular e respirou fundo enquanto pedia por paciência ao ver a maldita foto de minutos atrás quando Naruto tinha se aproximado para limpá-lo! Mataria Neji... Só a ideia de Ino e Sakura lhe enchendo de perguntas por causa daquela imagem já lhe dava dor de cabeça!

Ignorando os comentários que elas já deixavam no chat, olhou mais uma vez a foto e não soube dizer o que mais o deixou desconfortável... se era o modo como Naruto parecia olhar para sua boca ou se era como ele próprio olhava para o pianista, surpreso, mas sem qualquer sinal de que estava incomodado ou de que queria se afastar...

* * *

Aquilo não podia estar certo, também não podia ser aceitável! No centro, estavam cinco alunos, o restante mantinha-se sentado ao fundo da sala, e Orochimaru batia um bastão no chão para marcar o tempo da música que Naruto tocava com um pouco já de raiva.

Se tinha algo de que Naruto podia se orgulhar, era de sua paciência. Ele era um cara legal, sabe? Tentava ver o lado bom nas pessoas, esforçava-se para não fazer pré-julgamentos, buscava sempre um meio de conviver bem com todo mundo, tentava ver os dois lados de cada fato, mas... realmente tinha dois lados em colocar cinco alunos no centro da sala e fazê-los repetir o mesmo exercício pela sétima vez até que todos acertassem? Nem ele aguentava mais ouvir aquela música!

Neji e Ino estavam entre os cincos, Sasuke estava sentado ao fundo, respirava forte, com a cabeça apoiada nas mãos enquanto o suor pingava no piso, tinha acabado de ser liberado do "castigo". Havia frieza a indiferença no olhar de boa parte dos alunos, como se todo o trabalho dos que estavam ao centro não os afetasse, como se só estivessem gratos por não serem um deles. Em outra parte, havia satisfação, o prazer de assistir os considerados "bons" sendo castigados. E havia ainda mais prazer nos de Orochimaru, como se aquele fosse o seu tabuleiro para um jogo em que ele dava as regras, ele punia, ele premiava.

Se estivessem num jogo de xadrez tabuleiro, Orochimaru seria o rei, mas todos as peças à sua disposição seriam meros peões que nunca poderiam cruzar o tabuleiro para uma futura promoção. Um rei tirano comandando peões submissos, calados, iludidos com uma provável recompensa. Não era bonito de assistir, era agonizante, nada parecido ao glamour a que a plateia assistia. O mundo sobre o palco era muito diferente do mundo longe dele.

— Você é um bailarino formado, Neji, não tem vergonha de estar cometendo um erro de alguém do oitavo ano? — Orochimaru falou alto. — Isso é tudo o que pode fazer?

Neji não respondeu, o rosto estava vermelho pelo esforço, a frustração evidente, mas muda.

— De novo, do começo.

Não dava, não tinha mais como, as pernas doíam, os braços já não aguentavam elevar a bailarina na altura certa, iria derrubá-la se tentasse. Neji não se moveu, fechou os olhos e balançou a cabeça, exausto, já tinha ensaiado muito antes da aula, não tinha fôlego ou resistência alguma para continuar.

Cerrou os punhos, sentia os olhares em suas costas, a expectativa, o desejo para que errasse e continuasse errando. Era estar num oceano gelado, boiando, sem conseguir nadar, e saber que ao redor predadores apenas esperam que ele se afogue antes de atacá-lo.

— Neji!

— Não consigo... — respondeu, baixo, e agora todos se calavam para assistir à cena.

— Como? — Orochimaru estreitou o olhar e começou a caminhar até ele.

— Não. Consigo — repetiu, mais alto e pausadamente, irritado consigo mesmo, com a satisfação que via nos outros alunos e por ainda se importar com aquilo.

— Por que não? — Orochimaru parou à frente dele,

— Não tenho mais força para erguer os braços, muito menos uma bailarina.

Orochimaru não pareceu se abalar com aquilo, Naruto o viu apenas analisar Neji e depois olhar para os alunos, um sorriso discreto e rápido moldou-lhe os lábios e então ele deu às costas para ele.

— Já que estão muito cansados — Orochimaru falou, e Naruto sabia que aquele tom não era compreensivo. — Aula encerrada. Agradeçam ao seu colega ali por não conseguir mais elevar os braços mesmo sendo um bailarino profissional e que deveria ser capaz de aguentar uma simples aula.

O descontentamento foi geral, as vozes não demoraram a preencher a sala com reclamações baixas e sussurradas. Um professor interromper a aula era o cúmulo, algo raro e que ninguém desejava! Já era difícil estar ali, naquela companhia, cada aula pesava e muito na formação de cada um, perder uma era o mesmo que fechar uma porta, dar às costas a uma oportunidade no futuro. E, por isso, Neji baixou cabeça e fechou os olhos quando ouviu a sentença. Orochimaru havia acabado de lhe atirar aos lobos, e justo aos que já queriam há muito tempo cercá-lo.

Naruto fechou o piano enquanto via os alunos saírem da sala e Neji demorar propositalmente. Percebeu que Sasuke continuava sentado ao fundo e que só se levantou quando Neji foi até ele e lhe estendeu a mão. Saíram juntos da sala, e Naruto voltou-se para Orochimaru quando sentiu os olhos amarelos sobre si.

— Precisa de mim hoje ainda? — perguntou, como sempre, ao reparar na aluna que agora esperava do lado de fora da sala para entrar.

Orochimaru olhou para Kiri e depois para Naruto.

— Meus alunos já estão abusando demais da sua boa vontade — Orochimaru disse, o tom sarcástico tão leve que Naruto cogitou ser apenas sua impressão.

Naruto recolheu seus pertences, Kiri entrou quieta, com a cabeça baixa, e Naruto lhe sorriu ao desejar boa aula e sair da sala.

* * *

Neji estava cansado demais para conseguir se mexer, Sasuke devia estar bem pior já que estava deitado na cama há mais de quinze minutos sem mover um único músculo, e Ino... como é que ela ainda tinha pernas para transitar do quarto à cozinha, da cozinha ao quarto para falar com Hashirama?

Madara estava de pé, apoiado no batente da porta, abraçava Mito por trás enquanto ela os encarava com os braços cruzados. Neji não tinha muita coragem de encará-los, conhecia a família de Sasuke para saber que eles não entendiam o quão importante eram o esforço e o tempo que dedicavam à dança, lembrava-se da indignação de Madara no dia em que Orochimaru reprovou Sasuke pela primeira vez e não era uma memória agradável. Mas não os olhar, não significava que não seriam questionados.

— Mas o que foi que aconteceu? — Mito perguntou, irritada, e Hashirama entrou no quarto para avisar que a janta estava pronta.

— PP — Ino respondeu. — O pior de todos, Orochimaru enlouqueceu e até interrompeu a aula.

— O que é PP? — Madara franziu o cenho.

— Um puta porre — Mito respondeu antes que o foco do assunto mudasse. — Vocês não podem pegar um pouco, só um pouco, mais leve?

— Vamos comer primeiro. — Madara suspirou, cansado, e deixou um beijo breve no ombro dela. — Eles devem estar morrendo de fome.

— Nossa, você não tem ideia, tio... — Ino resmungou e cutucou Sasuke na cama.

Sasuke se sentou na cama e, roboticamente, seguiu até a cozinha. O estômago roncou alto assim que o cheiro da comida o atingiu, e ele e Ino ignoraram a educação e não esperaram ninguém antes de se servirem e começarem a comer.

— Pelo menos, comem bem. — Mito bufou, inconformada, mas aliviada quando viu Neji terminar de se servir um prato que era o dobro do dela. — Vocês têm aula amanhã cedo?

A resposta foi um lamúrio de Ino, um suspiro pesado de Sasuke e a expressão de derrota de Neji: sim, aula o dia inteiro. Hashirama riu de leve e apertou o ombro de Madara antes de se sentar ao lado dele; já imaginava que, para Sasuke ligar avisando que não precisariam ir buscá-los era porque não queria que Madara os visse tão destruídos como estavam quando a aula acabou. Ainda assim, percebia a leve ruga de preocupação que marcava o rosto bonito e sério de Madara, que, diferente de Mito, tentava, ao menos, disfarçar seu incômodo diante do estado dos três à frente.

Mudou o assunto, felizmente Ino era comunicativa e logo se empolgou com a conversa. Mito relaxou um pouco ao rir da excentricidade da garota, e Hashirama sorriu, vitorioso, ainda que reparasse no olhar perdido de Sasuke sobre o prato já pela metade. Ao olhar para o lado, via que Madara também analisava o sobrinho.

— Suco? — Hashirama segurou a jarra de vidro e ofereceu para Madara, desviando a atenção dele antes que a mente geniosa começasse a teorizar e se preocupar demais. — Vocês vão amanhã cedo como para a aula?

— Meu carro — Neji respondeu. — Estacionei do outro lado da rua, tem algum problema?

— Não, mas, depois que sairmos, você pode colocar na garagem — Madara disse. — Vamos ter uma reunião com um provável investidor, então só voltaremos pela manhã, acho.

— Já estamos atrasados, aliás — Mito avisou e se levantou para então ir em direção ao quarto a fim de terminar de se arrumar.

Em quinze minutos, Madara já estava próximo à porta com as chaves na mão e a mesma expressão emburrada enquanto Hashirama o ajudava a ajeitar o nó de sua gravata, Mito conversava com o investidor no celular para ajudá-lo a chegar ao endereço correto, e Sasuke esperava eles saírem para trancar a porta.

— Qualquer coisa, ligue, moleque — Madara reforçou para Sasuke.

— Não vou deixar Ino incendiar a cozinha de novo — provocou a amiga.

— Eu, né? — Ela o olhou indignada. — Me recuso a falar sobre isso de novo, deixei o brigadeiro com Neji por um minuto! Um único minuto e, quando voltei, vocês tinham destruído o meu doce.

Madara revirou os olhos enquanto Ino se defendia e Neji e Sasuke se revesavam para procová-la.

— Ok, ok, temos que ir agora. — Mito se aproximou deles com o celular já desligado. — Tchau para você. — Ela beijou o rosto de Ino. — Para você e até logo para você. — repetiu o gesto com Neji e Sasuke.

Sasuke massageou a nuca assim que trancou a porta quando eles enfim saíram, caminhou para o quarto e soube, assim que viu o sorriso animado de Ino deitada em sua cama com o celular em mãos, que não escaparia da curiosidade dela. Neji apareceu em seguida, com algumas almofadas que tinha roubado da sala, jogou-as no chão e se sentou com a cabeça apoiada na cama ao alcance da mão de Ino, que logo começava a mexer em seus cabelos.

— Sasuke... — Ino cantarolou, e ele deitou na cama ao lado dela.

— Me deixa dormir e vaza pra sua cama — respondeu mal humorado.

— Não vou te deixar dormir enquanto não me explicar essa foto. — Ela mostrou o celular, e Neji riu.

— Neji é um filho da puta, essa é a explicação — respondeu e ajeitou o travesseiro para dormir.

— Eu? — Neji os olhou. — Não fui eu que deixou o amigo perdido e sem sinal de vida enquanto estava sozinho com o pianista numa sala sabe lá onde.

— Você está de caso com Naruto, Sasuke? E o Shika? — Ino arregalou os olhos em choque.

— Ensaiando, Ino, ensaiando, e eu e Shikamaru terminamos há um bom tempo — respondeu, impaciente.

— Depois da forma que Naruto ficou encarando a sua bunda quando estavam indo pro vestiário, tenho minhas dúvidas de que foi só um ensaio — Neji provocou com tom monótono; ver Sasuke nervoso e constrangido era realmente uma diversão única.

— E por que não falamos de Ten-Ten? — Sasuke se apoiou nos cotovelos. — Ele te contou, Ino? Que ele levou uma surra no tatame? Ten-Ten é professora de artes marciais numa escola de luta.

— Que história é essa? — Ino se virou para Neji, que corou violentamente.

— Não mude de assunto! Ele almoçou com Naruto hoje, Ino!

— Uau, Neji, almoçar com alguém realmente é igual cair de cara no tatame dez vezes antes de foder com a mãe do seu aluno no vestiário da escola onde ela dá aula! — Sasuke esbravejou.

— Não tinha mais ninguém lá! — Neji se defendeu. — E nem vem que você deixou Naruto limpar a sua boca! Acho até que você precisava de um babador na hora porque faltava babar.

— Você transou com a Ten-Ten? — Ino repetiu incrédula. — E você... pera, você deixou Naruto fazer o quê? — perguntou mais alto, mas já era batalha perdida porque sabia que, quando Neji e Sasuke começavam a se provocar, os orgulhos não os deixariam parar até que falassem algo inapropriado e que fossem um pouco além do limite. Por isso, não se sentiu culpada ao pegar o travesseiro e até sorriu quando começou a bater nos dois com força. — Me res-pon-dam! — falou a cada golpe. — Mas que coisa! Por que eu tenho que ser a última a saber de tudo?

Sasuke bufou e voltou a se deitar, enquanto Neji ajeitava o cabelo e o tirava da frente do rosto com uma expressão indignada.

— Ótimo. Agora, será que algum dos cavaleiros pode começar a me contar as novidades?




E aqui acabam todos os capítulos que fiz em Abril <3

Temos até o 16 pronto, mas vou começar agora a focar Não Pare a Música no campnanowrimo e espero mais uns 5 capítulos para esse mês.

Estão curtindo? Críticas? Sugestões?

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