Não pare a Música

By AliceHAlamo

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A dança é composta por vários elementos. Você tem a coreografia, o tempo, a música, o dançarino, a técnica... More

Capítulo 1 - Sasuke
Capítulo 2 - Naruto
Capítulo 3 - Ino
Capítulo 4 - Gaara
Capítulo 5 - Quebra de rotina
Capítulo 6 - Suas lentes
Capítulo 8 - O que os outros pensam
Capítulo 9 - Encantado
Capítulo 10 - Ajuda "mútua"
Capítulo 11 - Punição
Capítulo 12 - Fora de Foco
Capítulo 13 - Desafio
Capítulo 14 - Intensidade
Capítulo 15 - Mudanças
Capítulo 16 - Tensão
Capítulo 17 - Entre jogos e bebidas
Capítulo 18 - Escolhas
Capítulo 19 - A queda
Capítulo 20 - Bolha
Capítulo 21 - Luz acesa
Capítulo 22 - Segredos
Capítulo 23 - Permissão
Capítulo 24 - Montanha Russa
Capítulo 25 - Gravidade
Capítulo 26 - Amarga Vitória
Capítulo 27 - Forjada em veneno
Capítulo 28 - Aberto
Capítulo 29 - Relações
Capítulo 30 - Linda
Capítulo 31 - Cores
Capítulo 32 - Oportunidades
Capítulo 33 - Elos
Capítulo 34 - Marcas da alma
Capítulo 35 - Resgate
Capítulo 36 - Suporte
Capítulo 37 - O que tem atrás das cortinas
Capítulo 38 - Socos da vida
Capítulo 39 - A morte do Cisne
Capítulo 40 - Acerto de contas
Capítulo 41 - Vida
Epílogo

Capítulo 7 - Interesses

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By AliceHAlamo



A faculdade não era um problema para Sasuke, pelo menos não como era para Neji. Cursava o terceiro ano de administração em uma faculdade particular em que tinha sido aprovado e que Madara lhe fazia questão de pagar por ser uma das melhores do Estado. Como não possuía muito contato com os colegas de classe, pouco o infernizavam ou sabiam de sua vida e, assim, ele não tinha que lidar com os mesmos babacas que Neji.

Permaneceu na biblioteca durante aquela tarde, segunda-feira, adiantaria um dos trabalhos que já havia sido passado por um dos professores e que teria de entregar em um mês. Aprendera a não deixar acumular suas obrigações, ainda mais quando sabia que a rotina no ballet se tornaria ainda mais puxada devido às audições a que se submeteria.

Colocou os fones no ouvido, a música clássica o ajudava a se concentrar enquanto o grifa texto corria pelo livro comprado há não mais que dois dias. Fez anotações, gostava das coisas organizadas, sua área de trabalho do notebook deixava isso mais que claro bem como as pastas devidamente nomeadas e listadas em ordem alfabética. E fazia isso não só por gosto, mas porque já tinha percebido que, quanto menos tempo levasse para resolver os assuntos da faculdade, mais tempo teria livre para se dedicar à dança. Assim sendo, terminou o que tinha estabelecido para aquele dia para o trabalho de comunicação e foi rápido em encaixar os fones no notebook e novamente assistir à coreografia de Giselle.

Não conseguia ainda realizar um dos saltos do solo, conhecia bem os limites do próprio corpo para reconhecer que aquela combinação de passos estava além da sua técnica. Talvez Neji o ajudasse, ele já era formado, com certeza também faria a audição.

Ah, sim... disputaria o papel com Neji também, e a ideia não lhe agradava em nada. Ballet, assim como em qualquer outra profissão, era um mundo competitivo e de poucas oportunidades, a perfeição era não apenas almejada como também era um requisito obrigatório, falhas não eram aceitas nem pelos próprios bailarinos nem pela plateia. E a família de Neji entendia isso muito bem, tão bem que o apoio que davam a ele era em troca de ele ser o melhor, o destaque, fazer valer a pena o suporte que lhe ofereciam. No ano anterior, lembrava-se com irritação da discussão que presenciara no hospital... Neji havia treinado além do que o corpo aguentava, e a torção no pé esquerdo soava um irônico castigo. Enquanto esperava Madara buscá-lo, viu a família de Neji chegar, ouviu as acusações, a cobrança, e se perguntou como Neji conseguia manter a expressão serena diante dos insultos, era quase como se ele... já estivesse acostumado.

E isso fez seu sangue ferver.

Fazia tempo que não elevava a voz, que não discutia, que não se cobrava o direito de falar o que pensava, de defender o que acreditava. No ballet, isso não existia, a voz de um dançarino era silenciada pelas amarras da perfeição, calar-se e aceitar cada tipo de dor e sacrifício era apenas parte da rotina. E talvez isso explicasse não só o seu choque, mas o de Neji quando voltou a passos firmes até onde o amigo estava e disparou o que queria e não queria para defendê-lo. A risada irônica, os argumentos ácidos e cínicos... Ah, sentia falta disso, do orgulho de conseguir não ceder à melancólica conformidade, de ser o protagonista da própria vida e não apenas mais um no corpo de baile. Passara um pouco dos limites, sabia ser cruel e ferir, o punho fechado que o atingiu no meio da discussão então não foi lá uma surpresa, e Hashirama teve que conter Madara enquanto Mito conversava de forma polida, mas firme, com a família de Neji. Ainda assim, a prima de Neji, uma criança de não mais que sete anos que permanecia abraçada a ele durante todo o tempo, lhe sorria em agradecimento, e Sasuke soube que tinha valido a pena.

Cada um deles tinha um peso nas costas, cada um deles dançava equilibrando medos e inseguranças, arrastando consigo toda a pressão, toda a expectativa, toda a cobrança que recebiam. A vida não era fácil para nenhum deles...

Despertou dos pensamentos ao sentir uma mão em seu ombro. Virou-se no susto e removeu os fones com uma expressão descontente enquanto Shikamaru se sentava de frente para si.

— Nova apresentação? — ele perguntou sem muito ânimo.

— É o que parece, não?

Shikamaru não se abalou com a resposta, já estava acostumado. Tinham se conhecido no início da faculdade, ambos no mesmo curso. Ele era inteligente, já formado em engenharia da computação, alguns anos mais velho. O cabelo escuro ficava normalmente preso, os olhos exibiam tédio e calmaria quando não estavam focados diante de um computador, e ele tinha o péssimo hábito de fumar. Era uma ótima companhia para filmes, teatro, troca de livros, um bom amigo, no entanto, não demorou mais que quatro meses para entenderem que o relacionamento que haviam iniciado no começo da faculdade não iria a lugar algum.

Shikamaru era esperto, e Sasuke não gostava disso porque tudo o que ele não queria falar, cada pequeno segredo, parecia que Shikamaru poderia descobrir, como se ele tivesse um código, um modo de hackear sua mente e buscar lá no fundo toda a informação necessária para entendê-lo. Isso lhe dava medo, era desconfortável, não se sentia bem com a possibilidade de estar sendo estudado, analisado. Por isso, terminaram, e Shikamaru nem pareceu surpreso. No dia, ele apenas continuou fumando, desviando a atenção do céu para os olhos de Sasuke como se aquela decisão fosse a última peça do quebra-cabeças que montava. Não houve brigas, continuaram se falando, mas era inevitável ficar na defensiva toda vez que conversavam.

— Uma garota da sala queria o seu número na sexta — Shikamaru comentou ao se espreguiçar e puxar um dos livros que antes Sasuke usava para estudar.

— Sabe que não to afim de sair com mulheres agora — respondeu, enfadado.

— Eu sei, mas ela não, não é como se alguém da turma soubesse muita coisa sobre você.

— Passou para ela?

— Claro que não — Shikamaru bocejou.

— Hm. O que está fazendo aqui?

— Vim pegar alguns livros e deixar alguns documentos com o professor do estágio. E você? Muita gente em casa para conseguir estudar?

— Algo assim.

— Hoje ainda está de pé? — Shikamaru questionou ao se levantar.

— Sim.

— Te pego às sete então, o teatro fica um pouco longe e é problemático estacionar por lá.

Sasuke apenas concordou enquanto colocava os fones de volta nos ouvidos. Havia concordado de ir assistir a uma peça com Shikamaru porque era justamente a obra que queria ver desde a estreia. Além disso, Shikamaru era o único com quem conseguia debater arte, possuíam visões parecidas, gostos similares, e a inteligência vinha como um agradável bônus. Ino não entendia como conseguia manter-se amigo do ex-namorado, mas, para ela, era bom, havia ficado amiga de Shikamaru após ele se dispor a dar aulas de reforço em física e química para ela gratuitamente, o que ainda fazia sempre que podia ou sempre que Ino lhe mandava uma mensagem desesperada com alguma matéria do vestibular.

Voltou para casa às três horas.

— Coma algo antes de sair — Madara falou ao aparecer na sala com uma regata que deixava as tatuagens a mostra e amarrando os cabelos no alto. — Vou correr um pouco, volto antes de você sair, acho.

— Tudo bem.

Olhou o celular, o grupo de mensagens que possuía com Ino, Neji e Sakura possuía mais mensagens do que ele leria, Ino ainda falava sobre a sessão de fotos do começo da semana, Sakura reclamava de Orochimaru e repetia os elogios ao novo pianista, Neji apenas respondia quando seu nome era citado. Jogou o aparelho sobre a cama.

Respirou fundo ao abrir o guarda-roupa. Não estava com ânimo algum de sair de casa, só a ideia aparentava cansar seu corpo, e a cama parecia tão convidativa... Tinha tempo ainda. Apagou a luz e programou o despertador, deitou-se e dormiu tão rápido que não chegou nem a ter tempo para pensar se realmente era o que queria.

Quando o alarme soou, ele acordou ainda mais cansado. Os olhos miraram o teto com desânimo, o corpo pesado não levantaria tão cedo se ele não se esforçasse um pouco. Afastou a coberta, na tentativa de que isso fosse o primeiro passo para conseguir se pôr de pé, mas tudo o que conseguiu foi ficar frustrado.

Não queria mais sair naquela noite, mas Ino o infernizaria se desse outra mancada com Shikamaru, ainda mais porque era uma peça que ele próprio queria ver, não havia motivos para não ir. Sentou-se de súbito, como que para garantir que não voltaria a dormir. Entrou no chuveiro com a água gelada, tinha que espantar do corpo a inércia, convencer-se de que queria sim sair um pouco.

Às sete horas, Shikamaru chegou. O teatro estava lotado, e não era surpresa alguma, afinal, a peça a que assistiriam estava recebendo diversas críticas positivas e os atores eram famosos. Sentaram-se ao centro, e Sasuke percebeu o olhar analítico de Shikamaru sobre si quando um suspiro escapou de seus lábios.

— Está tudo bem? — ele questionou, preocupado.

— Sim.

Shikamaru arqueou a sobrancelha, mas voltou sua atenção para frente.

— Você continua um péssimo mentiroso — comentou, e o incômodo na voz era discreto, mas era o mesmo de quando namoravam, de quando Sasuke mentia quando Shikamaru lhe questionava se estava bem.

— Cansado, melhor assim?

Shikamaru deixou um riso irônico escapar e virou minimamente a cabeça para encarar Sasuke.

— Você que sabe, Sasuke.

A peça começou, e Sasuke esqueceu-se de tudo ao redor. Amava aquele lugar, o teatro, o palco, sentia-se em casa, como se o ambiente todo o recebesse de braços abertos e sem questionamentos. Havia certa harmonia, uma paz que o fazia relaxar por completo enquanto apreciava o espetáculo. A mente deixava os problemas caírem, um por um, e abraçava o pequeno momento de lazer. Um sorriso sincero lhe decorava o rosto, involuntário por certo, mas que não sentia vontade de esconder mesmo que Shikamaru pudesse vê-lo.

E Shikamaru via. Sasuke era apenas alguns anos mais novo, mas não parecia, era maduro demais para a idade, fechado demais, solitário demais... Preocupava-se com ele, ainda mais porque sabia que, embora não se amassem, o término do relacionamento havia sido por medo, Sasuke tinha um nítido pavor de se entregar a relacionamentos, de se permitir ser lido. Vê-lo relaxando era bom, sentia-se bem por poder ajudá-lo de alguma forma. Os olhos negros brilhavam enquanto ele assistia à peça, corriam de um canto ao outro do palco seguindo os atores, o riso baixo escapava natural junto aos demais, o teatro e a plateia serviam-lhe de amparo, de escudo, ali Sasuke podia remover a armadura, fechar os olhos e aproveitar cada segundo sem os monstros que o atormentavam.

Quando os aplausos soaram, Sasuke parecia... satisfeito. Shikamaru aplaudiu junto, de fato era uma ótima peça, e sabia que pelo olhar afiado de Sasuke ele havia memorizado cada cena que gostaria de debater.

— Está com fome? — perguntou enquanto seguiam com a multidão para fora do teatro.

— Não — Sasuke negou enquanto checava as horas no celular.

— Vai para a minha casa? — questionou com as chaves na mão ao entrarem no elevador que dava para o estacionamento.

Sasuke apenas confirmou com a cabeça. Fazia tempo também que não aceitava aquele tipo de convite de Shikamaru, e era estranho porque ele continuava a convidá-lo mesmo com todas as restrições que Sasuke lhe colocava. Ainda, um dia talvez, entenderia como funcionava a mente de Shikamaru... mas não naquela noite.

Avisou Madara que voltaria pela manhã e seguiu no carro discutindo sobre a peça e teorizando finais alternativos com Shikamaru. Acharam erros, falhas que provavelmente ninguém estava interessado em saber, mas que eles consideravam importantes.

Entrou no apartamento que bem conhecia, sentou-se no sofá enquanto Shikamaru trazia o vinho como lhes era de praxe. Havia uma proposta implícita no estender da taça, uma espera no beber do líquido suave e doce, a conversa diminuía conforme o vinho acabava, e Sasuke gostava da forma natural como então de repente se via sentado sobre as coxas de Shikamaru, deixando-o explorar sua boca com malícia. Shikamaru era sensual, o tipo de pessoa que te envolve com facilidade e te faz refém sem que você se dê conta do que aconteceu.

O corpo estava quente, ou talvez fosse o contato a que tanto se privava que despertava tal reação. Suas mãos sempre seguiam para os cabelos de Shikamaru, livrando-os do elástico, a fim de sentir com prazer as mechas entre seus dedos. Recebia um ofego baixo quando arranhava a nuca dele com as unhas curtas, sorria em meio ao beijo, acolhia o desejo de Shikamaru em sua boca, permitindo que ele deslizasse a língua pela sua. As mãos dele mantinham-se em suas costas e nuca, fixas, firmes, os apertos indo apenas até a cintura, os dedos acariciando seu rosto, queixo e pescoço de forma lenta e sedutora.

Mas todo o cuidado desaparecia gradualmente, a lentidão sumia à medida que o desejo aflorava. Sasuke apoiou-se nos ombros de Shikamaru quando o beijo se tornou mais profundo, Shikamaru o puxou para mais perto de modo que os tóraxes eliminassem a distância que existia entre eles. O ar tornou-se raro, as respirações descompassadas eram sôfregas e o barulho que produziam arrepiava a pele de Sasuke a ponto de fazê-lo gemer baixo e Shikamaru sorrir vitorioso.

Era quente, era envolvente, e Shikamaru tinha se viciado em como Sasuke conseguia excitá-lo tanto apenas com beijos e suspiros. Apertou a camisa que ele vestia, com força, sugou os lábios de Sasuke, mordeu-os e os beijou com fome e pesar, ciente de que a brincadeira logo chegaria ao fim, como sempre acontecia se não tomasse alguma providência. Empurrou o corpo de Sasuke minimamente para trás enquanto o beijava e puxava-lhe o cabelo de leve, desencostou os corpos apenas o suficiente para que Sasuke não sentisse a ereção que se formara sob as vestes, deixou-o sentado em suas coxas e manteve uma das mãos na cintura dele para impedir que ele voltasse a sentar tão perigosamente em si.

Ousou descer os lábios pelo rosto dele, mordeu de leve o queixo, mas sentiu o aperto em seu cabelo ao se aproximar do pescoço. Voltou, os olhos de Sasuke estavam semicerrados, mas continham uma clara advertência. Ele o puxou novamente para o beijo, sentia a discreta rigidez do corpo voltar a ceder sob suas mãos e resolveu apenas deixar que Sasuke conduzisse tudo à sua maneira.

Sasuke botava à prova seu autocontrole, e olha que era conhecido por possuir um bem grande. Admitia, entretanto, que parte era culpa sua, afinal, namorara com ele sabendo que não iriam muito além do que faziam no momento, então não era surpresa alguma que nada mudasse após o término. Mas os beijos dele eram tão bons...

Sasuke suspirou com satisfação, o coração estava acelerado, seu rosto provavelmente estava corado e os lábios vermelhos, mas ele não se importava, Shikamaru já o tinha visto daquela forma antes. A mente absorvia a endorfina como um viciado em abstinência, e ele aproveitava-se ao máximo, aquela sensação tinha prazo de validade, e ele a desfrutaria então até o último segundo.

A mão em sua cintura subiu para seu rosto, os lábios de Shikamaru exigiam mais, sempre mais. Voltaram a se aproximar, as ereções se friccionaram, e um arrepio súbito percorreu o corpo todo de Sasuke quando Shikamaru separou as bocas para gemer mais alto que antes. A voz dele era rouca, e não seria exagero dizer que Sasuke a sentiu arranhar seu corpo, como se pudesse senti-la queimar sua pele com desejo.

Fim de jogo.

Forçou-se a selar os lábios uma última vez antes de apoiar-se nos ombros de Shikamaru e se levantar. Engoliu em seco, Shikamaru jogou a cabeça para trás e lambeu os lábios antes de voltar a olhá-lo, ofegante. Desejavam continuar, mas tinham que esperar as sensações esfriaram um pouco antes de recomeçar e, por isso, Shikamaru tirou Sasuke de seu colo.

— Peça algo para comermos, vou tomar um banho — falou.

Sasuke assentiu enquanto buscava o telefone da casa e via Shikamaru desaparecer pelo corredor. Respirou fundo ao terminar de discar o número e fechou os olhos, retomando as rédeas do próprio corpo ainda que soubesse que, quando de fato ambos se acalmassem, fariam tudo de novo...

* * *

Cinco horas da manhã.

Shikamaru acordou com o despertador de Sasuke tocando no quarto ao lado e não demorou a ouvir a movimentação pela casa. Conhecia o hábito de Sasuke, não mais se assustava quando a música clássica entrava doce em seu quarto. Bocejou, sonolento, lavou o rosto e escovou os dentes apenas para seguir ébrio até a sala onde Sasuke se alongava. Sentou-se na pequena e gasta poltrona próxima à janela, que abriu um pouco antes de acender o cigarro.

O celular de Sasuke estava apoiado no outro sofá enquanto tocava a música que regia os leves movimentos que agora ele executava. Shikamaru já conhecia a sequência, os passos lhe eram familiares das vezes em que assistira Sasuke treinar ou se apresentar, mas mesmo a repetição não tirava a beleza da dança. De perto, podia enxergar quando suor começou a descer pelo torso, estreitou o olhar para a fadiga dos músculos a que Sasuke cobrava além do saudável, e soltou a fumaça do cigarro lentamente enquanto procurava pelas horas no próprio celular.

Sasuke não parecia satisfeito, a rigidez dos músculos da face mostravam que algo não saía como esperava e o número de vezes que ele repetiu o mesmo movimento, para Shikamaru perfeito, aumentou a frustração e o franzir do cenho. Felizmente, o relógio marcou sete horas, e Shikamaru levantou-se para desligar a música no celular de Sasuke antes que ele resolvesse ignorar o horário e prosseguir com o treino.

— O que estava errando? — perguntou enquanto o via deitar-se no chão e massagear as panturrilhas.

— O peso do corpo estava errado — respondeu, irritado, e Shikamaru apenas arqueou a sobrancelha. — Eu estava pondo demais o peso do corpo na perna de apoio — traduziu.

— E isso vale toda essa raiva? — Estendeu a mão para ajudá-lo a levantar, mas Sasuke ignorou.

— Esquece. Vou tomar um banho.

É, já esperava aquela reação, Sasuke não aceitava ser contrariado, muito menos sobre ballet e seus treinos. Não forçou, não tinha muito ânimo para comprar brigas infrutíferas com Sasuke, era preferível permanecer próximo acompanhando-o e podendo ficar ciente do que lhe acontecia do que ser expulso do restrito círculo social que ele mantinha.

Levou-o para casa não era nem oito horas ainda. Sasuke despediu-se breve, entrou em casa para pegar a mochila e viu Hashirama sair do banheiro e caminhar até a bancada da cozinha onde as chaves do carro estavam.

— Já vai para a faculdade? — Hashirama perguntou animado enquanto prendia o cabelo em um rabo de cavalo alto. — Posso te deixar lá, Madara não vai acordar tão cedo.

Sasuke conferiu o horário e aceitou, não podia chegar atrasado, e Hashirama possuía um pequeno comércio perto da faculdade, não o atrapalharia.

As aulas do dia eram sobre filosofia, ou qualquer coisa parecida de que Sasuke não gostava. Metade da sala dormia, o que não o surpreendia mais. Conferiu as mensagens no celular e franziu o cenho ao ver a quantidade de fotos que Sakura havia mandado.

Ela havia tido um almoço no final de semana em um sítio com a tia, que era ninguém menos que Tsunade, a dona da companhia em que dançavam, não era à toa que Orochimaru privilegiava Sakura. Parte dos professores, amigos de Tsunade, e alguns músicos, coreógrafos e bailarinos famosos haviam sido convidados, e Sakura não perdera a oportunidade de fotografá-los.

Havia um comentário dela abaixo da primeira sequência de fotos: "Orochimaru não foi convidado, mas olha o que eu achei!". E então uma nova sequência de imagens de um homem se seguia.

Ah, lembrava-se dele... era o pianista que tinha substituído Tobirama, o mesmo que o havia ajudado com Orochimaru e que agora era o mais novo assunto de Sakura.

Ele era bonito, tinha que admitir. Os olhos azuis sorriam para a câmera, pareciam determinados, os cabelos loiros tinham um corte irregular, mas que ficava bem nele. Ele tinha um ar divertido e jovial que contrastava a idade e a serenidade com que tocava durante as aulas. Passou as imagens. Naruto tinha um sorriso bonito, espontâneo e aberto, de quem não possuía muito com que se preocupar. E não era só o sorriso que era bonito... Sakura o fotografara na piscina, várias fotos, que deixavam à mostra os braços bem trabalhados e o abdômen levemente definido. Por último, havia um print de uma conversa. Sakura conseguira o número dele e os amigos riam da falsa tristeza dela ao expor a forma educada, um tanto atrapalhada, com que Naruto a tinha dispensado no dia anterior.

Um dia ainda entenderia como Sakura conseguia se envolver com tantas pessoas sem compromisso. Ino certa vez dissera que Sakura buscava nos outros a confirmação para as próprias dúvidas, como se a cada novo envolvimento reafirmasse algo para si mesma. Não se intrometiam, Ino já tinha tentado, e o resultado foram alguns meses de silêncio e um afastamento que sabiam que não havia sido totalmente superado. Desde então, Neji havia aconselhado que deixassem Sakura agir como quisesse, ela já era adulta afinal, não precisava de ninguém para avaliar suas decisões ou para julgá-las depois.

Ao fim das aulas, Sasuke recolheu o material com pressa. Chegaria muito antes de sua aula no ballet, mas havia levado o notebook para tentar os primeiros ensaios sozinho para a audição. Usaria uma das salas vazias, longe da vista de qualquer um; se desse sorte, nem Orochimaru o veria.

Precisava começar os ensaios, já havia assistido a coreografia por completo, memorizado a sequência dos passos, mas de nada adiantava sabê-los se não tentasse os praticar. Neji e Sakura já haviam começado, Ino começaria na sexta-feira, sabia de outros que falavam com os professores pedindo conselhos. A corrida tinha começado, agora era cada um por si, e ele não deixaria a oportunidade passar.

Mostrou a identificação para o segurança e correu para o quarto andar onde haveria salas vazias naquele horário. Deixou a mochila no vestiário, odiava aquele horário porque era a hora em que os profissionais tinham aulas, e isso lotava os vestiários e as salas. Separou as roupas e a sapatilha, o vestiário não ficaria vazio tão cedo, e ele não podia esperar. Entrou em um dos banheiros e se trocou com pressa, saiu e deixou as roupas no armário junto da mochila e lembrou-se de levar o celular, os fones de ouvido e o pequeno dispositivo eletrônico onde tinha colocado as músicas de que precisaria.

Tinha que achar uma sala, uma que preferencialmente Orochimaru não utilizasse.

Ocupada, ocupada, trancada, ocupada, depósito, ocupada, ocupada. Realmente, o jogo já tinha começado, a maior parte dos alunos estava treinando justamente para as audições. Aula, aula, aula, ocupada, aula, aula. Céus! Ele só precisava de uma sala! Não podia, e não iria!, ensaiar junto dos outros rivais. Parou diante de uma porta silenciosa, abriu-a devagar para conferir se alguma aula estava sendo dada e arregalou os olhos ao perceber que não tinha ninguém.

Ninguém dançando.

Revirou os olhos frustrado quando, após ter entrado, o som do piano preencheu o ambiente. Seus passos chamaram atenção enquanto dava meia volta, e não demorou para que fosse chamado:

— Precisa de alguma coisa?

Olhou para trás sobre o ombro. O novo pianista, Naruto. "Seja legal", a voz de Ino repetia em sua cabeça, "ele te ajudou, Sasuke! Você devia ter agradecido pelo menos", Sakura tinha lhe advertido, "Podia não ter sido tão... babaca?", Neji concordava com elas. Até Neji concordava com elas... Respirou fundo e se virou para responder.

— Não, só procurando uma sala.

— Ah, sim! — Naruto sorriu, e Sasuke se perguntou por qual motivo. — Pode treinar aqui se quiser, eu não me importo.

— Não acho uma boa ideia — respondeu. — Vou ver se as do lado estão vazias.

Naruto concordou, e Sasuke saiu antes que ele puxasse assunto novamente ou tentasse convencê-lo. Restavam duas sala, apenas duas... Uma trancada, a outra ocupada. Só podia ser brincadeira... A que horas ele teria que chegar para conseguir uma única sala?? Aquela escola, do tamanho que era, não possuía um único lugar vago para ensaiar? E, se o quarto andar estava assim, não queria nem imaginar os demais.

Conferiu o horário. Estava perdendo tempo! Caminhou pelo corredor mais uma vez e parou em frente à porta que escondia uma música suave. Não tinha muita opção e usaria fones, então, o pianista não o atrapalharia de qualquer forma. Abriu a porta devagar, fechou-a sem fazer muito barulho. Naruto tocava com os olhos fechados, um ritmo lento e sereno que contrastava a animação com que usualmente desfilava pela escola.

Ele vestia uma camisa branca, as mangas dobradas até acima do cotovelo, os primeiros botões abertos. A calça social preta era de bom corte, não havia acessórios, nenhum relógio, anel, colar, nada. Ainda assim, com uma camisa branca e calça preta, Naruto conseguia ficar extremamente bonito. A pele bronzeada dava-lhe certo contraste, o cabelo loiro destoava da roupa bem alinhada, e o sorriso delicado que ele possuía nos lábios enquanto tocava era enigmático a ponto de Sasuke pegar-se querendo saber no que ele poderia estar pensando enquanto a melodia preenchia o ambiente.

As mãos eram leves, ou não, as mãos de um pianista podiam ser exatamente como os passos de um bailarino, delicados somente para quem os assistia, dando sempre a falsa impressão de facilidade, mas só mesmo aqueles que tocavam ou dançavam saberiam dizer quanta força e resistência cada movimento lhes cobrava.

Não o interrompeu. Podia dizer que era por educação ou porque não queria atrapalhar, mas a verdade era que a ideia nem ao menos tinha passado por sua cabeça. Conhecia a música, Chopin certamente, e só reparou que tinha se distraído quando reconheceu as notas que encerrariam a composição. Foi como emergir de um mar de conforto, tragado mais uma vez pela realidade.

Disfarçou a surpresa em seu rosto quando Naruto se abaixou para pegar algo na pasta e enfim o notou ali, mais uma vez. Limpou a garganta e encarou os olhos azuis que o estudavam com curiosidade à espera de que dissesse algo.

— Não tem outra sala livre — apressou-se em explicar.

— Tudo bem, eu disse que podia usar essa. — Naruto sorriu. — Te atrapalho se tocar?

— Não, eu vou usar fones — respondeu enquanto abria o vídeo da coreografia no celular e o colocava no chão, apoiado no espelho à frente.

— Vai ensaiar para as audições? — Naruto pareceu empolgado, e Sasuke concordou enquanto tentava achar a música certa no ipod. — Por qual vai começar?

— Giselle — respondeu breve e percebeu a súbita movimentação de Naruto em direção à pasta no chão.

— Posso tocar se quiser, tenho as partituras de alguns atos aqui, é só me dizer qual precisa ensaiar — Naruto comentou animado e, antes mesmo que Sasuke lhe respondesse, já havia retirado algumas, várias, folhas e as colocava sobre o piano de cauda.

— Não precisa, eu tenho as músicas — respondeu, os fones na mão prontos para serem colocados nos ouvidos.

— Não é a mesma coisa. E dançar com isso aí balançando é horrível. — Ele apontou para os fones. — Vamos, eu preciso tocar essas mesmas músicas para quando as audições e os ensaios começarem, não vai me custar nada praticar enquanto te ajudo.

— É meu primeiro ensaio — argumentou.

— Não tem problema! — Naruto sentou-se de frente para o piano e achou as partituras que lhe interessavam. — Vai começar pelo primeiro ato?

Sasuke pensou em negar de novo, ele iria ensaiar pela primeira vez, erraria muito, Naruto seria obrigado a parar e recomeçar diversas vezes. Entretanto, ensaiar com um pianista e não com uma gravação era realmente outro nível, podia pedir para que Naruto tocasse mais devagar nas partes em que tivesse dificuldade, não teria os fones caindo dos ouvidos durante os giros ou os saltos, sem contar que a qualidade da música... não, sem comparação.

Retirou os fones e deixou-os junto ao celular. Posicionou-se na diagonal esquerda da sala, no fundo, e olhou para Naruto pelo espelho.

— Primeiro ato então.




Gostaram?

Críticas?

Sugestões?

Quem ama o Shikamaru? Sério, eu tenho um crush nele e em toda sua inteligência hahahaha

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