Não pare a Música

By AliceHAlamo

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A dança é composta por vários elementos. Você tem a coreografia, o tempo, a música, o dançarino, a técnica... More

Capítulo 1 - Sasuke
Capítulo 2 - Naruto
Capítulo 3 - Ino
Capítulo 4 - Gaara
Capítulo 6 - Suas lentes
Capítulo 7 - Interesses
Capítulo 8 - O que os outros pensam
Capítulo 9 - Encantado
Capítulo 10 - Ajuda "mútua"
Capítulo 11 - Punição
Capítulo 12 - Fora de Foco
Capítulo 13 - Desafio
Capítulo 14 - Intensidade
Capítulo 15 - Mudanças
Capítulo 16 - Tensão
Capítulo 17 - Entre jogos e bebidas
Capítulo 18 - Escolhas
Capítulo 19 - A queda
Capítulo 20 - Bolha
Capítulo 21 - Luz acesa
Capítulo 22 - Segredos
Capítulo 23 - Permissão
Capítulo 24 - Montanha Russa
Capítulo 25 - Gravidade
Capítulo 26 - Amarga Vitória
Capítulo 27 - Forjada em veneno
Capítulo 28 - Aberto
Capítulo 29 - Relações
Capítulo 30 - Linda
Capítulo 31 - Cores
Capítulo 32 - Oportunidades
Capítulo 33 - Elos
Capítulo 34 - Marcas da alma
Capítulo 35 - Resgate
Capítulo 36 - Suporte
Capítulo 37 - O que tem atrás das cortinas
Capítulo 38 - Socos da vida
Capítulo 39 - A morte do Cisne
Capítulo 40 - Acerto de contas
Capítulo 41 - Vida
Epílogo

Capítulo 5 - Quebra de rotina

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By AliceHAlamo


Sasuke combinou de passar na casa de Ino às dez. Os dois teriam aula no dia seguinte, contudo, só após as dez e meia, portanto, podiam acalmar um pouco Madara indo se divertir. Sozinho em casa por enquanto, abriu o computador e baixou os vídeos das obras que Orochimaru disse que apresentariam. Precisava decorar as coreografias, ninguém as ensinaria; se quisesse fazer a audição, deveria aprender por conta própria e treinar sozinho.

Sentou-se no chão, as costas apoiadas na cama enquanto ele se estendia para abrir a gaveta da estante e pegar os headphones. Aumentou o volume no computador e o apoiou nos joelhos dobrados.

15h05min. Tinha tempo. Começaria por Giselle, ainda não havia finalizado o download de Les Sylphides.

Play.

Os olhos fixos acompanhavam a coreografia, a música ele já conhecia, todos já tinham ouvido pelo menos uma vez na vida alguma música que fosse de Giselle.

Play.

Aquela versão era russa, o ballet russo tinha sempre boas técnicas, a coreografia era impecável. Os saltos altos e bem executados chamavam atenção, o pas de deux, a dança em dupla, tinha sincronia, simetria.

Play.

O bailarino russo não possuía bom equilíbrio após muitos giros. Os pés davam pequenos dois toques antes de se firmar no solo e dar sequência à coreografia. Além disso, ele não tinha muita expressão. Técnica boa, encenação nem tanto.

Remexeu-se, puxou o travesseiro para o chão e se sentou sobre ele.

Play.

A versão francesa era mais caprichosa, não melhor, apenas mais caprichosa. Os cenários, os figurinos e as maquiagens eram sim mais bem feitos, a coreografia possuía uma ou outra diferença, mas nada significante. Ele podia escolher qualquer uma das duas desde que levasse para a banca a referência correta.

Play.

A técnica da primeira bailarina era impecável, boa altura de perna, giros rápidos e equilibrados, aterrissagens suaves, elementos de ligação entre um passo e outro eram feitos tão bem que até mesmo eles possuíam sua graça.

Play.

O bailarino era o oposto do russo, ele entrava no personagem, vivia-o com todo o seu ser. A expressão facial acompanhava os clímaces e anticlímaces da sinfonia, e os movimentos do corpo pareciam traduzir a dor e a agonia do personagem.

Play.

Ele errava, mas Sasuke só percebeu isso na terceira vez que assistiu. Ah, sim, ele chamava muita atenção para a interpretação, os erros, pequenos até, passavam despercebidos para a maioria dos espectadores.

Pla-...

Retirou os fones ao ver o celular cair da estante enquanto vibrava.

Seis ligações perdidas, Ino, 21h40min.

— Merda!

Correu para o banho depois de avisar que se atrasaria, não que tivesse problemas, Ino nunca estava pronta no horário também. Não perdeu muito tempo escolhendo sua roupa, não lhe faria diferença, apenas vestiu uma calça escura e uma blusa menos séria para que Ino não ficasse reclamando a noite toda.

Colocou o celular no bolso de trás, pegou a carteira e xingou ao não achar a chave do carro. Óbvio que não acharia! Madara tinha ido para a boate, era claro que o tio usaria o carro, como tinha se esquecido disso?

Pegou o celular e apertou a raiz do nariz tentando não deixar aquilo matar seu humor; por ele, ficaria em casa o dia todo para continuar estudando, não via graça em ir para boates, não era seu ambiente.

— Neji? Já saiu de casa? — perguntou assim que foi atendido.

Saindo agora. Por quê?

Pode me buscar? Madara levou o carro, e tem que pegar Ino também.

Se você ficar de motorista da vez, vai ser um prazer te dar carona.

Sabe que não vou beber, eu dirijo na volta.

Feito. Em vinte minutos, to aí. Avisa a Ino que ela tem dez minutos. Assim ela corre agora e a gente não fica esperando como sempre.

Sasuke se despediu e mandou mensagem para Ino. Caminhou para a cozinha e aproveitou para fazer um lanche. O celular tocou, oito fotos de Ino com roupas diferentes. Respirou fundo e olhou para o teto antes de escolher uma. Inútil. Ino acabaria vestindo uma nona opção a despeito do que ele opinasse, era sempre assim.

Demorou até ouvir a buzina de Neji. Pontual. Entrou no carro, o rock clássico tocava num volume mais baixo do que gostaria, mas algumas coisas nunca mudavam, seria sempre música baixa e um leve perfume cítrico impregnado no ar.

— Me lembre de novo por que estamos indo mesmo... — Neji pediu ao vê-lo tão animado quanto ele.

— Madara.

— Você só precisa dizer para ele que não quer ir.

Sasuke deu de ombros e colocou o cinto de segurança. Neji bufou, não era segredo que o amigo discordava de suas atitudes, mas não iria ficar preocupando o tio à toa, Madara já fazia muito por si, sempre tinha feito.

Ino, por incrível que pareça, estava pronta. Como Sasuke previra, em um conjunto de roupas diferente dos das fotos. Ela entrou no carro, animada, e se sentou no centro, apoiando as mãos nos bancos da frente com visível ansiedade.

— Aconteceu alguma coisa? — Neji a encarou pelo retrovisor com o cenho franzido.

— Recebi uma proposta para ser modelo, e meu pai concordou! — Ela sorriu ao comentar animada. — Vamos lá amanhã para assinar o contrato.

— Isso é incrível, meus parabéns, Ino.

— Você é pior que o Sasuke, eu acabei de dar uma notícia que pede pelo menos um sorriso e uma expressão de surpresa como resposta, Neji! — ela o repreendeu. — Cadê seu ânimo? Vamos, temos que comemorar!

Neji riu, suave, e parou diante do semáforo fechado. Pegou a mão de Ino e a levou aos lábios.

— Parabéns, mas eu já sabia que você era bonita, então nada mais justo que ficar aí posando para as câmeras.

— Viu? Muito melhor agora. — Ino sorriu, agradecida. — Tem que aprender a ser cavalheiro como ele, Sasuke.

Sasuke revirou os olhos enquanto Neji ria. Estacionaram próximo à boate, a fila estava grande, e Ino agradeceu por não terem que ficar nela. Sasuke já era obviamente conhecido pelos seguranças, então a entrada deles não demorou a ser liberada.

Ah, sim, tudo o que Sasuke gostava: música alta, pessoas se esfregando uma nas outras, bebida nos copos, chão e roupa, e um monte de gente sem noção tropeçando e esbarrando em si. Como alguém conseguia mesmo gostar de ir num ambiente daqueles?

Respirou, sôfrego, e deixou que Ino o puxasse para o segundo andar, onde normalmente ficavam com outras poucas pessoas. Madara estava lá junto aos sócios e pareceu satisfeito ao vê-los subindo as escadas, desapoiou-se da beirada e sinalizou para que se aproximasse. Ao lado do tio, estavam Hashirama e Mito, amigos de longa data e agora sócios daquela loucura.

— Podem ir na frente — Sasuke avisou os amigos, e Neji assentiu ao passar o braço pela cintura de Ino e ajudá-la a andar entre as pessoas.

Madara sorriu quando Sasuke se aproximou e o puxou pelo ombro.

— Achei que fosse escapar de novo, Sasuke! — Mito riu com um copo de bebida na mão.

Ela era uma mulher bonita, ruiva, os cabelos presos, olhos escuros e determinados, personalidade gentil, mas que sabia se impor muito bem quando era necessário. Sasuke lembrava-se dela no dia quando fora morar com Madara, ela estava lá, assim como Hashirama, e o ajudou a arrumar seus pertences enquanto esbravejava e amaldiçoava seu pai.

— Se bem conheço Madara, ele é implacável quando quer algo, não deve ter dado muitas oportunidades para isso — Hashirama provocou, e Madara deu de ombros sem de fato querer contestar.

— Ele precisa se distrair um pouco — Madara sentenciou, e Sasuke revirou os olhos para divertimento de Mito.

— E ele concorda com isso? — Hashirama perguntou, e Sasuke viu o tio estreitar os olhos perigosamente

— Não vou discutir com você de novo hoje — Madara respondeu, e, embora parecessem apenas provocar um ao outro, havia uma advertência no tom do tio.

Hashirama era um homem alto, de personalidade oposta à Madara, alegre, sorridente, otimista e sonhador. Os cabelos longos e lisos eram castanhos, ele gostava de prendê-los, mas tanto Mito quanto Madara viviam o soltando sempre que podiam. Era um amigo de longa data, tão antigo que já era da família, Sasuke lembrava-se dele com o tio em suas festas de aniversário ou em suas apresentações de ballet, aliás, era difícil buscar alguma lembrança em que Madara não estivesse com um dos dois amigos ao lado. Entretanto, embora unidos, Hashirama e Madara discordavam basicamente sobre tudo! Eles podiam até ter um objetivo em comum, mas como o atingir era sempre motivo de grandes discussões em que Mito precisava se meter até achar um meio termo que satisfizesse a todos. E, ultimamente, o assunto da vez era, adivinha só, ele, Sasuke.

— Meninos, acho que vocês não querem me irritar essa noite, não é mesmo? — Mito suspirou e entregou o copo para Hashirama. — Venha, Sasuke, deixe as crianças começarem com a disputa de ego deles, vamos sair daqui.

— Da última vez, você me tirou bem antes de eles começarem a se bater, queria assistir a isso hoje — Sasuke provocou, e Hashirama riu da indignação de Madara para o sobrinho.

— Negativo, nada de tapas hoje, talvez, só talvez, mais à noite se eles quiserem — Mito piscou para eles.

— Eu definitivamente não precisava e nem quero ouvir mais sobre isso. — Sasuke arregalou os olhos enquanto Mito se divertia ao afastá-lo até o bar. — Vou precisar de algo bem forte para esquecer essa imagem e, para o meu azar, sou o motorista da vez — ironizou, ácido.

— Desculpe, esqueci que você é muito puro para isso — ela não se deixou abalar e pediu outro drink ao barman. — Agora, mudando de assunto, Sasuke... você sabe que estamos preocupados, não sabe?

— Mito... — Sasuke balançou a cabeça, irritado, tinha conseguido escapar de Madara no dia anterior, mas...

— Não, me ouça, só um momento... — ela pediu ao tocar seu ombro.

Sasuke respirou fundo e concordou, Mito era gentil e atenciosa consigo, desde sempre, não devia e não iria destratá-la por mais que sua paciência estivesse no limite. Olhou-a, ela levou a mão à sua bochecha e o acariciou, grata.

— Eu sei o quanto Madara pode ser um pouco... insistente — ela disse após escolher com cuidado as palavras. — Ele é um pouco protetor demais e acredita que sempre sabe o que é melhor para aqueles que ama.

— Sei disso — Sasuke soltou o ar e espiou onde o tio e Hashirama agora conversavam sentados próximos.

— Mas isso não quer dizer que você precisa aceitar tudo o que ele acha que é melhor para você, Sasuke — ela pontuou. — Ele está preocupado, nós estamos, mas você não pode começar a aceitar tudo o que dizemos apenas para nos tranquilizar. Isso pode funcionar com aqueles dois, mas não comigo, eu te conheço, garoto! Você odeia boates, Sasuke. Seu tio é teimoso, mas ele quer o seu bem, você precisa...

— Mito. — Sasuke segurou as mãos dela entre as suas ao interrompê-la. — Eu estou bem.

— Garoto, você foi parar no hospital! — ela se exaltou.

— Uma vez, isso já passou, vocês estão tornando isso algo maior do que é.

— Sasuke, você estava sob tanto estresse que perdeu metade do semestre da faculdade e comprou uma briga injustificável junto de Neji depois de uma apresentação com oito garotos, oito, Sasuke! Cinco pontos nessa sua cabeça teimosa e aquele monte de hematomas pelo corpo! — Ela o olhou de forma suplicante. — Nós só queremos que, dessa vez, você nos diga se algo estiver acontecendo com você, que saiba que pode contar com a gente a qualquer momento. Você é um filho para Madara, é o nosso menino, precisa confiar em nós...

Sasuke jogou a cabeça para trás e inspirou por longos segundos antes de voltar a encarar Mito. Ela estava preocupada, os olhos cobravam dele qualquer coisa, qualquer garantia de que tinha entendido o que ela lhe pedia. Mas o "injustificável" ainda ressoava em sua mente. Sério que eles acreditavam que ele, logo ele, se meteria em uma briga se não tivesse motivo para isso? A verdade era bem diferente e só não contava porque sabia que seu tio faria daquilo um inferno se soubesse que ele e Neji haviam sido praticamente emboscados por um grupo que achava que eles namoravam. Irritado, tentou disfarçar e levou as mãos de Mito aos lábios, concordou apenas por hábito e não a afastou quando foi abraçado.

— Ok, vai ficar com os seus amigos. — Ela lhe sorriu. — Tente se divertir um pouco, está bem? E, se quiser ir embora mais cedo, eu te acoberto com Madara.

— Certo.

Esperou que ela voltasse para onde o tio e Hashirama estavam, Mito sentou-se ao lado de Madara e revirou os olhos quando ele passou o braço pelos ombros dela para lhe segredar algo. Sasuke massageou a nuca e cogitou por um bom tempo ir embora naquela hora mesmo, mas lembrar que tinha que levar Neji de volta o fez gemer frustrado enquanto ia atrás dos amigos.

Não era difícil achar Ino, ela sempre chamava atenção ao dançar, e Neji a acompanhava, sorrindo contido enquanto ela gargalhava e contagiava as pessoas ao redor. Sentiu-se mais leve, gostava de passar um tempo com os amigos fora da rotina usual. Manteve-se perto do bar, pediu uma água e ficou sentado em um dos bancos enquanto curtia um pouco da música.

Ignorou veementemente os que se aproximavam, os olhares que recebia não lhe interessavam em nada, não era como se eles o fizessem sentir algo. Arregalou os olhos quando Ino e Neji o puxaram de repente, os dois o arrastando para o meio das pessoas onde dançavam. Ino riu e passou os braços pelo seu pescoço, não lhe dando escape enquanto Neji se afastava para beber algo.

Amava dançar, ainda que não gostasse de boates, gostava de poder sentir o corpo livre para seguir a música. Por isso cedeu, não conseguia lutar por muito tempo. Seus passos seguiam os de Ino, o corpo movia-se de acordo com o dela em uma coreografia improvisada e sensual. Segurou-a pela cintura no mesmo momento em que viu as mãos de Neji nos quadris dela.

Dançaram os três, em um mundo a parte, uma bolha que os guardava dos demais, das opiniões, dos olhares, dos comentários, do tempo.

Ino o puxou para avisar que pegaria outra bebida, e Neji o girou para si. Não se importava de dançar daquela forma com Ino ou Neji, até mesmo Sakura, eram amigos há tanto tempo que não se sentia desconfortável com a proximidade; era até bom, porque, enquanto os amigos estivessem perto, as outras pessoas não se aproximavam e Sasuke se poupava de ter que as dispensar toda vez. Ou era isso que esperava, mas sempre tinha alguém para quebrar a regra...

O corpo tencionou assim que o toque desconhecido foi sentido, mãos quentes na lateral do corpo fizeram a espinha de Sasuke gelar. Virou-se bruscamente para afastar com certa violência o homem de si, e Neji foi rápido em meter-se entre os dois para apartar qualquer briga.

O homem apenas ergueu as mãos e se afastou. Sasuke bagunçou os cabelos e passou por Neji. Ino voltava com dois copos e franziu o cenho ao ver Sasuke caminhando em sua direção, irritado.

— O que houve? — ela indagou, preocupada.

— O de sempre. Odeio boates! — Sasuke se dirigiu ao bar e pediu outro copo de água gelada enquanto se sentava e xingava em voz baixa.

* * *

Já haviam se sentado há algum tempo no estofado do andar. Ino cantava, bêbada, as pernas sobre as de Sasuke enquanto ele ao seu lado ria e Neji chegava a chorar da voz desafinada, o corpo inclinado sobre as pernas dela.

Bêbados demais, Sasuke concluiu quando Ino jogou a cabeça para trás porque o mundo "girava" e Neji deitou em seu ombro.

— Sas... — Neji chamou, arrastando o rosto contra sua camisa.

— Te abandono se vomitar em mim — Sasuke avisou alarmado.

Neji riu e errou duas vezes ao tentar levar a mão à boca de Sasuke para pedir que se calasse.

— Chamei a mãe do Nidori para sair... — falou arrastado e riu alto em seguida pelo olhar de descrença que Sasuke lhe dirigiu.

— Ten-Ten?? Aquela que quase matou todos os outros professores do filho dela? — perguntou surpreso. — Tá explicado porque decidiu beber tanto hoje... o fora foi muito grande?

Neji riu, segurou e virou o rosto de Sasuke para si enquanto sorria com malícia.

— Ela aceitou.

— Mentiroso.

— Aceitou.

— Duvido.

— Vamos a um show... — Bocejou. — Posso pedir para ela levar uma amiga ou amigo, sei lá, se quiser ir junto.

— Dispenso — Sasuke fez uma careta, e Neji riu ao dar de ombros.

— Sas... — Ino chamou manhosa. — Me dá um beijo?

Sasuke balançou a cabeça, incrédulo, e deixou um beijo na bochecha dela.

— Ah, não! Neji, ele não sabe beijar! Por que você nunca me dá um beijo?

— Porque você tá bêbada? — Sasuke arqueou a sobrancelha, irônico.

— Neji!!

— Começou. — Neji revirou os olhos, mas riu ao se desequilibrar quando se inclinou até Ino, passando por cima de Sasuke para dar um selinho nela.

Sasuke contou até cinco e separou os amigos.

— Já chega, pra casa, vamos! — manifestou-se.

Eram quatro da manhã, o lugar já estava quase vazio, e Sasuke encontrou Hashirama na saída coordenando a organização do local.

— Meu tio já foi? — perguntou, e Hashirama o ajudou a levar Ino e Neji até o carro.

— Sim, ele e Mito voltaram era meia noite, devem estar na sua casa. Você está sóbrio?

— Sim, não se preocupe — Sasuke colocou o cinto e ligou o veículo. — Até depois.

Não demorou até Neji dormir no banco de trás, Ino fechou os olhos enquanto falava algumas coisas sem sentido. Deixou Neji em casa e filmou enquanto o amigo tropeçava para sair do carro e gastava bons minutos procurando as chaves. Dirigiu para casa depois, sabia que Inoichi odiava ver a filha bêbada, ainda que soubesse de tudo o que ela fazia. Entrou não estranhando o silêncio do lugar, ajudou Ino a ir até o quarto de hóspedes e esperou até que ela dormisse, afinal, não queria ser surpreendido com uma bêbada quase colocando fogo em sua cozinha (de novo) quando acordasse.

Programou o despertador e deitou-se sabendo que não seria difícil dormir...

* * *

Sete horas e trinta minutos da manhã.

Sentou-se no susto. Manteve os olhos fechados e colocou os pés descalços no chão gelado para não perder a coragem e voltar a dormir. Estava cansado, mas se levantou, na ponta dos pés, e entrou no banheiro enquanto esticava os braços atrás do corpo. Retirou as roupas e lavou o rosto com pressa, não perdeu tempo. Vestiu apenas um dos shorts que usava para as aulas de dança e caminhou até a sala.

Um copo de água, ligou o som em Mozart dessa vez e se preparou para o alongamento. Tinha pouco tempo disponível, então deu mais atenção aos joelhos e se colocou a iniciar a prática. Não devia os forçar muito, mas precisava, era necessário o treino.

Changements. Saltos de mesma altura. Boa finalização. Postura.

Começou. Braços em frente ao corpo, pés em quinta posição, costas retas e abdômen contido. Fez um plié, ou seja, dobrou os joelhos para ter impulso, e saltou.

Mesma altura do começo ao fim.

Os pés trocavam de posição, os braços mantinham-se em frente do corpo, a cabeça permanecia erguida e os ouvidos atentos à mudança de ritmo da música que determinava a velocidade com que saltava. Sabia que não estava correto, conseguia sentir que não conseguia manter todos da mesma forma.

Nova música.

Recomeçou, braços agora estendidos ao lado do corpo em noventa graus, ou seja, segunda posição, o mesmo changement.

Erga a cabeça.

O ar entrava com dificuldade já.

Mantenha a postura.

As costas não apreciavam o impacto que ele já não amortecia com eficiência ao aterrissar.

Mais alto.

As panturrilhas queimavam, como se as fibras de seu músculo estivessem se retorcendo em busca de algum oxigênio que pudesse estar perdido entre elas.

Expressão! Dói? Não importa, o público não pode saber disso.

Respirou fundo e se concentrou na música para fingir que se esquecia da dor. Obrigou o ar a entrar, expandiu o peito como se aquilo bastasse para aliviar o desconforto. Ergueu os braços sobre a cabeça, terceira posição, e agradeceu quando a quarta música começou a tocar.

Continue!

Suas coxas tremiam, o músculo liberava pequenos espasmos e cada plié tornava mais difícil o salto, como se, depois de dobrar os joelhos, houvesse uma força o empurrando para baixo e o impedindo de dar o impulso para completar o movimento.

De novo!

Só até o final da quinta música, repetiu a si mesmo. A respiração errada trazia uma dor em pontada no abdômen, o acelerar da melodia o fez querer chorar ao cobrar das pernas mais agilidade. Já não conseguia controlar a expressão, doía, e ele se agarrava às notas da música como se precisasse ouvir cada uma delas para que o final chegasse mais rápido. Só mais esse clímax, só mais essa sequência acelerada, só mais essa pausa, só mais esse descendente, só mais um salto, só mais um e mais um e outro e depois outro...

Reconheceu os arranjos finais, diminuiu a velocidade, desceu os braços dormentes, fez um plié um pouco maior e mais demorado que os demais e forçou-se a erguer o tronco. Cabeça para frente, braços em frente ao corpo, pés em quinta posição, parado até que a música de fato não mais se fizesse ouvir e, depois, como um castelo de cartas ao encontro com um temporal, caiu para frente.

Não gritou, segurou a vontade com os dentes cerrados e os punhos a bater no chão. As panturrilhas e as coxas sofriam de espasmos, e não era fácil sentar-se no chão para conseguir massagear os músculos, até porque seus braços também reclamavam por serem escalados para tal missão.

Levantou-se, tinha que ficar de pé, o chão não era o lugar para um bailarino. Bebeu um pouco de água, mudou a música e colocou os pés em primeira posição, um ao lado do outro horizontalmente. As pernas doíam, mas os braços ainda podiam aguentar um pouco mais, a sequência de port de bras, movimentos de inclinação dos braços, não era tão difícil.

Nove horas da manhã. Não precisou olhar o relógio para saber o horário, bastou a música da sala finalmente ser desligada. Deitou-se no chão, a respiração alterada enquanto Madara ia até a cozinha.

— Devia ter aproveitado para descansar mais, Sasuke.

— Eu precisava treinar uma coisa.

Madara o encarou descontente, mas não se intrometeu.

— O que quer para o café?

— Salada de frutas com aveia e mel e suco do que tiver. — Sasuke limpou o suor da testa no braço e se esforçou para não demonstrar o quanto o corpo doía ao se pôr de pé.

— Vá tomar banho, Mito já está acordando Ino.

Sasuke concordou. A água fria do chuveiro pareceu anestesiar o corpo, como se as gotas que escorriam por sua pele puxassem a dor para fora de si à medida que caíam. Encostou o corpo nos azulejos e suspirou com desânimo ao ter o próprio veredito: ainda não estava bom o bastante.

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