Não pare a Música

By AliceHAlamo

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A dança é composta por vários elementos. Você tem a coreografia, o tempo, a música, o dançarino, a técnica... More

Capítulo 1 - Sasuke
Capítulo 2 - Naruto
Capítulo 3 - Ino
Capítulo 5 - Quebra de rotina
Capítulo 6 - Suas lentes
Capítulo 7 - Interesses
Capítulo 8 - O que os outros pensam
Capítulo 9 - Encantado
Capítulo 10 - Ajuda "mútua"
Capítulo 11 - Punição
Capítulo 12 - Fora de Foco
Capítulo 13 - Desafio
Capítulo 14 - Intensidade
Capítulo 15 - Mudanças
Capítulo 16 - Tensão
Capítulo 17 - Entre jogos e bebidas
Capítulo 18 - Escolhas
Capítulo 19 - A queda
Capítulo 20 - Bolha
Capítulo 21 - Luz acesa
Capítulo 22 - Segredos
Capítulo 23 - Permissão
Capítulo 24 - Montanha Russa
Capítulo 25 - Gravidade
Capítulo 26 - Amarga Vitória
Capítulo 27 - Forjada em veneno
Capítulo 28 - Aberto
Capítulo 29 - Relações
Capítulo 30 - Linda
Capítulo 31 - Cores
Capítulo 32 - Oportunidades
Capítulo 33 - Elos
Capítulo 34 - Marcas da alma
Capítulo 35 - Resgate
Capítulo 36 - Suporte
Capítulo 37 - O que tem atrás das cortinas
Capítulo 38 - Socos da vida
Capítulo 39 - A morte do Cisne
Capítulo 40 - Acerto de contas
Capítulo 41 - Vida
Epílogo

Capítulo 4 - Gaara

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By AliceHAlamo

Último capítulo de introdução dos personagens ;)


Acordar cedo no domingo era um castigo, só podia ser. Gaara resmungou, apertou o travesseiro e colocou-o sobre a cabeça enquanto ouvia o estridente toque do celular. De olhos abertos, permaneceu no escuro até que a vista se acostumasse, e ele se convencesse de que tinha que se levantar.

Afastou sem muita vontade o travesseiro e jogou o lençol longe. Sentou-se. Os pés sentiram o gelado do piso, as mãos apoiaram-se na cama, ao lado do corpo inclinado para frente. O ombro direito doía, ossos do ofício, o médico já o havia alertado para melhorar a postura e a forma como segurava a câmera. Girou o ombro e suspirou grato pela dor não estar como no dia anterior.

Era fotógrafo, formado há dois anos já, contudo, o que antes era hobbie havia começado há dez ou onze anos. O excesso de trabalho que havia assumido desde o estágio obrigatório na faculdade e os free lancers haviam sobrecarregado o ombro direito, uma bursite o incomodava pelo menos uma vez na semana ou sempre que trabalhava mais que devia. Era o preço a se pagar pelo que queria, tinha se desdobrado para juntar dinheiro naqueles anos para comprar o apartamento onde vivia e ainda nem tinha terminado de pagar por ele.

Felizmente, a empresa onde trabalhava atualmente pagava bem, muito bem, o único lado ruim era lidar com a agenda maluca que eles tinham, como, por exemplo, ensaio fotográfico logo no domingo, marcado em cima da hora.

O celular tocou de novo, um alarme para acabar com seu tempo de procrastinação. Levantou-se, bagunçou os cabelos ruivos enquanto bocejava e desfrutou do silêncio do apartamento. Há quatro meses, nada daquilo existia, morava com os irmãos, a irmã mais velha, Temari, estaria gritando com Kankurou, que apenas fingiria não ouvir enquanto desligava os despertadores e voltava para a cama. Ele estaria atrasado, e Temari o lembraria disso com um olhar acusatório, devidamente já vestida para esperar o parceiro com a viatura para irem ao trabalho.

Amava os irmãos mais velhos, era grato por Temari ter pago sua faculdade, nossa, só Deus sabia o quanto era grato por aquilo, mas três adultos num apartamento minúsculo, gritando toda manhã, brigando por cada pequena coisa... não, não dava mais.

Seu apartamento era pequeno, simples, um único quarto, numa localização nem tão boa, mas era seu, suas regras, seus horários. Paz, finalmente paz.

Colocou água para ferver, recostou-se na pia enquanto esperava e apertou os olhos. Xícara, sachê de chá matte, açúcar. Tomou o chá e só, odiava comer pela manhã. Quando terminou, olhou o celular, ignorou todas as redes sociais, apenas verificou as mensagens de Temari e então os e-mails.

Franziu o cenho quando o celular anunciou uma nova mensagem, Konan. Assustador saber que ela já até sabia a que horas devia mandar mensagens para não ser ignorada.

"Pain disse que tem uma surpresa para você hoje".

Revirou os olhos. Pain era um ótimo chefe, mas, às vezes, excêntrico demais, e isso fazia Gaara ficar um pouco apreensivo quando Konan lhe mandava aquele tipo de mensagem.

Caminhou até a pequena e quase inexistente varanda e regou as flores que Temari havia lhe dado quando se mudara. Removeu as pétalas secas e as enterrou na própria terra, mudou a posição dos vasos, o sol estava muito forte naqueles dias, as flores morreriam daquela forma.

Limpou as mãos e finalmente começou a se arrumar para o trabalho. Não possuía uniforme, mas lidar com modelos o obrigava a se vestir bem. Estranhou o sorriso de Konan quando chegou à agência, o barulho clássico do salto dela indicava que o seguia e não demorou até que ela entrasse consigo no camarim reservado para a equipe fotográfica. Espiou pelo o espelho o sorriso suave que ela ostentava e terminou de guardar sua carteira e as chaves do carro. Pendurou a câmera no pescoço e conferiu o horário no relógio caro de pulso, presente de uma das modelos, a mesma que tinha lhe recomendado a Pain para trabalhar ali.

— Sua falta de curiosidade é impressionante — Konan brincou enquanto o observava silenciar o celular.

— Eu sei que você vai me contar de um jeito ou de outro — Gaara devolveu.

— Vou é? — Konan arqueou a sobrancelha.

Gaara virou-se para ela e cruzou os braços.

— Tenho dois minutos antes de começarem a gritar o meu nome, pode falar, o que Pain aprontou para mim?

— É hoje! — ela disse com atípica animação e ênfase.

Gaara continuou a olhá-la sem entender, e Konan arregalou discretamente os olhos, a boca marcada pelo batom abrindo-se em choque.

— Você esqueceu que dia é hoje?

— Não é seu aniversário, é? Se for, não comprei nada.

— Ah, meu Deus, Gaara! — Konan balançou a cabeça incrédula e caminhou até a porta do camarim. — Bem, agora sim vai ser uma surpresa.

— Hey, pera! Não vai me contar? — Gaara perguntou, mas Konan já se distanciava enquanto lhe mandava um breve aceno.

Pegou o celular e conferiu o calendário e suas notas, não havia nada marcado para aquele dia, então do que podia estar se esquecendo? Bem, o que quer que fosse, ficaria para depois, seu nome já estava sendo gritado pelo set, e ele apenas conferiu uma última vez a câmera antes de correr.

Se precisasse usar uma palavra para definir aquele lugar, seria parque de diversões, e tudo bem que não tinha usado exatamente uma palavra, mas quem liga? Adorava estar ali, não era bobagem quando comentava com os amigos que trabalhava com aquilo que mais amava. As cores, a organização caótica do lugar, os flashes, as roupas, os modelos, a arte, era como mergulhar numa realidade de luxo e sonhos, e ele era o responsável por tornar esses sonhos reais. A produção era importante, os estilistas também, os maquiadores, a equipe de iluminação, todos tinham sua função, mas era ele, unicamente ele, que eternizava aquela magia.

Chegou ao set em que ficaria naquela manhã, as três modelos já estavam vestidas, sem os roupões, e uma maquiadora finalizava o batom de uma delas. Reconheceu todas, já tinha trabalhado em outras campanhas com elas, principalmente com Hanabi, que lhe sorria enquanto vinha abraçá-lo.

— Ah, que saudade! — Ela o apertou, e Gaara a estranhou por um momento.

— Como foi o desfile? — ele perguntou quando a modelo se afastou.

Hanabi bufou e revirou os olhos perolados, os cabelos castanhos e lisos estavam presos num delicado e complexo penteado e um pouco da maquiagem dela tinha ficado em sua camisa. Ela era uma das primeiras modelos que ele fotografou, ainda na agência em que estagiava quando, por acaso, o fotógrafo principal adoeceu e não pôde comparecer ao ensaio. Lembrava-se de estar nervoso, aos quatorze Hanabi já era uma modelo conhecida, havia sido o rosto de uma grande agência de moda infantil, juvenil, e agora desfilava sempre que Pain lhe conseguia a oportunidade, o que não era muito difícil. Diferente dele, ela já estava tão dentro naquele mundo da moda que agia como se nada tivesse acontecido, o ensaio demorou mais do que deveria, mas ela parecia se divertir, e Gaara gostava daquilo. No fim, ela havia gostado das fotos, e o empresário que a acompanhava deixara claro que queria que fosse Gaara a se encarregar dos próximos eventos. Devia sua carreira àquela garota.

— Você podia ter ido comigo — ela reclamou. — Minha irmã disse que não teria problema nenhum pagarmos sua passagem, além disso você perdeu meu aniversário, não é todo dia que se faz dezoito anos sabe?

— Terá que ficar para a próxima — ele respondeu, evasivo, e discretamente deu um passo para trás. Hanabi era confiante, sabia que era bonita e tinha atitude, e ele não era ingênuo para não perceber as indiretas que ela lhe dava desde os dezessete.

— Vou cobrar dessa vez. — Os lábios pintados de vermelho formaram um sorriso de canto, e ela lhe piscou antes de voltar para junto das modelos.

Problema. Hanabi não era uma má pessoa, era uma garota adorável para ser sincero, animada, gentil, não era arrogante com ninguém, dedicada nos estudos e que amava a irmã mais velha que a tinha criado. Entretanto, o interesse dela por ele já tinha sido notado por muitos, modelos, fotógrafos, até mesmo Pain. Quando ela entrou na agência recomendando seu nome, Pain o testou e aprovou que ele seguisse fotografando Hanabi, contudo, sabia muito bem que o chefe não admitiria que a frágil harmonia do set fosse quebrada por uma paixonite sem fundos. Se Hanabi decidisse sair da agência por causa de uma rejeição, seria Gaara o demitido, Pain não tinha que pensar muito para pesar seus interesses. Assim, tentava, a todo custo, se esquivar das investidas da modelo, já havia até mesmo conversado com Hinata, a irmã mais velha dela, para que ela soubesse que, da parte dele, nenhuma atitude havia sido tomada e nem seria.

— Estamos prontos, Gaara — ouviu o comunicado.

Assentiu e preparou a câmera. As modelos estavam juntas, como amigas que voltavam de um passeio divertido, Hanabi no meio delas, segurando uma sacola personalizada com o logo da marca que divulgavam. Posicionou-se, o primeiro flashe foi apenas um teste, ele verificou o display da máquina e sinalizou para que a iluminação aproximasse um dos holofotes. O segundo disparo mostrou a melhora. Ao seu lado, o idealizador da campanha dava dicas às modelos, exigia poses, sorrisos, leveza. As poses trocavam, elas andavam, riam, uma encenação que Gaara registrava quadro a quadro.

As pernas doíam em certo momento de tanto que se abaixava e levantava para conseguir as fotos como o cliente queria, mas já estava habituado. Durante o intervalo, sorria para as fotos que sabia que ficariam boas, excluía algumas que definitivamente não lhe serviriam e aproveitava o tempo para analisar melhor as alternativas para a campanha. Algumas fotos também que ser editadas por conta de detalhes, em uma delas a tatuagem no ombro de Hanabi tinha aparecido, e o cliente tinha sido claro ao assinar o contrato dizendo que não queria exposição de tatuagens ou piercings. Aliás, aquela tatuagem não existia antes de ela viajar constatou, mas não só a tatuagem, o cabelo dela estava com outro corte, a franja caía diferente sobre o rosto que também estava mais fino.

O ensaio durou mais uma hora, as modelos foram as primeiras a se retirar. Havia alguns lanches dispostos na área de descanso para onde seguiam, as modelos conversavam entre si enquanto o diretor da campanha as elogiava. Gaara e parte da equipe de iluminação aproveitavam para tomarem um pouco de água e descansarem também, sabiam que logo outro cliente chegaria. Aos poucos, a sala se esvaziava, e somente a equipe de fotografia e iluminação permanecia nela.

— Aquele não é o celular da Hanabi?

Ele ergueu os olhos para o puff apontado.

— É — respondeu com certa dúvida. — Ela já foi embora?

— Acabou de sair para o camarim.

Levantou-se e pegou o celular esquecido. A foto na tela de bloqueio era de Hanabi, e ele mostrou aos colegas.

— Vou levar para ela.

— Konan mandou te avisar que te quer no set em dez minutos.

Ele assentiu e apressou-se. O camarim dos modelos era diferente dos outros, eles podiam ter um camarim só para si, um cômodo pequeno, mas exclusivo e com um banheiro próprio. Um grande espelho cobria a parede bem iluminada e um sofá confortável ficava no lado oposto. Hanabi ficava em um mais afastado, apenas porque ele possuía uma janela que dava uma pequena vista para o pôr do sol. Bateu na porta e conferiu o horário no relógio, tinha que voltar rápido, Konan era rígida com horário.

— Hanabi? — chamou, sem resposta. — Estou entrando.

Abriu a porta devagar, os tênis que Hanabi tinha usado estavam ali, jogados de qualquer forma e a carteira estava sobre a penteadeira, mas o que denunciou a presença da modelo no cômodo foi o característico barulho de vômito que se seguiu atrás da porta do banheiro.

— Hanabi? — chamou mais alto e deixou o celular no sofá de qualquer jeito antes de bater na porta do banheiro. — Você está bem? Hanabi?

A tranca foi girada. Ele abriu a porta, preocupado, e a viu sentada no chão. Uma das mãos estava sobre a barriga, ela tinha uma expressão nauseada na face como se ainda tivesse que botar mais alguma coisa para fora.

— Ajuda! — gritou, rápido, ao correr até a porta do camarim e então voltar para perto de Hanabi. — Vem, segura em mim, vou te colocar no sofá, está bem?

Ela concordou. Os braços dele passaram sob as pernas dela e ele a levantou no colo com facilidade, ela sempre tinha sido pequena. Sentou-a no sofá e tirou-lhe o cabelo de frente da face, ouviu a correria próxima, algumas pessoas já entravam no camarim e ele foi até o pequeno frigobar para pegar uma garrafa de água gelada e entregar a Hanabi.

— Acho que aquele lanche estava estragado. — Ela riu, sem muito humor.

Gaara manteve-se abaixado, próximo a ela, enquanto sua equipe a abanava e um deles se encarregava de chamar Konan.

— Podia ter nos avisado que estava se sentindo mal, teríamos pedido ajuda ou te acompanhado, Hanabi.

— Eu achei que era só dor de estômago — ela fechou os olhos em uma careta de dor.

— A mão dela está gelada, Gaara.

— A pressão dela deve estar baixa, Konohamaru.

— Hinata vem te buscar, Hanabi? — Ela acenou com a cabeça.

— Acho melhor você ir ao médico — Konohamaru comentou preocupado.

— A irmã dela é médica, vai saber o que fazer — Gaara falou e se levantou quando Konan entrou apressada pela porta.

— Meu deus, o que aconteceu aqui? — Ela arregalou os olhos e se sentou ao lado de Hanabi, pegou as mãos dela e então pressionou dois dedos sobre o pulso dela e olhou o relógio. — Konohamaru, pega o aparelho de pressão na bolsa que eu trouxe, e, Gaara, pode ir pro set, Pain já está te esperando lá.

Gaara passou a mão pelos cabelos e concordou, pegou uma garrafa de água para si e desejou melhoras para Hanabi antes de sair. Respirou fundo e tentou se livrar do susto enquanto voltava ao set. Sussurros, cochichos, murmurinhos, se tinha algo que odiava era como a fofoca se espalhava depressa ali. Desviou de várias pessoas que tentavam perguntar o que tinha acontecido e agradeceu quando as conversas cessaram todas de repente.

Pain. Aquilo só acontecia quando Pain aparecia de surpresa no set. Procurou pelo chefe, talvez devesse avisá-lo também sobre Hanabi, mas essa preocupação de repente desapareceu, a surpresa a engolindo enquanto via Pain chamá-lo.

Ah, ele mataria Konan por não o ter avisado...

Quando Konan tinha dito que havia gostado das fotos que ele tirara de uma bailarina, Gaara não achou nada demais, já havia mostrado outras milhares de fotos para ela apenas porque tinham certa amizade, e não acreditava muito quando ela se empolgava, até porque Konan não era muito expressiva, ela era quieta, discreta, e no máximo sorria e lhe prometia conversar com Pain sobre a chance de enviar um convite para os modelos que ele tinha achado. Mas, daquela vez, ela havia feito, justo com a modelo com quem ele não tinha falado antes, não tinha explicado nada sobre a agência ou sobre as fotografias porque elas eram pessoais. Quando fotografou Ino, tinha-o feito porque havia achado a dança dela diferente do que tudo que já havia visto, a bailarina atraía a lente de sua câmera com um magnetismo sem igual, porém, como não conseguiu falar com ela após o espetáculo, já tinha desconsiderado as chances de encontrá-la e só mostrou as fotos a Konan porque estavam juntas às de um outro modelo.

Agora, ela estava ali, visivelmente sem graça ao estender a mão para ele e cumprimentá-lo. Ah, quis matar Pain por aquilo! Não podiam ao menos tê-lo avisado antes? O que ela pensaria dele agora? Um fotógrafo que tinha mostrado suas fotos sem sua permissão... Aquilo era péssimo para um bom começo.

Respondeu brevemente ao que ela perguntou, os olhos se permitiam estudar a imagem que só havia visto à distância durante o espetáculo que a irmã o fizera assistir. Ela era bonita, mais do que suas fotografias tinham conseguido captar, e era delicada, o aperto que trocaram tinha sido tão leve que quase não podia ser considerado um. Ela sorriu, atenta às palavras de Pain, os olhos azuis indo de um ao outro conforme Pain sugeria que fosse Gaara a fotografá-la no início do contrato.

Não soube dizer se deveria agradecer ou não quando Pain o dispensou de volta ao trabalho, queria ainda falar com Ino, explicar-lhe um pouco sobre o motivo de tê-la fotografado sem aviso algum, mas também se sentia muito melhor podendo sair do que seria uma situação constrangedora caso ela não o entendesse e desaprovasse seus atos.

Konohamaru o esperava já no novo set, o amigo tinha uma visível ruga de preocupação na testa enquanto mexia em sua própria câmera.

— E então? — Gaara tocou-lhe o ombro. — Como está Hanabi? — perguntou ao se lembrar da preocupação inicial.

— A irmã dela está vindo já — respondeu enfadado. — Achei que ela fosse vomitar de novo depois que você saiu, Konan mandou que tirassem os lanches da sala de descanso para evitar que mais pessoas passassem mal. Que dia...

— Nem me fala...

* * *

O dia terminou bem. Apesar de todas as surpresas que haviam acontecido, a agência, aquele tipo de mundo, já estava mais do que acostumada a retomar rapidamente as rédeas da situação e dar uma nova direção para as equipes e modelos.

Gaara arrumou seus pertences, Konohamaru o tocou no ombro e se despediu, poucas pessoas permaneciam nos sets, e a equipe da limpeza já organizava os aparelhos e móveis. Massageou o ombro dolorido e conteve a vontade de se medicar, odiava ter que tomar analgésicos, além disso já iria para casa, um bom banho quente o ajudaria a relaxar.

Parou na frente da sala de Pain e acenou para a secretária.

— Ele disse que você já pode entrar — ela comunicou, já de saída.

Gaara agradeceu e empurrou a porta. Pain estava sentado atrás da mesa de vidro, o notebook encontrava-se fechado, e uma xícara de café quente espalhava o aroma dos grãos pelo ambiente. Konan estava ao lado dele, a postura relaxada, a mão brincando com os fios alaranjados do cabelo de Pain enquanto ele se recostava na cadeira e erguia a cabeça para olhá-la.

A câmera no pescoço de Gaara pesou. Era sempre assim, havia momentos em sua vida em que se deparava com uma cena que lhe cobrava uma atitude, como se os sentimentos que enxergava diante de si o induzissem a erguer a câmera para torná-los eternos. Podia ser algo chocante ou simples como a pequena demonstração de afeto que Pain e Konan se permitiam um com o outro dentro do ambiente de trabalho, mas, sem dúvida, sempre era especial.

Olhou para o display. A fotografia tinha ficado boa, mesmo sem a iluminação adequada, dava para ver o anel de noivado que Konan usava na mão que acariciava os cabelos de Pain, e, ao contrário da expressão séria ou serena que Pain mostrava a todos durante o expediente, ele olhava Konan com tanta admiração que até o mais cego dos homens saberia dizer que ele estava apaixonado.

— Vou querer essa foto depois — Konan falou após ouvir o click da máquina. — Ficou boa?

— Ótima — respondeu, sincero, e se aproximou enquanto Konan colocava a bolsa no ombro.

— Vou te esperar lá embaixo, Pain — ela disse e se inclinou para selar os lábios aos dele rapidamente. — Não demore — enfatizou. — Até terça, Gaara.

— Até.

Pain esperou que a noiva saísse da sala para então dar atenção ao fotógrafo.

— Amanhã é sua folga, se não me engano — comentou, e Gaara confirmou, ansioso por poder dormir até mais tarde se conseguisse. — Não irei pedir que trabalhe, não se preocupe, mas te chamei aqui porque queria discutir um novo projeto que iremos aceitar. Uma empresa de esportes nos contratou para divulgar a marca e, para isso, eu selecionei alguns fotógrafos e estou pensando nos modelos. O que querem de nós são fotografias que mostrem não os produtos, mas como eles estão inseridos na rotina dos atletas. Vai precisar ser algo que não chame atenção para o produto em si, mas para o atleta, e que seja algo tão impactante que as pessoas associem essa imagem à marca e então ela própria divulgará os produtos utilizados ali. Ficou claro?

— Sim. Já fiz algo parecido no estágio.

— Eu sei — Pain abriu a gaveta da mesa e retirou um envelope branco. — Por isso mesmo que te selecionei. Esta é a lista dos esportes.

Gaara pegou o papel estendido. Era um documento de seis páginas, a primeira listava os esportes e as demais explicavam os produtos que deveriam ser utilizados, as proibições e especificações para as fotografias, exigências para os modelos, prazos e outros por menores.

— Imagino que já saiba em qual eu quero te colocar — Pain falou quando Gaara terminou de ler.

Skate, vôlei, natação, atletismo, le parkuor e dança.

— Nunca fotografei ninguém dançando — ele respondeu, incerto. — Não profissionalmente, digo. Eu já tive experiência com le parkuor, já até pratiquei, seria melhor.

— Isso é um não? — Pain apoiou os braços na mesa. — Eu gostaria muito de escalar Ino para essa campanha, caso ela venha a aceitar o trabalho. Ela tem presença, você deve ter notado isso, as fotos que tirou dela ficaram realmente esplêndidas.

Gaara soltou o ar e passou a mão pelo rosto. Trabalhar com Ino seria interessante, tinha mesmo gostado da forma como ela dançava e de ter registrado aquilo e ter a chance de fazer isso agora com a iluminação correta, mais de perto, podendo explorar melhor as poses e os movimentos era extremamente tentador. No entanto, ainda tinha a chance de ela nem ao menos aceitar o trabalho na agência.

— Façamos o seguinte — Pain girou a caneta entre os dedos. — Se Ino se juntar à equipe, você fica com dança e responsável pelos ensaios fotográficos dela. Caso ela recuse a proposta, deixo você com le parkuor. Está bom assim?

— Tudo bem — Gaara respondeu após pensar, e Pain deu um sorriso pequeno e discreto, como se já esperasse por aquela decisão. — Era só isso?

— Uma última coisa, Gaara. Soube que Hanabi não se sentiu bem hoje e que foi você a encontrá-la.

— Sim, ela passou mal após comer alguns dos lanches.

— É, ela não foi a única pelo que Konan me passou, as outras duas modelos que estavam com ela hoje no ensaio também não se sentiram bem. Alguém da sua equipe se sentiu mal também? Você está bem? — Pain perguntou, visivelmente preocupado.

— Não cheguei a comer — Gaara o tranquilizou.

— Menos mal. — Ele suspirou. — Nós vamos averiguar o que aconteceu, não se preocupem. Era só isso mesmo, Gaara, pode ir agora.

— Obrigado. Até terça-feira, então. Mando depois a foto para Konan.

Pain sorriu ao concordar, e Gaara saiu da sala.

Casa, finalmente iria para casa. Só a ideia já o fazia sentir-se melhor. Poder chegar, retirando o sapato logo na entrada, jogar a bolsa sobre o sofá e apenas entrar no banho era como resetar seu sistema. O ombro, especialmente, agradecia, e, sem a dor para atrapalhar, ele podia enfim atender às outras necessidades: estava morrendo de fome.

Preparou uma massa rápida, macarrão sempre salvava suas noites. Sorria ao se lembrar de Kankurou gritando consigo toda santa vez quando o via fazer algo assim, afinal, ele era um exímio cozinheiro, nunca aceitaria somente uma macarronada como janta. Não, se fosse a irmão cozinhando, seria macarrão, molho preparado com tomates, não aquele pronto que Gaara usava, também teria alguma proteína preparada na hora, diferente da carne pronta que Gaara só colocava no microondas para descongelar. Ah! E teria salada, Kankurou, com toda certeza do mundo, faria com que ele comesse qualquer mistura de folhas e o que quer que ele decidisse que era um nutriente necessário.

Checou o celular, respondeu os irmãos e o pai, havia uma mensagem de Hanabi também, uma foto dela no hospital com a irmã mais velha ao fundo.

"Está melhor?", enviou a resposta.

"Sim. Em casa agora com Hinata, vamos assistir um filme", ela não demorou a responder.

"Bom filme para vocês então. Boa noite", finalizou a conversa. Se desse oportunidade, como já tinha cometido o erro de fazer, sabia que Hanabi puxaria assunto pela noite toda.

Silenciou o celular, jantou, desligou o despertador e secou melhor o cabelo antes de deitar na cama. Lavaria a louça pela manhã, reuniria as roupas espalhadas também, talvez devesse organizar e limpar a casa. Deitou-se na cama, puxou o livro do criado mudo e se colocou a lê-lo até que o sono resolvesse aparecer, o que vinha sendo cada vez mais difícil...


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*Essa história trata de assuntos delicados que podem ser ofensivos* ~ Essa é uma história yaoi, com cenas +18, violência, drogas e álcool. ~