Ridículo, simplesmente ridículo. Me olhei no espelho novamente e cheguei a mesma conclusão de antes: simplesmente ridículo.
-Não reclame, o plano foi todo idéia sua.- disse Ellie ao meu lado.
Me olhei no espelho pela centésima vez e não pude suportar o fato de ter de vestir um terno todo fechado e preto.
-Mas eu tenho de vestir isso?- perguntei
-Se você quiser se misturar na multidão sem estar usando um capuz acho melhor você usar.
-Meu deus. É ridículo, é apertado, é... é... Eu não tenho não palavras para descreve essa porcaria.
-E não tente tirar isso durante a festa. Estarei lá com você.
Me virei e olhei pra ela. Ela estava vestida normalmente com uma calça jeans e um jaleco sobre uma blusa verde que dizia "Havard- 2010 seniors".
-Então por que só eu tenho de ir fantasiado de político ?
-Calma, eu vou me arrumar. Além do que a festa vai estar lotada de políticos.
-E templários.- completei
-Agora ande que Paulo te levara até a festa.-disse ela.- Te encontro lá.
Saí do vestiário da Irmandade e me dirige até o saguão do térreo. Lá, encontrei Paulo sentado em uma poltrona mexendo em seu tablet. Ele me ouviu chegar e quando me viu ele arregalou os olhos.
-Sem comentários.- disse antes que ele pudesse falar algo.- Vamos apenas para o carro.
Ele se levantou e juntos fomos até o sedam preto que estava estacionado na frente do prédio. Antes dele ele ligar o carro ele pegou uma maleta que estava no banco de trás e me deu.
-Aqui está o equipamento que vai precisar.- disse Paulo
Abri a maleta e encontrei comunicadores de ouvido, chips e um mini helicóptero de quatro pares de hélice.
-Ok, agora me explique o que cada um faz.- pedi.
-Os comunicadores você usa para de comunicar comigo e com a Ellie. Pegue apenas um. Os chips vão ser usados para copiarmos cada arquivo dos celulares dos templários que acharmos por lá. Você e a Ellie pegaram alguns e caçarão celulares pela festa. O helicóptero você vai soltar ele no ar durante a festa e eu o controlarei remotamente de um telhado do outro lado da rua. Ele tem uma câmera que vou usar para ficar de olho em vocês dois durante o evento.
-Uau.
-Então, vamos?
-Claro.
Ele deu a partida no carro e seguimos caminho em direção à festa. Pude ter uma idéia de como era a festa pela localização dela: Hotel Copacabana Palace, o lar temporário de vários famosos e ricos internacionais e, pelo visto, casa de festa dos templários.
-Como é que eu vou entrar mesmo?- perguntei enquanto Paulo se aproximava da entrada do hotel.
-O porteiro e o recepcionistas são agentes infiltrados apenas mostre seus braceletes para eles que imediatamente te liberarão.
-Ok.- embora soasse normal minha voz eu estava extremamente nervoso. Vários templários e políticos corruptos juntos em um só lugar. A idéia de plantar uma bomba e acabar com todos de uma vez era tentadora, porém também arriscada.
Paulo puxou o freio de mão do carro e saiu dele com suas coisas. Coloquei o meu comunicador no ouvido e o mini helicóptero no bolso do paletó. Saí do carro e já não vi mais Paulo perto de mim.
-Testando, testando.- ouvi pelo comunicador.-Consegue me ouvir, Luca?- perguntou Paulo através do aparelho de comunicação.
-Alto e claro.- respondi.
-Ótimo. Entre logo no hotel.
Me aproximei das escadas que davam à porta do saguão de entrada do hotel. No fim das escadas eu encontro meu primeiro recepcionista. Me aproximei dele e disse:
-Sou eu.- ele me fez uma cara de bobo como se não soubesse do que estava falando.- Sou EU. O "cara".- Suspirei. Ainda nada.
-O bracelete, senhor.- me avisou ele.
-Ah, desculpe.- ergui um pouco minha manga esquerda do paletó e mostrei a ele meu bracelete da irmandade.
-O salão da festa está no lado esquerdo do saguão de entrada.
-Obrigado.
Segui caminho pelo lindo saguão de entrada do hotel. Ele era enorme. Ele mesmo poderia ser palco de uma festa. Localizei a porta que levava até o salão de festas. Na frente da porta estava outro porteiro. Me aproximei e ele perguntou:
-Por favor, seu nome e convite.
Não cometi o mesmo erro e mostrei a ele o bracelete. O porteiro me guiou naturalmente até o salão como se eu fosse um convidado comum.
-Paulo, entrei.-falei pelo comunicador.
-Ótimo, agora ligue o helicóptero.
Peguei o helicóptero do meu bolso e o liguei. Imediatamente ele voou da plana da minha mão até os ares do salão de festa. Enquanto observava ele voar eu percebi que o salão era no mínimo 3 vezes maior que o saguão de entrada. O salão tinha o tamanho de umas 4 quadras de tênis, com varias colunas enormes de sustentação que ligavam o chão ao teto. As paredes eram pintadas de amarelo dourado e decoradas com pinturas dos vários os tipos. O salão estava distribuído com mesas e cadeiras, e, ao fundo dele, podia se ver um palco para apresentações e um bar. No alto do salão havia camarotes onde já se encontrava gente conversando.
-Uau.- falei baixinho.
-Luca, foco!- relembrou-me Paulo pelo comunicador.
-Claro, claro.
Olhei para as varias pessoas vestidas elegantemente no salão. No mínimo umas 200.
-Isso vai ser difícil.- comentei.
-Não tanto quanto você pensa.- respondeu alguém ao meu lado.
Me virei e dei de cara com uma garota que era pra ser a Ellie, mas não era a Ellie que eu conheço.
Ela estava usando um vestido longo vermelho que moldava seu corpo e luvas pretas longas. Usava brincos e um colar de prata. Seus olhos estavam realçados pelos cílios delineados e seu rosto pelo batom vermelho, com seus cabelos soltos e cacheados caindo por um de seus ombros pela frente.
-Ellie, você está linda.
Não me pergunte como eu consegui coragem pra dizer aquilo porque eu também não seu.
-Obrigada.- respondeu.- Mas vamos logo fazer o que temos que fazer.- disse ela tomando uma atitude mais séria.
-Claro. Paulo, precisamos de alvos.- chamei pelo comunicador.
-Estou procurando.- respondeu.-Achei dois alvos para vocês. Um deles está no bar e outro em um grupo de conversas.
-Eu pego o do bar.- disse Ellie ja caminhando em direção ao seu alvo.
-Acho que o outro ficou para mim então. Aonde ele está, Paulo?
-Vejamos... Ele está a uns 2o metros a sua esquerda. Ele é um cara de cabelos grisalhos de terno preto e gravata vermelha.
Olhei para a esquerda e me deparei com vários caras de cabelos grisalhos, ternos pretos e gravatas vermelhas.
-Paulo, temos um problema.- chamei.
-O que houve?
-Parece que a nova moda dos políticos de meia idade é usar terno preto e gravata vermelha.Tem vários aqui. O que eu faço?
-Procure por uma Cruz. Templários gostam de se mostrar com acessórios da Cruz templária: Broches, anéis, colares, e outras coisas do gênero.
-Entendido.
Me acalmei um pouco e me concentrei. Fechei os olhos e me foquei em tudo. Abri-os de novo e tudo estava mais realçado, mais nítido, mais detalhado. Procurei a Cruz em um dos caras que estavam dentro da descrição. E lá estava ela no anel de um deles. Um anel branco adornado com uma Cruz vermelha. A Cruz templária.
-Achei meu alvo. Vou avançar.-avisei.
Me aproximei por trás do templário calmamente sem que ele percebesse. Avistei um pequeno volume no bolso de seu paletó e conclui que ali que estava o celular dele. Com muita calma, retirei o celular do bolso dele e me afastei.
-Ok Paulo, estou com o celular. O que eu faço?- perguntei.
-Abra-o e coloque este chip no lugar do cartão de memória. O chip irá copiar todos os arquivos e manda-los para mim. Além disso ele vai corromper o sistema operacional do celular, incapacitando-o por um tempo.
Fiz como ele disse. Abri o celular e posicionei o chip.
-Chip posicionado.
-O meu também.- disse Ellie pelo comunicador.
-Ótimo!- disse Paulo.- Vejo que esta noite será produtiva.
-Temos mais alvos?- perguntei.
-Tem um sentado em um dos camarotes e outro nos bastidores do palco.
-Deixa que pego o do palco.-disse.
-Eu pego o do camarote.- disse Ellie.
Me virei na direção do palco e comecei a caminhar. Quando eu comecei a subir os degraus que levavam até o palco, Paulo me avisou:
-Luca, tem algo que você precisa saber.
-Pode falar.- disse enquanto passava pela cortina.
-Então... esse cara aí, ele está "se divertindo", tornando as coisas mais fáceis para você pegar o celular dele.
-Como assim se diver...
Quando cheguei nos bastidores, havia roupas e objetos jogados no chão e podia se ouvir sons baixos de gemidos.
-Oh. Entendi agora.
-Poisé. Apenas pegue o celular nas roupas.
Achei o celular na calça do sujeito e repeti o mesmo processo do celular anterior. Voltei ao salão e avisei:
-Consegui outro celular.
-Ainda estou trabalhando no meu.- disse Ellie.
-Acho que vou beber algo no bar. Vai ajudar no disfarce e matar a minha sede. Paulo, continue procurando por alvos.
-Pode deixar.- Respondeu ele.
Me dirigi ao bar e pedi uma bebida não alcoólica ao bar-man. Quando eu peguei minha bebida, me virei para encara o salão e esbarrei em uma mulher que passava, derrubando minha bebida no vestido preto dela.
-Me desculpe, eu não a vi...
-Luca?- me interrompeu ela.
Olhei para ela uma segunda vez e reparei em um cicatriz nos lábios dela.
-Júlia?! O que você está fazendo aqui?
-O que VOCÊ está fazendo aqui?!
-Responde você primeiro.
-Meu pai tem amigos importantes, por isso estou aqui. Agora responda.
-Eu fui convidado.- menti.
-Por quem?
-Pelo amigo do meu tio. Ele não pode vir então eu vim no lugar dele.- essa foi a mentira mais rápida que já criei na minha vida. Eu não podia contar pra ela o que estava mesmo fazendo ali. Pelo visto ela caiu na mentira pois disse:
-Pelo visto eu não vou ficar mais entediada neste lugar. Quer dar uma volta e conversar?
Eu não podia parecer muito suspeito então aceitei o convite dela. Reparei direito na Júlia e ela também arrumada. Ela vestia um vestido preto que na saia era cortado deixando a amostra parte de sua perna. Ela esava maquiagem preta o que a deixava com um ar intimidador. Seus cabelos estavam mais cacheados do que o normal por conta de algum tratamento ou algo do tipo. Eu não entendo muito dessas coisas.
-Então, me explica direito isso. Como você veio parar aqui?- perguntei.- Esse não parece ser seu tipo de festa.
-Meu pai é um empresário. Ele é sócio de varias empresas pelo estado, o que faz dele um pessoa "importante". E não se engane, esse não é meu tipo de festa
-Não entendi o sarcasmo.
-Ah, sei lá, meu pai pode até ser importante em nível nacional mas ele mal passa tempo em casa. É como se nós nem nos conhecêssemos.
-Entendo, que chato isso.
-Muito.
Percebi que o humor dela ficou meio pra baixo então decidi mudar de assunto:
-Então, você ainda mantém contato com a galera da nossa antiga turma?
-Tipo a Karin, Vítor e o resto do povo?
-Sim. Como eles estão?
-Bem, eu acho. O Vítor está morando na Itália e a Karin está estudando para ser desenhista.
-Você lembra, acho que tínhamos uns 5 anos, que a Karin teve essa idéia maluca de tentar fugir da escola.
-Lembro. Ela até conseguiu abrir o portão da escola.
-Mas aí ela viu um mendigo na rua e saiu correndo chorando de volta pra escola.
Nós rimos um pouco nos lembrando disso.
-Você lembra do dia em que fiz isto?- perguntou ela apontando para a cicatriz do boca.
-Está falando do dia em que você caiu de boca na pedra do parque da escola? Como eu ia me esquecer disso?
-Mas pelo visto você se esqueceu que você chorou mais que eu.-lembrou-me ela.
-Disso eu não lembro.- disfarcei.
-Sei... Eu abro a minha boca em um acidente feio e você que sai chorando.
-Ei, o que você esperava de mim? Minha amiga havia se machucada. Eu estava preocupado.
-Muito fofo de sua parte.- disse ela com sarcasmo.
Nessa hora eu senti meu rosto corar um pouco.
-Luca!- escutei a Ellie me chamando. Me sangue gelou nessa hora.
-Luca, consegui pegar.- disse ela quando chegou perto.
-Legal.- respondi nervoso.
Ela olhou pra Júlia e perguntou:
-Quem é essa?
-Ellie, conheça a Júlia. Júlia, conheça a Ellie.
A expressão da Ellie mudou para algo irreconhecível. Elas se compartimentaram normalmente.
-Então você que é a Júlia?
-Já falaram de mim pra você?
-Não exatamente.
-E falaram bem de mim?
-Sim, mas pelo visto exageraram. Você não é tudo o que me falaram.
-Oi?
-Você sabe... eu esperava mais.
-Esperava o que de mim? Eu nem te conheço!
O clima estava começando a ficar meio tenso entre as duas. Graças a deus, ou não, Paulo chamou pelo comunicador:
-Cara, sai daí agora.
-Ali estão eles! Peguem os Assassinos.-gritou um alguém do outro lado do salão.