Musica: Avenged Sevenfold - Hail To The King
Estava escuro, e a unica luz, ali vista, era o brilho dos olhos deles. Capturados, sucumbidos aos caçadores, os vampiros estavam algemados e acorrentados nas pernas e nos braços. Os ferimentos curavam-se lentamente, estavam fracos, muito fracos.
Escoltados por cinco carros cheios de Projetos, os vampiros foram levados ao refúgio mais próximo. O destino inicial seria o refúgio onde Selena havia ficado, mas por ter sido destruído, os forçou a viajar por mais tempo.
Drake e os outros se mantiveram em silêncio, tal como imóveis, além da probabilidade de haver escutas escondidas dentre eles, gastar energia era inviável. O vampiro já estava se preparando psicologicamente para a humilhação que passaria ao chegar naquele refúgio, tal como a dor de ter suas presas arrancadas.
A viagem pareceu durar dias, mas levou cerca de dezoito horas para ser completa. O caminhão parou, despertando os vampiros que haviam adormecido. O calor abafado dentro do local fez eles deduzirem que era dia, e um dia de sol forte. Seria difícil para eles suportarem o sono, a fraqueza, mas teriam que ser fortes.
A porta do caminhão foi aberta de forma brusca, fazendo com que a claridade entrasse sem aviso. Os vampiros fecharam os olhos, até se acostumarem com a luz em seus rostos, ao abri-los depararam-se com os Projetos do lado de fora, encarando-os com sorrisos vitoriosos, e atrás deles o aglomerado de caçadores que os aguardavam.
Com dificuldade eles se ergueram, também olhando-os. Drake controlou sua fúria, manteve-se estável, frio. Heigi era mais temperamental nesse sentido, e por isso a todo momento se imaginava arrebentando aquelas correntes, e avançando contra eles, matando-os um a um. Ele tinha forças para isso, o sangue de Drake ainda corria nele, porém, assim como seu amigo, ele segurou seus instintos, e manteve-se calmo.
— Parece que agora não são tão fortes, não é? — O Projeto perguntou, sem mascarar o tom debochado. Drake dirigiu seu olhar para ele, ainda frio e inexpressivo. — Saiam. — Mandou.
Drake teve engolir seu ego e ser maleável, odiava receber ordens.
Ainda em silêncio eles caminharam até a saída, suas posturas eretas davam a impressão de que não estavam tão fracos assim, e isso fez alguns caçadores os temerem. Desceram do veículo, sem apresentar muita dificuldade, mas incomodaram-se com a leve ardência que a luz solar causou ao atingir suas peles. Talvez tenha sido por isso que surgira o mito de que vampiros queimavam no sol. Bom, a exposição repentina depois de muito tempo sem receber raios ultravioletas na pele, causava uma sensação de queimor que não durava muito, mas era ainda assim bem incômoda.
— Diga-nos seu nome, você, de olhos dourados. — Mandou novamente o Projeto com voz firme. Os caçadores observaram Drake o fuzilar como olhar, e um expressão de preocupação surgiu em seus rostos.
— E que diferença faz meu nome? — Perguntou, controlando sua raiva.
— O nosso líder quer saber — Respondeu ríspido. Um sorriso sádico surgiu no rosto de Drake.
— Eu não me importo com o que seu líder quer ou deixa de querer. — Retrucou. O Projeto enfureceu-se e levou sua mão a cintura e retirando sua arma. A apontou para Drake, de modo que se o disparo fosse efetuado, abriria um buraco bem no peito do vampiro.
— Dirija-se a mim dessa forma de novo e morrerá! — Ameaçou, com o dedo firme no gatilho. Drake deu dois passos à frente, se aproximando. Todos ficaram apreensivos, Drake não aparentava ter se intimidado com as ameaças.
— Você não vai me matar, nem ninguém aqui, afinal seu líder quer nos ver, não? — O desafiou, mantendo aquele mesmo sorriso. O Projeto rangiu seus dentes furioso, mas se conteve.
— Você tem razão, mas eu tenho permissão para fazer isso. — Disse dando em seguida, um forte soco em sua barriga. De dor, o vampiro acabou se ajoelhando. — E assim que vocês devem ficar: ajoelhados perante nós, e não o contrário.
Heigi olhou para o amigo, se ele havia ficado furioso pelo o que o caçador havia dito, nada se compararia a raiva de Drake. Ele sabia que o vampiro não estava tão fraco, com esforço ele poderia se soltar e acabar com muitos ali, no entanto seria morto em seguida. Temeu que o amigo perdesse a cabeça, mas ao mesmo tempo o conhecia bem. Drake era como um balde, e a cada vez que era provocado sem poder reagir, ele enchia esse balde de água, retendo a raiva. Esse é o pior tipo de pessoa, pois quando a água transborda, o caos e irreparável.
— Diga mais algo vampiro. — Outro Projeto mandou, sem obter resposta.
O silêncio do vampiro gerou gargalhadas por parte dos caçadores. A humilhação que estava passando certamente estava o abalando emocionalmente, e ele mesmo resistente estava por um fio.
— Tragam a forçadeira e a truquesa.
O caçador referia-se a um equipamento criado especialmente para forçar a boca de um vampiro se abrir, e deixando apenas as presas livres. Obediente o Projeto rapidamente veio com as duas ferramentas, entregando-as prontamente. Seu olhar desceu para Drake, e seu contentamento ficou mais do que perceptível. Pelo o que o Projeto havia pedido, não era difícil imaginar o que fariam com aquilo.
Três Projetos se puseram atrás de Drake, dois seguraram seus braços, e um puxou sua cabeça para trás, fazendo com que ela se levantasse. Com os lábios para cima, era fácil para o Projeto fazer o que queria, por isso Drake não relutou, deixou que ele enfiasse a ferramenta em sua boca.
A mesma se assemelhava a um alicate, com dois "braços" que deviam ser abertos para que sua "cabeça" também abrisse. A ferramenta encaixou-se perfeitamente na boca Drake, suas presas foram as únicas expostas. O Projeto levou a ferramenta para um dos caninos, segurando-o. Impiedosamente ele puxou, arrancando o dente pela raiz. Drake quis gritar, mas o objeto em sua boca permitiu apenas que ele gemesse alto com a dor aguda que correu por todo seu rosto. O Projeto se divertiu com o sofrimento de Drake rindo alto, acompanhado dos outros. Em seguida fez o mesmo com o outro dente.
Para certificar-se de que outros caninos não nascessem, ele sacou sua espada, e enfiou na barriga de Drake. A dor foi doce, comparada a que sentiu ao ter o que mais lhe definia como vampiro arrancado de si. Drake tombou, seu sangue manchou o chão, sua vista embaçada fitava os pés do Projeto, que se dirigiu para trás dele, sumindo de sua visão.
Ele sabia para onde o Projeto ia, e lamentou-se por não poder impedir que fizessem isso com Heigi e outros. Sua força se esvaiu de tal modo que nem seus olhos conseguiu manter abertos, acabou apagando.
Do primeiro andar, escorado nas grades que cercavam as passarelas — numa medida de segurança — Ítalo observava os últimos. Era horário de intervalo, o pátio estava lotado de caçadores, que transitavam de um lado para o outro, uns com marmitas na mão, outros apenas aproveitando o momento para descansar.
— Senhor. — Ouviu uma voz feminina atrás de si o chamar. Ítalo virou-se, a general mantinha-se de cabeça baixa.
— Sim?
— Trago boas notícias. — Disse erguendo o olhar, singelamente.
— Capturaram ele?
— Sim senhor, ele e mais cinco. — Respondeu, um largo sorriso surgiu no rosto dele.
— Isso são ótimas notícias! Eu sabia que o capturariam, ninguém pode se esconder por muito tempo.
— Disseram que ele tentou armar uma emboscada, mas acabou dando errado. — Contou.
A gargalhada de Ítalo ecoou pelo local de forma tão intensa que chegou ao último andar aparentando ser mais alta do que realmente foi.
— E esse o líder que tanto impõe medo em meus homens?
— Só que perdemos mais de mil Projetos nessa batalha senhor, outros quinhentos estão danificados. — Advertiu. Ítalo virou-se para ela, encarando-a, a caçadora abaixou a cabeça novamente.
— Um déficit de mil Projetos não é nada comparado a captura desse... vampiro. Estou ansioso para vê-lo, e saber por que ele causa tanto medo em vocês. — Disse sério. — Também o teme Akame? — Perguntou. A jovem asiática ergueu o rostonovamente, o olhar frio de Ítalo a deixou apreensiva.
— Não senhor, não posso temer o que ainda não vi.
— Foi prudente em sua resposta, eu não quero medrosos, eu quero caçadores, assassinos de vampiros, e espero que continue a não temer. — Falou ainda mais sério, a mulher assentiu com a cabeça.
— Posso me retirar senhor?
— Vá, e conte aos outros sobre a grande notícia. — Mandou, a mulher virou-se saindo dali.
Ítalo voltou a observar os caçadores, que olhavam para cima, provavelmente tentando entender de onde aquela gargalhada histérica havia partido. Ele estava confiante, visivelmente contente, e ansioso, ansioso para saber quem era seu principal rival.
Aquela parede fria congelava as costas de Drake, e sua blusa fina contribuiu para que a sensação fosse ainda mais incômoda. Sentando ao chão, transtornado, Drake se escorava no concreto pintando de cinza esverdeado. O sangue seco em sua boca não lhe incomodava, mas seus dentes ainda doíam, e a falta das presas muito o incomodava. De todas as lutas que teve que travar, esta estava sendo a mais difícil, a mais tensa de se lidar.
Heigi mantinha-se da mesma forma, na cela ao lado de Drake. Era o mais forte, por ter bebido o sangue do vampiro, por isso suas presas voltaram a crescer, lentamente. Isso o preocupou, já que a ideia era aparentar de fato vulnerável, se eles o verificassem e percebessem seus caninos novamente nascendo, o plano seria colocado em risco.
Temendo que isso pudesse acontecer, ele fez suas unhas crescerem e levou sua mão para baixo de sua blusa. O vampiro rasgou seu peito até o umbigo, o sangue misturou-se com sangue seco originado pelo golpe em sua barriga, horas antes. Agora, a cura que era direcionada a suas presas, focaria seu peito, suas forças acabariam, e ele ficaria no mesmo estado que os outros.
Não eram apenas eles os presos ali, haviam também centenas de outros capturados, e eles estavam desesperançosos. Aqueles que pensavam ser as peças chaves para ganhar a guerra estavam presos, também tinham sido capturados. Não havia motivos para ter mais esperanças de sair dali, de saírem vivos, e seus olhares desolados pairaram sobre Drake. O silêncio foi mantido, arriscar dizer algo poderia adiantar o destino deles.
Porém mesmo destruído por dentro, Drake concentrou sua raiva crescente na sua força de vontade em fazer dar certo, em acabar com a Ordem. Também sabia que Selena estava agindo do lado de fora, sabia que não estava sozinho.
— Cada vez mais vampiros estão se juntando a nós, depois do que aconteceu ontem, muitos estão revoltados. — Leticia a informou enquanto se aproximava. Selena se mantinha sentada na beirada de uma das janelas do castelo, observando aquela vista caótica.
— Aquele momento em que você percebe a diferença de vampiros e caçadores, se fosse eles, com certeza iriam se amedrontar, mas mesmo perdendo a batalha... parecemos ficar mais fortes, mais unidos... — Disse pensativa.
— Mudamos muito depois da nossa transformação, não é?
— Pra melhor eu diria, sou forte o suficiente para não ser mais a garota indefesa que precisa ser protegida porque morre com um tapa. — Virou-se para amiga, olhando-a. Leticia riu, acompanhada dela. — Estava pensando, recrutar vampiros não será o suficiente, precisamos ajudar eles, que já estão lá dentro.
— Sim, mas agora não temos o Drake aqui para pensar numa loucura que tem 99% de chances de dar errado, e dá certo.
— Espera, você tem razão! — Disse em tom alto, como se fizesse uma descoberta. — O Drake, ele sempre tem planos mirabolantes que dão certo, mas esse, ele não planejou minuciosamente como das outras vezes...
— Deve ser porque por causa da pressão de vencer essa guerra, sei lá, estava desesperado.
— O Drake e frio quando quer, ele não iria cometer o mesmo erro que cometeu com os lobos. — Raciocinou aproximando-se da amiga. — Daquela vez, ele não contava com a bruxa, e aconteceu o que aconteceu, ele não iria vacilar de novo. — Argumentou, Leticia ficou pensativa.
— E verdade, mas então o que ele quer, porque esse plano dele e suicida.
— Ele sabe que eu vou ajudar ele, ele sabe... o problema e que eu não sei o que fazer... — Levou uma mão na cintura, enquanto a outra vai para seus lábios. — Eu tenho que pensar como ele, se eu fosse ele, o que eu faria? — Perguntou, mais para si mesmo do que para Letícia.
— Não sei, você quem ficou ligada a ele, ninguém mais que você conhece o Drake. — Disse. Selena a olhou pensativa por um momento, ela tinha razão.
O que Drake queria? Se ele queria ajuda, por que não havia pedido? As respostas para essas perguntas era o que mais queria no momento, no entanto sabia que isso era o de menos, ela tinha que pensar em um jeito de ajudar Drake e os outros. Não era fácil pensar como ele, ela não tem a mente maluca dele, por isso ela precisou contar com seus poderes de iluminada, eles podiam ajudar em algo.
Ela afastou-se da amiga, e concentrou-se em seus poderes, esforçou-se para controla-los, para ver o que era necessário para ajuda-la naquele momento. Por um breve momento, ela os dominou, e num flash rápido ela viu algo que clareou sua mente. Não conseguiu manter por muito tempo, acabou perdendo o controle de seus poderes, e visões aleatórias vieram, nenhuma útil. Frustrada por não poder ver mais, ela fez sua consciência retornar, e uma ideia floresceu.
— Leticia, eu tenho um plano.
— Ai meu Deus, agora é você...