Capítulo 58

5.2K 488 125
                                    

Musica: Adele - Hello

— Vamos, eu quero saber, quem é Miriam? — Seu pé batia insistentemente contra o chão. Os braços cruzados e a cara fechada deixaram Heigi ainda mais tenso.

— Lê, calma eu posso explicar... — Levantou-se aproximando devagar, como se quisesse amançar uma fera.

—Você tá achando que eu sou otária? Que vai me convencer com essa fala clichê que todo homem diz quando fez merda?

— Eu não sou "todo homem", e você sabe disso. — Tais palavras, ditas num tom de indignação, mostraram que ele não gostou nem um pouco de ser comparado com qualquer um.

— A claro, ter presas e beber sangue faz você ser muito diferente mesmo... realmente... — Virou o rosto irritada. A ironia em sua fala fez Heigi suspirar fundo, ele realmente devia explicações.

— Foi ela quem me transformou. — Revelou. — Foi ela. — Repetiu, como se aquilo lhe lembrasse de um passado sofrido, um trauma. Confusa, Letícia o olhou, e ele desviou o olhar.

— Como?

— Foi ela quem me transformou em vampiro, e eu carrego o trauma desse dia até hoje. — Abaixou a cabeça.

O ciúmes de Letícia deu lugar a um sentimento de arrependimento. Foi a primeira vez que viu o vampiro daquela forma, tão frágil.

— Me desculpa. — O abraçou se sentindo mal, muito mal, tanto por desconfiar dele, quanto por fazê-lo sofrer por lembrar de seu passado.

O vampiro fecha os olhos, recordando-se de sua vida humana . Talvez aquilo o atormentava pois guardava aquelas lembranças para si mesmo, e apenas Drake sabia sobre.

Letícia o puxou, fazendo-o sentar na cama, também sentou-se, ao seu lado.

—Pensei que... — Tentou começar a se justificar, mas Heigi a interrompeu.

— Eu vivia com minha família em uma cidadezinha afastada, no Japão ... — Começou a contar, e pausa brevemente, continuando: Meus pais decidiram sair da cidade grande no intuito de ter uma vida tranquila. Eu não estava muito feliz com isso, gostava da minha vida em Tóquio, mas meus pais estavam felizes e eu queria mantê-los assim.

Eu era filho único, mas minha mãe e meu pai queriam me dar um irmão, sem ao menos me perguntarem se eu de fato queria um. A verdade é que eu gostava de não ter que dividir as coisas e de não ter a responsabilidade de ser o "irmão" mais velho.

Até então eu não sabia de nada, mas minha mãe estava grávida. Eu já estava matriculado numa escola, porém mesmo sendo a mais próxima do vilarejo, ainda era longe, então eu pegava sempre um ônibus para ir.

Já era meu sexto dia de aula, me lembro do sol quente e do calor excessivo. O ônibus como sempre estava vazio, para meu alívio. Mas o meu sossego foi interrompido quando um garoto sentou ao meu lado, com o mesmo uniforme azul escuro que o meu. Usava óculos e substituindo uma mochila, carregava uma pasta.

"Oi, você é novo na vizinhança, não é" Me perguntou, após tê-lo fitado rapidamente, eu tinha virado o rosto para a janela, mas a pergunta que me ele me fez me forçou a encará-lo de novo . "Sim" respondi virando o rosto novamente, mas ele, insistente em puxar assunto, fez outra pergunta: "Você não é do tipo sociável, né" Eu não o respondi, estava entediado, sentindo um calor da porra, só queria chegar logo naquele purgatório também conhecido como escola.

Letícia riu.

Eu tinha uns quinze anos na época, e suponho que aquele garoto também tinha. Eu estava no primeiro ano do ensino médio, pra variar, tinham os famosinhos escrotos da escola. Eles eram esnobes e irritantes, um em específico eu não fui com a cara , era um viado que dava uma de homem e badboy, vivia com seu grupinho, tudo viado também.

Anjos do AnoitecerKde žijí příběhy. Začni objevovat