Arthur
Olho a ruiva à minha frente, sobre a lente da câmera, admirado. Ela nasceu para para aquilo, seus movimentos faziam a máquina em minhas mãos segui-la para capturar tamanha beleza, seus olhos verdes, seu sorriso encantador, seus cabelos com uma cor diferente de paixão e até mesmo a sua silhueta ficavam ainda mais belos quando pousava em frente a câmera.
Kyara e eu não nos demos muito bem quando nos esbarramos por acidente, há alguns dias atrás, no hall do hotel onde estamos hospedados. Eu não a conhecia até sermos formalmente apresentados, naquele mesmo dia, em uma reunião com toda a equipe. Desde então, prometemos deixar o incidente do primeiro encontro de lado e estamos dando o nosso melhor para trabalhar em conjunto.
— Isso! — exclamo ao fazer mais um clique. Eu amava o meu trabalho, mas amava ainda mais modelos que entravam em perfeita harmonia com a câmera, Kyara é esse tipo de modelo. — Agora deixe o seu corpo levemente virado para trás e olhe para mim por cima do ombro.
Kyara trajava um dos mais belos vestidos de noiva da marca para a qual estávamos fotografando. Além do modelo, a mulher que o vestia, com as suas poses delicadas e olhares apaixonados, também transbordava toda a imagem que o contratante e eu queríamos passar, algo parecido com pureza. Afinal, é isso que você tem antes de se entregar por completo a um amor. Em suas mãos, ela segurava um buquê de rosas vermelhas, simbolizando a paixão. Metade dos seus cabelos ruivos estavam presos e o resto que caíam sobre os seus ombros brilhavam como fogo à luz do sol que começava a se pôr.
O cenário à nossa volta era a Pont des Arts. O lugar havia sido escolhido a dedo pela marca de vestidos de noivas como um dos pontos para as fotos que deixariam qualquer casal querendo subir ao altar.
Depois de mais alguns cliques, eu solto a câmera deixando a mesma cair sobre o meu peito e ficar pendurada pela alça.
— Acabamos. — Gusttavo, o meu assistente, anuncia.
Toda a equipe comemora com uma salva de palmas por mais um dia de trabalho concluído.
— Gus, coloque todas as fotos no computador, por favor. — peço ao tirar a câmera do pescoço e entregar para ele.
— Ok. — ele assentiu ao pegar a câmera e seguir para uma das tendas que estavam armadas pelo local.
Sem me incomodar com os olhares, caminho até o parapeito da ponte e recosto-me no mesmo de frente para a água.
Fecho os olhos por um instante e sinto uma leve brisa bater no meu rosto. Minha mente me leva para Londres, em um dia feliz que tive com o Katie e Benjamin, enquanto o som da água correndo vagarosamente embaixo da ponte e dos pássaros cantando no céu invadem os meus ouvidos.
— É um belo lugar para estar com quem amamos. — as palavras escapam ao mesmo em que um sorriso se forma nos meus lábios.
— Concordo. — abro os olhos e viro-me abrupto ao ouvir a voz de Kyara atrás de mim. Ela já não usava mais o vestido de noiva, agora o seu corpo era coberto por um vestido azul com desenhos de pequenas flores e os seus cabelos estavam presos em um coque frouxo. — Não me canso de fazer isso. — ela deu um passo à frente, debruçou-se no parapeito e fixou o olhar na água. Pude notar o sorriso em seus lábios.
— De admirar a água? — perguntei, ao recostar-me ali novamente.
— Não. — sua atenção foi voltada para mim. — Eu vinha aqui quando criança e me debruçava nesse parapeito enquanto os meus pais faziam juras de amor nessa ponte.
— Você devia adorar, isso é quase como algo radical para uma criança. — meu tom é brincalhão.
— Sim, eu adorava. — ouço a sua risada. — Em quem estava pensando?
Meu rosto se voltou para ela por completo, a expressão intrigada.
— Quando eu cheguei, você estava com cara de bobo e depois falou algo...
— Eu estava pensando na minha noiva. — limitei-me a dizer.
— Ah. — ela volta a atenção para a água. — Realmente, é um lugar perfeito para estar com quem amamos.
— Arthur... — Gusttavo chama por mim. — está pronto. — avisa quando me encontra com os olhos.
— Obrigado. — aceno para ele.
— O que está pronto? — Kyara pergunta.
— Eu sempre vejo as fotos no hotel, mas hoje eu resolvi mostrar algumas para o pessoal. Quero saber se estão ficando como desejadas. — me afasto do parapeito. — Você vem?
— Sim. — assente ao tomar à frente.
Seguimos para a tenda. Entramos na mesma no minuto seguinte.
Caminho até a pequena mesa e sento-me na cadeira atrás da mesma. O lugar já estava ocupado por parte da equipe. Mexo no aparelho à minha frente e, em questão de segundos, as fotos aparecem na tela. Clico na primeira e começo a passar por cada a delas, mostrando-as para todos.
— Estão lindas! — Dianna uma das assistentes da marca exclamou.
— Você também fez mágica nas fotos de ontem à noite. — Lívia, representantes da marca, diz.
— Fotografia é mágica, Lívia. — Gusttavo rebate, o tom macio.
— Isso mesmo, Gus. — concordo.
— Espera! — Kyara me assusta ao colocar a mão sobre a minha me fazendo parar de clicar no botão.
— O que houve? — Lívia dispara, preocupada.
— Essa foto. A última de hoje. Ela está perfeita. — Kyara sorria, satisfeita.
— Você me assustou. — olhei de relance para Gus que estava com a mão no peito ao falar.
— Essa pode ser apresentada como um spoiler da campanha no coquetel de hoje. O que vocês acham? — Lívia olha para todos.
— Está linda e vai ficar ainda mais linda em uma enorme tela ou quem sabe em um autdoor bem na entrada do salão de festas, hum? — Gusttavo dispara fazendo todos rirem.
— Você é exagerado. — Lívia atira. Ela e Gus tiveram algo no passado, por isso se tratam de forma menos formal.
— O que você acha? — Kyara fixou os olhos nos meus, aguardando ansiosa por uma resposta.
— Eu acho ótimo. — desvio os olhos dos seus e volto a fitar a tela. — Ela está realmente perfeita, e vai ser bom para a publicidade.
— Gus, venha comigo, por favor. Quero que me ajude com isso. — Lívia caminha para fora da tenda seguida por ele.
— Não é apenas a mágica da fotografia. — Kyara se mantinha imóvel ao meu lado, percebi que a sua mão ainda estava sobre a minha. — Você é bom no que faz.
— Obrigado. — sorrio, contido.
— Tenho que ir. — pigarreou ao afastar a mão. — Nos vemos no coquetel?
— Sim. — assinto.
— Até mais. — acena.
— Até mais. — digo antes de vê-la sair da tenda. Continuo verificando as fotos na tela à minha frente, eu ainda precisava fazer umas edições.
**
Gusttavo caminhava de um lado para o outro no hall do hotel, ele não era o único a estar impaciente, pois passavam das nove e Kyara ainda não havia descido para seguirmos à festa organizada pela marca.
— Mulheres estão sempre atrasadas. — Gus balbuciou ao parar, olhando para o relógio em seu pulso.
— Ei! — Lívia rebateu fazendo uma careta para ele.
Senti algo vibrar no meu bolso, retirei o aparelho celular dali e não consegui evitar o sorriso ao ver o nome Katie estampado na tela.
— Volto em um minuto. — avisei para eles antes de me afastar.
Atendi a ligação em seguida.
— Amor... — ouvi a sua voz macia do outro lado da linha.
— Estou com saudades. — foi primeira coisa que disse.
— Eu também. -– falou, a voz baixa.
— Tudo bem? — perguntei.
— Sim. — afirmou, mas notei que havia algo diferente em sua voz.
— Tem certeza? — insisti.
— Eu não consigo esconder nada de você de qualquer maneira. — confessou.
— Fico feliz e aliviado sabendo disso. Agora me diga, o que houve? — eu já estava começando a ficar preocupado.
— Eu não sei por onde começar...
— Apenas vá direto ao ponto como sempre. — disparei, cortando-a.
Ela fez uma pausa, a única coisa que eu conseguia ouvir era a sua respiração pesada. Engoli em seco receoso do que estava por vir.
— Bryan está aqui. — as palavras foram ditas tão apressadas que, se eu estivesse distraído, não teria entendido. — Ele voltou para Londres. — quando continuou mais calma, senti o meu corpo inteiro estremecer e um nó se formar na minha garganta.
Um sentimento que nos últimos quatro anos voou para longe de mim se fez presente em meu coração, era medo de perdê-la. Mesmo que tenhamos construído uma relação e que hoje eu seja amado como sempre desejei, sei, mais até do ela mesma, que o que aconteceu entre os dois no passado nunca esteve completamente acabado.
Também sinto pelo Benjamin, porque, com o passar dos anos, nos tornamos algo que eu nem mesmo esperava, já que não tinha a intensão de roubá-lo de seu verdadeiro pai, mas o amo e sei que ele sente o mesmo.
— Você... contou para ele? — a pergunta saiu dos meus lábios em um fio de voz.
— Não. — murmurou.
É errado, mas senti-me aliviado ao ouvi-la dizer que ele ainda não sabia a verdade, que Benjamin é seu filho e não meu.
— Sei que deseja ter a chance de explicar-se para Benjamin e ele também precisa de você por perto. Prometi que estaríamos juntos quando a verdade fosse revelada, mas... não sei até quando irei aguentar olhar na cara dele e continuar mentindo, então, volta logo. — pediu, as últimas palavras quase falhando.
Eu sabia que certo a fazer era pedir para ela contar toda a verdade, mas eu não consegui. Porque agora que sei que o seu verdadeiro pai está por perto, sinto-me egoista, quero estar presente mais do que nunca quando a verdade for revelado para não perdê-lo. É vergonhoso desejar isso, mas, infelizmente, tornei-me ambicioso quando o ouvi me chamar de pai pela primeira vez.
Estou sendo descarado ao querer o filho de outro, mas sinto que morrerei por dentro se perder o amor do menino que tenho como filho, não aguento pensar na possibilidade de nunca mais ouvir a palavra que Benjamin disse do outro lado da linha:
— Papai... Mamãe, é o papai?
— Filho. — não consigo me conter.
— Quando você vai voltar? Eu estou com saudades. — sua voz é manhosa.
Vejo Gus acenar para mim ao longe.
— Logo, filho. Eu prometo que voltarei o quanto antes para te dar um abraço de urso. — contragosto, tenho que avisá-los que irei encerrar a chamada. — Katie?
— Sim? — ela responde.
— Eu tenho que ir. — digo.
— Nós te amamos. — as palavras dela confortam o meu coração.
— Também amo vocês. — meu tom é tão amoroso quanto as palavras.
— Beijos, papai. — a voz de Benjamin é doce.
— Cuide da mamãe, Ben. — peço.
— Tá bem. — ouço o seu tom firme.
— Amo vocês. — digo novamente antes de finalizar a chamada.
Caminho até o pequeno grupo que esperava por mim.
— Até que enfim. — a expressão de Gus era impassível.
— Vamos. — Lívia nos fita.
— Vamos. — tomo à frente e caminho até a saída do prédio.
Já no lado de fora, nos dividimos em dois carros. Lívia e Gus foram com outras pessoas da equipe seguidos por Kyara e eu que acabamos ficando sozinhos no carro que aluguei justamente para não ficar dependendo de ninguém.
— Quer colocar algo? — olhei rapidamente para o rádio à minha frente.
— Ah, sim. — ela se inclinou e mexeu no aparelho.
A música soou no carro em seguida. Ross copperman, era uma das minhas preferidas.
— Basta um olhar pra me deixar sem ar... — ela cantarolava. — Eu adoro essa música.
— É uma bela música. — digo ao parar em um sinal vermelho.
O silêncio que se fez dentro do carro foi preenchido pelo refrão da música que veio em seguida: "Porque eu estou em chamas como mil sóis. Eu jamais te queimaria, mesmo que eu quisesse."
Senti os seus olhos pesarem sobre mim, mas continuei com a atenção voltada para a rodovia à minha frente. Estava com receio de que ela pudesse desvendar os meus sentimentos apenas fazendo aquilo, pois era essa a impressão que a ruiva ao meu lado me passava; E, se conseguisse, descobriria que a aparência calma era apenas um disfarce para o meu eu ansioso após a conversa que tive ao telefone.
O sinal finalmente abriu e eu dei partida.
— Você é sempre assim? — disparou no minuto seguinte.
— Assim? — rebati intrigado.
— Distante... — ela ainda pensava nas palavras seguintes quando tomei à fala.
— Não. — soei duro, mas, ao perceber, descontrai. — Na verdade, eu prefiro manter distância de quem me atropela e joga a culpa em mim.
— Eu estava atrasada para a reunião e você estava bem no meio do caminho. — se defendeu.
— Eu? — a olhei de soslaio.
— Você. — afirmou.
— Tá bem, vou aceitar carregar a sua culpa. — atirei por fim.
— Quando te vi na sala de reuniões poucos minutos depois, eu fiquei surpresa. — confessou.
— Não mais do que eu. — também confessei.
— Percebi. Você me fuzilou a reunião inteira. — se endireitou no banco.
— Eu estava pensando nas maneiras de arrancar um pedido de desculpas de alguém que colidiu comigo e jogou a culpa em mim. — sou sincero. Eu realmente não queria ter alguém com quem não me dei bem inicialmente em frente a minha câmera. Isso não seria bom para mim e muito menos para ela. — Já que continua me culpando, o pedido de desculpas daquele dia não foi sincero.
— Desculpa. — pediu.
— É sincero dessa vez? — parei em frente ao prédio.
— Não irei mais jogar a culpa em você, satisfeito? — estendeu a mão em minha direção.
— Sim. — apertei a mão estendida. — Chegamos. — anunciei ao desvencilhar as nossas mãos e soltar o cinto de segurança.
— Isso significa que começamos de novo? — também soltou o cinto.
— Significa que vamos esquecer o que aconteceu e seguir adiante. — saltei o veículo.
— Que bom! Eu estava com medo de sair horrivel em alguma foto como vingança. — ela já estava fora do carro.
— Sério? — pela primeira vez desde que cheguei, ri. — Não acha que eu já teria feito se quisesse?
— Verdade. — mordeu o lábio.
— Senhor? — um homem se aproximou, entreguei-lhe às chaves do carro e ele saiu.
— Você pode? — ela olhou para a sua mão.
— Sim. — hesitei uns segundos, mas acabei por estender o braço e ela entrelaçou o seu.
— Obrigada. — sorriu.
— Ah, não. — balbuciei ao virar-me junto a ela e perceber que a entrada estava cheia de repórteres e fotógrafos.
— O quê? — perguntou, mas percebeu no mesmo instante em que focou a atenção à frente.
— Achei que o evento de hoje fosse privado. — murmurei.
— A marca Drummond é famosa. Eles estão lançando a nova coleção, o que você esperava? — disparou como se fosse óbvio.
— Você tem razão. — concordei por fim.
— Tudo bem pra você? — olhou para o braço entrelaçado ao meu.
Mordi o lábio, pensativo. Por fim, acabei não vendo problema, já que estava somente sendo um cavalheiro acompanhando-a até a entrada do evento.
— Tudo bem. — assenti.
— Vamos.
Caminhamos até a entrada do local. Os repórteres e os fotógrafos nos rodeiaram antes mesmo de chegarmos onde estavam.
— Kyara, uma palavrinha, por favor. — uma repórter pediu ao colocar o microfone na sua frente.
— Falarei tudo na coletiva de imprensa. — Kyara sorriu fraco para ela.
— Arthur, o que podemos esperar para as fotos da coleção? — um deles perguntou.
— Vocês saberão tudo em breve. — limitei-me a responder.
— Vocês estão juntos? — outro disparou, agitando os seus colegas.
— E a sua noiva, Arthur? Kyara, onde está o Bryan? É verdade que vocês estão juntos? — vários flashes foram disparados em nossa direção.
— Saiam da frente! — seguranças os afastavam.
— Venham por aqui. — um dos seguranças nos guiou até a entrada.
Depois de passar por todos eles, escoltados e de quase ficarmos cegos por tantos flashes, entramos no local.
O salão estava cheio de pessoas influentes. Uma música soava ao fundo enquanto alguns caminhavam pelo espaço olhando spoilers expostos da coleção, enquanto outros apenas conversam ou bebiam entre si.
— Então, você está noivo como dizem? — perguntou curiosa.
— Sim. — afirmei, sorrindo, mas logo lembrei de algo que ouvi de um dos repórteres. — O Bryan de quem estavam falando... não pode ser.
— O que não pode ser? — fez um gesto com a cabeça me incentivando a continuar.
— Por um acaso é ele... ele é o Bryan Williams? — a pergunta saiu da minha boca em um tom receoso.
— Sim, é ele mesmo. — afirmou.
— Isso só pode ser brincadeira. — passei a mão nos cabelos, rindo sarcástico.
— O quê? — sua expressão é intrigada.
— Kyara, eu preciso te apresentar umas pessoas. — Lívia se aproximou.
— Eu... — ela tentou falar, mas a interrompi.
— Tudo bem. Eu tenho que cumprimentar umas pessoas. — forcei um sorriso. Apesar de ser verdade o que disse, tudo o que eu queria era voltar para o hotel.
— Tá bem. — ela assentiu antes de sair junto a Lívia.
— Que ironia! — murmurei ao caminhar até um dos garçons, depois de tudo, eu precisava de uma bebida.
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Tadinha da Kyara, ela não sabe de nada kkk
O capítulo foi curtindo, mas prometo que volto logo com uma certa festa da família Williams pra vocês.
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Não se esqueçam das estrelinhas.
Bju's de Kayan pra vocês ♡