Contratos Velados

By JS_Malagutti

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Daniel e Estela se esbarram numa noite em que o céu presenteia a Terra com um rastro de fogo. Desde que os do... More

Corpos que caem
O desespero de uma mãe
As vítimas da ala particular
A visita
A experiência
A verdade e uma ameaça
O sumiço
O caso Anelise
A aparição
Cicatrizes e silêncio
A busca
Em face
Aos poucos se revelam
O vendaval da madrugada
A ajudante
O pacto de silêncio
Não estão sós
Mudança de Planos
Fuga desesperada
Realidade ou ilusão?
A transfusão
Retratos da loucura
Fora de controle
Fábrica de mentiras
Batalha no canavial
O resgate
O Dossiê dos 8
O corredor da morte
Refém
Ele se revela
Lá fora!
Do fundo do poço
A plataforma
Sangue Azul
A viagem no tempo
Operação 53
O reencontro
O bunker frigorífico
O cemitério clandestino
Susto na escuridão
Matar ou morrer!
A proposta
Corra, governador!
Os dias passam
Perdendo a razão
No limbo
Aparições
A Rede
Descortinando os planos
A Conspiração
Uma parte do quebra-cabeça
Queda de Braço
Os próximos e perigosos passos
Revelações
É chegada a hora
Mais deles chegam à Terra
O círculo de abduzidos
O último contato?
Quatro anos depois; o fim.

Xeque!

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By JS_Malagutti

Juciney se mostrou estupefato com a reação de Brenda.

"Não, não e não!" -, disse a moça. "Vamos tirar esse povo daqui e sair com vida!".

Ele a encarou severamente: "O que acontece aqui é muito grande. Tentar flagrá-los e revelar tudo o que tem aqui é a forma mais sensata de nos salvar e salvar mais gente, do contrário, seremos apenas fugitivos" -, tentou o rapaz.

"Acha mesmo que sairíamos com vida de uma empreitada dessas? Você é muito inocente, rapaz!" -, emitiu com agressividade a moça. "Só quero voltar para o colo de minha mãe e de meu pai. Pare de tentar salvar o mundo" -, finalizou a moça.

Juciney não conseguiu encontrar razão para não mudar o panorama da cidade. A olhava com descrédito. Na sua cabeça, o sentimento de raiva pelo egoísmo daquela moça. Mas, no âmago, sabia que ela estava certa: poderiam morrer e morreriam, com certeza!

Estava tudo errado! Contato alienígena debaixo do solo da Vila de São Sebastião não poderia ser considerado algo comum. Ainda mais com uma plataforma repleta de discos voadores. Algo que pudesse ser digno de cinema, mas não da realidade.

A dupla sai da caverna iluminada com destino ao poço. Brenda torcia para que tudo desse certo e Ney seguia em silêncio com seus pensamentos.

Eles existem! Ninguém aqui é louco! Estão monitorando e participando de tudo aqui na terra. Mas porque tudo tão escondido? E, principalmente, porque no fim de mundo que era São Sebastião? Essa perguntava deixava Ney desconfortável.

Qual era o interesse do exército agir veladamente? Se há um contato extraterrestre o ideal não seria compartilhar com a humanidade?

Alguém estava ganhando algo? Havia um contrato?

"Ney, jogue a corda!" -, disse Brenda retirando Ney dos seus pensamentos. Estava tão turvo de questionamentos que nem percebera o caminho de volta.

Desenrolou a corda em silencio e a amarrou num monte de pedras, pois estava fraco para agir sem um 'apoio'. Sabia que puxar um por um ia desgastá-lo ainda mais e o mais sensato a fazer era amarrar a corda em algum apoio e dar nós para as pessoas subirem.

Sentia-se em si o peso da responsabilidade pelas vidas lá em baixo. Tão logo ajustou a corda acendeu a lanterna para dentro do poço para ver os sobreviventes.

Tudo igual. Todos tampando o rosto para a luz não machucar os olhos.

"Acendam a outra lanterna para ajudar" -, pediu. O padre acendeu a lanterna e aos poucos os olhos das pessoas iam se ajustando à luz e só assim podiam se ver e ver tudo como ainda permanecia.

Não houve euforia. Estavam todos cansados, machucados, despenteados e repletos de olheiras. Pareciam estar entregues à sorte. O único ato de vida era ainda o choro contido e tímido de Adam nos braços de Letícia.

A moça prendia a cabeça do jovem em seus ombros a fim de evitar o contato visual com o cadáver da namorada falecida.

"Vamos logo com isso rapaz!" -, ordenou o soldado ranzinza quebrando o clima de solidão e medo que pairava naquele buraco.

"Vamos tirar um por um, tenham paciência!" -, explicou Juciney jogando a corda. "Mas, os soldados têm que garantir que não farão nada para atentar contra nós".

"Para isso eu tenho um jeito" -, sussurrou Brenda entredentes para o rapaz que a encarou com misto de surpresa e susto. Todos preso ali já estavam alterados. Tinha medo do resultado que viria.

"Demoraram para ir à caverna ao lado" -, tentou mexer com o psicológico de Ney. "Não vimos só a caverna, temos novidades para revelar".

"Shiiiuuuu" -, fez Brenda. "Está louco!" -, sussurrou.

Um cabo olhou para o outro com sorriso malicioso: "Babacsa! Não sabem onde estão se metendo" -, disse o mais ranzinza tentando esconder sua dor no braço.

O outro revirou os olhos como quem estivesse cansado de tudo. Silvério percebera o movimento deles. Havia algo de errado naquilo tudo. Resolveu armar um esquema:

"Deixem-me por último, quero fazer uma oração a essa pobre alma que aqui está" -, disse o padre se referindo ao cadáver de Samantha.

Tais palavras entraram nos ouvidos de Adam como um corte de faca afiada a ponto de despertar novamente suas lágrimas e um choro convulsivo.

Silvério se compadeceu. Tudo parecia um grande pesadelo. As horas pareciam não passar e aquilo não acabava nunca.

"Vamos terminar com isso. Eu subo primeiro" -, disse o ranzinza segurando a corda para subir. Num ato de desespero André pareceu despertar do seu mundo voou sobre o soldado com a corda.

O ranzinza caiu batendo novamente seu ombro machucado contra a parede deixando escapar um xingamento: "viado!".

"Não aguento mais. Tirem-me daqui!" -, dizia histericamente o moço puxando a corda e sapateando aos berros afeminados.

Ele não fazia de propósito. Era o instinto de sobrevivência de um covarde não querendo morrer. Queria sair daquele lugar fechado o quanto antes. Não conseguiria mais sobreviver ali por mais nenhum segundo.

Brenda e Juciney puxaram a corda. André estava tão fraco que a perdeu duas vezes. Na última teve o 'insight' de amarrá-la na cintura e só assim conseguiu ser içado pelos jovens.

Já fora do poço não conteve o choro e beijou o chão entre lágrimas e risos. Parecia que se distanciava um pouco mais da zona de morte.

Na sequência do resgate, a corda baixou e Padre Silvério ajeitou Letícia. A jovem parecia ser obstinada. Olhou para Adam do alto enquanto subia como uma mãe que sai de viagem deixando o filho na estação com a metade de seu coração partido em suas mãos.

Silvério tomou o seu lugar. Enquanto era salva, o padre abraçou o rapaz e o acolheu. Adam estava tão fora de si que quase sufocava o padre com o seu abraço esmagador. Seu queixo quase perfurava a jugular do padre diante o aperto.

Enquanto a corda voltava do resgate de Letícia os soldados trocaram gestos delicados e quase imperceptíveis com o olhar e mãos. Silvério percebeu novamente olhando de soslaio e tentando não ser descoberto na sua desconfiança.

"Sua vez, padre" -, disse o soldado ranzinza ao padre.

"Não. Fico com o cadáver para fazer as despedidas corretas" -, insistiu o padre. "Mas, faça uma boa ação meus jovens, subam vocês levando este rapaz" -, disse se referindo a Adam.

O ranzinza olhou para os cabelos de Adam com nojo. Nele tinha sangue do cadáver, mas resolveu cumprir o pedido do padre.

"Ajuda-me aqui, meu braço está machucado" -, disse ao outro soldado. Assim que o ranzinza abraçou Adam, o outro soldado passou a corda por baixo dos braços de ambos e tentou dar um nó.

Enquanto amarrava os dois para o resgate, o soldado mais calmo deixou revelar o coldre com um '38' na cintura.

Agora Silvério entendia os olhares entre eles. Iam deixar que aqueles se considerassem salvos para depois atirá-los novamente no buraco. No ímpeto de garantir a escapada de todos.

"Muita covardia!" -, pensou. Aproximou-se sorrateiramente do soldado e soltou a voz: "Não vou deixar que acabe com a vida deles" -, disse esticando a mão para pegar a arma.

Com agilidade o soldado virou-se acertando um tiro no ombro do padre que caiu ao chão com solavanco.

Rapidamente Ney e Brenda puxaram os dois restantes e enquanto o jovem desamarra a dupla Brenda amarrava as mãos do soldado para trás com pedaços de fios que encontrara na caverna.

"Nunca se sabe quando algo pode fazer falta" -, dizia amarrando as mãos dele. "Uma mulher prevenida vale por duas".

Mal acabara de amarrar o soldado ranzinza, Ney o encostara nas pedras e tentava o amarrar com a outra extremidade da corda.

Do fundo do poço escutavam a voz fraca de Silvério: "Fujam! Deixem que eles apodreçam aqui".

Ney olhou para todos sem saber o que fazer. Nos rostos, o desespero de todos.

"O que fazemos?" -, perguntou.

"Éramos em oito; agora restam apenas cinco" -, disse André com voz acuada e medrosa. "Vamos sair daqui enates que sobrem menos pessoas ainda".

Letícia assentiu com a cabeça que sim. Adam não se manifestou.

"Sendo assim, vamos" -, disse Ney virando-se e saindo. "O prisioneiro fica aí, uma hora os encontrarão e é bom que não estejamos aqui".

"Vocês nunca vão sair vivos daqui. Eles estão por todos os lados. Serão as cobaias do laboratório deles" -, disse o soldado ranzinza sorrindo.

"Veremos" -, disse Brenda desferindo um soco certeiro no nariz do soldado.

O grupo foi seguindo rumo à caverna iluminada.

"Mas, e o padre?" -, perguntou Adam ameaçando voltar.

"Voltaremos para busca-lo assim que estivermos salvos".

Nesse momento ouviu-se o grito do padre e um tiro ecoando pela caverna.

"Tarde demais!" -, murmurou Letícia fazendo um sinal da cruz pela tragédia recém-acontecida.

*****

Era incrível como podiam voar por cima de alguém em um só salto. Mal se desvencilhava de um 'deles' e outro já saltava a sua frente. Estavam apenas brincando com ele, pois, se quisessem, já tinham-no capturado ou acabado com ele.

Corria, apavorado. Corria como nunca. Não queria sentir o que sentia, mas, sim! Estava apavorado. Seus músculos estavam tesos e preparados para sumir no horizonte se preciso. Não negava mais o medo e agora a sua fama estava em jogo.

Ser encontrado como cadáver era o fim do exército e de todo o segredo do contrato alienígena. Seria o primeiro sinal de fraqueza armada envolvida no contrato.

A cada passo dado, mais e mais pernas alienígenas apareciam por trás dele. Aquele canavial parecia não ter fim. Já estava cansado!

Passara a noite acordado em uma gruta ali perto da fazenda. Os uivos e luzes não o deixaram dormir direito. Queria muito poder descansar e fugir desse pesadelo, mas não poderia fraquejar.

Ele era poderoso e admirado por sua capacidade de resolver as coisas sem promover abalo psicológico algum. Doce e dura era a sua fama. Jamais imaginou que em algum dia na sua vida, com a fama que tinha, pudesse se tornar o ratinho da experiência.

Antes, era ele quem dominava os alienígenas e hoje, ele era o alvo.

Ouviu o barulho de uma explosão no ar e viu o céu mudar de cor. Olhou para o lado e viu um campo de força azulada segurando um cogumelo gigante de fogo vindo da direção da casa da fazenda que fugira.

A explosão desconcentrara Zentchen o fazendo capotar por tufos de cana e rola um grande barranco vindo parar na rodovia.

Com as costas no chão e sentindo o sangue correr-lhe o rosto viu do alto do barranco uma legião de alienígenas a lhe observar.

"É o meu fim" -, intuiu o chinês.

Com a mão de ferro que conduziu as experiências era óbvio que eles não lhe poupariam. O dilacerariam sem a menor cerimônia. 'Aqueles bichos' não conheciam compaixão. Isso não fazia parte da cultura deles.

Eles começaram a descer o barranco na direção da pista devagar. Pareciam degustar o prazer de aterrorizar a vítima chinesa.

Zentchen não era dado a se entregar, mas na hora derradeira lembrou-se do amor e pediu aos céus que o salvassem.

Seu pedido foi ouvido.

O ronco de um motor veio do meio da mata pelo outro lado da rodovia fazendo com que os alienígenas parassem a sua caminhada na direção da presa.

Olhavam curiosos para a direção do som. De lá a floresta surgiu um carro que freou bruscamente cantando pneu quase no meio da pista há alguns metros do chinês.

Temendo a morte, Zentchen se levantou e avançou na direção do carro: "Socorro! Socorro!".

O ronco do motor soou novamente mostrando que a partida seria em alta velocidade. Zentchen se sentiu abandonado ao ouvir o som. Desistiu do socorro.

Virou-se de costa para o carro e abriu os braços aos alienígenas e depressivamente bradou: "Vocês venceram. A Terra é de vocês".

O carro zarpou sobre o chinês e o jogou para o alto com tamanha violência que seu corpo girou no ar várias vezes perdendo os sapatos antes de atingir o solo e fazer os ossos estralarem fortemente no chão.

Pelo retrovisor, apenas os pés descalços do chinês atropelado sem dó nem piedade.

Era o fim daquele monstro assassino?


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