Musica: Kygo, Selena Gomez It Ain't Me
Me vi em uma estrada, frente a uma casa no meio do deserto. Ventava muito e areia ofuscava minha visão. Levei os braços até o rosto, tentando proteger meus olhos daquela ventania, foi aí que percebi que estava de pijama e deduzi que isso aqui trata-se um sonho.
A casa era bem simples, porém ajeitada. Senti vontade de entrar, aparentava ser aconchegante, mas eu tinha a sensação que algo me impedia.
Olhei ao redor, a poeira era tão densa que eu não via nada no horizonte. Foi aí que notei alguém se aproximando, caminhando calmamente pela estrada, vindo em meio a poeira.
Essa pessoa se aproximou o suficiente para eu conseguir distinguir quem era: Henrique. Ele vestia a mesma roupa de antes, porém havia um buraco em seu peito, onde a estaca havia atravessado. Seus olhos ainda brilhavam, mas não senti nenhuma raiva naquele momento. Ele era um vampiro, mas era meu amigo acima de tudo. Henrique parecia feliz, esbanjava um sorriso alegre. Aquilo me tranquilizou.
— Oi Selena, quanto tempo! — Falou aproximando-se e me puxando para um abraço. Eu devolvi, afinal sentia sua falta.
— Você tá bem? Pensei que estivesse morto! — Falei. Ele se afastou, e segurou minhas mãos sem parar de sorrir.
— E estou — Disse, acrescentando um bug na minha mente. — Mas meu espírito vaga por esse lugar. E estou sabendo de algumas coisas que não estão me agradando não. — Aquele sorriso se desfez por um momento, agora Henrique me olhava sério.
— Não me vem com suspense, odeio isso.
— Ei, ei calma. Como eu disse, meu espírito vaga por aqui. Ainda tenho uma conexão muito grande com a Terra. Acho que morri antes da hora... — Pausou desviando o olhar. — Eu estou a muito tempo procurando essa casa — Contou olhando aquele casebre, me virei para trás e olhei também. Por que ele queria entrar naquele lugar?
— Não tô entendendo, mas tô compreendendo. — Brinquei me virando, ele riu alto. Aquela expressão de preocupado se esvaiu dando lugar aquele sorriso de antes. Quando eu morrer, também quero ficar assim, rindo até pro vento.
— Estive juntando energia o suficiente para falar com você e consegui. — Ele disse e eu o olhei bem confusa, como assim juntar energia pra falar comigo? — Bom, devido as circunstâncias eu não posso te contar muita coisa. Meu espirito estava fraco, tive que ficar mais forte, pra conseguir falar com você. E agora que consegui posso entrar na casa. — Ele disse e eu o olhei com expressão de tédio. Já vem com esse papo, não entendo esse suspense, puta que pariu. — É que isso e uma pendência, eu tinha que falar com você antes de partir, por isso não estava achando essa casa. — Esclareceu. — Mas o que eu quero te dizer é que o Luke e a Lucia não são quem dizem ser, eles querem te matar, eu não sei ainda o porquê, mas sei que querem. Fica esperta com eles por favor, não só você, mas Victor e Leticia também. — Aquela expressão de preocupado retornou, mais forte que antes, me deixando com medo.
— Se eles querem me matar, eu tenho que sair do refúgio. — Abaixei a cabeça. Até ele ta pensando isso, e ta morto. Só pode ser verdade...
— Eles não vão fazer nada agora, mas tome cuidado mesmo assim. Eu sei de algumas coisas, mas não sei de tudo. Eles podem mudar de ideia e é por isso que você deve ficar atenta. — Ele ainda continuava sério. Levando em consideração os últimos acontecimentos, em sinceramente não duvido.
— Eu vou tomar, fica tranquilo. — Eu disse e ele sorriu, e então notei que suas presas haviam desaparecido. Olhei para seus olhos e agora estavam normais. — Você não é mais vampiro? — Perguntei surpresa, ele tinha voltado ao normal e eu nem percebi. O buraco em seu peito também sumiu.
— Bom... não. O lugar para onde eu vou não aceita vampiros então... — Ele deu de ombros e me olhou. Espera aí, ele vai pra onde? — Adeus Lena! — Despediu-se me tirando de meus pensamentos. Parou! Como assim "adeus"?
— PERA! Aonde você vai? — Corri até ele. A porta da casa se abriu, uma forte luz clareava lá dentro, me impossibilitando ver o que tinha lá.
— Nossas almas não são libertas enquanto não resolvemos nossas pendências. Bom eu resolvi a minha, agora finalmente vou ter paz. — Ele sorriu, seus dentes brilhavam tanto! Quase perguntei se ele estava usando Colgate.
— Espera, eu também quero dizer algo. — Corri até ele e o abracei novamente. Meus olhos encheram de lágrimas, ele alisou meu cabelo e apertou aquele abraço intenso. Virei meu rosto o olhando nos olhos. — Henrique... eu quero te pedir perdão. — Ele me olhou confuso, e aquele olhar me fez chorar inda mais. — Eu não fui capaz de te salvar, não consegui. Eles deixaram você sofrer, logo você, que teve uma história tão triste... — Me apertei em seu peito, não queria me soltar daquele abraço.
— Não precisa pedir perdão, não foi culpa sua. — Ele disse calmo e tranquilo. — Eles fizeram isso não você. Não tem nada para perdoar. — Aquelas palavras me confortaram, aquela culpa me deixou e um grande peso foi tirado de mim. A tranquilidade na voz de Henrique era admirável, eu naquela situação estaria louca e descabelada. Certamente não acharia a casa, nem adivinharia minha pendência.
— Me sinto tão tranquila em saber que você finalmente vai ter paz. — Me desvencilhei daquele abraço, segurei suas mãos e olhei nos seus olhos.
— Por mais que você esqueça de algumas que eu falei, lembre-se de uma coisa: Valorize quem te ama, fique do lado deles, lute com perseverança e nunca desista. — Ele pausou brevemente, sem parar de me encarar — Bom, acho que já disse tudo, adeus Selena! — Ele se virou e começou a dar passos até a casa.
A luz lá dentro se esvaiu rapidamente mostrando algo muito diferente que do lado de fora. Um grande salão elegante com pilares brancos, e uma grande escada ao fundo. O piso era de mármore amarelado. Fiquei ali parada, sem fazer absolutamente nada, estava fascinada com o que eu estava vendo. A casa por dentro era muito maior e diferente que por fora. Ele se virou para trás e me encarou. — Vou sentir Saudades! — Disse, eu lhe deu um tchau e ele devolver. Foi o nosso ultimo diálogo, ele virou-se novamente entrou. A porta lentamente se fechou e percebi que ele se foi para sempre.
Selena abriu os olhos, ainda encantada com o que havia presenciado. Seu coração estava tranquilo, foi como se um grande peso tivesse sido tirado de suas costas. Ela sabia que Henrique agora estava em paz e isso fez um sorriso surgir em seu rosto sem nem ao menos ela perceber. Lucia saiu do chuveiro, enrolada na toalha. Se deparou com Selena sorrindo, tranquila. Não percebera que Lucia estava ali, ainda viajava nas lembranças de seu sonho.
— Por que essa felicidade? — Perguntou. Selena a olhou abruptamente, como se voltasse a realidade. No entanto seu sorriso se desfez, ao perceber quem lhe dirigiu a pergunta.
— Só tive um sonho bom. — Respondeu vagamente. Levantou-se e caminhou até a cômoda, abriu a gaveta e tirou sua roupa. Não olhou para Lucia, e sua resposta fora seca o suficiente para sua ex-amiga perceber sua frieza para com ela. Depois do que Henrique disse e depois que Lucia a tirou da caçada, Selena não estava nada bem com ela.
— Tá assim comigo por que eu te tirei da caçada? Saiba que eu não vou voltar atrás. — Disse Lucia, Selena a olha irritada.
— Oi?! E por um acaso eu estou te pedindo alguma coisa, te disse alguma coisa?Agora eu sou obrigada a arreganhar os dentes pra você, sabendo das merdas que você anda fazendo? Desculpa eu não tenho sangue de barata e nem sou idiota como vocês pensam. — Falou, Lucia abaixou a cabeça.
— Desculpa, eu queria que voltássemos a ser amigas, eu sou uma líder, você tem que entender que...
— Eu já entendi tudo faz tempo, e outra, não quero voltar a ser sua amiga. E mais outra! Quero mudar de dormitório. — Disse. Lucia ergueu a cabeça e a olhou com raiva. Selena virou-se e entrou no banheiro batendo a porta.
As coisas estavam para Lucia, suas escolhas precipitadas ainda a levariam a um destino cruel. Porém não pretendia sair perdendo nesse jogo, e se precisasse, tiraria até Drake do caminho. No entanto não imaginava que estava na palma da mão do vampiro.
Quanto a Selena, pós banho seguiu para a aula normalmente, e não deixou de pensar no que havia acontecido. Era estranho, conversar com alguém que estava morto, que viu ter a vida ceifada. No entanto, saber que o futuro dos vampiros não é pré-definido, a fez questionar certas coisas, como o vampirismo de Drake. Se ele era um vampiro, seria como Henrique? Ou na verdade Henrique morreu antes do vampirismo corrompê-lo. Contudo, a improbabilidade de Drake ser um deles era maior do que tudo, seria muito mais simples explicar os acontecimentos de maneira racional: a saudade a estava fazendo confundir as coisas. O único parênteses sem ser fechado era a ligação, esta de fato, não havia outra explicação a não ser loucura.
Dois dias depois Luke acordou. Sentindo fortes dores de cabeça, se levantou da cama. Para sua infelicidade, não lembrava o que Drake realmente alterou em sua mente, mas a sentia modificada. Ele pensou em contar para Lucia que tinha sido compelido, mas algo em sua consciência o impedia. Trocou sua roupa e saiu de seu dormitório, sendo recepcionado calorosamente pelos alunos que ali estavam. Lucia também se aproximou, adicionando um falso sorriso no rosto. O rapaz a olhou de uma maneira que nunca havia olhado nem para ela nem para ninguém, parecia que havia se apaixonado a primeira vista.
— Lucia, que saudade de você! — Falou alegre, abraçando-a com força. Lucia ficou sem reação, ele nunca tinha sido tão carinhoso assim. Logo deduziu o motivo, e então a duvida veio em sua mente.
Que mudanças exatamente fez em sua cabeça?