Contratos Velados

By JS_Malagutti

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Daniel e Estela se esbarram numa noite em que o céu presenteia a Terra com um rastro de fogo. Desde que os do... More

Corpos que caem
O desespero de uma mãe
As vítimas da ala particular
A visita
A experiência
A verdade e uma ameaça
O sumiço
O caso Anelise
A aparição
Cicatrizes e silêncio
A busca
Em face
Aos poucos se revelam
O vendaval da madrugada
A ajudante
O pacto de silêncio
Não estão sós
Mudança de Planos
Fuga desesperada
Realidade ou ilusão?
A transfusão
Retratos da loucura
Fora de controle
Fábrica de mentiras
Batalha no canavial
O resgate
O Dossiê dos 8
O corredor da morte
Ele se revela
Lá fora!
Do fundo do poço
A plataforma
Sangue Azul
Xeque!
A viagem no tempo
Operação 53
O reencontro
O bunker frigorífico
O cemitério clandestino
Susto na escuridão
Matar ou morrer!
A proposta
Corra, governador!
Os dias passam
Perdendo a razão
No limbo
Aparições
A Rede
Descortinando os planos
A Conspiração
Uma parte do quebra-cabeça
Queda de Braço
Os próximos e perigosos passos
Revelações
É chegada a hora
Mais deles chegam à Terra
O círculo de abduzidos
O último contato?
Quatro anos depois; o fim.

Refém

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By JS_Malagutti

--- 17h e 41 minutos.

"A minha vontade é de sumir. Eu fracassei. Não tenho amor e nem ninguém em minha vida que possa me acolher, abraçar e me dar amor. Sou frustrada como mulher. Frustrada como mãe. Eu fracassei. A minha vontade é de acabar com tudo isso de vez. Não posso seguir como estou. O que é uma mãe sem um filho? Desde que o meu Daniel partiu, não consigo me encontrar dentro de mim mesma. Tenho a sensação de estar ficando louca. Talvez esteja mesmo! Só estava relutante em assumir. É ruim olhar o mundo lá fora e ver que as pessoas estão aleatórias ao meu sofrimento. Ao mesmo tempo é egoísta de minha parte esperar que os normais me notem quando os mesmos estão cheios de problemas para resolver. Fracassada e egoísta. Acho que posso acrescentar o termo iludida na minha lista de não-qualidades. Sempre me achei melhor que grande parte das pessoas, mas não sou isso tudo. Hoje reconheço que sou mais uma pessoa sem atrativos. Um tipo comum. Isso me dói, porque é me aceitar menos do que eu poderia ter sido. Meu ex-marido costumava dizer que eu era fria, resistente aos carinhos, uma pedra de gelo. Achei que fosse porque sou capricorniana. Mas, nos últimos anos eu notei que eu sou do tipo de pessoa mais prática, racional e menos emotiva. Acho que tive um bom homem, um bom marido ao meu lado que com o tempo eu desperdicei. Me sinto sozinha. Talvez, seja melhor eu voltar para ele. Ou melhor, não voltar seria a opção mais assertiva. Pra que fazer sofrer duas vezes a mesma pessoa? A morte é a melhor saída. Talvez ela amenize a dor da perda de meu Daniel. Já são 9 dias que ele sumiu. Algo aconteceu com ele naquela explosão. Sinto que as pessoas escondem isso de mim. O episódio do extraterrestre saindo do guarda-roupa dentro da minha casa é muito surreal. Aquilo não é verdade e nem foi verdade. Eu realmente estou louca. Me dói saber disso. O pior foi inventar um amigo imaginário pelo qual pudesse contar. Quem é Cohen? Essa tal de Vanessa! Que absurdo! Pessoas que chegam do nada. Estou mesmo maluca! O que me resta é o medo do chinês. Talvez esse seja real. Um médico que me colocou aqui. O único corajoso o suficiente por me fazer enxergar a realidade. É com pesar que escrevo essas últimas palavras. Mas eu sei que meu filho não vai mais voltar. Sozinha eu não dou conta. Não posso ser feliz sem ele. Eu sei que não o fiz feliz, mas ele me fazia feliz. Mais uma vez estou sendo egoísta. Talvez ele não volte. Ou volte, mas depois de analisar tudo, tenho a convicção de que seguir sem mim, seria o melhor para ele. Um dia, se ele aparecer, digam a ele que a mãe dele pediu desculpas pelo abandono em vida e que se arrependeu muito na hora da morte. Adeus, meu filho que eu tanto amei. Com carinho; Inês".

Cohen leu a carta com lágrimas nos olhos. Tinha dentro de si um sentimento de que poderia ter feito algo para ajudar Inês. Nesse momento acompanhava Brandão e Ulysses no corredor rumo a UTI.

Cohen se sentiu egoísta. "Deveria ter aberto a verdade a Inês naquele dia do abraço" -, lamentou Cohen. "Isso poderia tê-la salvo" -, disse.

Ulysses parou e segurou os seus ombros como quem quisesse encerrar a situação: "Sua missão pedia segredo e sacrifícios. Não tem culpa dela ser emocionalmente frágil. Vamos fazer de tudo para salvá-la. Fique em paz e siga com o que tem que fazer" -, disse Ulysses se virando e saindo ao alcance de Brandão.

Cohen não tirava a imagem de Inês com os punhos cortados. Assistiu a triste cena dela caída ao chão na poça de sangue.

Não entendia como ela pudera agir com tamanha violência contra si. Cortara-se com a faca plástica do café da tarde. A caminho do quarto dela quis rever tudo para elaborar o fato. O quão doloroso fora aquela situação para a mulher já que o objeto não tinha lâmina.

"Pobre Inês! Deve ter sofrido até conseguir retalhar a carne e veias para ver sua alma sair do corpo" -, pensou alto.

Deparou-se com a porta do quarto e se conteve com a mão na maçaneta imaginando o quão forte fora ela de manter-se ferida esperando a morte gota a gota naquele quarto.

Entrar ou não entrar; deveria testemunhar mais uma vez o sofrimento de Inês?

Respirou fundo e abriu a porta. A primeira imagem que viu foram as marcas das mãos de Inês pelas paredes tintas de sangue.

Ao lado da janela uma frase que apunhalou seu coração: "Daniel, a mamãe te amou muito enquanto viva".

A frase atestava o tamanho da perturbação daquela mulher. Ela não aguentara o baque de tudo o que estava acontecendo em sua vida.

"Talvez seja esse o motivo do exército esconder tudo" -, concluiu. "As pessoas não estão emocionalmente preparadas para enfrentar um colapso social. Vivemos numa sociedade hipócrita e preconceituosa que não aceitas diferenças. Como seria se os extraterrestres vivessem morar entre nós? Uma guerra!?".

Cohen ficou perdido em seus pensamentos tentando entender a fraqueza emocional do ser humano e se sentia diminuído ao igualar-se a todos. A tentativa de suicídio de Inês o tirara da posição de cientista para retomar a de ser humano. Há muito não tinha esse contato com as suas emoções.

Percebeu que quase já não era mais humano.

*****

Adam abriu os olhos e viu sombras passeando pelo teto. Ainda desnorteado não entendeu onde estava. Estava escuro, mas acima tinha luz. Percebeu algo se mexendo. Parecia a perna de alguém.

Foi tateando com cuidado e notou uma pessoa de cabelos crespos. "Juciney" -, pensou consigo. Aproximou a boca de seu ouvido e sussurrou: "Ney, levante-se, acho que fomos resgatados".

Não houve resposta alguma. Aproximou o ouvido da boca e nariz de Ney para ver se respirava. A resposta foi afirmativa. Estava vivo.

Deu um safanão no rapaz e nada. Saiu tateando pelo chão até encontrar outra pessoa. Notou a pele gelada. Tinha cabelos cumpridos. Era uma das meninas. Mas estava muito fria. Aproximou o rosto de seu rosto e notou que não respirava. Foi então que sentiu o perfume conhecido: Samantha.

Adam sentiu seu estômago revirar, se afastou daquele corpo gelado com muita pressa. Era inconcebível estar perto daquilo que seria o fim de seu amor. Levantou-se assombrado e deu de costas na parede. Ouviu vozes lá em cima e viu sombras no teto vindo naquela direção.

Entendeu que estava num poço. Deitou-se no chão e fingiu de morto. Notou a claridade tomando conta do local com olhos semiabertos. Provavelmente os fugitivos se tornaram reféns.

Com a passagem da luz da lanterna pode notar outras pessoas deitadas e recostadas ali, mas não teve tempo de identificar quem era.

Aquilo era parte de um jogo maléfico em que estava participando. Sentia que não podia confiar em nada e nem ninguém. Optou por ficar quieto e vigiar os demais. Se alguém acordasse, seria uma pessoa que lhe ajudaria a permanecer vivo. Teria que contar com a sorte e compreensão daquelas pessoas depositadas ali.

*****

Apesar da tensão vivida nos últimos dias, entrar em casa trazia paz. Mal fechara a porta e encontrara os porta-retratos com a esposa e os filhos sobre o aparador da sala de estar. Caminhou pela casa respirando o ar com cheiro especial da limpeza da mulher que amava. Veio a sensação de tristeza por não tê-la por perto.

Deitou no sofá e fechou os olhos. Aquele era seu lugar preferido. Houvesse guerra ou paz, o sofá era o seu repouso. Isaías tinha o seu conforto com a cabeça recostada no braço do sofá bege.

"O que quis dizer com aquilo na torre da igreja" -, disse Zentchen.

Isaías saltou do sofá com reflexo de um leão. Como era possível aquele homem ter entrado tão silenciosamente? "Como..."

Zentchen o interrompeu com um gesto manual. "Tenho meios de chegar onde quero e como quero. Isso não vem ao caso. Quero saber o que sabe sobre eles" -, disse num tom intransigente que levou Isaías a crer que estava perdido nas mãos daquele chinês.

Isaías caminhou até a janela e puxou a cortina. Viu lá fora homens armados. Tinha que dar um fora desse chinês. Virou para ele e decidiu contar a verdade para seduzi-lo.

"Eles estão por todas as partes dessa cidade. Nesta madrugada mesmo eu atirei contra dois com isso aqui" -, retirou a arma mostrando ao chinês.

"Tem porte para isso?" -, tentou intimidar o chinês ao pastor.

O pastor segurou a intimidação: "Isso não vem ao caso, o que vem ao caso é que matei alguns e posso te mostrar mais do que sei" -, jogou Isaías. "Posso te levar em um lugar que parece o ninho deles".

A sala ficou em silêncio. Isaías tentou se demonstrar à vontade e sentou-se diante o chinês. "E aí, é o que está procurando, não é? O ninho deles".

"É patética a forma como tenta esconder o seu nervosismo. Acha que pode começar um joguinho achando que vou cair nisso?" -, sorriu o chinês dando um xeque sobre os planos de Isaías. "Eu sei onde tem um ninho deles e sei como ter acesso, mas quero controlar isso sem escândalos, coisa que não está acontecendo por que tem gente demais se metendo onde não deve".

"Se é o silêncio que quer, me prenda, me extermine. É fácil, não?" -, retrucou Isaías. Zentchen não esperava essa coragem do pastor. "Se fosse só tirar as pessoas do caminho, isso é fácil pra você; como mostra seu histórico. Mas, veio atrás de mim, então quer mais que me calar, quer o que eu tenho para você" -, foi a vez de Isaías sorrir.

Zentchen não esperava por essa respostas. "Pode ser que sim. O que tem a me oferecer que eu ainda não tenha colocado as mãos?".

Isaías sorriu. "Abduzidos! Tenho alguns em minhas mãos" -, jogou.

Zentchen se curvou sobre a poltrona. "É a moça que você vai assumir a paternidade, não é? Ela foi abduzida e carrega em seu ventre um extraterrestre, não é?".

"Você o diz!" -, sorriu Isaías. "Não foi eu quem disse nada, senhor".

Zentchen se enfureceu e avançou sobre Isaías tentando intimidá-lo. Isaías se colocou de pé e fisicamente era maior que o chinês. Os dois ficaram se encarando.

"Você não me coloca medo, seu chinês dissimulado e assassino!" -, investiu Isaías tentando desestabilizar o homem. "Pensa que é esperto, mas não é nada esperto e nem inteligente".

Zentchen sentiu o cano da arma de Isaías encostar em sua barriga.

"Atire agora e em menos de dez segundos terá pedacinhos de cérebro seu por toda essa sala através dos meus homens lá fora" -, sentenciou Zentchen.

"Então morremos os dois, ou chegamos num acordo" -, redarguiu o pastor.

"Faça a sua oferta, se for interessante, podemos passar para fase adiante ou morremos os dois aqui" – propôs Zentchen.

"Eu te levo ao ninho deles próximo da ponte e você deixa em paz a mim e mais algumas pessoas que eu escolher" -, sentenciou Isaías.

"Pode ser" -, sorriu o chinês.

"Não é tão fácil assim, tenho mais condições a lhe impor" -, negociou Isaías. O chinês o encarou esperando as condições.

"Vamos no meu carro. Eu o revisto para ver se não leva consigo radar ou sinalizador, arma alguma e objeto algum que possa usar contra mim. Não poderemos ser seguidos pelo exército e deve me encontrar sozinho na saída da cidade" -, impôs Isaías.

Zentchen silenciou e ficou pensando.

"É pegar ou largar" -, disse Isaías pressionando ainda mais a arma contra a barriga do chinês. "Tem que aprender a confiar nas pessoas, que seja em mim que sou uma boa pessoa" -, ironizou Isaías.

O silêncio tomou conta da sala. Isaías estava incomodado com a demora da resposta de Zentchen.

O chinês astutamente respirou fundo e aceitou a proposta. Virou as costas e saiu pisando firme até a porta. De lá deu a última orientação: "As 20 horas sob o pé de Jatobá da saída a oeste da cidade".

Isaías viu o homenzinho sair e bater a porta. Suas mãos tremeram como quem comete um crime. Ia precisar de reforços, senão não sairia vivo.

*****

Vanessa e Silvério colocaram o capelão para dormir sob os sedativos. Daniel assistiu tudo em silêncio. Do seu lado, Maria José de braços dados recostava a cabeça em seu ombro.

"Ele vai ficar bem" -, sussurrou Daniel quase sem voz para a surpresa de todos.

"Você pode falar, que bom!" -, disse Vanessa com empolgação. Daniel sinalizou positivamente.

"Estou muito agraciada com a benção de Deus em lhe devolver a voz, meu filho!" -, disse Maria José acariciando o rosto do rapaz com as suas mãos ásperas de trabalho. Os olhos de Daniel brilharam com o carinho.

Silvério se aproximou de Daniel e olhou nos olhos: "O que você vi á em cima, filho? O que fizeram com você? Nos conte!"

Daniel baixou a cabeça. Fez que não com a cabeça

"Fala com a voz, querido? Vamos recuperar isso! Sua voz é tão linda!" -, disse Maria José chorosa. Daniel abaixou a cabeça e não respondeu. Todos entenderam que era demais para o jovem.

"Vamos deixar como está. Quando quiser e se quiser, pode nos contar. Saiba que queremos te ajudar" -, disse o padre conduzindo todos para o outro cômodo.

Mal fechou a porta e estava Isaías à sua frente. O pastor parecia estar desorientado e medroso. Seu lábio não tinha cor.

Silvério o abraçou. "Seja o que for vamos lhe ajudar".

Isaías sussurrou em seu ouvido bem baixo: "Preciso de sua ajuda para mais à noite, mas tem que ser particular".

Vanessa percebeu a movimentação com desconfiança. O padre saiu com Isaías para outro cômodo.

"Tudo isso é muito estranho" -, disse Jandira. "Eu ainda não consigo entender o que aconteceu. Parece que tudo isso não é real, é apenas um pesadelo. Tenho a sensação que vou acordar e não terei visto nada disso. Não pode ser real".

"Isso é real. É o apocalipse!" -, apontou Joaquim, o padeiro. "Deus está voltando para o acerto das contas" -, disse o padeiro dentro de sua religiosidade extremista.

"Não é castigo. Nem o fim. Será breve. Uma breve mudança de vida para todos" -, disse Daniel mais uma vez impressionando a todos com a sua fala. Dessa vez Maria José se calou e preferiu o silêncio. Todos olharam para Daniel com o coração atônito e temendo pelo pior.

O silêncio imperou naquele cômodo por um longo período de tempo até que Isaías adentrou o cômodo nervoso e saiu por outra porta a batendo com força. Passou por todos como se passasse um furacão. Foi silencioso, mas intenso. Atrás, Silvério que percebeu o olhar fuzilante de todos.

"Não podemos ajudar todos em tudo. A vida é assim!" -, disse o padre como quem quisesse se redimir. "Maria José preciso da senhora para cuidar do capelão para mim à noite. Preciso sair para resolver um assunto grave. Posso contar com a senhora e Daniel?".

Ela sinalizou com a cabeça: "Será um prazer". Maria José era sempre solícita. Era o tipo de mulher que todos queriam por perto.

Vanessa olhou pela janela preocupada. "Não podemos ficar mais, quem vem comigo me siga. Logo o sol se põe e podemos encontrar aquelas coisas pelo caminho" -, justificou.

"Nós ficamos" -, disse Maria José abraçando Daniel.

"Se é assim, vamos nos separar. Cuidem-se. Amanhã eu volto" -, disse Vanessa pegando a sua valise. Jandira e Joaquim se despediram do padre, de Daniel e Maria.

"Isso é um até breve" -, disse Jandira. "Sei que isso é uma guerra, silenciosa, mas nos veremos novamente e quero muito os ver bem. Devoto a todos o sentimento de gratidão pela acolhida dada a mim e meu irmão em nossa fuga" -, agradeceu a enfermeira.

Joaquim também deu o seu breve agradecimento: "Por hora, só posso agradecer. Cuidem de minha mulher por mim. Um dia retribuirei a todos" -, pediu Joaquim cobrindo a cabeça com um chapéu de palha.

"Cuidaremos" -, disse o padre.

Assim, feitas as despedidas, Vanessa e seus seguidores saíram em busca do carro para retornarem ao campo.

*****

Cohen observava Inês pela vidraça. Ele sentia na alma a dor da culpa pela tentativa de suicídio de Inês. Para a sua sorte, Ulysses era mais um carniceiro faz tudo naquele hospital psiquiátrico. Se um dia o descobrissem, ele seria preso.

Talvez fosse melhor. Mudaria o perfil daquele depósito abandonado de loucos. Mas o seu sentimento de gratidão por salvar Inês o impediria de denunciar as práticas absurdas e nada convencionais do psiquiatra.

Pela vidraça viu Ulysses se aproximar por trás.

"Obrigado" -, disse Cohen.

"Ela é importante para você, não?" -, disse o psiquiatra.

"Descobri isso somente hoje. Até então era indiferente" -, atestou Cohen.

Os dois ficaram em silêncio. Brandão se aproximou de Ulysses e sussurrou em seu ouvido: "Achamos uma pista dos fugitivos".

O sussurro do negro era alto e indiscreto. Cohen ouvira e fizera de conta que não.

"Preciso sair, companheiro, com licença" -, disse Ulysses se afastando rapidamente. Cohen o acompanhou com os olhos.

"O que fazer, vigiar os cuidados de Inês ou seguir o médico em busca dos fugitivos?" -, Cohen sentiu-se dividido. As duas missões eram importantes para si.

*****

--- 20 horas e 15 minutos.

O carro sacolejava demais. Zentchen estava assustado com a forma que o pastor dirigia entre as ruas do canavial. Procurava disfarça o medo com o silêncio.

Isaías sabia que o chinês estava atordoado. Experimentava uma sensação libertadora de pode judiar de alguém que anunciava perigo para todos. Sob a luz da lua desejava que os 'aliens' aparecessem para causar no chinês o mesmo medo que ele e o padre passaram na noite anterior.

Mas, por infortúnio do destino, nem sinal deles.

Quando se aproximaram de uma mata mais fechada Isaías parou o carro. "É no matagal, prepare-se que a terra é bem fofa e pesada".

Zentchen sentiu o perigo na voz de Isaías. Como uma forma de se proteger resolver abrir diálogo: "Você e um homem religioso, seria capaz de machucar alguém para se defender?".

Isaías sorriu. "Para me defender sim. Mas se não houver motivos seguimos em paz" -, disse o pastor descendo do carro.

Zentchen desceu com receio. Isaías foi andando e o chinês ficou ao lado do carro.

"Está com medo? Nem parece que é do exército!" -, provocou Isaías.

Zentchen tirou a arma da cintura e apontou para o pastor: "Assim me sinto mais seguro. Pode ir à frente!".

O chinês viu Isaías desfazer o sorriso. "Isso não foi o combinado".

Zentchen manteve-se carrancudo: "Acha que eu viria a uma zona de risco com alguém sozinho sem proteção alguma? Parte do combinado eu cumpri, deixei os homens para trás avisado do nosso encontro, porém, a arma é uma garantia extra".

O chinês sinalizou com a cabeça para que Isaías andasse. O pastor obedeceu e seguiu a frente o levando com uma lanterna de bolso iluminando o caminho. Andaram por algumas trilhas até encontrarem um riacho.

"Vê aquela pedra?" -, apontou Isaías. "Atrás dela tem uma caverna subterrânea. Se quiser atire em mim, mas eu não vou adiante para ser morto, se quiser, vá você" -, mentiu o pastor.

Zentchen ficou confuso. "Ir ou não ir?". Optou por seguir. Seguiu com passos leves e sempre com a arma em riste na direção de Isaías. Assim que passou o riacho se aproximou da pedra e não viu caverna alguma.

"Você mentiu, desgraçado!" -, disse o chinês com ira e atirando contra Isaías. Que jogou-se ao chão atrás de arbustos com a perna ferida.

Do nada, um forte golpe acertou em cheio a nuca do chinês que foi ao chão rapidamente. Mesmo com sentidos comprometidos conseguiu perceber seu braço sendo pisado.

Olhou para cima e viu padre Silvério se abaixando para pegar a arma. Depois disso não viu mais nada.

Quando acordou, Zentchen estava amarrado e amordaçado em um cômodo de madeira mal iluminado por um candeeiro. Tentou gritar e se mexer. Mas era inútil. Estava preso e refém dos religiosos.

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