Contratos Velados

Av JS_Malagutti

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Daniel e Estela se esbarram numa noite em que o céu presenteia a Terra com um rastro de fogo. Desde que os do... Mer

Corpos que caem
O desespero de uma mãe
As vítimas da ala particular
A visita
A experiência
A verdade e uma ameaça
O sumiço
O caso Anelise
A aparição
Cicatrizes e silêncio
A busca
Em face
Aos poucos se revelam
O vendaval da madrugada
A ajudante
O pacto de silêncio
Não estão sós
Mudança de Planos
Realidade ou ilusão?
A transfusão
Retratos da loucura
Fora de controle
Fábrica de mentiras
Batalha no canavial
O resgate
O Dossiê dos 8
O corredor da morte
Refém
Ele se revela
Lá fora!
Do fundo do poço
A plataforma
Sangue Azul
Xeque!
A viagem no tempo
Operação 53
O reencontro
O bunker frigorífico
O cemitério clandestino
Susto na escuridão
Matar ou morrer!
A proposta
Corra, governador!
Os dias passam
Perdendo a razão
No limbo
Aparições
A Rede
Descortinando os planos
A Conspiração
Uma parte do quebra-cabeça
Queda de Braço
Os próximos e perigosos passos
Revelações
É chegada a hora
Mais deles chegam à Terra
O círculo de abduzidos
O último contato?
Quatro anos depois; o fim.

Fuga desesperada

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Av JS_Malagutti

--- 18 horas.

Inês abriu os olhos e percebeu uma silhueta a sua frente. A luz era precária. Era quase imperceptível a visão de alguém. Estava amarrada numa cadeira de tortura elétrica. Seus pés estavam dentro de um recipiente com água. As mãos presas por correias de couro grosso, assim como as suas pernas.

Estava sonolenta. Completamente passada e sem noção de dias e horas. Dormiu e acordou várias vezes que estivera ali, não tinha noção se era noite ou dia. Nem sabia ao exato o tempo que estava ali. Os remédios mexeram tanto com ela que nem notara que estava a um dia aprisionada.

Ouviu um cantarolar de voz grossa ecoando pelo ar e abriu os olhos novamente. Era o enfermeiro com a sua seringa. Teve dificuldades em se expressar: "Não, por favor, outra injeção não. Preciso ver meu filho".

"Tudo bem. O verá assim que terminar o tratamento. Logo, logo estará boa para ir embora" -, disse o afrodescendente com voz grossa e aveludada.

Ele foi aplicar a injeção e viu os olhos de Inês bem abertos. "Não me olhe assim. Sou pago para fazer isso. Tente compreender, esse é o meu papel, eu vivo disso, professora" -, disse o ex-aluno tentando redimir a sua culpa.

"Não preciso disso e você sabe bem" -, disse a professora em tom bem firme. O enfermeiro deu de ombros.

"Já disse que me formei para isso, infelizmente todos os pacientes que aqui chegaram pelo exército precisam de tratamento. O gás letal, quando não mata, causa transtornos mentais. A senhora vai se recuperar, tenha fé nisso" -, explicou o rapaz. "Doutor Zentchen nos deu uma palestra sobre esse gás. Sujeito inteligente!".

"Um farsante que não sabe de nada. Está tentando ocultar a verdade do mundo por motivos que ninguém sabe. Todos estão sendo usados por eles. Se me libertar posso provar que tem coisas estranhas acontecendo por aqui" -, explicou Inês.

"Tem sim" -, disse o negro sorrindo simpaticamente. "Nessa ala, só tem coisas estranhas, professora. Todas tem haver com uma tal teoria da conspiração. Desculpa-me, mas a picadinha vai doer um pouquinho só" -, finalizou o enfermeiro aplicando a injeção.

Foi efeito instantâneo. Inês sentiu-se desconectada ao findar da picada. Pode perceber a presença de outra pessoa, um pouco mais baixa que o negro. Trajava um jaleco branco.

Não estava com sono e nem dormente. A sensação era de flutuação. O homem se aproximou: "Deixe-nos a sós Brandão" -, ordenou o psiquiatra ao enfermeiro. Ele obedeceu pronta e rapidamente.

O psiquiatra andou de um lado para o outro antes de começar a perguntar as coisas: "A senhora poderia me dizer o seu nome?".

"Meu nome é Inês... Sou professora do Colégio São Sebastião e tenho um filho que precisa de ajuda" -, alegou Inês.

"Nós iremos ajuda-lo. Nesse momento já estamos procurando por ele. Sabemos que a senhora tem um grande afeto por ele e cuidaremos de tudo enquanto se trata" -, explicou Dr. Ulysses pigarreando.

Inês demorou um tempo até raciocinar: "Não quero que se aproximem dele; eu quero cuidar. Deixem o meu filho em paz. Ele precisa da minha ajuda. Acredite em mim!" -, pediu a professora. Ulysses a olhava com pena. Ela continuou: "Ele foi abduzido, está todo marcado, não consegue falar. Deixe-me cuidar dele. É um pedido de uma mãe desesperada. Se escolheu a medicina é porque é uma boa pessoa. Me ajude" -, pediu Inês no seu ritmo mais devagar.

Ulysses ignorou a apelação de Inês. "A senhora disse que ele foi abduzido. Está falando de vida extraterrestre?" -, perguntou Ulysses com obviedade. Inês não respondeu. Apenas entendeu que a história parecia absurda demais. Ele insistiu: "Está falando que em outros planetas existem vidas?".

Inês lançou um olhar desafiador: "Está do lado deles, não?" -, o silêncio imperou. Inês prosseguiu: "Você é mais um do exército! Porque estão fazendo isso conosco, porque querem esconder essa história?".

Ulysses olhou para ela com compaixão: "Diante a sua histeria não me resta dúvida sobre o tratamento. A senhora é uma paciente agressiva e que tem alucinações. Infelizmente vamos usar o eletrochoque" -, instruiu Dr. Ulysses.

"Não, choque não" -, pediu Inês. "Não me torture!".

Não teve tempo. Recebeu uma descarga elétrica de dois segundos. Seu corpo amoleceu e ela apagou. Por trás do médico, saindo da sombra apareceu Zentchen: "Ela não sai daqui enquanto não revelar o paradeiro do rapaz".

Ulysses tentou amenizar: "Ela não está doida e você sabe bem disso. Para que continuar com a tortura?" -, olhou firmemente pra Zentchen.

"Não trata-se de loucura, mas de honrar os contratos que o Brasil assinou com a comunidade internacional. Eu preciso daquele rapaz, afinal o que tem nele pode nos ajudar a encontrar os invasores que estão quebrando o nosso contrato" -, afirmou o Chinês.

"Isso tudo é loucura coletiva. Impossível que isso possa existir" -, concluiu Ulysses sem esconder a indignação e ajeitando os óculos.

Num tom ameaçador Zentchen se conduziu à porta: "Um dia vai entender, Doutor. Uma vez dentro do ciclo, sempre dentro". Saiu batendo a porta e Ulysses encarou Inês com compaixão. "Pobre moça, tão lúcida e respeitada nessa cidade, porque se deixou cair nisso?".


*****

--- 19 horas e 55 minutos.

Padre Silvério fechou todas as portas da igreja. O capelão Andrada fazia falta. Já tinha se acostumado com o ritmo de cuidado religioso sem ter que debruçar nos afazeres físicos da casa de Deus. "Pobre Andrada, teria mesmo subido aos céus como Elias através de um redemoinho formado por uma carruagem de fogo?" -, pensou Silvério. "Deus se manifesta de formas estranhas".

Para Silvério, os acontecidos teria sido também obra de Deus e por isso deveria ser preservado e guardado até ser entendido. Ninguém mais deveria ser castigado ou crucificado diante os desígnios de Deus. Silvério estava fazendo o serviço de Andrada no modo automático enquanto estava perdido em pensamentos.

O silêncio daquele local foi quebrado. "Concentrado em oração, sacerdote?" -, perguntou Zentchen adentrando a igreja na direção do padre.

O salto do sapato social de Zentchen revelava um jeito perigoso de andar que Silvério observou com desconfiança: "Como entrou aqui, e o que deseja?".

"Pensei que a casa de Deus fosse aberta a todos" -, respondeu de forma irônica o chinês.

"Essa é uma casa de Deus e está aberta a todos inclusive para aqueles que n'Ele não creem" -, intuiu Silvério. "Vocês orientais não seguem o cristianismo. Por isso me surpreende a visita" -, explicou o padre.

Zentchen sorriu contra a tentativa de ataque do Padre. "Estou aqui a negócios e gostaria de falar com o seu capelão". -, adiantou Zentchen percebendo o padre acuado. "Está escondendo algo" -, pensou consigo.

O padre percebeu maldade do chinês. Eram dois olhos atentos se analisando. Não se preocupou em mentir: "Andrada está visitando uma tia solteira e doente lá pelas bandas de norte. Não volta tão cedo. Se é que volta" -, tentou o padre. Zentchen sorriu amarelo. O padre percebeu a insatisfação nos olhos daquele homem.

"Não sabia que padres mentiam. Soube pela sua comunidade que uma luz veio do céu e o levou. Como pode não reconhecer um milagre como esse" -, apontou Zentchen. Suando frio, Silvério resolveu encerrar o assunto: "Esse povo fala demais. Coisas de cidadezinha. Nem tudo que falam pode ser comprovado, portanto, não pode ser considerado milagre" -, justificou.

Zentchen se aproximou do padre e lhe deu um tapinha nas costas. "Acredita que dizem terem visto um disco voador, veja se pode uma coisa dessas!".

Silvério segurou a língua respirando fundo: "E, se fosse verdade que ele tivesse sido chamado por Deus, porque não ir de disco voador; o que impede que Deus se manifeste na forma que quiser?" -, tentou defender a fé.

"Não estamos falando de Deus. O senhor sabe disso. Estou aqui em nome da ciência. Preciso saber do capelão o quanto antes e quero as informações agora. Não sei se sabe com quem está falando mas, sou um representante do exército, padre" -, inquiriu Zentchen sem paciência.

O padre o olhou nos olhos: "Dentro da minha igreja, isso não representa nada. O senhor não é melhor e nem pior que ninguém. Aos olhos de Deus, todos somos iguais".

Zentchen franziu o cenho e insistiu: "Fale sobre Andrada".

"Não sei nada além da viagem do capelão para cuidar de alguém. É o que me basta saber e o que deve bastar ao senhor também. Vivemos num país democrático em que o direito de ir e vir é protegido constitucionalmente, não é verdade? Agora se puder se retirar, gostaria de encerrar o expediente de hoje" -, disse o padre.

Zentchen o segurou pelo braço e Silvério sentiu as pernas tremerem.

"O senhor sabe do que estamos falando e está tentando omitir os fatos. O que acontece aqui é muito sigiloso e perigoso. Por isso as forças armadas estão operando nessa cidade. Ou o senhor colabora, ou as coisas podem..." -, Silvério o interrompeu:

"Podem o quê?" -, afrontou o padre. "Não sou dado a tolerar ameaças. Se o senhor representa o exército, eu sou o próprio soldado de Cristo. Não cabe ao senhor me dizer o que fazer ou me direcionar a responder o que quer dentro da minha igreja. Aqui, exército não manda e ponto final. Quis uma resposta e a obteve. Não posso responder o que quer ouvir porque não é o que tenho pra dizer. Estamos entendido?".

Zentchen sabia que não poderia mexer com o padre naquele momento. Preferiu se retirar sem dizer nada. O padre, ainda assustado ficou observando de longe aquele sujeito se dirigir para a saída da igreja. "Daniel, Vanessa e Dona Maria José correm grande risco. Preciso alertá-las" -, pensou Silvério. Ajoelhou e fez o sinal da cruz pedindo perdão a Deus.


*****

--- 20 horas e 20 minutos.

Uma caçada foi travada. Vanessa tinha que encontrar Daniel antes do exército. Ele era precioso demais para ser perdido. "Aquela crente louca vai por todo o plano à perder" -, pensava Vanessa enquanto andava por entre canaviais e matas nativas alternadamente procurando por vestígios de Maria José e Daniel.

"Eles não podem ter ido tão longe assim. Estão a pé" -, pensava Vanessa.

Todas as vezes que Maria José ouvia o roncar de um motor, jogava o jovem ao chão e escondia-se em buracos e amontoados de folhas na hipótese de ser Vanessa ou o exército. Não queria ser encontrada. Estava começando a entender que tudo aquilo era muito arriscado e estava fazendo por Daniel aquilo que deveria ter feito pela própria filha.

Tinha esperanças de encontrar Samantha novamente e constituir a família. Devolver Daniel à Inês já não era mais uma hipótese. À essa altura a mãe do rapaz já devia estar morta. "Pobre, Inês, uma mãe desesperada que se foi sem conseguir sucesso".

No seu íntimo, Maria José sabia que seu destino seria o mesmo. "Dessa vez, morro tentando salvar uma vida. Esses pobres não tem culpa dessa loucura que o destino reservou" -, pensava.

Daniel estava se demonstrando cansado. A sua pele estava ficando sem cor. Seus lábios já estavam brancos demais para falar que tinha cor. Maria José colocou a mão sobre a sua testa e nenhum calor e nenhuma gota de suor. Ao contrário dele, ela estava pingando como nunca. "Algo está errado".

"Força Daniel, força!" -, dizia ela tentando convencer mais a si mesma que ele. De longe percebeu o ronco do motor. Olhou bem pelo canavial e passou o carro de Vanessa em alta velocidade: "Não tem outra solução pra não te perder de vez". Despida de pudores e arrependimento pelo o que fez, Maria saiu do meio do canavial e gritou por Vanessa acenando.

Vanessa a viu pelo retrovisor e soltou um suspiro aliviado. Num cavalo de pau homérico virou o carro e acelerou em sua direção. Maria se jogou no canavial e saiu correndo.

"O que essa louca pretende acenando e fugindo?" -, pensou Vanessa com o coração acelerado novamente. Estava vivendo momentos de indignação e estresse. Com medo que pudesse perdê-la novamente, adentrou o canavial jogando o carro contra o formato das ruas. O carro sacolejava mais que o esperado. Quando deu por si brecou instintivamente sobre Daniel e Maria que estavam dentro de uma valeta do canavial.

Desorientadamente, assustada por quase ter sido atropelada e com medo da reação de Vanessa pela fuga, Maria ergueu os dois braços como um bandido diante a polícia: "Me rendo, mas ajude, ele doutora. Ele está sem cor. Não o deixe morrer, por tudo o que é mais sagrado".

Vanessa retirou algumas ampolas, seringas e medicamentos do porta-malas. Com a ajuda de Maria colocou Daniel no banco da frente e aplicou doses e mais doses de vitaminas e anfetaminas. A cor de Daniel retornou rapidamente. Até sua respiração ficara mais valente. Vanessa respirou aliviada: "Vai ficar bem!".

Maria José irrompeu um choro de arrependimento e dor: "Só quero protege-lo dessa loucura toda".

"A senhora foi irresponsável" -, acusou Vanessa. "Ele precisa de uma transfusão e de cuidados especiais, a senhora não sabe com o que está lidando, mas eu sei. Poderia tê-lo matado".

As palavras de Vanessa caíram aos ouvidos de Maria como uma bomba aumentando a sua dor e choro. Vanessa sentira-se apenas aliviada e vingada pelo estresse vivido. "Que chore tudo o que tem que chorar, mas abara sua cabeça e coração para o que está acontecendo aqui. Ninguém quer brincar de Deus. Queremos apenas solucionar mais um mistério entre os mundos" – encerrou Vanessa que olhou para aquela mulher despenteada e enrolada em um lençol. No fundo entendia o seu desespero, mas a sua ira particular pela fuga ainda era maior que um perdão ou compaixão.

Fortsett å les

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