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Como pedido por Niall esperei 2 dias até regressar ao Quartel, em busca de respostas.
Depois de meses de Guerras e tormentas, das fugas e do perigo constante, aqueles dois dias foram como provar um pedaço do paraíso, foram como encontrar um oásis depois de meses a seco no deserto mais quente do mundo.
Ainda que cheias de pesadelos, as noites foram bastante calmas, sem indícios de tiros, sem o som ensurdecedor dos gritos desesperados, noites ausentes do cheiro a morte, a sexo forçado e sem qualquer tipo de consentimento ou sentimento, sem o cheiro agoniante a podridão ou deterioração de corpos. O melhor mesmo foi a presença constante de calor, de conforto e acolho. A casa de Niall era, sem sombra de dúvida, um paraíso não autorizado no meio do inferno.
Durante aquela minha breve estadia cheguei mesmo a cogitar esquecer e desistir da ideia quase louca de regressar à improvisada base militar das tropas inimigas, de soldados sem coração e com sangue frio. Porém, a necessidade de procurar algum resquício de vida ou, algum tipo de respostas a perguntas que nem sabia bem formular, superava qualquer obstáculo e ultrapassava os valores da razão.
Durante aqueles dias na casa do Loiro este levou-me a conhecer vários locais bastante importantes, sentimentalmente, para o mesmo. Conheci a sua agradável e extensa horta , um local cheio de magia, legumes e frutas dos mais variados. Num final de tarde descemos até ao local onde Niall dizia tomar banho nos dias mais quentes de verão, uma pequena praia fluvial. Descobri que foi nesse mesmo local onde conhecer Liam. Pela reprodução que fez da situação entendi ter sido uma cena bastante constrangedora para ambos.. Liam era curioso demais e Niall era desenvergonhado demais. Depois de algumas gargalhadas Niall foi-se calando aos poucos e deixando-se escorregar até cair no chão, desfeito em lágrimas..
A possível morte do grande amor de Niall devastava-o física e mentalmente, e vê-lo tão em baixo estava perto de ser das coisas mais tristes que tinha presenciado em todo aquele tempo de Guerra, os seus olhos perdiam toda a sua tonalidade azul, apagando toda a alegria que aquele serzinho transbordava. Desesperadamente tentei confortá-lo dizendo que talvez Liam tivesse conseguido fugir antes que algo de mal lhe acontecesse.. e que um dia, assim que possível iria regressar para os seus braços. De alguma maneira dizer-lhe isso trouxe-lhe alguma tranquilidade e eventualmente caímos em histórias sem fim de romances falhados,e com fins engraçados ou desastrosos. Niall contou-me a maneira como "descobriu" gostar de rapazes e de como o seu melhor amigo o ajudou a descobrir se gostava mais de dar beijinhos a meninos ou meninas.. e de como com 11 anos dava beijinhos ao melhor amigo escondidos atrás do pavilhão escolar. Esse seu melhor amigo da altura dava pelo nome de Nick, Nick descobriu com Niall que também gostava de rapazes, mas, ao contrário de Niall nunca foi bem aceite e com 13 anos foi enviado para o internato em Londres. Ni nunca mais soube nada dele.
Apesar de todos os bons momentos passados com Niall, um pequeno pedaço de luz em formato humano estava na hora de enfrentar a verdade, nua e crua. Uma realidade que eu preferia esquecer, mas que seria impossível.
Ao caminhar de novo pelos bosques em direção ao lugar onde me mantive presa por Styles eu podia jurar conseguir sentir o cheiro da morte.. um cheiro bastante característico e desconfortável pelo nó que fazia formar-se na garganta de qualquer um que se atrevesse a cheirar. Ao senti-lo o meu cérebro entrava de imediato em alerta e começava logo a produzir uma imensidão de informação desnecessária e possibilidades que me provocavam dores de cabeça absurdas de tão fortes.
Se naquele dia soubesse o que hoje sei teria ficado ainda mais nervosa, talvez não voltasse para trás, mas o meu nervosismo aumentaria de uma maneira abismal.
Porém, naquele dia toda a minha restante inocência cegava o resto de noção de existia em mim, fazendo-me apenas imaginar um pacífico cenário em que os soldados ainda ali estariam, a vaguear pelo exterior, com os seus olhos cansados e com saudades dos seus lares e famílias, olhos tais que tinham visto e presenciado a morte e ruína de famílias por causa da alma egoísta de algum parvalhão inglês sem mais que fazer. Eram famílias como as suas que, ao contrário das suas nunca mais sentiriam o calor e conforto dos seus pais, mães, irmãos e filhos. Pois tinham sido todos mortos.. por razões políticas que muitos nem compreendiam.
Porém, ao contrário de todos os cenários um tanto romantizados que eu imaginei, o que eu presenciei estava longe de se assemelhar a algo que me tivesse passado pela cabeça. Na verdade nunca imaginei sequer que ao chegar àquele local me iria deparar com uma quantidade fantasmagórica de soldados brutalmente mortos por todo aquele recinto exterior.
Olhei para trás depois de um tempo petrificada com o choque, apenas para ver a cara aterrorizada de Niall. Lágrimas contidas eram possíveis ser vistas no canto dos seus olhos azuis. Com um pavor enorme o rapaz observava os soldados espalhados num caos de sangue por todo o chão.
E foi nesse momento que eu entendi que, desde que a guerra havia começado, Niall não tinha vindo para a zona de perigo, Não tinha abandonado os arredores da sua humilde casa. O rapaz sabia que ela estava em força, perigosa e sangrenta.. sabia que existia mas o choque da realidade é maior do que qualquer ficção.
- R- Rosie.. - ele chamou com a voz tremula e antes que eu pudesse responder o pequeno abraçou-se a mim soltando-se ligeiramente apenas para falar em meio de soluços. - O ..O Liam disse-me que as coisas estavam a ficar feias.. mas que ia ficar tudo bem e que não havia muito sangue.. m-mas pediu-me para não sair de casa.. E-Ele disse que eu não merecia ver a realidade cruel de humanos sem escrúpulos - Ele soluçava incontrolavelmente parecendo quase sem ar - Mas eu não esperava que fosse assim.. -
- Ni.. - chamei fazendo o lorinho soltar o abraço e olhar-me nos olhos, expressando com os seus uma quantidade absurda de sentimentos e emoções, desde desespero a medo, terror e algum tipo de pânico e ansiedade.
Niall. - voltei a chamar tirando-o do transe de choque em que o mesmo tinha entrado- Eu acho melhor entrar sozinha, não se sabe o que pode estar lá dentro ou como podem estar as coisas neste sítio vendo o seu exterior- disse no tom mais sincero e tranquilizante que consegui.
Embora o medo me corroesse todos órgãos, ossos e entranhas de ponderar entrar naquele possível cenário de filme de terror eu sabia que Niall era demasiado inocente para qualquer que fosse a atrocidade que lá estivesse dentro.
Rosie.. - respondeu ainda com a voz tremula do choro que entretanto cessara - E-Eu tenho medo.. medo de ficar e lá dentro te acontecer alguma coisa e que eu não tenha tido a capacidade de ir contigo para te defender e medo de ir contigo e que lá dentro te aconteça alguma coisa e eu congele e não tenha a capacidade de te defender.. Infelizmente nunca fui bom em situações de stress.. e não sei se serei capaz de viver com o peso de ter sido um cobar.. -
Ni.. relaxa, não me vai acontecer nada. Nada do que possa estar ali dentro será pior do que tudo o que eu já vi e vivi nos últimos tempos..- tranquilizei-o interrompendo o discurso pateta que ele estava a fazer.
- Então.. eu fico aqui. Sozinho e à tua espera! - Ele afirmou apontando para o chão e por momentos pareceu pensar.. pela sua cara confusa era algo que não tinha feito sentido na sua cabeça - Na verdade.. - olhou para trás ainda com um ar confuso - Acho que me vou esconder atrás daquelas árvores.. é mais seguro eu acho.
Assenti e suspirei preparando-me mentalmente para o que poderia vir dali em diante porem, pronta para partir em direção a qualquer que fosse o meu destino fui parada por um puxão suava no braço e por um olhar preocupado e fazer conjunto com um sorriso tímido.
- Rosie.. eu sei que de uma maneira ou de outra tu vais acabar por desaparecer da minha vida e seguir com a tua.. não vale a pena negar, é a lei da vida, as pessoas vêm e vão conforme uma corrente de vento mas, por favor, hoje volta.. - ele suspirou e dirigiu o olhar até aos seus pés - Depois de Li tu foste a unica pessoa que me trouxe alguma alegria em anos de solidão.. não sei se saberia lidar com perder-te para uma guerra ridícula..
Sem dizer nada apenas me aproximei do loiro deixando um pequeno beijo na sua testa coberta de sardas.
- Eu prometo. - disse engolindo em seco e virando as costas ao rapaz.
Com todas as forças que reuni naqueles dias de descanso corri o mais rápido que pude.. talvez tivesse sido mais seguro ir devagar, para não dar tanto nas vistas mas, feliz ou infelizmente, todos os soldados que estavam naqueles encontravam-se realmente mortos. O cheiro que pairava no ar não deixava espaço para enganos. Era uma mistura tenebrosa de sangue coagulado com carne podre e dejetos.
Ofegante cheguei à porta de entrada e rezei, do fundo da minha alma, para que esta estivesse aberta. Felizmente as minhas preces foram ouvidas pois a porta não só estava aberta como a fechadura estava partida, indicando que tinha sido forçada. Facto tal que me deixou bastante mais nervosa do que eu já estava, talvez a base tivesse sido atacada por marginais irlandeses.. mas numa fase tão terminal da guerra, teriam sido realmente irlandeses a rebelar-se? Mesmo sendo uma minoria tão minúscula? E sem qualquer tipo de reforço teriam sido capazes de provocar tantos estragos?
Respirei fundo e abri a porta.
Nada.
Não havia absolutamente NADA.
Eu conhecia aquela entrada, tinha sido por ali que tinha entrado com Styles no dia em que este cretino me levou até ao lago gelado.
No entando, naquele corredor agora vazio fazia-se sentir uma grande e significante diferença. Antigamente por toda a extensão daquele largo comprido corredor costumavam estar espalhadas malas, comidas ou restos das mesmas, roupas e outros objetos não identificados.. mas agora só existia uma grande quantidade de vários nadas.
Era um cenários deveras assombroso, tendo em conta o antes e o depois.
Dei por mim a tremer enquanto caminhava pelo corredor que parecia cada vez mais não ter fim.
Inconscientemente acabei por fazer o caminho que Styles me tinha ensinado mas parei abruptamente em frente a uma parede grafitada com grandes letras vermelhas.
" Se os Ingleses morressem a maneira como mataram os oceanos tomariam a cor mais escura alguma vez vista. Vamos pintar o mundo de vermelho! " - ITMK.
Engoli em seco com a frontalidade daquelas palavras. Tinha sido realmente um grupo de rebeldes.
Dei por mim a escorregar pela parede oposta com as mãos na cabeça.
O que é que eu estava ali a fazer?
De que respostas estava eu realmente à procura?
O que é que eu queria realmente daquela visita ao possível cenário de um filme de terror mais assustador do ano?
Tentei formular um plano porém, o meu cérebro estava a mil, nenhuma informação parecia querer circulas, eram demasiadas opções mas poucas com algum cabimento.
Depois de algum tempo de frustração e terror pelo silencio ensurdecedor cheguei à conclusão de que talvez o sítio indicado para me dirigir em primeiro lugar seria a cozinha, ou o refeitório, como Styles lhe chamou quando por lá passamos.
Então tomei uma dose dupla de coragem e força e fiz caminho até ao meu destino.
Conforme caminhava pelos restantes corredores apercebia-me, de uma maneira um pouco macabra, de que o recinto exterior não tinha sido o único palco para a morte. Espalhados pelo chão pelos quartos e paredes estavam homens mortos, a maioria com tiros certeiros no crânio. Quem quer que tivesse feito aquilo, sabia o que estava a fazer. E muito bem.
Sem me aperceber suspirava de alívio sempre que via que nenhum dos homens era Styles, era algo completamente inconsciente e inocente.. mas estranhamente tranquilizava-me a ideia de que talvez ele tivesse conseguido sobreviver.
Finalmente e infelizmente acabei por chegar ao meu destino. O cenário principal daquele espectáculo de horrores. O refeitório, contrariamente o primeiro corredor estava totalmente virado do avesso.
Mesas de pernas para o ar, cadeiras partidas, vidros estilhaçados, corpos sangrentos e completamente desfigurados.. naquele local não existia ninguém somente com um tiro certeiro na cabeça, quem quer que tivesse morto aqueles soldados fez questão de ver o seu sangue escorrer pelo chão.
As moscas e outros insectos nojentos começavam a aproveitar-se da "carne fresca" que lhes tinha sido deixada de graça. O meu estômago que já não estava no seu melhor estado revirou por completo e inclusive senti o vomito na minha garganta quando ao olhar para cima vi uma cabeça solta do seu corpo, pendurada numa das paredes.
Já com as lágrimas de terror e medo a escorrerem desesperada e furiosamente pelo meu rosto entendi de quem se tratava, recuei em estado de total choque ainda com os olhos vidrados na cabeça sem qualquer vestígio de corpo.
Era o comandante.
O pai de Styles.
E foi perante aquele cenário tenebroso que algo em mim despertou, como uma ansiedade dolorosa e o mais rápido que os meus pés e pernas me permitiram corri até ao quarto do soldado que talvez fosse o real motivo de eu ali estar.
Talvez ele tivesse sido inteligente o suficiente para sobreviver.
Se ir esperançosa até ao seu quarto foi uma ideia estúpida e precipitada? Talvez tenha sido, bastante até.
As probabilidades de chegar ao seu quarto e apenas o encontrar vazio ou remexido eram grandes. No entanto algo me dizia que era o mais acertado a fazer. Querendo ou não o soldado rude tinha-me salvo, talvez eu tivesse uma pequena esperança que iria conseguir retribuir o favor. Em situações bastante diferentes e no entanto bastante semelhantes.
De alguma maneira aquela decisão ridícula fazia sentido para mim.
Cheguei à porta do quarto 213.. o seu quarto. Como previ estava fechada.
Podia ou não ser um bom sinal.
Respirei fundo e lancei a mão à maçaneta, engoli em seco, contei até 10 e rodei a maçaneta.
Estava trancada.
- Merda - murmurei.
Bati à porta e esperei por algum som que indicasse algum tipo de sinal de vida. Mas nada veio em resposta, nenhum som ou ruído. Não estava lá ninguém.
Já devia estar à espera.. tinha sido estúpida ao ponto de ter esperanças.
Afastei-me da porta, pronta para desistir do que quer que tenha tentado ir fazer naquele local.. pronta para regressar para perto de Niall, de mãos a abanar e sem respostas.
- MERDA, MERDA, MERDA! - berrei e impulsivamente dei um murro na porta do antigo quanto do Soldado Styles.
Com as lágrimas de frustração a escorrer pelo meu rosto estava pronta a dar a volta e sair daquele local e regressar para onde vim ouvi um pequeno gemido de dor.
Pisquei os olhos confusa, estava com certeza a alucinar... efeitos secundários da frustração.
- F....uck - Ouvi de novo. Encostei-me à porta. Parecia vir do interior do quarto.
Sem pensar muito profundamente no assunto recuei uns quantos passo, reuni todas as minhas, poucas, forças e sem saber muito bem como dei um pontapé na porta fazendo a fechadura partir-se e cair no chão e seguidamente a porta abrir-se mais lentamente do que eu estava à espera.
Respirei fundo uma última vez antes de entrar no quarto. Quando o fiz olhei ao meu redor à procura de algo ou alguém.
Até que finalmente, no canto mais escuro eu vi.
Uma imagem da qual nunca, mas nunca me irei esquecer. Foi O dia em que o meu coração quebrou foi o dia em que eu o vi, naquele canto, naquele estado, com aquele olhar.
uhhhhhhh, PALPITES do que terá acontecido?