01 - Run.

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04-02-2040

23h00

A noite estava tão escura como a alma de todos os irlandeses que tinham perdido as suas casas e famílias. A temperatura que se fazia sentir gelava todo o meu corpo, tal que se encontrava coberto apenas por uma camada muito fina de um velho tecido roto e sujo e um casaco maltrapilho que havia roubado de um corpo quase morto que dormira ao meu lado cerca de duas semanas antes.

A minha respiração estava inconstante e a minha garganta doía horrores devido à recente corrida a que fora obrigada, logo após me ter apercebido do ataque que estava prestes a acontecer à casa cheia de pessoas onde eu me encontrava escondida e quase adormecida.

As minhas pernas doíam e ameaçavam fracassar, a minha cabeça latejava e o meu estômago revirava-se num pedido constante por qualquer tipo de alimento que pudesse saciar a minha fome.

Aproximadamente 30 minutos de caminhada depois do sucedido eu sentia que não estava de todo capaz ir mais longe.

Vi-me parada relativamente perto de um grande e conhecido hostel que tinha sido ocupado por soldados Ingleses que do antigo alojamento fizeram uma base militar.

E, embora eu tivesse a perfeita e nítida noção de que, ao passar ali a noite estaria a arriscar-me a não acordar na manhã seguinte os meu estado garantia-me que mais uns minutos e o meu corpo iria ceder.

Entrei então para uma das casas que tinham sido  abandonadas e suspirei de alívio ao verificar que para além de estar vazia parecia que ainda nenhum fugitivo ali tinha estado o que poderia querer dizer que iram existir restos de comida algures numa dispensa ou eventual frigorífico.

Andei o mais rápido e possivel e, ainda que às apalpadelas comecei a procurar por algo como uma cozinha. Passados uns 5 minutos de ir contra moveis e cortar os pés em vidros partidos consegui encontrar a cozinha que, felizmente tinha iluminação da lua permitindo-me ver com clareza o local. Por incrível que parecesse, a cozinha estava, ao contrário do resto da casa, praticamente igual ao que teria sido em tempos, facto que, fez o meu estômago roncar em expectativa. Comecei então e investigar o local encontrando apenas moveis vazios ou com louça partida e empoeirada. Prestes a desistir e já com uma tristeza enorme a apoderar-se de mim avistei uma espécie de armário embutido na parede e, ainda que,  com pouca expectativa caminhei até ao mesmo. Quando abri o móvel eu pude jurar que lágrimas de felicidade desceram pelo meu rosto ao ver algo como, uma lata de atum, pão com côdea e uma garrafa de sumo meio cheia. Agarrei na lata de atum e enfiei-a num dos bolos largos do casaco. Sabia que seria útil para um dia. Abri o saco do pão e ainda de extremamente rijo eu sorri. Corri ao móvel onde anteriormente tinha visto facas e depois de guardar uma no outro bolso usei a outra para cortar um pedaço do pão levando-o à boca para o desfazer com saliva.

Três fatias e mais ou menos 20 minutos depois eu comecei a procurar por um lugar na casa para descansar o corpo até ao amanhecer. Sendo que assim que os primeiros raios de sol ameaçassem aparecer teria de correr o mais rápido que conseguisse para longe daquele local.

Pela posição da Lua eu assumia que apenas uma hora se tinha passado desde que eu "adormecera" quando comecei a ouvir umas vozes grossas perto da casa. O meu coração disparou e o medo tomou todas as veias e artérias do meu corpo. Sabia do que se tratava, sabia que não eram fugitivos como eu. Tinham vozes grossas e autoritárias e ainda que fosse uma conversa  banal entre prováveis colegas e talvez amigos conseguia-se distinguir a confiança que não existia mais nas vozes do povo irlandês. Além disso eram óbvio que nenhum fugitivo se atreveria a sequer respirar mais alto do que o costume tão perto de uma base inglesa. Só alguém realmente suicida.

Andei apressada pela casa procurando por umas traseiras, ou por algo que desse saída para o lado oposto ao das vozes. Não encontrei uma porta mas sim uma janela aberta e foi por ela que saí.

Caminhei por entre as ruas escuras continuando a ouvir as vozes. Entrei para um beco pensando que ali elas não me iriam ver ou sequer passar por ali, mas, pelo contrário elas pareciam cada vez mais próximas e agora já conseguia ouvir o que diziam.

- Acho ridículo que penses assim. - a primeira voz, um tanto fina, afirmou.

- Tanto faz - a segunda, bastantes tons mais grossa e arrastada disse calmamente.

- Merda, acabaram os meus cigarros, tens alguns contigo?- a primeira perguntou. Não sabia se existiam mais pessoas mas não achava que sim.

- Ter tenho mas nem sequer te acho uma boa companhia por isso ficas a ressacar. - A mais grossa respondeu.

- Porque é que és assim? -

- Porque acho ridículos os vícios, acho ridículo ver que não consegues viver sem o teu precioso maço de Malboro e que os teus dedos já tremem de tanto acenderem o isqueiro- o segundo disse num tom indiferente, dizendo aquilo como quem diz que o céu é azul. Ou era.

- Meu, isso não funciona assim , todos temos vícios.. Um fumam, outros drogam-se, alguns bebem para esquecer, outros consomem para lembrar. Há quem faz sexo para amar e quem foda para esquecer. Somos feitos de vícios.-  A voz mais aguda disse num tom elevado como se tentasse provar algo e que o aumento do tom de voz lhe fosse dar mais razão. O meu corpo tremia cada vez mais mas a respiração parecia ter acalmado pois as vozes nem se aproximavam nem se afastavam o que queria dizer que estavam parados.

- Isso não tem de ser verdade, eu faço todas essas coisas e nenhuma delas é um vicio meu. Sei viver sem tabaco, sobrevivo sem heroína, o meu wisky não me faz sempre falta, faço sexo com quem precisa de amor e fodo com quem acha que assim consegue esconder. - A mesma voz calma e com um tom de indiferença respondeu e pode-se ouvir um grunhido, provavelmente de frustração.

- Como queiras Styles, falar contigo é o mesmo que falar com uma parede, não sabes nunca ver o lado da outra pessoas. Vou voltar a base, despeja a merda do lixo e tenta não morrer.- o irritado disse e eu pude ouvir as suas botas pesadas caminhar para longe.

O segundo não respondeu e, embora aquilo pudesse ser um sinal de que eu me safaria naquela noite eu não sabia exatamente onde eram os contentores por isso não sabia ao certo se era um bom ou mau sinal.

Rastejei o meu corpo para trás até o senti embater contra algo. Quando me virei para trás eu vi a minha morte passar me à frente dos olhos, eu tinha embatido num contentor do lixo. Engoli em seco ao que ouvi as botas pesadas aproximarem-se , escondi-me ao lado do contentor e assim que vi a sombra do homem mistério o meu corpo entrou em estado choque e fez o que qualquer corpo faria, desligou. Depois disso sabia que a próxima visão que teria seria a do outro lado.

Porque o homem com o seu tom de voz tão seria declararia por certo a minha morte, ao lado de um contentor para onde provavelmente eu seria atirada.

Estava acabada a minha luta.

Ou assim pensei eu.


Nada nunca é assim tão fácil.








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AI MEU DEUS AO TEMPO QUE EU NÃO ESCREVIA! O que acharam? tbh acho que perdi as skilllzzz mas..

Soldier Heart. | H.S || A RESCREVERWhere stories live. Discover now