20. Mr. William.

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Desculpem a demora mas eu tive um bloqueio!

Três dias se tinham passado desde que deixara para trás Harry e com ele, qualquer oportunidade que existisse de reconstruir a minha vida. Ainda que, a possível seria totalmente baseada em mentiras e identidades falsas.

Não podia negar que me sentia triste, era óbvio que estava. Para além de sem esperanças, estava também sem forças, tinha regressado à vida de rua, de sem-abrigo, de mendiga. O ar lavado que tinha conseguido reconstruir enquanto a minha vida se estava a tornar razoavelmente estável tinha desaparecido e o meu rosto tornara-se novamente cinzento, com feridas de quedas e de dormir em qualquer canto. A tatuagem doía-me significando que, muito provavelmente estaria infectada, eu preferia nem olhar, a ilusão era tranquilizante.

Apesar de todos os contratempos pessoais, até então nada de mal me tinha acontecido, ninguém tinha tentado aproximar-se de mim, na verdade, não se viam realmente pessoas nas ruas, estava tudo deserto e as razões oscilavam entre a morte e a fuga. Os poucos restos de humano que se viam estavam quase apagados de tão vazios, cinzentos e amedrontados que estavam.

Eu estava a cair, novamente. Porém, daquela vez, eu não queria ceder, negava-me a perder, a perder-me.

Soube que não tinha muito mais por onde ir quando atingi o mar, estava na praia.

Respirei fundo enquanto, lentamente, parava de andar. Dei-me ao pequeno luxo que era poder sentir a areia nos meus pés e o cheiro do mar a infiltrar-se pelas minhas narinas e abraçar-me, metaforicamente.

Sentei-me quase à beira-mar e, durante os primeiros dez minutos de ali estar uma sensação um pouco desconfortável apoderou-se de mim, deixando-me, desse modo, com um sentimento agoniante a apertar todas as minhas entranhas, fazendo a minha cabeça rodar. O silêncio de barulho humano era ensurdecedor e, por muito que a ideia de não ter de estar com ninguém pudesse parecer tentadora, só o fora nos primeiros tempos.

Eu sentia falta de algo, ou de alguém. Naquele momento tão cheio e tão vazio eu sentia que tudo era demasiado só para mim, sentia a repentina necessidade de algum conforto, de ombro onde pudesse descansar e fechar os olhos.

Naquele momento tão, agoniante eu apercebi-me de que.. mesmo que gostasse de ficar sozinha, eu não gostava de estar sozinha.

E era mesmo assim que eu estava, sozinha.. completamente sozinha, eu tinha sido capaz de destruir tudo o que poderia ser a minha salvação, tinha negado todas as possíveis fugas clandestinas, recusado todos os convites de grupos rebeldes, fugido de Harry... duas vezes. Virado as costas a Niall e provavelmente assustado o seu amor.

Eu tinha, de algum modo, destruído a minha vida. Sem que fosse preciso a guerra o fazer.

Já algumas lágrimas desesperadas tinham escorrido pelo meu rosto quando me levantei, complemente cheia de mim e confiante de que, de algum modo iria arranjar uma solução e que, iria também dar uma volta à minha vida e conseguir dar-lhe alguma estabilidade, talvez ainda no pais em alguma aldeia muito longe da cidade, talvez fora do mesmo.

Alguma coisa se haveria de arranjar.

Os meus pés afundavam-se na areia pouco molhada à medida que, lentamente, caminhava de regresso.. e abandonava a praia de Portmarnock, uma praia que, assim que espreitassem os primeiros raios de sol enchia, todos os irlandeses de Dublin para ali iam e, em tempos também eu havia ido. Porém, agora nem uma mosca era possível ser vista, e, ainda que o tempo não estivesse no seu melhor, era uma visão no mínimo agoniante.

Os meus pés tocaram o chão alcatroado e eu soube que era hora de me fazer à estrada, onde quer que esta me levasse. Não podia negar que estava desmotivada, a minha vontade era de simplesmente desistir de qualquer ideia, regressar à praia e, sem pensar mais no assunto deixar que fosse o mar a levar-me para onde quisesse.

Soldier Heart. | H.S || A RESCREVEROnde as histórias ganham vida. Descobre agora