Meu Deus o que eu fiz
A arma ainda está quente
Observo a fumaça que sai do cano
Aqui do meu canto próximo a porta
Vejo os corpos jogados em cima da cama
Com lençol suado e bagunçado agora manchado
Ela sempre foi o amor da minha vida
Como foi prometido na nossa igrejinha
Numa cerimônia simples mas linda
Que somente a morte nos separaria
Quem diria que assim mesmo aconteceria
Ela traiu todas as minhas juras de amor
Todas as lágrimas que eu derramei
Todo o tempo que dediquei a ela
Eu não fui capaz de raciocinar
Foi impulsivo iludido impetuoso
Mas ele
logo ele
tinha que ser ele
Frequentava minha casa com liberdade
Sua brincadeiras me enganaram de verdade
A quanto tempo trocavam olhares
Trocavam carícias mais íntimas
Trocaram risadas da minha cara
Logo ele que cresceu comigo
Conviveu do meu dia a dia
Acompanhou minhas conquistas
Viu eu fazer dela minha princesa
Princesa não ela era minha rainha
Poxa o que eu fui fazer
Porque fingir que foi trabalhar
Esperei até eles saírem de carro
Pois já estava meio desconfiado
E dei ouvidos a alguns comentários
Não acreditei quando no motel entraram
Eu assistii todo bem calado
A forma como se abraçaram
Os beijos enlouquecidos que davam
Os gritos os gemidos os palavrões
Os movimentos dos corpos
Os arranhões e puxões
O gozo e eu ficando louco
Com um demônio no corpo
Que antes preso mas agora solto
Com fome de justiça?
Não, com fome de sangue
Meu amor quando me olhou
Nem deu tempo de dizer nada
A arma já apontada engatilhada
Fez um estrago no meio da cara
O sangue jorrava no corpo dele
Enquanto minhas lágrimas rolavam
Não fria como de costume
Mas fervendo como larva
Ele amedrontado olhou na minha cara
Gaguejando e tremendo tanto
Não consegui entender uma palavra
Somente o sopro no meu ouvido
Dizendo ele te fez corno então
Mata
Ainda ouço a voz na minha mente
Ainda ouço aquela gargalhada macabra
Ainda ouço o barulho do tiro
Ainda ouço os desesperados gritos
Falando meu irmão
não
Faça
Isso
Meu Deus o que eu fiz
Gilson Gonçalves