O Amor (nem sempre) Mora ao L...

由 renatavarelaescreve

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Becca namora Louis há dois anos. Dan acabou de sair de um relacionamento de sete, traído e magoado... 更多

Nota da autora
PRÓLOGO
PARTE 1
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
PARTE 2
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
PARTE 3
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO
CAPÍTULO VINTE E SEIS
CAPÍTULO VINTE E SETE
CAPÍTULO VINTE E OITO
CAPÍTULO VINTE E NOVE
CAPÍTULO TRINTA
Playlist <3
CAPÍTULO TRINTA E UM
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
PARTE 4
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO - PARTE 1
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO - PARTE 2
CAPÍTULO TRINTA E CINCO
CAPÍTULO TRINTA E SEIS
CAPÍTULO TRINTA E SETE
CAPÍTULO TRINTA E OITO
CAPÍTULO 38 [pra quem não está conseguindo ler o outro]
CAPÍTULO TRINTA E NOVE
Não é Capítulo mas é importante por enquanto 💫
CAPÍTULO QUARENTA
CAPÍTULO QUARENTA E UM
CAPÍTULO QUARENTA E DOIS
CAPÍTULO QUARENTA E TRÊS
CAPÍTULO QUARENTA E TRÊS
CAPÍTULO QUARENTA E QUATRO
CAPÍTULO BÔNUS
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
Grupo no Whatsapp!
PRIMEIRO RASCUNHO
É oficial: o livro do Nicolas está aqui!
aviso de retirada
✨ Curiosidades ✨
#EspalheBondade
whatsapp

CAPÍTULO TREZE

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由 renatavarelaescreve

~~ brincadeira de criança ~~

Em dez minutos, nuvens decidiram apressar o passo, cobrir o céu em cima de Valentina e fazer todo mundo sair correndo para o abrigo mais próximo. Para Rebecca, Daniel e Zeus, não houve abrigo. Depois de uma ideia estúpida de achar que poderiam chegar em casa em menos de cinco minutos, caso corressem, os três acabaram ensopados na varanda da casa de Daniel (por questões de desespero; a casa dele fica antes da casa de Rebecca, e ela sequer pensou em dar mais dez passos e entrar em sua própria sala). Tinham corrido por doze minutos.

Zeus balançou todo o corpo, se livrando da água que se acumulava em seus pelos e achou que seria uma boa ideia sair correndo por toda a casa, pulando em cima de Rebecca e Daniel, que fizeram festa para ele, e abocanhar um livro jogado no sofá.

— Zeus, isso não! — Daniel berrou e o cachorro lhe lançou uma olhada longa, magoado. — Desculpa, mas não pode, grandão. — Ele afagou as orelhas molhadas do cão e sentou-se na cadeira de alumínio na varanda. O material gelado lhe causou arrepios.

Rebecca e Daniel estavam encharcados. Roupas, cabelos, sapatos. Cada centímetro do corpo deles tinha sido atingido pela água, e tudo bem por Rebecca. Mas, o que ela não sabia era que Daniel tem sérios problemas com banho de chuva e imunidade baixa, e, o mais importante: o irmão, Anderson, tinha passado uma semana inteira espirrando sem parar. Daniel estava prestes a explodir em uma série de espirros seguidos, escandalosos e nada bonitos.

— Ah, droga. — Praguejou ele, entre um espirro e outro.

— Minha nossa senhora! — Exclamou Rebecca, sem saber o que fazer. — Isso já é um resfriado? — Perguntou ela, levantando-se, mas não sabia bem o porquê. Não tinha nada que pudesse fazer por Daniel naquele momento.

Ele também levantou, para surpresa dela, e se livrou da camisa, exibindo o peito nu.

A boca de Rebecca formou um "o" perfeito. Porque ela não esperava vê-lo sem camisa, e nada mais que isso.

Daniel apressou-se em abrir a porta e sair do meio do conflito entre o ar gélido e os respingos de água de chuva que acontecia na varanda, enlaçando seu corpo em desvantagem.

— Eu devia ter adivinhado — ele disse, espirro — que isso aconteceria — espirro — mas sempre acho que sou de ferro e não — espirro, espirro — ...não vou ter nada dessa vez.

— É... é normal você ficar gripado tão fácil?

— Não é gripe, é só um resfriado. Desde criança, nunca pude me divertir na chuva ou me entupir de sorvete, pois logo depois estou morrendo na cama, com o nariz entupido e vermelho.

Daniel ainda estava sem camisa, o que incomodou Rebecca. Por nada além de ele estar seminu e aparentando sentir frio – e devia estar sentindo frio mesmo, já que tremia um pouco.

— Você devia tomar um banho quente, tirar essas roupas molhadas. — Sugeriu ela.

— Você também. — Ele soltou, sem nenhuma outra intenção além de alerta-la que deveria trocar as roupas, mas os dois se entreolharam por cerca de dez segundos e Daniel decidiu que deveria se explicar: — Tomar um banho na sua casa, é claro. Separados.

— Eu sei! — Rebecca berrou.

Zeus, ainda animado, correu de repente até Daniel e pulou com as patas em sua barriga, arranhando um pouco o abdômen dele, mas não era esse o foco. Ele abocanhou a camisa de Dan, que estava pendurada no ombro do rapaz, e correu casa afora.

Rebecca e Daniel foram atrás do animal para saber até onde ele levaria a roupa molhada, e ver o estrago causado por Zeus. Ele tinha histórico de enterrar objetos aleatórios, mas uma camisa nunca tinha sido seu alvo.

Estranhamente, ele não foi para o quintal enterrar a roupa. Ele atravessou a cerca e parou do outro lado, no quintal da casa de Rebecca. Zeus largou a camisa – molhada e babada – no chão da varanda de Rebecca e abaixou as orelhas, como quem quer dizer alguma coisa como "viu o que eu fiz?"

— O que é isso, Zeus? O que você quer com isso? — Rebecca se aproximou para apanhar a camisa, mas ele foi mais rápido e logo estava com a roupa de Daniel novamente na boca. Becca correu atrás do animal de estimação para recuperar a camisa de Daniel, enquanto este tremia, parado debaixo do telhado da varanda.

— Zeus, me dá isso aqui!

Quando ela estava a meio metro dele, o cão danava-se a correr novamente. Daniel começou a rir da travessura de Zeus, causando indignação em Rebecca.

Ela parou, ofegante, já no meio do quintal, debaixo da chuva que agora caía com menos intensidade, e apoiou as mãos na cintura.

— Você só ri porque não pode vir até aqui lutar junto comigo. — Gritou ela por cima do barulho da chuva nos telhados — É injusto, sabia?

Daniel, então, deu de ombros como quem diz "dane-se" e se pôs na chuva novamente. Sabia muito bem que só estava piorando sua situação, mas não se importava. Quantas vezes já não tinha feito a mesma coisa?

Mesmo sabendo que o que acontecerá no final não é muito agradável, quando se está fazendo algo que gosta, o que importa é aproveitar o meio, aproveitar enquanto tudo ainda está bem. E Daniel ainda estava bem.

Bem... mais ou menos bem, mas ainda assim na categoria bem.

Então ele correu atrás de Zeus, debaixo da chuva. O cachorro animou-se duas vezes mais ao ver Daniel correndo em sua direção e começou um jogo de atravessar a cerca quantas vezes for possível até irritar os humanos. Becca, cansada de correr de um lado para o outro, parou, se rendendo. Zeus pulou em cima dela freneticamente, latindo e rosnando, e Daniel agarrou o cachorro nos braços, aproveitando o vacilo.

— Te peguei!

Zeus largou a camisa no chão e Rebecca a apanhou, finalmente.

— A gente devia ter deixado pra lá, né? Está meio arruinada mesmo. — Lamentou ela.

Daniel brincava com Zeus em seus braços e sequer ouviu o que ela disse.

Rebecca ficou ali, sentindo os pingos de chuva baterem em seu rosto, mas não fazendo efeito nenhum além de causar um certo incômodo, e olhando Daniel brincar com Zeus. Distraída enquanto fitava os dois ali, Becca chutou uma minúscula poça d'água a seus pés, e isso Daniel sentiu.

Ele a fitou com os olhos semicerrados e a boca aberta.

— Está me provocando? — Questionou ele entredentes.

Becca riu e chutou a poça mais uma vez. Daniel pôs Zeus no chão, e quando ergueu o corpo, estava numa posição de ataque. Rebecca correu.

Não tinha nada mais a fazer, então ela correu.

Era inútil molhar um ao outro estando ambos ensopados, mas fizeram mesmo assim, como duas crianças brincando na chuva pela primeira vez.

✩✩✩

Espirro, espirro, espirro.

Daniel já estava em roupas quentes e confortáveis, deitado no sofá confortável de sua sala e segurando uma xícara de chá para gripe, mas os espirros ainda insistiam em aparecer. Todo o corpo de Daniel estremecia ao final de cada rodada de espirros e ele gemia, exausto.

Rebecca estava na sua casa, provavelmente conversando com Louis ou resolvendo questões do seu negócio em construção, e ele ficou lá, deitado, de molho.

Mesmo que ele tinha se sabotado e acabado naquele estado conscientemente, tinha valido a pena. Há muito tempo não gargalhava como tinha gargalhado naquela tarde, e há muito tempo não tomava um banho de chuva digno até de lama – Rebecca pegava pesado nas brincadeiras, ele descobriu. Há muito tempo desde que tudo tinha acabado com Eliana ele não se divertia com outra pessoa.

E sentia falta disso.

Ah, como sentia.

Três batidas fortes na porta fizeram Daniel despertar do cochilo repentino que tinha dado, e ele resmungou para entrarem.

Era Rebecca, acompanhada de Zeus, ambos enxutos e renovados. Já era oito e trinta da noite e Daniel começava a sentir o corpo quebrado. Era injusto não poder viver a vida, aproveitar as pequenas coisas, sem passar por aquilo.

Mas, novamente, valera a pena.

— Eu estava conversando com Louis — Rebecca já entrara falando — e ele disse que tomar mel com limão é bom quando está assim meio... borocoxô. Então, eu trouxe um pouco.

— Eu não tô... — Daniel pausou e fez careta. Espirro, espirro — borocoxô. — Ele suspirou depois do fracasso dos espirros. — Obrigado.

Rebecca se limitou a encarar o corpo de Daniel jogado no sofá, envolto num lençol amassado, o nariz parecendo ter sido substituído por um tomate, os olhos pequenos.

Hu-rum, ele não estava borocoxô.

— Eu lembrei de uma coisa. — Disse Danielã, repentinamente.

Rebecca continuou calada, pois quando alguém diz "lembrei de uma coisa", o normal é continuar. Daniel não continuou e ela perguntou:

— Ah, é mesmo?

— Sim. Sobre o que conversamos hoje... esqueci de dizer, mas lembrei agora.

Daniel não facilitava e continuava querendo que Rebecca o encorajasse a continuar. Ela perguntou novamente:

— Ah, é mesmo?

Daniel percebeu o que ela estava fazendo e finalmente finalizou:

— Sobre fazer boas ações, e tal. Daqui dois meses, mais ou menos... perto do inverno, terá uma campanha... para arrecadar roupas em especial agasalhos, e um bazar para levantar dinheiro e ser doado para um orfanato na Capital. É organizada por algumas pessoas que conheço. Será bom pra você sentir que está ajudando, é um bom começo. Se quiser ir, eu lhe levo.

— Ah! — Rebecca bateu palminhas e animou-se — Seria ótimo. Posso levar Giovanna e Clara, também. E Mari. E Nicolas. Todos nós ajudaremos. — Ela sorriu abertamente. Tinha gostado da ideia. Daniel riu com a animação da vizinha, e tossiu com a risada.

— Ótimo, então. — Ele disse quando se recuperou — Eu te aviso quando formos recolher os casacos e quando será o bazar.

— Ótimo. — Becca repetiu, assentindo.

— Louis... tá bem? — Pergunto Dan, depois de um tempo, se esforçando para sentar-se.

— Tá, sim. — Rebecca sentou-se numa cadeira ao lado do sofá, mesmo tendo espaço ao lado de Daniel. Seria melhor evitar o contato tão próximo. — Estava falando com ele no telefone agora há pouco. Ele irá participar agora de uma conferência à distância com o pessoal lá do Rio.

— Hm. — Daniel pensou um pouco. Estava encontrando dificuldade para pensar com clareza. — Ele trabalha bastante, né? Esforçado o garoto.

Ela exibiu um sorriso congelado e se remexeu na cadeira, desconfortável em falar do namorado.

— Sim, ele trabalha bastante. — Confirmou.

— Como você conseguiu conhecer ele? Ele não estava trabalhando?

Becca riu.

— Não. Foi numa festa, na verdade. Num casamento. Amigos em comum, e tal.

— Entendi.

— Foi amor à primeira vista, então?

— Deus, não. Não! Eu não gostei dele à primeira vista, e ele sequer me notou. Estava distante, parecia que não queria falar com ninguém, parecia nervoso. — Rebecca fez uma careta enjoada.

— Estava ansioso por ter conhecido a mulher mais bonita da festa.

Rebecca soltou todo o ar das bochechas como um balão espetado por um alfinete.

— É, certo. — Ela revirou os olhos.

— Por que não?

— Porque era um casamento. Pelo menos a mulher mais bonita lá era a noiva.

— Estava casada, então é difícil prestar atenção em alguém casado.

— As damas de honra.

— Todas um pouco piriguetes.

Rebecca riu soltando ar pelo nariz.

— Ele ainda podia acha-las bonitas. — Contestou.

— Mas não ia se apaixonar. Ele estava nervoso porque estava se apaixonando.

Rebecca cansou e suspirou.

— Você não dá o braço a torcer mesmo, né?

Nunca. Embora eu tenha torcido o braço duas vezes.

— Sério?!

— Não. — Dan manteve a seriedade no rosto.

— Ah.

— Foram quatro vezes.

— Meu Deus! — Becca cuspiu uma risada. — Nunca quebrei nada...

— Você não viveu, Rebecca? Cada dia mais acho que você viveu debaixo de uma pedra até, tipo, dois anos atrás.

— Louis me tirou desse casulo.

— Devo agradecê-lo, me lembre.

— Por quê? Fez tanta diferença assim na sua vida?

Rebecca se acomodou mais na cadeira e cruzou as pernas em cima do almofadado.

— Tá brincando? Olha só essa vizinhança... eu não ia ter ninguém pra conversar, se não fosse você.

— Eles não são tão ruins assim. É só saber lidar.

— Seu Roberto sabe mais da minha vida do que eu mesmo. É espantador. Ele me perguntou se eu iria voltar com Eliana depois de ela ter dormido aqui.

Rebecca balbuciou nada em específico e tentou guardar a informação.

Eliana.

A ex-namorada de quem Nicolas falou? Eles tiveram uma recaída?

— Rebecca? — Daniel chamou a atenção dela, depois de Becca ter ficado em silêncio.

Foi sem querer. Ela só estava concentrada depois de fazer uma observação, o que acontecia com frequência, e não era nada bom para ela; sempre deixava claro que ela estava... estupefata. Ou reagindo.

Daniel coçou a garganta.

— Desculpa ter falado da Eliana assim, é só que... Seu Roberto realmente sabia!

Becca balançou a cabeça de um lado para o outro. Queria perguntar mais sobre Eliana, saber o máximo possível. Porque é humana, e seres humanos tendem a desenvolverem curiosidade quando o outro não ajuda nas informações e parece manter segredo.

Ela estava curiosa, mas lutou contra o instinto de perguntar e desviou o assunto:

— Seu Roberto realmente sabe de tudo. Ele observa a rua inteira, dia e noite. Provavelmente está nos espionando agora. — Ela olhou de um lado para o outro com os olhos arregalados, exagerando na demonstração de desconfiança. Daniel riu e tossiu em seguida, o que o fez rir mais ainda.

— Sério! — Continuou Rebecca — Ele deve achar que estamos tendo um caso ardente. Quando Louis vier aqui ele provavelmente vai comentar algo.

— O que ele já falou da sua vida? — Quis saber Daniel.

Rebecca levou a sério a pergunta e pensou por um tempo, lembrando de tudo.

— Minha nossa senhora. Ele já disse que eu tinha um caso com Clara, minha amiga e administradora lá da Boutique. Clara namorava com Mari na época, já, e isso causou uma confusão, porque Mari não conhecia ninguém muito bem ainda, então imagine só...

— Meu Deus, ele gosta de inventar casos para as pessoas...

— Adora!

— Mais algum?

— Um dia, Gio estava esperando por mim na varanda, e Louis chegou logo em seguida... ah, espera! Não foi Seu Roberto, foi Cláudia! A vizinha do final da rua — Rebecca apontou para a frente, mesmo que estivessem dentro de casa, querendo mostrar para onde estava se referindo — Sabe?

Daniel assentiu encorajando-a a continuar.

— Você já falou com ela? Ela é a versão feminina e mais nova do Seu Roberto, mas ela é legal! Depois que ela nos conhece, não fala mais nada. Mas eu tinha quase acabado de me mudar, então ela falou mesmo. Disse que Louis estava me traindo com minha melhor amiga!

— Eu não conversei com ela ainda, mas já conheci bastante gente. Estava pensando em fazer uma festa para conhecer todo mundo, ideia de Anderson, na verdade, mas... nunca fui a melhor pessoa para organizar festas.

— Eu conheço a pessoa perfeita para organizar festas, mas você teria que conhecê-la por muito tempo até se acostumar com o jeito dela.

— Quem é?

— Giovanna. Ela já veio aqui algumas vezes. Na minha casa, quero dizer... E ela estava na boutique as duas vezes que você foi lá, mas você não deve ter reparado.

Espirro, espirro, um gole no chá já frio.

— Não lembro de ninguém lá. — Daniel fungou.

— Sério? Tinham duas mulheres lá: Gio e Clara.

— Hm, sei. Depois quero conhece-las.

— Tudo bem, só não me responsabilizo pelos danos. — Becca levantou as mãos acima da cabeça e arqueou as sobrancelhas.

— Sou grandinho, já sei lidar com essas coisas. — Assegurou ele. Becca deu de ombros, então.

— Tudo bem, você quem sabe.

Zeus tinha dormido aos pés de Rebecca, em frente a cadeira cor de caramelo. Daniel estava falando com um pouco de dificuldade e espirrava a cada cinco minutos, mas conseguia se manter sentado enquanto falava, e a conversa lhe tirava a atenção do muco acumulando em seu pulmão – o que era bom.

— Então, você quebrou o braço quatro vezes? — Daniel se surpreendeu com Rebecca voltando a um assunto que até ele já havia esquecido.

— Ah, sim. Quatro. E fui atropelado duas vezes.

— Como você ainda está vivo? — Espantou-se ela.

— Foram coisas pequenas... fui atropelado por um carro em baixa velocidade e por uma moto, então não foi nada demais. Os braços quebrados foram mais graves que os atropelamentos.

— Você faz alguma coisa engraçada com os braços? Depois e ter quebrado, e tal.

Daniel virou o braço esquerdo para trás num ângulo 90º. Rebecca meio que estreitou as sobrancelhas, meio que arregalou os olhos e meio que abriu a boca em espanto.

— Que é isso?!

— Você perguntou! — Daniel voltou o braço ao normal e massageou um pouco. O esforço doía, mas ele sempre usava para assustar a irmã mais nova, então havia se acostumado, mas mesmo assim, doía.

— Já me arrependo. — Afirmou ela.

— Isso não é nem o mais estranho... vou esperar um pouco até mostrar os outros.

— Obrigada. — Rebecca forçou um sorriso que pareceu assustador.

— Esse seu sorriso é bem mais bizarro do que meu braço.

— Eu usava pra assustar minha irmã à noite. Ela chorava horrores.

— Que maldade!

— Você tem irmãos mais novos, sabe como é bom atormentar a vida deles.

— Demais.

Um acesso de tosse atingiu Daniel e ele não conseguiu parar até que Rebecca batesse algumas vezes em suas costas. Ela tocou o ombro dele enquanto dava as tapinhas e percebeu seu pescoço quente.

— Você está com febre. — Becca lamentou.

— O chá está fazendo efeito... tomei um remédio também.

— Não está com sono?

— Um pouco, mas me recuso a dormir antes da meia-noite.

Rebecca rolou os olhos para cima e deixou os ombros caírem.

— Deixe de ser cabeça dura. Precisa descansar ou se não seu corpo vai estar duas vezes pior pela manhã.

— Ah, acredite em mim: ele vai estar duas vezes pior de qualquer jeito, então acho melhor não ceder e continuar aqui.

Daniel falava uma coisa, mas seus olhos diziam outra. Ele mal conseguia mantê-los abertos por mais de cinco segundos sem fechá-los em mais que uma piscada.

— Tudo bem, eu fico aqui então.

Rebecca tinha irmãos o suficiente para saber que, quando alguém teimoso se recusa a fazer algo pelo qual não pode lutar, ela só precisa cruzar os braços e esperar. Ana Júlia era a rainha da teimosia, e sempre fazia esse joguinho de "não estou com sono, sou mais forte que isso". Becca já tinha toda a prática de uma jogadora profissional e, além de tudo, tinha paciência, o que era favorável para o seu lado. Numa luta entre teimosia e paciência o segundo sempre vence.

Ela voltou a se sentar na cadeira aconchegante em frente ao sofá e não falou nada mais que monossilábicos até ver que os olhos de Daniel estavam passando mais tempo fechados do que abertos. Quando ele pareceu adormecer – seus olhos não abriam há sete minutos e ele estava ressonando, o peito subindo e descendo num ritmo calmo – ela levantou-se na ponta dos pés, e foi até o sofá. O lençol amassado estava arrastando no chão. Rebecca o jogou por cima de Daniel com cautela para que nada pudesse o acordar, e tentou arrumar o travesseiro na cabeça do rapaz, mas ele remexeu o corpo e gemeu alguma coisa inaudível, então ela recuou. Não queria acordá-lo; seria pior do que se ele não tivesse dormido: iria falar por duas horas sobre como não estava dormindo, só estava de olhos fechados.

Becca esperou mais um minuto.

Daniel estava mesmo dormindo.

Ela limpou a mesa de centro da sala, levou algumas coisas para a cozinha, guardou o mel com limão no armário e voltou para a sala ainda na pontinha dos pés. Zeus estava tão apagado quanto Daniel e só acordou quando Becca o arrastou para fora.

Ela esticou o pescoço para dentro da sala uma última vez para se certificar de que estava tudo certo com Daniel – coberta enroscada em seu corpo, travesseiro parecendo confortável, nada perigoso por perto, e um chinelo ao lado do sofá para quando ele acordar não pisar no chão gelado – e sorriu.

Teria feito muito mais para que ele se sentisse o melhor possível no dia seguinte.

Becca fechou a porta e foi para casa.

Sem conseguir conter um sorriso.

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