A fera

By Carolinevennigkamp

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Eu sou uma fera. Uma fera. Não exatamente um lobo, ou um urso, um gorila ou um cão, mas uma terrível criatura... More

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CHAT
Um Príncipe e uma Bruxa - I
Capitulo 2
Capitulo 3
Capitulo 4
Capitulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capitulo 8 (continuação)
Capítulo 9
Segunda Parte - A Besta
Capitulo 11
Capitulo 12
Capitulo 13
Terceira Parte - O Castelo
Capítulo 15
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21 - Um intruso no jardim
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28 - Lapsos de Tempo, Outono e Inverno
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36 - Feliz para Sempre
Capítulo 37
Capítulo 38
Epílogo

Capítulo 16

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By Carolinevennigkamp


  Tenho que dizer que Will e eu ficamos amigos durante a semana seguinte, à custa do cartãode crédito do papai. Pedimos livros primeiro, porque eu era um estudante sério agora. Livros detexto, mas romances também, e versões em Braille para Will. Era muito legal vê-lo ler com asmãos. Compramos móveis e um rádio por satélite para o quarto de Will. Ele tentou dizer quenão deveríamos gastar tanto, mas não discutiu com muita insistência. 

Contei tudo a Will sobre Kendra e a maldição. 

– Ridículo – disse ele. – Não existem bruxas. Deve ser uma doença. 

– Isso é porque você não pode me ver, se você pudesse acreditaria em bruxas, Disse a ele oquanto precisava encontrar um amor verdadeiro para romper a maldição. Mesmo que aindadissesse que não, eu acho que finalmente eu começou a acreditar. 

– Escolhi um livro que você vai gostar – Will sinalizou para a mesa. Peguei o livro, OCorcunda de Notre– Dame. 

– Você está maluco? Isso tem, o que? Quinhentas páginas. 

Will se encolheu de ombros.

– Eu dei uma olhada. Tem muita ação. Se você não for suficientemente inteligente para lê-lo,então vamos procurar outra coisa. 

Mas eu o li. As horas e os dias passavam e eu lia. Eu gostava de ler nos quartos do quintoandar. Tinha um sofá antigo que empurrei até a janela. Ficava sentado durante horas, algumasvezes lendo, outras observando as pessoas a caminho da estação de metrô ou fazendo compras, aspessoas da minha idade indo a escola ou gazeando. Eu sentia como se conhecesse todos. 

Mas também lia sobre o Quasimodo, o corcunda, que vivia na catedral de Notre– Dame. Éclaro, eu sabia por que Will tinha sugerido o livro, porque Quasimodo era como eu, encarceradolonge de todos. E no meu quarto do quinto andar, olhando por cima da cidade, eu me sentiacomo ele. Quasimodo observava os parisianos e uma bela garota cigana, Esmeralda, que dançavaembaixo, longe dele. Eu observava o Brooklyn. 

– Esse autor, Victor Hugo, deve ter sido um cara divertido – disse a Will em uma de nossasaulas. – Eu acho que eu gostaria de ir com ele a uma festa. Eu estava sendo sarcástico. O livro eraabsolutamente deprimente, como se o autor odiasse as pessoas. 

– Ele era subversivo – disse Will. 

– Por que? Porque fez que a cura fosse ruim, e que o feio fosse o bom? – Isso é parte daquestão. Olha, você está pronto suficientemente para ler este livro tão longo. 

– Não é um livro difícil – eu sabia o que Will estava tentando fazer – me animar a ler algomais difícil ainda. Mesmo assim, eu sorri para mim mesmo. Nunca tinha me consideradointeligente. Alguns dos meus professores diziam que eu era, mas que não tinha boas qualificaçõesporque não me – esforçava– muito, uma dessas coisas que dizem os professores e que criamproblemas com seus pais. Mas talvez fosse verdade. Me perguntei se talvez ser feio me fizessemais inteligente. Will dizia que quando as pessoas são cegas, os outros sentidos – como a audiçãoe o paladar – ficam mais fortes para compensar. Será possível que eu seja mais inteligente paracompensar a minha monstruosidade? 

Normalmente, eu lia pelas manhãs e conversávamos pela tarde. Will me chamava por voltadas onze. 

Um sábado, ele não me chamou. Eu não me deu conta no princípio porque estava lendo umaparte importante do livro, onde Quasimodo resgata Esmeralda da execução, depois a leva acatedral gritando – Santuário! Santuário! – Mas mesmo Quasimodo resgatando Esmeralda, elanem sequer pôde olhá-lo. Ele era muito feio. 

Falando em depressão! Ouvi o relógio marcando doze. Decidi descer.

– Levanta, Will! Esse é o momento de adquirir sabedoria! 

Mas Magda se encontrou comigo no final do terceiro andar. 

Mas Magda se encontrou comigo no final do terceiro andar. 

– Ele não está aqui, Kyle, ele tinha um encontro muito importante. Disse para você tomar odia livre. 

  – Minha vida inteira é um dia livre. 

– Ele voltará logo.   

  Eu já não queria ler, sendo que depois do almoço, me conectei a internet. Na semana passadaeu tinha encontrado esse maravilhoso portal onde pode ver a terra pelo satélite. Desde então,encontrei o Empire State Building, Central Park e a Estátua da Liberdade. Encontrei minha casa.Não seria legal encontra.

Notre– Dame em Paris? Escolhi Nova York outra vez, saindo do Empire State Building paraSaint Patrick. Notre– Dame seria tão grande quanto Saint Patrick? Na verdade, eu precisava deuma atlas e um guia de viagens. Pedi um online. 

Então, já que eu estava conectado e não tinha nada para fazer, visitei MySpace.com. Tinhaouvido falar dele das pessoas da escola que se conectavam. Talvez eu pudesse conhecer alguémassim, fazê-la se apaixonar por mim no Messenger, e arrumar uma delicada explicação sobre aquestão da besta mais tarde. 

Entrei no MySpace e procurei garotas. Ainda tinha meu perfil de quando era um Kylenormal. Nunca tinha tentado conhecer ninguém pelo MySpace antes, nunca tinha precisado.Então acrescentei algumas fotos mais, um pouco mais de descrição, e respondi a todas asperguntas sobre meus interesses (hockey), filme favorito (Orgulho e Preconceito... Sloane tinhame obrigado vê-lo e eu tinha odiado cada minuto, mas eu sabia que as garotas gostavam dessascoisas), e heróis (meu pai, é claro – soava sensível). A pergunta do que eu procurava, eu respondi– meu amor verdadeiro– , porque era a pura verdade. 

Comecei a procurar. Não havia uma categoria para minha idade, então escolhi entre 18 e 20,já que eu sabia que todo mundo mentia a idade. Tive setenta e sete perfis. 

Cliquei em alguns. Alguns se transformaram em páginas de sexo pago. Tentei evitar todosque tinham a palavra perversão, mas finalmente, encontrei um que parecia norma. O nome eraShygrrl23, mas o perfil estava vazio exceto por isto: 

  Me considero um tipo incomum de garota. Eu não acho que há realmente ninguém como eu aí a fora. Meço1.58, loira, olhos azuis. Bom, pode ver as fotos. Eu gosto de dançar e estar com meus amigos. Eu gosto de pessoasque tenham os pés no chão. Também gosto de ir a festas. Vou para a UCLA, onde estudo para ser atriz. EUgosto de me divertir e viver a vida intensamente.   

  Olhei para o espelho. 

– Me mostre Shygrrl23 – disse. 

A imagem mostrou uma aula e se centrou em uma garota... uma garota que claramente nãotinha nem um segundo mais que doze anos. Apertei o botão VOLTAR do teclado. 

Cliquei em outro perfil, e em outro. Tentei escolher perfis que estivessem em outro estado,porque assim não teria um encontro logo. De qualquer forma, o que eu ia dizer? Eu sou umabesta com a flor amarela na lapela? Tenho dois anos para me apaixonar e fazer que alguém seapaixone por mim. 

– Me mostre Stardancer112 – ordenei ao espelho.     

  Uns catorze. 

Durante as seguintes três horas, naveguei pelo MySpace e pelo Xanga. Na realidade circularseria um termo mais correto. Os seguintes perfis que olhei resultaram: 

Uma dona de casa quarentona que me pedia uma foto nu. 

Um velho.

Uma garota de dez anos. Um agente de polícia. 

Todos diziam ter a minha idade e serem mulheres. Eu tinha a esperança de que a políciaestivesse ali para tentar pegar pervertidos. Escrevi um alerta a garota dez anos, e ela merespondeu gritando que eu não era a sua mãe. 

Magda entrou com o aspirador. 

– Ah, eu não sabia que você estava aqui, Kyle. Eu posso aspirar o quarto? 

– Claro, só estou na internet – sorri. – Tentando conhecer uma garota. 

– Uma garota? – seaproximou e olhou a tela. – Ah – franziu o cenho ou algo assim, e eu achei que não estava certose ela sabia o que era uma sala de chat, ou que era internet. – Bem, ficarei calada. Obrigada.        

  Olhei mais um pouco. Havia umas poucas pessoas que pareciam normais, mas nenhumadelas estava online. Voltaria mais tarde. 

Depois passei outra meia hora no Google procurando palavras como besta, transformação,feitiço, maldição – você sabe, só para ver se este tipo de coisas tinha acontecido com alguém maisfora dos contos Grimm ou Shrek. Encontrei a website mais estranha, dirigida por alguémchamado Chris Anderson, com uma lista de chats, incluindo um de pessoas que se transformaramem outras coisas. Com toda a certeza seria um grupinho de adolescente, cheio de pessoas quegostam de escrever fanfics de Harry Potter. 

De qualquer forma, decidi voltar ali outro dia. 

Finalmente, me desconectei. Tinha ouvido Will voltar horas antes, mas não tinha subido parafalar comigo.   

  – Will, o dia livre acabou! – gritei 

Nenhuma resposta. Verifiquei os outros andares. Nem rastro de Will. 

Finalmente, voltei para meu próprio apartamento. 

– Kyle, é você? – Sua voz vinha do jardim. Eu não tinha estado lá desde o primeiro dia. Eramuito deprimente a cerca de dois metros e vinte que papai tinha posto para que as pessoas nãome vissem, mesmo que mantivesse as cortinas fechadas. 

Mas Will estava lá fora. 

– Um pouco de ajuda, Kyle? 

Me aproximei. Will estava rodeado de vasos e plantas, sujeira e pás. Na verdade, ele estavaencostado contra o muro por uma enorme bolsa de lixo. 

– Will, você está horrível! – gritei através da porta de vidro.   

  – Eu não posso dizer que você está melhor – disse ele. – Mas se quiser saber como parece,você parece idiota.Por favor, me ajude. 

Sai e o ajudei a levantar a sacola de terra. Derramou para todos os lugares, a maior partesobre Will. 

– Perdão. 

Foi então que vi que ele tinha estado plantando rosas, dúzias delas. Rosa em cada canteiro evaso vazio, e rosas trepadeiras no telhado. Vermelhas, amarelas, rosas, e o pior de tudo, rosasbrancas que me lembravam a pior noite da minha vida. Eu não queria olhá-las, e ainda assim meaproximei mais. Estendi o braço para tocar uma. Saltei. Um espinho. Minhas garras saíram. Comoem O Leão e o Rato, pensei. Procurei o espinho e ele saiu. O buraco se curou. 

– O que há com as rosas? – disse. 

– Eu gosto de jardinagem e como as rosas cheiram. Estou cansado de que você se escondaatrás das cortinas. Pensei que talvez um jardim alegre as coisas. 

Decidi aceitar seu conselho e gastar o dinheiro do seu pai.

 – Como você sabe que as cortinas estão fechadas? 

– Um quarto fica frio quando tudo está fechado e vazio. Você não viu o sol desde que estáaqui.

– Você acha que plantar algumas flores mudará algo? – dei um soco em um roseiral, que veiome arranhando a mão. – Eu tenho certeza, eu serei como um desses filmes do Lifetime... – A vidade Kyle era vazia e desesperada. Então um presente de rosas mudou tudo... – é isso que vocêacha? 

Will sacudiu a cabeça. 

– Todos gostam de um pouco de beleza... 

– O que você sabe de beleza? Você não conhece nada.   

– Nem sempre fui cego. Quando eu era pequeno minha avó tinha um jardim de rosas. Elame ensinou como cuidar. 

– Uma rosa pode mudar a sua vida– , ela dizia. Morreu quando eu tinhadoze anos. Foi o mesmo ano em que comecei a perder a visão.

 – Começou? Mas eu pensava, sim, uma rosa pode mudar a sua vida.

 – No começo, eu não podia ver a noite. Depois chegou a visão periférica restringida que medeixou louco porque eu já não podia jogar beisebol, o que me enlouquecia porque eu era muitobom. Finalmente, não podia ver mais nada. 

– Uau, isso deve ser realmente aterrorizante. 

  – Obrigado pela simpatia, mas Lifetime não é para mim. – Will cheirou uma rosa. 

– Seucheiro me lembra dessa época. Posso vê-la em minha mente. 

– Eu não sinto cheiro de nada.– Tente fechando os olhos. 

Eu fiz. Ele me tocou no ombro, me guiando até as flores. 

– Ok, agora cheire.     

  Inalei. Ele tinha razão. O ar estava cheio da fragrância das rosas. Mas isso me trouxe de voltao cheiro daquela noite. Pude me ver na cena com Sloane, depois da volta ao meu quarto comKendra. Senti meu estômago se revirar. 

Dei um passo para trás.   

  – Como você sabe quais comprar? – Meus olhos continuavam fechados. 

– Encomendei o queeu queria e esperei o melhor. Quando veio o repartidor, as classifiquei por cores. Posso ver umpouco das cores.

 – Ah, é? – ainda estava com os olhos fechados. 

– De que cor são essas então?Will se afastou de mim. 

– Essas são as únicas do jarro com a cara de cupido. 

– Mas qual é sua cor?

 – As que estão no jarro de cupido são brancas.  

  Abri os olhos. Brancas. As rosas que tinham despertado lembranças tão fortes eram brancas.Lembrei de Magda dizendo: – Os que não sabem como ver as coisas preciosas da vida nuncaserão felizes. 

– Você quer ajudar a plantar o resto? – perguntou Will. 

Me encolhi de ombros.  

  – É algo a fazer.

 Will teve que me mostrar quanta terra por nos jarros, fertilizantes, turfa e comida paraplantas. 

– O garoto da cidade nunca fez isso antes? – brincou. 

– A florista entregava um ramalhete a cada semana. 

Will riu e então disse. 

– Estou falando sério.   

  Apertei o jarro de plástico para soltar a terra como Will tinha me mostrado, depois levantei aplanta e a pus em seu leito. 

– Magda gosta das rosas brancas. 

– Você deveria levar algumas para ela. 

– Eu não sei.– Na verdade foi ela quem sugeriu o jardim. Ela me disse que passava as manhãs no últimoandar olhando através da janela.

 – Como uma flor buscando o sol– , ela disse. Ela estápreocupada com você.

 – Por que ela estaria? 

– Eu não tenho ideia, talvez ela tenha um coração amável. 

– Eu não acho. É porque ela é paga para isso.

 – Ela é paga para saber se você é feliz ou não?  

  Ele tinha razão. Não tinha sentido. Nunca tinha sido nada mais do que grosseiro comMagda, mas aqui estava ela, fazendo tarefas extras para mim, assim como Will. 

– Não há problema. – Jogou a bolsa de fertilizante em minha direção, para me lembrar queera o que tinha que por depois. 

Mais tarde, peguei três rosas brancas e levei a Magda. Tinha a intenção de dá-las, mas quandosubi as escadas me senti tão estúpido. Sendo assim deixei junto ao fogão, onde ela faria o jantarmais tarde. Eu tinha a esperança que ela soubesse que quem as tinha levado fosse eu, não Will.Mas quando ela desceu para me trazer a bandeja, fingi estar no banho e gritei para que eladeixasse na porta.   

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