Capitulo 3

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Não estava em casa nem dois minutos quando Sloane Hange, típica garota de músculos bem tonificados, agarrada ao BlackBerry, firme defensora da Evian, loira de farmácia com um piercing na barriga, filha de um Diretor Executivo e minha verdadeira acompanhante para o baile, ligou para meu celular. Apertei em Ignorar. Chamou outra vez. E outra. Finalmente atendi.
-Uma garota gótica está dizendo para todo mundo que é sua acompanhante para o baile! - gritou.
Agi com calma. Esperava por isto.
-Parece provável que eu tenha pedido alguma louca inadaptada para ir ao baile?
-Então por que ela está contando para todo mundo que você pediu?
-Não posso controlar o que qualquer desequilibrada fale sobre mim.
-Então você não a pediu?
-Você está brincando? Por que eu iria pedir a uma escória quando vou com a garota mais linda da escola? - coloquei minha voz especial "somente para Sloane". - Somos o par perfeito, baby.
Ela soltou uma risadinha.
-Era isso que eu pensava. Eu vou a dizer a todos que ela está inventando tudo isso.
-Não, não diga.
-Por que não? - ela parecia suspeitar de novo. -Bom, é muito engraçado, não é? Uma perdedora dizendo para todos que vai ao baile mais importante do ano com o seu acompanhante?
-Eu acho que sim.
-Imagine. Ela dizendo para todos que sou eu o acompanhante dela. Talvez ela acredite nisso e compre um vestido fantástico. Então eu apareço no baile com você. Um clássico.
-Eu amo você, Kyle - riu tolamente. - Você é mal.
-Um gênio malvado, você quer dizer - ri como a risada desatinada de vilão de desenhos animados. - Então como é?
-Você tem razão, você tem razão. É um clássico.
-Exatamente. Então só tem que fazer uma coisa para que isso aconteça... ficar de boca fechada.
-Claro. Mas Kyle?
-Sim?
-É melhor que não tente algo assim comigo. Eu não seria tola o bastante para cair nisso. Eu não tinha certeza disso, mas disse: -Nunca, Sloane - obediente, como um cão labrador.
-E Kyle?
-Sim, o que?
-Meu vestido é preto e tem pouquíssimo pano.
-Hum. Soa bem.
-É. Então uma orquídea cairá bem com ele. Uma púrpura.
-Claro - disse, pensando que isso era o bom de Sloane. Da maior parte das pessoas que a conhecia, na realidade. Se pudessem tirar o que queriam de você, davam o que você queria em troca. Depois de desligar o telefone, examinei o diretório da escola *aquele livro de alunos dos colégios americanos* em busca da tal da Kendra. Na verdade, não acreditei em Sloane quando tinha dito que não diria nada a Kendra, sendo que pensei em ligar para ela para controlar um pouco dos danos. Mas quando olhei no diretório pela letra H, não havia nenhuma Kendra Hilferty. Então comprovei cada nome próprio do livro, de A à Z, e olhei de novo, e continuei sem encontrar nenhuma Kendra. Tentei lembrar se ela tinha estado ali no começo do ano, mas desisti. Uma garota como ela não estaria no meu radar. Em torno das nove, estava assistindo como os Yankees estavam dando uma surra em alguém quando ouvi a chave do meu pai na fechadura. Era raro. A maioria das noites não chegava antes de eu ir para a cama. Podia ter ido para meu quarto assistir televisão, mas a televisão de plasma estava na sala. Além do mais, queria contar para meu pai sobre o baile. Não que fosse grande coisa, mas era o tipo de assunto que ele ao menos repararia.
-Eh, advinha - disse.
-Que? Sinto muito, Aaron. Não ouvi você. Alguém estava tentando falar comigo. Gesticulou a mão para eu me calar e me dirigiu um olhar de "cale a boca!'.
Ele estava usando o Bluetooth. Sempre tinha pensado que as pessoas pareciam totalmente estúpidas fazendo isso, como se estivessem falando consigo mesmas. Ele entrou na conzinha e continuou falando. Eu pensei em aumentar o volume da televisão, mas sabia que ele se chatearia. Ele dizia que é coisa de pobre ficar com a televisão ligada quando se está falando no telefone. O problema era que ele sempre estava falando por telefone. Finalmente, desligou. O ouvi averiguar o Sub-Zero (que era como ele sempre chamava o refrigerador) procurando o jantar que a empregada tinha deixado para ele. Depois o ouvi abrir e fechar o microondas. Sabia que ele vinha então, porque agora tinha exatamente três minutos para me dar de conversa. Era claro.
-Como foi na escola? Foi divertido. Trey e ey passamos os cabos que precisávamos para detonar bombas amanhã. Só temos que averiguar como fazermos com algumas metralhadoras sem que você note. Não deva ser difícil já que você nunca está por aqui. Roubei seu cartão de crédito ontem. Não acho que você se importe. Ou que note.
-Ótimo. Nomearam os finalistas para a corte do baile de primavera, e eu sou um deles. As pessoas dizem que provavelmente eu ganhe.
-Isso é ótimo, Kyle - abaixou os olhos para seu celular. Me perguntei se ele também teria respondido "Isso é ótimo, Kyle" se tivesse dito a outra opção. Tentei uma coisa que normalmente conseguia uma resposta dele.
-Você tem tido notícias da mamãe ultimamente? - minha mãe o tinha deixado quando eu tinha onze anos porque "tinha que fazer algo mais lá fora". Terminou se casando com um cirurgião plástico e se mudando para Miami, portanto podia mergulhar nos raios UV o tanto que quisesse sem se preocupar em envelhecer. Ou em me ligar.
-O que? Oh, provavelmente está secando em algum lugar - olhou para a cozinha, como se estivesse gritando para o microondas andar depressa. - Despediram Jessica Silver hoje - Jessica era sua co-apresentadora, desse modo a conversa ia girar em torno de seu assunto favorito: ele mesmo.
-Por que? - disse.
-A versão oficial é que deu deslize informando do incidente Kramer. Eu não tinha nem idéia do que era o incidente Kramer. Papai continuou... -...mas entre nós, se ela tivesse perdido os dez quilos que ganhou depois de ter o bebê... ou ainda melhor, se ela não tivesse tido um bebê em primeiro lugar... ainda teria trabalho. O que me fez pensar no que ele diria de Kendra. Mas por que? As pessoas preferiam olhar alguém bonito em vez de alguém feio. Era a natureza humana. O que tinha de errado?
-É totalmente estúpida - concordei. Papai estava olhando outra vez a cozinha, quando eu disse:
- Os Yankees estão dando uma surra. Foi então quando o microondas apitou.
-O que? - disse papai. Se concentrou na televisão talvez durante um décimo de um segundo. - Oh, eu tenho muito trabalho a fazer, Kyle. Depois levou seu prato para o quarto e fechou a porta.

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