Capítulo 33

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  O próximo dia era um sábado, o dia que a gente geralmente estudava juntos. Mas ao invés,foi o dia que Lindy foi embora. Depois que eu chamei um taxi para ela e chequei o horário doônibus, eu voltei para o meu quarto para assistir ela no espelho.
Eu tinha pensado em dar para elao espelho, para me ver e lembrar de mim. Meu eu decidi que eu não podia ficar sem ele. Se eu nãopudesse a ter, eu queria ser capaz de assistir ela. Se eu desse para ela o espelho, ela poderia não me olhar depois de tudo. Ela deve preferir esquecer de mim. Eu não podia lidar com isso.
Então eu assisti ela arrumar as coisas dela. Ela pegou os livros que a gente tinha lido juntose uma foto do nosso primeiro homem das neves. Ela não tinha nenhuma foto minha. Finalmente,eu parei de assistir ela e fui tomar café da manhã. Quando eu voltei, Will estava lá.
Ele estava segurando o livro que a gente estava lendo, mas ele disse,
– Eu acabei de ir no quarto da Lindy, e ela disse a coisa mais estranha.
– Que ela esta indo embora?
– Sim. – Will me deu um olhar de interrogação.
– Eu disse para ela ir. Agora nós podemos mudar o assunto para algo mais animador? QueLes Miserables com certeza foi um livro engraçado.
– Mas, Adrian, estava indo tão bem. Eu pensei—
–– Ela queria ir embora. Eu a amava muito para fazer ela ficar. Ela disse que vai voltar na primavera. –Will parecia como se ele quisesse dizer algo mais, mas finalmente ele levantou o livro.
–Então, o que você achou do Inspetor Javert?
– Eu acho que ele seria ótimo como um personagem em um musical da Broadway, – eu disse,rindo mesmo que eu não me sentia rindo.
Eu chequei o relógio. O taxi da Lindy estaria aqui emqualquer minuto. O ônibus dela sairia em mais ou menos uma hora. Se isso fosse um filme, umadaquela comedias românticas, haveria uma cena dramática onde eu correria para a rodoviária eimploraria para ela ficar, e Lindy, finalmente percebendo como ela se sentia sobre mim, mebeijaria. Eu seria transformado. A gente viveria feliz para sempre.
Na vida real, Will me perguntou o que eu pensava sobre a visão política de Victor Hugo emLes Miserables, e eu responderia ele, apesar que eu não lembro o que eu disse. Mas eu sabia ominuto (9: 42) que o taxi estacionou na entrada e a pegou. Eu senti a chegada dela na rodoviária(10: 27) e eu saberia a hora (11: 05) que o ônibus dela deixou a rodoviária. Eu não assisti essascoisas no espelho. Eu apenas sabia. Não havia nenhum final de filme. Havia apenas um final.
Eu não voltei para a cidade naquele inverno. Ao invés, eu fiquei no campo, dando longas caminhadas todos os dias, onde apenas as bestas, as selvagens, poderiam me ver. Comecei a memorizar o padrão de voo de cada pássaro do inverno, o esconderijo de cada esquilo e coelho, eeu pensei que eu poderia fazer isso todos os invernos. Foi muito bom estar fora. Gostaria desaber se esta foi a forma como o Abominável Homem das Neves teve o seu início. Eu nunca acreditei em coisas assim antes. Agora eu tinha certeza que era real.
Eu admito que eu usei o espelho para espiar Lindy. Sem as rosas lá, isso se tornou o que asrosas tinham sido—minha vida, minha obsessão.
Em minha defesa, eu apenas me permitia assistir ela uma hora por dia. Fazendo isso, eu aprendi que ela achou o pai dela, que eles se mudaram para um apartamento ainda mais miserável em um bairro ainda pior emBrownsville, que ela estava indo para uma escola de aparência rude. Eu sabia que isso era minha culpa, que ela estava presa naquela escola porque ela tinha perdido a bolsa em Tuttle porcausa de mim arrancando ela da escola para ficar comigo. Eu assisti ela andar para a escola,passando por edifícios destruídos cheios de pichação, passando por carros em ruínas e criançassem esperança. Eu assisti ela nos corredores da escola, corredores apertados lotados com armários estragados e cartazes nas paredes que diziam coisas como você pode ter sucesso! Eupensei em como ela deve ter me odiado.
Março—eu parei de assistir ela durante as horas do dia. Mas assistindo ela a noite era pior,porque não havia nada para dizer que ela sentia minha falta ou pensava em mim. Ela estudava os livros dela, como ela tinha feito antes de eu conhecer ela.Finalmente, eu comecei assistir ela apenas a noite, quando ela dormia. Toda noite a meia noite,eu olhava para ela. Naquela hora, eu podia fantasiar que ela estava sonhando comigo.
Eu sonhava com ela todo o tempo. Em abril, quando ela não tinha voltado, eu sabia que estava acabado.
A neve estava em manchas no chão, e o lago de gelo estava derretendo. Flutuava como icebergs, acordando os sapos embaixo. As montanhas que estavam derretendo se tornaram cachoeiras, e isso significava rafting e outros esportes de corredeiras e estação turística.
– Você já pensou em voltar para casa? – Will disse um dia no jantar.
Era sábado.Eu parei de andar do lado de fora e tinha passado o dia encarando pela janela, meescondendo quando carros—provavelmente cheios de colecionadores de antiguidade—passavampela rota rural.
– Que casa? – eu disse. – Casa é onde sua família esta. Eu não tenho uma casa. Ou talvez eu estou em casa. – Eu olhei para Magda, que sentava na minha frente. Nos meses passados, ela játinha parado de ser uma servente.
– Desculpa, – eu disse para ela.
– Eu sei que você nunca vê sua família. Você deve pensar que eu sou um ingrato—–
– Eu não acho isso, – ela interrompeu. – Eu tenho visto tanta mudança em você nesses dois anos passados.
Eu fiquei rígido em – dois anos. – Não tinha sido, não completamente, mas estava perto.
Meu tempo estava quase acabando. Deve estar acabado na verdade porque não havia mais chance.
– Antes, você era um garoto cruel, um garoto que vivia para fazer pessoas tristes. Agora vocêé gentil e pensativo.
– Sim, gentil e pensativo. – eu encolhi os ombros.
– Muitas coisa boas que me fazem.
– Se houvesse alguma justiça, esse feitiço horrível seria quebrado, e você não teria que fazer essa coisa impossível.
– Não era impossível. – eu brinquei com a colher da minha sopa. Eu tinha ficado bom comendo com garras. – Eu apenas não fui bom o suficiente.
Eu virei para Will.
– Em resposta para sua pergunta, eu estava pensando em ficar aqui. Nos dois lugares, eu estou preso do lado de dentro, um prisioneiro. Mas voltando para a cidade apenasme lembraria do que eu perdi.
– Mas, Adrian—–
– Ela nunca vai me visitar. Will. Eu sei disso. – Eu nunca tinha contado para ele sobre o espelho, então eu não podia explicar para ele agora que eu estava assistindo ela, que eu não vinenhum sinal que ela sentia minha falta, – Eu não posso voltar e esperar ela me visitar se ela nãovai vim.
Aquela noite, quando eu peguei o espelho para o meu ritual noturno de assistir Lindydormir, eu peguei Kendra ao invés.
– Então quando você vai voltar para a cidade?
– Por que todo mundo esta perguntando isso? Eu gosto daqui. Não há nada para mim na cidade.
– Há Lindy.
– Como eu disse, não há nada para mim na cidade.
– Você ainda tem um mês.
– É impossível. Esta acabado. Eu falhei. Eu vou ser sempre uma besta.
– Você a amava, Adrian?Era a primeira vez que ela me chamava de Adrian, e eu encarei aqueles estranhos olhos verdes dela.
– Você mudou seu cabelo, tipo uma coisa em camadas? É uma boa aparência paravocê.
Ela riu.
– O velho Kingsbury nunca teria percebido meu cabelo.
– O velho Kyle Kingsbury teria percebido—ele teria zombado dele. Mas eu não sou o velhoKyle Kingsbury. Eu não sou Kyle Kingsbury em tudo.
Ela acenou.
– Eu sei. E é por isso que eu estou triste que você esta cansado da maldição doKyle Kingsbury. –
Era quase o que a Magda tinha dito. – O que me traz de volta para minhapergunta—a que você habilmente fugiu. Você a amava?
– Por que eu deveria te dizer?
– Porque você não tem ninguém mais para contar. Seu coração esta quebrando, e você nãotem ninguém para confiar.
– Então eu deveria despejar meu coração para ... você? Você destruiu minha vida. Agoravocê quer minha alma? Esta. Eu a amava. Eu a amo. Ela era a única pessoa na minha vida querealmente falava comigo, que me conhecia sem a aparência, sem meu pai famoso, e ainda seimportava comigo—mesmo que eu fosse uma besta. Mas ela não me amava. – Eu não estava olhando para o espelho. Eu não podia porque mesmo que meu tom estava sarcástico, minhaspalavras eram a verdade. – Sem ela, eu não tenho esperança, não tenho vida. Eu vou viver emmiséria e morrer sozinho.
– Adrian ...
–– Eu não terminei.
– Eu acho que já.
– Você esta certa. Eu terminei. Se eu fosse pelo menos normal, eu poderia ter tido uma chance com ela. Eu não estou falando do jeito que eu costumava ser, mas é pedir muito esperar uma garota estar interessada em alguém que não é nem mesmo humano. É doente.
– Você é humano, Adrian. Você tem um mês. Você não quer voltar, apenas por esse mês?Você tem tão pouca fé nela?
Eu hesitei.
– Eu prefiro ficar aqui. Eu não sou uma aberração aqui.
– Um mês. O que você tem a perder, Adrian?Eu pensei sobre isso. Eu já tinha desistido, já aceitei que ficaria uma besta para sempre. Para voltar a ter esperança, mesmo que por um mês, seria tão difícil. Mas, sem esperança, eu não tenho nada, nada de olhar para frente, mas sendo uma besta, preso em uma casa para o resto da minha vida, sentado no meu papai-financiado Brownstone, colocando porcaria na minha rosas para fazê-las crescer mais, trabalhando em meu caminho através de cada livro na Biblioteca Pública deNova York, e à espera de morrer.
– Um mês– , eu concordei.  

A feraWhere stories live. Discover now