Capítulo 26

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  – Eu pensei em alguma coisa útil, – Will disse no dia depois que ela veio.
– O que você pensou? – Eu perguntei.
– Silencio. Se você deixar ela sozinha, talvez ela venha.– Talvez seja por isso que não está realmente rodeado de garotas.
– Falando com ela não funcionou, funcionou?
Eu tinha que admitir, ele estava certo, então eu decidi fazer o que ele disse. O que meassustava era que ela ainda não tinha me visto. O que ela diria quando ela me visse?
Nos próximos dias, eu estava em silencio. Lindy ficou no quarto dela. Eu a assisti no espelho.As únicas coisas que ela gostava eram os livros e as rosas. Eu lia todos os livros que ela lia. Euficava acordado até tarde da noite lendo, para continuar com ela. Eu nem mesmo tentei falar comela de novo. E toda a noite, quando eu ficava tão cansado que o livro caia da minha mão, eudeitava na cama, sentindo o ódio dela como um fantasma andando a noite nos corredores. Talvezisso foi uma ideia ruim. Mas que outra esperança eu tinha?
– Eu subestimei ela, – eu falei para o Will.
– Sim, você fez.
Eu olhei para ele, surpreso.
– Você acha também?
– Eu sempre pensei que sim. Mas me diga uma coisa, Adrian, por que você acha isso?
– Eu pensei que ela estaria impressionada com as coisas que eu comprei para ela, a mobíliabonita, e as roupas. Ela é pobre, e eu pensei que se eu comprasse para ela joias e coisas bonitas,ela me daria uma chance. Mas ela não quer nada disso.
Will sorriu.
– Não, ela não quer. Ela apenas quer a liberdade dela. Você não quer?
– Sim. – Eu pensei em Tuttle, do baile, do que eu tinha dito para Trey sobre como o baile escolar era prostituição legalizada. Isso parecia tanto tempo atrás. – Eu nunca encontrei ninguémque não podia ser comprado. Isso me faz meio que gostar dela.
– Eu desejo que esse entendimento seja suficiente para quebrar a maldição. Eu estou orgulhoso de você por isso.
Orgulhoso de você.
Ninguém nunca tinha dito isso para mim, e por um segundo, eu desejeique eu pudesse abraçar Will, apenas para sentir o toque de outro ser humano. Mas isso seria muito estranho.
Aquela noite, eu deitei acordado mais tarde que o usual, escutando os sons da casa velha.
–Arranjo, – algumas pessoas chamariam isso. Mas eu achei que eu escutei passos no andar de cima.Eles eram os passos dela? Impossível, através de dois andares. Mas eu ainda não podia dormir.
Finalmente, eu levantei e fui para a sala de estar do segundo andar, liguei ESPN realmente suave, então isso não aborreceria ela. Eu coloquei um jeans e uma camiseta para fazer isso, o que no passado eu teria feito nos meus boxers. Mesmo que ela se comprometeu ficar no quarto dela para sempre, eu não queria ter uma chance dela me ver mais do que meu rosto. Meu rosto era ruim o suficiente.
Eu quase me entediei para dormir quando eu ouvi uma porta abrindo. Poderia ser ela? Nasala? Provavelmente apenas Magda, ou mesmo Pilot, vagando. Ainda isso soava como se fosse nopróximo andar, o andar da Lindy. Eu decidi não olhar, manter meus olhos colados na televisãoentão ela não estaria tão assustada com meu rosto na escuridão. Eu esperei.Era ela. Eu a escutei na cozinha, chacoalhando um prato e um garfo, enxaguando eles ecolocando eles no lava louça. Eu queria falar para ela que ela não precisava fazer aquilo, queMagda fazia aquilo, que a gente pagava ela para isso. Mas eu fiquei quieto. Mas quando eu ouvipassos na sala de estar, tão perto que ela tinha que me ver, eu não podia me parar.
– Eu estou sentado aqui. – Eu disse suavemente. – Eu quero que você saiba então você não vai pirar.
Ela não respondeu, mas os olhos dela dispararam na minha direção. A luz na sala estava escura, vindo apenas da televisão. Ainda, eu queria puxar um travesseiro sobre meu rosto, para me cobrir.
Eu não fiz.
Ela tinha que me ver alguma hora. Kendra tinha feito aquilo claro.
– Você veio para baixo, – eu disse.
Ela me encarou, e eu vi os olhos dela virem na minha direção, então para longe, então devolta.
– Você é uma besta. Meu pai... ele disse... eu pensei que era uma viagem que ele estava. Ele diz muitas coisas doidas. Eu achei... Mas você realmente é. Ai, meu Deus. – Ela olhou para longe.– Ai, meu Deus.
– Por favor. Eu não vou te machucar, – eu disse. – Eu sei que eu sou desse jeito, mas eu não sou...por favor. Eu não vou te machucar, Lindy
.– Eu apenas não achei. Eu achei que você era algum cara, algum pervertido que iria... e entãovocê não quebrou a porta ou alguma coisa... Mas como você pode ser—–
– Eu estou feliz que você veio para baixo, Lindy. – Eu tentei deixar minha voz plana. – Eu me preocupei tanto sobre quando a gente se encontrasse. Agora acabou, e talvez você vai se acostumar comigo. Eu estava preocupado que você não sairia, talvez nunca.
– Eu tinha que. – Ela pegou uma longa respiração, então exalou. – Eu tenho andado a noite.Eu não podia ficar naqueles quartos. Eu me sentia como um animal. – Ela parou ela mesma. –Oh, Deus.
Eu ignorei o nervosismo dela. Talvez agindo humanamente, eu podia mostrar para ela quem eu era.
– O picadillo que a Magda fez para o jantar. Estava bom, não estava? – Eu não olhei para ela. Talvez ela teria menos medo se ela não pudesse ver meu rosto.
– Sim, estava bom. Maravilhoso. – Ela não me agradeceu. Eu não esperava que ela fizesse. Eu sabia melhor agora.
– Magda é uma boa cozinheira, – eu disse, querendo manter a conversa indo, agora que nós começamos, mesmo se eu tivesse que falar sobre nada. – Quando eu costumava morar com meu pai, ele nunca queria que ela fizesse pratos Latinos. Ela apenas fazia coisas normais então, carne e batatas. Mas quando ele deixou a gente aqui, e não me importava muito com o que eu comia,então ela começou a fazer essas coisas. Eu acho que é mais fácil para ela, e é melhor. – Eu pareide balbuciar, tentando pensar em alguma outra coisa para balbuciar.
Mas ela falou.
– O que você quer dizer que ele deixou vocês aqui? Onde esta seu pai agora?
– Eu moro com Magda e Will, – eu disse, ainda olhando para longe. – Will é meu tutor. Ele pode ser seu tutor também, se você quiser.
– Tutor?
– Professor, na verdade, eu acho. Desde que eu não posso ir para a escola porque... Dequalquer jeito, ele me ensina em casa.
– Escola? Mas então, você é... quantos anos você tem?
– Dezesseis. O mesmo que você.
Eu podia ver pelo rosto dela que isso deixou ela surpresa, que ela estava pensando todo tempo que eu era algum pervertido velho.
Finalmente, ela disse,
– Dezesseis. Então onde estão seus pais?
Onde estão os seus? Nos estávamos no mesmo bote, de algum jeito, sendo abandonados por nossos queridos velhos pais. Mas eu não disse isso. – Silencio, – Will tinha dito. Ao invés, eu disse.
– Minha mãe foi embora muito tempo atrás. E meu pai... ele não podia lidar que eu parecesse assim. Ele esta dentro da normalidade.
Ela acenou, e lá havia pena em seus olhos. Eu não queria pena. Se ela sentisse pena de mim,ela podia pensar que eu era alguma criatura patética que estava indo tentar agarrar ela e forçar ela ser minha, como o Fantasma da Opera. Ainda, pena era melhor que ódio.
– Você sente falta dele? – ela perguntou. – Seu pai?
Eu disse a verdade.
– Eu tento não sentir. Eu quero dizer, você não deveria sentir falta depessoas que não sentem sua falta, certo? Ela acenou. – Quando as coisas começaram a ficar realmente ruins com meu papai, minhas irmãs se mudaram para morar com os namorados delas. Eu estava com muita raiva porque elas não ficaram e, você sabe, me ajudaram com ele. Mas eu ainda sinto falta delas.
– Eu sinto muito– O assunto do pai dela estava ficando muito arriscado.
– Você gostaria que Will te ensinasse? Ele é meu tutor todo dia. Você provavelmente é mais inteligente que eu. Eu não sou um estudante muito bom, mas eu aposto que você esta acostumada a ter crianças que não são tão inteligentes numa escola normal, não esta?Ela não respondeu, e eu disse, – Ele pode ser apenas seu tutor, separado de mim, se você quiser. Eu sei que você esta com raiva. Você tem todo o direito de estar.
– Sim, eu estou.
– É apenas que eu tenho algo que eu amaria te mostrar.
– Me mostrar? – Eu podia ouvir a cautela na voz dela, como uma cortina descendo.Rapidamente, eu disse, – Não! Não aquilo. Você não entendeu. É uma estufa. Eu construí ela eu mesmo de plantas que eu comprei. E todas as plantas nela são rosas. Você gosta de rosas? –Eu sabia que ela gostava. – Will me virou para elas. Eu acho que ele pensou que eu podia usar como um hobby. Minhas favoritas é a floribunda—rosas trepadeiras. Eles não são tão detalhadasquanto as rosas de chá híbridas. Quer dizer, eles têm menos camadas de pétalas. Mas eles podem crescer tão alto, às vezes três metros se são apoiadas direito. E eu tenho certeza de que elas são apoiadas direito.
Eu parei. Eu parecia aqueles meninos nerds da escola, os que falavam de jogadas de baseballou conheciam Senhor dos Anéis tipo frodo, o Hobbit, que era um tio distante.
– As rosas no meu quarto, – ela disse. – Elas são suas? Você cuida  Sim. – Nos dias que ela tinha estado aqui, eu tinha Magda removendo as amarelas quandoelas morriam com brancas, simbolizando pureza. Eu esperava substituir elas um dia porvermelhas, o que significavam romance. – Eu gosto de ter você vendo minhas rosas. Eu não tenho ninguém para dar elas exceto Magda. Mas eu tenho dúzias mais. Se você descer para verelas— ou para —eu posso ter Will ou Magda lá o tempo todo, então você não sepreocuparia que eu vou machucar você.
Eu não pontuei o obvio, que ela estava sozinha comigo agora, que ela tem estado comigo por dias, guardada apenas por um homem cego, uma mulher velha, e uma porta frágil, e eu nãotinha feito nada para ela. Mas eu esperava que ela tinha percebido.
– E é assim que você realmente parece? – ela disse finalmente. – Não é uma máscara quevocê está usando para esconder seu rosto? Como os sequestradores fazem? – Uma risada nervosa.
– Eu desejo que era. Eu vou dar uma volta pelo sofá, então você pode ver você mesma. – Eu fiz, com medo de ter ela me examinando. Eu estava feliz que eu estava coberto tanto quanto possível, mas eu me apertei no brilho. Eu pensei em Esmeralda, incapaz de olhar para Quasimodo. Eu era um monstro. Um mostro.– Você pode tocar—meu rosto—se você quiser ter certeza, – eu disse.
Ela balançou a cabeça dela.
– Eu acredito em você. – Agora que eu estava mais perto, os olhos dela viajaram para cima e para baixo pelo meu corpo, parando nas minhas mão com garras. Finalmente, ela acenou, e eu sabia pelos olhos dela que ela sentia pena de mim.
– Eu acho que eu vou gostar do Will ser meu tutor. Nós podemos tentar ter aulas juntos, para salvar o tempo dele.Mas se você for muito estupido para acompanhar, nós poderíamos fazer uma mudança. Eu estou acostumada com aulas de honra.
Eu podia ver que ela estava brincando, mas também estava um pouco seria. Eu queria perguntar sobre a estufa de novo, e se ela desceria cedo para ter café da manhã com Will, Magda e eu. Mas eu não queria pirar ela, então eu disse,
– Nós estudamos nos meus quartos, perto do jardim de rosas. É no primeiro andar. Nós normalmente começamos as nove. Nós estamos lendosonetos de Shakespeare.
– Sonetos?
– Sim. – Eu procurei em minha mente uma estrofe para recitar. Eu tinha memorizado páginas e páginas de poesias durante esse confinamento solitário. Essa era minha chance para impressionar ela. Mas o silêncio da minha estupidez era ensurdecedor. Finalmente, eu quebrei osilêncio. – Shakespeare é ótimo.Duh. Shakespeare é legal, homem. Mas ela sorriu.
– Sim. Eu amo as peças e as poesias dele. – Outro sorriso nervoso, e eu imaginei se ela estava tão aliviada no nosso primeiro encontro quanto eu. – Eu tenho que ir para cama então, para ficar pronta.
– Sim.
Ela virou e subiu as escadas. Eu assisti ela enquanto ela andava para as escadas, então subia,então escutei os passos dela alcançando o próximo andar.Apenas quando que escutei a porta do quarto abrir e fechar que eu desisti para os meus instintos de besta e fiz uma selvagem dança animal pela sala.  

A feraWhere stories live. Discover now