CAIO
O seu olhar concentrava-se apenas em mim naquele momento.
Se me parecia o mais certo caír na tentação de a beijar?
Não.
Mas há coisas que simplesmente são impossíveis de resistir e, aos poucos, eu ia descobrindo que uma dessas coisas se chamava Zaira Bernardi.
Continuávamos os dois na mesma posição de uns minutos atrás quando caímos, um por cima do outro, no chão de madeira escura.
As minhas mãos descobriam aos poucos, todos os detalhes do seu corpo e Zaira apenas observava, atentamente, todos os gestos que eu ia fazendo consigo.
Eu sabia que não a podia beijar, era errado se o fizesse, mas também estava a ser difícil de controlar o desejo enorme de beijar aqueles seus lábios carnudos, que estavam agora, tão próximos dos meus.
— De onde tu apareceste, Brooklyn?
Sorrio ao ver que ela decorou o apelido que lhe havia dito como disfarçe, no dia em que a trouxe comigo para esta casa. Mas, de alguma forma, achei aquilo bastante sensual. Ela era sensual. Mas não podia ser, isto era só um momento, não podia ser mais que isso.
— Vim de muito longe daqui. O meu pai deve ter te contado já que eram assim tão próximos.
Disse, tentando levantar-nos aos dois. Eu tinha que ser mais forte que esta atração repentina.
— Não... Ele nunca disse nada.
A sua cara transbordava bondade. Eu sabia que ela não era como o pai, mas de certa forma era como se eu, mesmo tendo essa certeza de ela ser diferente, não conseguisse confiar nela.
— Talvez nunca tenha vindo à conversa.
Tentei despachar o assunto e eu próprio baixei o seu vestido que há pouco havia levantado, deixando-a um pouco envergonhada.
— Talvez.
Ela falou olhando para baixo.
— A cozinha é já ali. Fiz o jantar mas já deve estar um pouco frio agora.
Libertei um pequeno sorriso. Devia ser das pessoas que eu conseguia rir de forma sincera à sua frente.
Tento sempre passar uma imagem de perigoso e sem sentimentos, para as pessoas não verem o meu medo.
Toda a gente tem medos, talvez uns piores que outros mas toda a gente teme algo, nem que seja uma coisa leve ou insignificante.
Eu desde dois meses para cá que ganhei um medo novo.
O medo de ser preso.
O meu pai contava que era difícil a vida na prisão e só mesmo ele o podia dizer, visto que passou lá uns 5 anos da sua vida. Muito antes até de eu nascer.
Dizia que nunca se via a luz do sol e que se não te integrasses, então aí era o teu fim.
E agora, eu tenho medo que me aconteça igual, mas também sei que se acontecer eu consigo me defender. Tenho meios e vários contactos.
O que eu quero dizer é que eu não me importo de enfrentar o meu maior medo, se for para fazer justiça à morte do meu pai.
— Em que tanto pensas?
A morena que se encontra à minha frente pergunta, fazendo-me caír de novo na realidade.
— Nada, vamos comer.
Seguro nela para não me escapar de novo e sento-a ao meu lado na mesa.
Eu não podia deixar que ela fugisse.
— Isto é mesmo preciso?
Ela pergunta quando encosto a sua cadeira para mais perto.
— Sim é.
Digo sério. Ela tinha que perceber que eu deixava-a vir cá a baixo mas que havia regras.
— Okay. Mas sabes que tu és muito idiota.
Reviro os olhos.
— E porque dizes isso?- Olho para ela. Quem diria que Roger pudesse fazer algo tão bonito.
— Porque, talvez eu não consiga fugir nem que tivesse sentada sozinha no meio do corredor e tu aqui. Eu vi as imensas fechaduras que colocaste ao passar.
Afinal não é mesmo tão santa como parece ser. Talvez a minha primeira impressão dela e a do Theo esteja certa. Ela é inteligente demais.
— Bem visto.
Disse colocando os nossos pratos na mesa.
— Não te esqueças que sempre cresci nesse ambiente. Nada é novo para mim, nem mesmo rapazes como tu.
Uma nova Zaira pairava na minha frente. Ela estava descontraída e confiante, parecia como se não se lembrasse que estava aqui presa e eu já não era o seu raptor que ela parecia tanto odiar.
— Mesmo nada?
Ela afirmou que sim novamente.
— Nadinha.
Zaira fez-me ter uma ideia para o dia de amanhã ou até para daqui a uns dias, que era até capaz de acabar por ter algum divertimento, mas primeiro eu tinha que arranjar maneira de eu o fazer sem que ela me fuja.
— Logo se vê isso então.
Pisquei-lhe o olho e após acabar de comer, levanto o meu prato sem nunca lhe tirar os olhos de vista.
Zaira assentiu e deu-me também o seu prato, ao qual, levei à banca.
— Pronto, acho que agora já consegues andar, não morena?
— Sim. Obrigada pela comida, espero que não tenha colocado veneno lá.
Sorriu o que fez eu acabar sorrindo de novo também.
— Não sei.
Tento pegar com ela, mas não consigo roubar-lhe mais nenhum sorriso.
Levo-a até ao quarto e deito-a na cama.
— Até manhã Zaira.
Digo deixando-a lá mas ela para-me.
— Já vais?
Ela pergunta num tom dócil.
Eu não estava mesmo a entender esta miúda.
— Sim, porquê?
— Fica mais um pouco. Não tenho sono e tou farta de olhar para estas paredes sem cor...
Algo estava a soar estranho demais.
— Zaira...
Mas, apesar de não me parecer a melhor ideia acabei por aceitar. Era impossível negar um convite destes depois do que se passou lá em baixo entre nós dois.
Sentei-me na sua frente e tentei ficar de, certa forma, confortável na cama, mas mesmo assim parecia-me estranho estar assim com ela.
_ Então que queres conversar?
Não sabia se lhe havia posto algo com álcool na comida ou então se havia posto mesmo veneno como ela referiu. Só achava é que isto estava a soar muito estranho de mais.
— Não sei. Fala tu.
Ela riu e chegou-se mais perto.
— Bem... Nós dois, já que estamos aqui...
Ela chega mais perto e cada vez os meus olhos estavam mais concentrados na sua boca e no seu maravilhoso decote que estava um pouco virado para o lado.
— Zaira, tu estás bem?
Afastei-me um pouco tentando lhe resistir, mas ao mesmo tempo que tento recuar, ela prende as suas pernas à minha cintura sem eu poder fazer nada.
O seu corpo estava completamente colado ao meu. Não havia nada que nos separasse a não ser o tecido das nossas roupas e naquele momento, a minha cabeça deixou de funcionar.
Parecia que tinha perdido o controle em mim. As minhas mãos foram de novo até à sua cintura mas desta vez, foi com muito mais desejo de modo a que não a conseguisse largar por nada.
Mas algo fez com que o ambiente mudasse de cor.
Vejo Zaira com um candeeiro de vidro na mão, prestes a mo dar na cabeça, com um olhar sem piedade.
E aí eu percebi. Tinha sido tudo um esquema elaborado por si.
Sinto ele se partir na minha cabeça e ao contrário do que pensava, não desmaiei, agarrando as suas mãos em seguida.
— Eu sabia que eras igual a ele, só pensava que eras diferente.
Saio do quarto, trancando-a à chave, já pela milésima vez. Vou rápido em direção à cozinha tratar da enorme ferida que ela me havia causado na cabeça, sempre a pensar no quão idiota fui por me deixar seduzir por ela, desta maneira.
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BEIJOS.