Entrámos dentro da magnífica sala de jantar. Apesar de ser moderna, tal como o resto do hotel, tinha muita classe, e era revestida por tons castanhos escuros e verdes. Eu e o Shawn entrámos ligeiramente depois dos outros, o que nos deu um lugar mesmo na ponta da mesa.
-Depois falamos sobre o Logan, ou mesmo com ele- disse eu baixinho, para que mais ninguém na mesa conseguisse ouvir. A minha resposta foi um leve aceno e um sorriso.
Shawn tirou um pedaço de pão do cesto. Um sorriso voltou a aparecer na sua cara. T<entei saborear este momento, porque não sabia quantas mais oportunidades teria para ver o seu sorriso encantador.
-A seguir temos que ir a um sítio, só nós.-disse ele, agarrando na minha mão de seguida. Desconfiada olhei para ele com os olhos semi serrados.
-Temos? Porquê?-perguntei.
-Surpresa-sussurrou ele com o seu típico sorriso matreiro.
Deixei-me llevar por aquele sorriso, derreti o meu coração. Apesar de estarmos juntos há algum tempo, apesar do tempo que passamos como amigos, não consigo acreditar que ainda não consigo controlar-me quando estou com ele. O meu coração acelera, a minha barriga tem fogo de artifício lá dentro, e é impossível conter o sorriso.
-Savannah?-ouvi de longe, no fundo dos meus pensamentos.
-Hum?-perguntei olhando para o lado, de onde vinha a voz da minha mãe, dois lugares à minha direita.
-Já sabes o que vais querer?-perguntou.
-Ahhhh, não sei-disse eu, vendo o olhar da minha mãe certeiro para mim, quase a queimar-me a cabeça por estar a deixar o simpático empregado de mesa à minha espera.- ahhhh pode ser um bife?-afirmei quase como uma pergunta.
-Boa escolha-disse o simpático empregado, enquanto anotava o pedido. deixando a mesa minutos depois
Depois da sua saida as conversas continuaram, cruzadas, como sempre, várias ao mesmo tempo. A minha atenção continuava no sorriso e pescoço descoberto de Shawn que falava animadamente com o Logan e o meu pai, sobre alguns dos episódios que tinham acontecido entre ele e o Manny. Saídas com amigos, segredos, tampas que levaram de raparigas. Até que a voz determinada de Luke nos obrigou a olhar para ele.
-Atenção!-pediu ele
-Não estamos numa conferência...-disse o Cameron
-Pois ás vezes parece que sim!-afirmou o Luke, olhando para o rapaz mais novo.- E eu preciso da vossa atenção porque tenho uma coisa a dizer.
-Luke... o que é que tu fizeste desta vez?-perguntou o meu pai já à espera do pior. Imediatamente recebeu uma leve cotovelada da minha mãe, que o mandava, através de um olhar malévolo calar-se
-Então, querido, o que se passa?
-Eu entrei numa universidade, em Toronto, e vou lá estudar.-disse sem rodeios, típico Luke.
Todos nos calámos, nem um bater de talheres, nem ninguém a mastigar ruidosamente o pão. Não havia qualquer barulho na mesa, apenas o barulho de fundo do restaurante, onde outras famílias e pessoas conversavam suavemente, e onde o tilintar de talheres parecia vindo de longe.
-Toronto?-perguntou a minha mãe
-O que é que aconteceu ao teu plano de viajar na Europa?-perguntou Logan
-Mas vais ficar lá 4 anos?-perguntei eu
-Parabéns meu!- sorriu o Ed
-Toronto? Podemos ir lá visitar-te depois?-perguntou o Joe
-Então posso ir para o quarto dele e não partilhar com o Joe? -perguntou o Cameron
-Vamos lá ter calma!-pediu o meu pai, perante a desordem que estava a acontecer com as várias pergunta a sobreporem-se e a serem ignoradas, e um Luke confuso com o seu sorriso calmo, satisfeito com a sua novidade. - Lucas Rafael, importas-te de explicar isto?-pediu calmamente
O Luke até se torceu quando ouviu o nome que ele tanto detestava, e que achava que os pais lhe tinham dado por o terem odiado à nascença. Claro que dizia isto a gozar, mas a verdade é que é um nome horrível.
-Então é assim. Estive a falar com a Megan, ainda no Canadá. Ela contou-me as dificuldades que a sua família tinha. Mas ela entrou para a universidade de Toronto, com bolsa e tudo. A bolsa, no entanto, não cobre tudo o que ela precisa. Ela e a família têm mesmo muitas necessidades. Decidi tentar entrar, e recebi um e-mail a dizer que tinha entrado. Vocês sabem que eu quero ser arquitecto, e a universidade é fantástica, uma ótima oportunidade. E assim posso ficar com ela, podemos continuar juntos.
-Luke, tu tens noção que estás a desistir de muito por causa de uma rapariga com quem estiveste um mês...-disse a minha mãe, e antes que as reclamações dele começassem ela continuou- Tu sabes que eu gostei muito da rapariga, tu sabes como eu a achei fantástica, mas não achas que desistir de tudo o que tinhas planeado é muito?
-Mãe, a Europa estará sempre lá, eu sempre poderei ir visitá-la, e até ir com a Megan. EU nunca senti isto por ninguém, eu nunca quis estar tanto com alguém. Eu quero mesmo ir para a universidade, mesmo que seja longe de casa, mesmo que vos veja menos vezes. É importante. -disse ele
-Acho que o nosso filho está a crescer Daniel...-disse a minha mãe com orgulho.
-Ouve filho, sabes que te apoiamos 100% nas tuas decisões. Desde que tenhas a certeza.
-Tenho pai, tenho mesmo. E só vos disse agora porque também já tenho tudo orientado. Arranjei um apartamento muito perto da universidade, tem dois quartos. É bastante acessível, e vocês teriam que pagar um quarto ou apartamento de qualquer maneira se eu fosse para Nova Iorque. É mais acessível até do que lá. -começou ele- e eu convidei a Megan para ir viver comigo
-Luke... eu sei que queres ajudar a tua namorada mas....-começou a minha mãe
-Mãe, ficamos em quartos separados. Ela não queria ao princípio, disse que era demais, que não podia aceitar. Mas eu sei que ela pode. Mãe, não me consegues tirar a ideia da cabeça. -continuou.
A mesa continuava silenciosa. Os meus irmãos têm sempre alguma na manga, e por isso a minha vida está sempre cheia de acontecimentos ou novidades. Os meus pais continuaram a falar com o Luke enquanto o Logan e o Shawn começaram a falar comigo sobre irmos visitá-lo a Toronto.
-Então, se isto for para a frente vamos poder ir visitar o Shawn muito mais vezes!-disse o Logan
-Não comecem a saltar de alegria. O Canadá é longe... -disse eu
-Savvy, é mias uma hipótese que temos para estar juntos, para nos vermos mais vezes. Tens um lugar onde ficar sem ser a minha casa. Assim os teus pais não podem usar a carta do "ainda incomodas"
-Sim, e o Luke é muito fixe, ele deixava-nos fazer o que quiséssemos!-sorriu o Logan
-Se estás tão entusiasmado porque é que não vais também estudar para lá?-perguntei um pouco irritada com a conversa
-Alguém está irritada...........-respondeu o meu irmão a olhar para mim o que me fez revirar os olhos.
Uma mão tocou na minha, por debaixo da mesa. Olhei para a frente e o Shawn olhava para mim com carinho. "Eu adoro-te" sussurrou. Eu sorri e senti o meu coração a acalmar á medida que o seu dedo ia esfregando a palma da minha mão.
-Um bife para a menina- disse o empregado quando chegou junto de mim e pousou o prato com o bife à minha frente. Sorriu quando deixou o prato. Ele tinha o cabelo alourado curto, uns olhos azuis escuros, e os lábios bem definidos rosa. A sua pele era clara, e, de um modo geral ele era o ideal para uma rapariga. Não posso mentir e dizer que não o achei giro.
Continuamos o jantar, o tema de conversa sobre o Luke desaparecera, pelo menos por agora, em que todos falávamos do nosso dia. Claro que falámos da pequena praia não vigiada que encontrámos, mas decidimos omitir a parte em que fomos ao banho sem supervisão. O Cameron adorou o grupo a que foi, e ainda fez alguns amiguinhos. O Joe adorou andar pelo Algarve, há anos que não vínhamos e o Joe mal se lembrava. O Luke e o Ed mal falaram. Entretanto chegávamos ao fim do jantar, quando, o mesmo empregado que aprendi que se chamava Hugo, trouxe as sobremesas.
-Uma sobremesa especial para uma rapariga especial.-disse ele ao pousar a fatia de bolo de chocolate com uma bola de gelado de caramelo. Molho de caramelo rodeava o prato e passava por cima do gelado.
-Hum... obrigada...-disse ligeiramente desconfortável, mas com um sorriso. e ele continuou a distribuir sobremesas. O Shawn olhou para mim com uma cara irritada.-O que foi?
-Nada.....só achei que ele abusou um bocado, devias ter dito alguma coisa- disse ele
-Shawn, ficas tão sexy quando tens ciúmes- respondi, com exactamente o mesmo tom que ele tinha usado nessa manhã. E foi a sua vez de revirar os olhos, o que me fez sorrir. Eu costumo ser a que está constantemente a revirar os olhos.
-Falamos depois-disse eu baixinho com um sorriso. Afinal o Shawn tinha razão, quando nã somos nós a ter os ciúmes, eles até são bastante engraçados.
Acabámos por sair do restaurante, para irmos dar uma volta à noite, passear e apanhar o ar quente de verão. A volta não durou muito devido ao cansaço dos homens que se queixavam cada vez que parávamos numa loja ou constantemente quando uma brisa de ar quente os atingia. Eu e a minha mãe acabámos por desistir, afinal de contas, somos a minoria.
Chegámos ao hotel às onze da noite. O Joe estava muito eléctrico, o Cameron andava às mensagens, e o Luke e o Ed tinham ido a um bar. A entrada do hotel estava muito limpa e quase sem pessoas. Um homem de negócios a fazer check-in, uma família com duas raparigas adolescentes e um pai.
-Vamos dar uma volta?-ouvi e senti um sussurro no meu ouvido. Acenei, não consegui sequer falar. Senti a minha pele a responder sem sequer pensar.
-Hum.. mãe, eu e o Shawn queríamos dar uma volta... pode ser?-perguntei eu
A minha mãe deu o seu sorriso mais carinhoso- claro, mas não voltem muito tarde- ela sabia o quanto ia doer dizer adeus. Ela sabia que eu só tinha mais dois dias com ele, ela sabia que ia ser horrível. Ela queria dar-me a oportunidade de estar com ele o máximo tempo possível.
-Vamos?-perguntei, e o Shawn respondeu ao dar-me a mão.
Caminhámos num silencio bastante agradável, não era estranha, era confortável. Acho que isso diz muito sobre a nossa relação. Ouvia os sons da noite, ouvia o mar, alguns grilos, motores de carro muito ao fundo. Ouvia os nossos passos e o bater dos nossos corações em sintonia.
-E...estamos a ir onde?-perguntei curiosa.
-Estamos a ir à praia onde fomos hoje. Quero dar-te uma coisa.-sorriu carinhosamente e deu-me um beijo na testa.
-O quê?-questionei desconfiada
-Se eu te dissesse deixava de ser surpresa...-disse ele como seu eu fosse parva, e eu dei-lhe um leve murro no braço, como de costume. A sua respota foi um "au muito forçado", o costume que acaba comigo a rir levemente.
Chegámos à praia rapidamente, e sentámos-nos na areia fina, tal como de manha, mas agora sem toalhas. Olhei para ele, e ele para mim. Não estava preparada para deixar os típicos momentos que tinhamos, não estava preparada para deixar o seu cabelo macio e sorriso carinhoso. Simplesmente não sabia como é que ia viver sem ele ali ao pé de mim, sem saber se o meu coração não ia parar a qualquer momento por causa da nossa distância. Fechei os olhos tentando impedir as lágrimas que já se queriam formar.
-Então, qual é a surpresa?-perguntei curiosamente, aproximando-me dele
-Paciência realmente não é o teu forte, pois não?-perguntou ele, tocando-me com o seu indicador no meu nariz de uma maneira provocadora.
-Ora, quando dizes a alguém que tens uma surpresa para eles, ninguém consegue ficar paciente...-reclamei
-Pronto, está aqui a surpresa.-disse ele tirando uma caixa pequena e preta.
-Shawn-foi tudo o que eu consegui dizer depois de abrir a pequena caixa. Tinha um pequeno coração de prata num fio. A caixa tinha um papel a dizer "take a piece of my heart"
-Gostas? É para teres sempre companhia, o meu coração está sempre contigo, mesmo se eu estiver no Canadá e tu nos Estados Unidos. -disse ele
-Shawn, é lindo, maravilhoso, mais do que qualquer coisa que eu podia pedir. E eu não te dei nada... Shawn, eu, eu Amo-te mesmo. Mesmo muito. Eu Amo-te.-sorri. Foi a primeira vez que lhe disse que o amava. Uma coisa é dizer que o adoro, que gosto muito dele, mas estas foram as palavras que sairam da minha boca, expulsas do meu coração.
Num ato repentino sinto as suas mãos grandes no meu pescoço e cintura. Ele aproxima-me bruscamente mas apaixonadamente e beija-me. Foi um beijo intenso, profundo. Num momento estamos sentados, no outro eu estou deitada na areia e ele está sobre mim, sem fazer qualquer pressão sobre mim. Ele finalmente separa os nossos lábios, um sorriso aparece em ambos os rostos.
-Eu amo-te Savannah, como nunca amei alguém.- ele deu-me um beijo curto, pequeno.- E não sei se alguma vez vou conseguir sentir isto por outra pessoa. Foi a minha vez de o beijar.
Passamos o resto desta noite especial juntos, colados, abraçados, a rir e a dizer o quanto gostávamos um do outro. Foi a noite mais lamechas da minha vida, mas foi uma noite que eu precisava, para saber como ele se sentia, e para me sentir segura dos meus sentimentos também. Afinal de contas, vamos separar-nos em breve.
Ele cantou-me várias músicas que, segundo ele, foram inspiradas em mim, ou, que de certo modo, ele achou que eu fui a base. "A história pode não ser a tua, a minha ou a nossa, mas sem ti não tinha escrevido estas músicas" disse ele "Mas esta é definitivamente sobre ti" sorriu ao cantar-me, de seguida, Kid In Love.
Foi uma noite como nunca esquecerei, quase como uma noite na sala de música, mas muito melhor, mais intensa, mais sentimental. Dei-lhe um beijo, antes de sairmos da praia e voltarmos para o hotel.