Callous | h.s

By crystalpale

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Um mundo cruel. Duas almas insensíveis. Início: 02/08/2015 Fim: 24/08/2017 Todos os direitos reservados... More

00| Prólogo
01| Aparências
02| Frustrações
03| Fogo
04| Hipnose
05| Injetar
06| Efeitos
08 | Fotografia
09| Visão
10| Arma
11| Desenho
12| Corrida
13| Gritos
14| Escuridão
15| Descobertas
16| Ações
17| Esconderijo
18| Chantagem
19| Desespero
20| Confirmação
21| Ciúmes
22| Aliados
23| Mentira
24| Festa
25| Barulhos
26| Preocupação
27| Confissões
28| Passado
29| Ódio
30| Proteção
31| Equipa
32| Desconfiança
33| Segredo
34| Rivais
35| Inesperado
36| Revelações
37| Superioridade
38| Amizade
39| Frio
40| União
41| Incompreensão
42| Regressão
43| Perigo
44| Recuar
45| Toque
46| Sentimentos
47| Consequências
48| Fuga
49| Provocação
50| Reflexões
51| Escuridão
52| Reencontro
53| Dor
54| Traição
55| Rejeição
56| Risco
57| Corte
58| Sufoco
59| Ouvir
60| Novidade
61| Explicação
62| Enfrentar
63| Pistas
64| Culpa
65| Surpresa
66| Paz
67| Perda
68| Adrenalina
69| Regresso
70| Sobrevivência
71| Rapto
72| Experiência
73| Sangue
74| Vingança
75| Miséria
76| Fraqueza
77| Decisão
Epílogo

07| Medo

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By crystalpale

C A P Í T U L O  07

MEDO

Eu nunca fui de afetos, nem de muita confiança com as pessoas. Se alguém se aproximava, eu afastava-me, e tudo por uma simples razão. As pessoas são um veneno para as pessoas. As pessoas são mentirosas e tudo o que querem é o mal dos outros, mesmo que não o digam diretamente. As pessoas só se aproximam quando querem alguma coisa, e depois, no fim, fazem de tudo para acabar com a outra.

As pessoas não passam de uma mentira, criada por alguém, que curiosamente foi uma pessoa, ou talvez não. Talvez não passem de uma invenção criada aos nossos olhos, apenas porque gostamos de sofrer e de causar sofrimento a nós próprios. Porque o ser humano não passa de um asno que procura o sofrimento naquilo que inconscientemente pensa que lhe faz bem.

Por isso mesmo, eu nunca me aproximei das pessoas. Quer dizer, eu só me aproximei de uma pessoa e ela acabou por se ir embora, por minha culpa, porque eu a extingui com as minhas próprias mãos. Então eu era considerado um monstro. Mas, quem não o é? Todos somos, por isso eu só estava ali, a ocupar espaço. Porque assim como eu não me preocupava com ninguém, ninguém se iria preocupar comigo.

Eu estava a olhar para ela, e ela para mim, diretamente nos olhos. Os seus azuis, frios, como dois oceanos gelados a afastar quem por lá passava. Apesar do seu cabelo castanho, ela tinha uma cor clara, e isso dava-lhe um aspeto completamente diferente de todas as outras raparigas. Tornava-a mais autêntica e mais única. Fui obrigado a abanar a cabeça para afastar aqueles pensamentos e consequentemente, afastei o meu olhar do seu.

- É hábito fazeres coisas destas? - ela sentou-se na mesma cadeira onde estivera anteriormente e depois falou. Eu tinha-me sentado na cama e estava a tirar as botas.

- Que coisas? - perguntei sem olhar para ela. Eu queria, mas não podia. Porém...

- Meteres-te nessas coisas que destroem uma pessoa. - acabei por olhar para ela. Não cumprindo o acordo que tinha feito comigo próprio. Ela estava com os olhos um pouco inchados e as olheiras eram proeminentes, o que me deu a indicação de que não tinha dormido, ou tinha dormido pouco. - Mas certamente tens idade suficiente para saberes que isso é uma péssima opção de vida. - ela ficou uns momentos em silêncio. Talvez à espera de uma resposta minha, que não existiu. - Okay, como queiras. Também não estou preocupada.

Depois ela levantou-se e pegou na mala que estava pousada no chão. Dirigiu-se para a porta, provavelmente com o intuito de sair. No entanto eu não deixei que ela o fizesse e coloquei-me à frente da porta, impedindo-a de sair do quarto.

O olhar dela caiu em mim. Confuso.

- Hum... podes sair da frente ou vou ter de sair pela janela? - ela perguntou, com um tom carregado de ironia e de impaciência.

- Se eu fizer isto, - carreguei no interruptor que estava ao lado da porta e a janela fechou. - não consegues sair. - sorri sem vontade. - E também não podes sair. Não sem mim.

- Wow, calma lá. - levantou as suas mãos e deu dois passos atrás. - Se isto é algum tipo de cilada para me raptares, espero que saibas que é de muito mau gosto.

Se ela soubesse... Se ela soubesse que eu estava a mantê-la dentro de minha casa para ela realmente não ser raptada, ela iria deixar de ser tão segura de si mesma.

- Primeiro, eu não quero e muito menos tenciono raptar-te. Segundo, acredita que se saíres daquela porta podem acontecer coisas não muito agradáveis. - avisei tentando soar calmo.

- Tais como?

- Oh, não irias querer saber!

Andei até à outra ponta do quarto e peguei no Ten dos Pearl Jam, colocando-o na aparelhagem e avancei até à Black. Assim começou a tocar, coloquei o volume num som considerável.

Virei-me para a rapariga. Ela estava com um ar pensativo e eu até poderia dizer com medo. Mas só poderia, porque afirmar seria para além daquilo que eu via.

- Eu vou tomar banho. Fica à vontade. Podes tomar o pequeno almoço se quiseres. A cozinha fica no lado direito da entrada lá em baixo. - ela olhou para mim quando eu falei. No entanto parecia perdida nos seus pensamentos, porque não assentiu ou deu uma resposta audível.

Encolhi os ombros e depois fui para a casa de banho onde me despi e tomei um banho rápido.

Não sei o que me deu para ser tão prestável. Talvez eu estivesse com medo. Mas medo? De uma rapariga? Bem, ela não era só uma rapariga. Ela era a rapariga que em apenas três dias tinha conhecido mais de mim do que eu próprio. Primeiro eu presenteei-a com o meu eu mais rude. Depois ela quase que me apanhou em flagrante na floresta. Hipnotizei-a. Ela viu-me num estado onde eu estava a ser comandado pela droga e ao fim ainda conseguiu ver o meu lado, muito mas muito pequeno de medo. Quer dizer, eu não o transmiti. Mas toda aquela minha preocupação, se assim posso considerar, foi demasiado evidente.

Só que eu não a conhecia, e se estava com medo era do que poderia acontecer a mim, e não a ela.

Limpei-me à toalha e depois vesti umas calças confortáveis e uma camisola. Aborrecido com o meu cabelo, prendi-o num coque, ainda com ele molhado, e saí da casa de banho. Ela não estava no quarto. Desci então as dez escadas e quando entrei na cozinha fui presenteado com um agradável cheiro. Vi-a a movimentar-se de um lado para o outro e aquilo fez-me perceber como estava a errar em mantê-la tão próxima, quando isso poderia ser completamente tóxico para mim.

Aproximei-me do local onde ela estava e vi um prato com fatias de bacon, outro com ovos mexidos e mais uma série de comida. Com tanta proximidade ela acabou por olhar para mim e assustou-se quando quase bateu contra o meu peito. Foi como se os olhos azuis tivessem saído do seu rosto e caído ao chão.

- Calma aí boneca! - levantei as mãos em sinal de rendição e ela ergueu as sobrancelhas, provavelmente com o nome que lhe chamei.

- Mais uma assim e levas com a frigideira na cabeça! - o seu tom foi sério, e eu percebi que ela realmente não gostou do nome que lhe chamei. No entanto não me importei com isso e encolhi os ombros.

Olhei para a mesa e quando a vi sem pratos ou outro tipo de utensílio que nos permitisse comer, fui ao armário e coloquei tudo o que precisava em cima da mesa. Logo num instante ela juntou-se, sentando-se à minha frente.

Tirei os alimentos para o prato e comecei a comer em silêncio.

- Então. Chamas-te Harry não é? - ela perguntou depois de uns largos minutos onde apenas o barulho que preenchia o nosso meio era o dos talheres a baterem contra o prato.

- Yap. - respondi depois de levar outra garfada à boca.

- Em primeiro lugar deixa-me dizer que esse nome fica horrivelmente mal em ti. - parei de mastigar e olhei para ela. No entanto não pude dizer uma única palavra que fosse devido à comida que estava na minha boca. Então apenas levantei a cabeça para ela continuar e poder explicar-me. - É nome de príncipe, e deixa-me que te diga que mais pareces um ogre. - revirei os olhos e deixei que ela continuasse. - És bastante arrogante e nada acessível.

- 'Tou-me nas tintas para isso. - olhei para ela e sorri cinicamente.

- Eu ainda não acabei de falar. - ela disse, claramente irritada. - E em segundo lugar. Estás a pensar em dizer-me realmente o que aconteceu ontem? Ou terei de descobrir por mim mesma?

Ela era curiosa. Curiosa de mais para eu que não tinha paciência nenhuma para essas coisas. À minha beira das duas uma. Ou as pessoas calavam-se, ou iam-se embora depois de eu ser completamente desagradável. E se havia coisa de que eu não gostava, era que me fizessem tantas perguntas,igualmente às vezes que a terra girou em torno do sol.

- A segunda opção, em qualquer situação, é sempre a melhor! - olhei para ela quando falei. Reparei numa expressão irritada, principalmente quando ela revirou os olhos. - Por que razão queres saber? Eu já te expliquei o que aconteceu.

- Mas eu não acredito em ti.

- E continuas a perguntar-me? - pousei os talheres no prato. - Isso é bastante confuso sabes?

Ouviu-se um suspiro pesado vindo dela, e depois um silêncio. Bebi a água que estava à minha frente e depois olhei discretamente para ela. Cabeça para baixo, a brincar com o garfo em cima do prato. Foi como se tivesse passado algo por ela. Primeiro ela estava irritada, depois parecia mais calma e de repente ficou triste, isto se assim o poderia caracterizar.

Até que ela olhou para mim, e deixou-me confuso. Eu tinha a certeza que a conhecia, mas não me lembrava de onde.

- Leva-me para casa por favor. - assenti e levantei-me quando ela o pediu.

Quando peguei nas chaves do carro lembrei-me que ele estava lá fora e que ela não podia sair pela saída principal.

- Hum... - cocei a cabeça. - Tens de ir ter à garagem. Desces no elevador que eu vou já lá ter com o carro.

- Okay, tu és bastante suspeito! - franzi as sobrancelhas não percebendo o que ela queria dizer. - Qual é o teu problema? É proibido sair daqui?

- Há pessoas que não te podem ver. Satisfeita? - eu nunca gostei que me fizessem muitas perguntas, e o facto de ela o ter feito estava-me a deixar irritado.

- Oh, não me digas que é a tua namorada ciumenta.

- Talvez. - não lhe disse mais nada e dirigi-me para a porta. Ela saiu comigo e depois entramos os dois no elevador. Eu saí num piso e depois disse para ela descer mais um e ficar à minha espera na garagem.

Quando entrei em contacto com a natureza, percebi que se não me despacha-se em leva-la, a neve que já estava a começar a cair ia impedir-me de conduzir. Então dei uma corrida até ao carro e depois conduzi até á garagem.

Abri o portão através do comando e depois encontrei-a encostada a uma parede. Fiz sinal de luzes para ela e depois vi-a a caminhar para o carro. Entrou e sentou-se ao meu lado.

Não disse nada, durante todo o caminho. Limitei-me a conduzir concentrado na estrada, ou talvez não tenha sido tanto assim.

Ela fazia-me lembrar alguém, e eu tinha a certeza disso. Ela não era só uma cara que eu já tinha visto, porque eu podia associa-la a outro alguém, mas eu não me estava a lembrar, e isso estava-me a deixar confuso. Não. Não era nenhuma das outras raparigas com quem eu apenas decidi tirar uns minutos de diversão. Até porque eu tinha a certeza que nunca tinha tido qualquer contacto com ela. Mas aqueles olhos não me eram estranhos e as expressões...

- Tu... - ela olhou para mim. - Como é que sabes onde moro?

Olhei em volta. Merda. Eu tinha conduzido tão descontraidamente e longe da realidade que nem me tinha lembrado de lhe perguntar onde ela morava para não dar muita bandeira. Eu estava a um passo de ser apanhado com a botija na boca.

Acabei por encolher os ombros e depois fiz uma expressão séria. Eu tinha mesmo de começar a pensar antes de fazer as coisas.

- Na realidade eu sei muitas coisas.

- Estás a jogar a algum jogo ou isso é apenas uma opção parva para eu ter medo de ti? Eu quero dizer, tu és a pessoa mais estranha que eu conheci em toda a minha vida. Ages como se nada fosse e depois ainda te achas com toda a razão...

- Olha, esquece. Estás em casa, agora sai. Eu não te conheço, tu não me conheces e eu não estou com intenções de mudar isso. - mas no fundo, bem lá no fundo, eu queria.






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