65| Surpresa

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C A P Í T U L O 65

S U R P R E S A

Depois de ter vestido o blazer preto peguei na arma e escondi-a no bolso falso que o casaco tinha. Aquele era o único fato que eu tinha, o mesmo que eu usava sempre que o Matt me mandava ir a festas buscar droga. Nem queria acreditar que o estava a usar mais uma vez, especialmente para uma circunstância como aquela. Apesar de ser apenas roupa, era roupa que me fazia lembrar de situações e acontecimentos demasiado arriscados na minha vida. Queria desfazer-me de todas as coisas que tinham uma ligação com aquela vida asquerosa que levei por tantos anos. Mas primeiro tinha de me desfazer do Matt.

Olhei-me mais uma última vez ao espelho e suspirei. Não queria pensar no que viria a seguir, especialmente no que me poderiam dizer.

Estávamos no dia 12 de março. Tinham-se passados demasiados dias desde que o Niall tivera perdido a cabeça, assim como se tinham passados demasiados dias desde que tivera uma conversa com a Ava, para além dos simples "não" e "sim". Ela não dava o braço a torcer e não falava comigo. Aliás, quase ninguém falava comigo. A única pessoa com quem conseguia manter uma conversa era o Carl, que por vezes já não dizia coisa com coisa.

O Matt não tivera aparecido mais com as suas ameaças. Por mais que tenta-se encontrar uma solução para os problemas, não conseguia. A minha vontade era cada vez mais desaparecer e não resolver assunto nenhum. Desaparecer porque a minha presença já não valia de nada. Tendo todos de costas voltadas para mim já não podia fazer muito. Mas, não tivera acontecido tal coisa em toda a minha vida? Só que naquele momento era diferente, bem diferente. Havia uma pequena parte de mim que gritava preocupação de olhos fechados. Era pequena, mas dominava-me por completo. E depois ver-me a mim, ajudar outras pessoas deixava-me muito confuso. Eu não ajudava os outros. Ninguém me tinha ajudado a mim, porque razão estava eu a ajudar um grupo de pessoas que me queria ver pelas costas? Até começava a acreditar que também a Ava queria ver-se livre de mim. Talvez devesse ter realmente deixado aquelas pessoas para trás e partir para um local diferente, pouparia os acontecimentos que se seguiram.

Suspirei de novo. Passei as mãos pela cara e saí do quarto. No corredor olhei em volta para ver se mais alguém estava ali. As portas estavam fechadas e a minha presença era a única. Talvez já não estivesse ninguém em casa. Caminhei então para a sala e lá estava o Niall e o Evan, ambos com roupas formais como eu. Ambos olharam para mim, o Evan não ficou muito surpreso e desviou logo a cara, mas o Niall olhou para mim como se eu tivesse ressuscitado dos mortos. Esperei que ele disse-se algo.

- Tu... – os olhos dele arregalaram-se e depois apontou na minha direção. – Vens ao casamento?

- Se ainda precisares de uma testemunha sim. – horas antes uma parte de mim avisou-me que deveria ir, afinal o Niall não tivera vindo para ficar. Em breve ele iria embora e depois daquilo eu nunca mais o voltaria a ver. Porque mesmo que o futuro fizesse com que isso acontecesse, eu não iria querer. Pelo menos não depois daquilo que fiz e das pessoas que deixei que fossem. Porém a maior parte da razão pela qual eu ia àquele estúpido casamento era a Ava. Se o Matt se aproxima-se e eu lá não estivesse...

- Sim claro, quer dizer o Evan ia testemunhar, mas acho que ele não se importa que sejas tu. – o loiro olhou para o rapaz que encolheu os ombros em indiferença.

- Ele não pode testemunhar. – constatei. – É menor.

- Oh, não me lembrei desse pormenor. – olhei em volta para tentar perceber onde estava a Ava. – Trazes os teus documentos?

- Sim. – voltei a olhar para ele. – Quando é que vocês se vão embora?

- Em princípio para a semana. Uns amigos da Ambar estão cá para o casamento e vão deixar-nos a caminho para casa.

Callous | h.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora