19| Desespero

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C A P Í T U L O 19

DESESPERO

Brinquei com a fotografia na minha mão. Rodando-a, analisando-a e admirando-a. As minhas pernas estavas levantadas, com os pés contra a parede, enquanto o meu tronco relaxava na cama. Precisava de tirar algumas ideias malucas da minha cabeça. Como parar de pensar na Ava, parar de pensar em todo o conhecimento que eu tinha sobre a vida dela, parar de tentar arranjar maneira de a levar para longe das mãos do Matt, mas no fundo arranjar uma maneira de a esquecer. Porém, não eram só essas as coisas que pairavam na minha cabeça. Também o facto de não compreender as minhas reações. A simples aproximação calorosa com a Savannah e acima de tudo, a minhas terríveis visões, que não podiam ser outra coisa se não visões. Coisas da minha cabeça. Talvez um cansaço sobrecarregado. Talvez apenas estivesse a precisar de férias da vida, e havia uma maneira muito simples de o concretizar.

Levantei-me num silêncio profundo. Desci as escadas, indo até à cozinha e com o intuito de preparar qualquer coisa para comer. No entanto, o som da campainha impediu qualquer ação por minha parte. Ainda pensei duas vezes se deveria ou não de ir atender. Podia ser a Savannah com as suas acusações estúpidas e a última coisa que eu queria era ter a sua voz irritante nos meus ouvidos. Porém decidi abrir.

Não estava à espera. Não estava mesmo nada à espera. Criei todos os cenários possíveis, qualquer pessoas, menos ela. Mesmo que estivesse sempre a ocupar a minha mente. Parecia desesperada. Não vinha sozinha. Trazia um rapaz consigo. Ele parecia... apático, estava muito indiferente e parecia um pouco alucinado. Não sabia o que fazer, então limitei-me a olhar para as duas pessoas à minha frente.

- Por favor, ajuda-me. - ela estava mesmo desesperada. Notei isso na sua voz cansada, talvez por estar a segurar o rapaz.

Tirei-o dos braços dela e depois levei-o para dentro até à sala onde o pousei no sofá. Ele estava claramente num estado alucinado, completamente paralelo ao que estávamos a viver, onde alucinar era mesmo o fim.

- Foi um grande erro teres vindo até aqui. Sabes o que falamos da última vez? - olhei para ela estreitando os olhos. - Nada de andar sozinha, mas tu, pequena e desafiadora menina, gostas de quebrar as regras.

- Eu não sou pequena, muito menos desafiadora. - se havia coisa que eu admirava nela era a mudança repentina de estado. Ela podia estar muito aflita, zangada, qualquer coisa, mas se alguém a atacasse ela ia sempre falar com os dentes cerrados e mostrar a maior indignação presente. E isso era muito interessante. - E eu não vim sozinha, eu vim com o meu irmão.

Olhei para o rapaz. A família toda não. Pensei enquanto passava o plano familiar em revista. Um pai raptado e preso inocentemente, usado para servir de cobaia em experiência ilícitas. Uma filha completamente revoltada e extremamente difícil de compreender. E por fim um rapaz dificilmente retirado do mundo real, mas apenas por umas horas.

- E... - depois a Ava desesperada voltou. Levou as mãos à cabeça e andou de um lado para o outro. Olhei para o rapaz. Parecia ser mais novo que ela. - Eu não sei o que se passa com o meu irmão. Encontrei-o na rua assim. Ele estava muito estranho e não dizia coisa com coisa. E eu não o posso levar assim para casa, a minha mãe não o pode ver nesse estado.

- E onde é que eu entro no meio da história? - eu era mesmo insolente, mas eu até gostava.

- Tens de me ajudar. - olhou para mim, os olhos a transbordar de desespero. - Eu não sei o que ele tem. Ele disse coisas muito estranhas. Ele disse que ia, que ficava e que não vinha mais.

- Onde é que ele esteve?

- Supostamente em casa de um amigo. Ele foi lá passar a noite para estudarem. - a rapariga sentou-se no sofá à beira do irmão. Olhou para ele e depois para mim.

Callous | h.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora