Estávamos próximo ao ponto que descemos como de costume, quando passei próximo ao banco que Wellington estava ele beijava a Tati loira, dói um pouco não nego, mas eu já passei por isso, e por sorte ele deixa claro que quer minha amizade, preciso apenas aprender a conviver com ele e esquecer esse sentimento idiota.
Virei o rosto e passei por ele, que me segura pela mão e Tati olha torto para ele.
-O que foi? -Pergunto um pouco irritada, seu toque me estremece e ele sabe disso.
-Amanhã as sete e meia, não esqueça minha xícara.
Fala e eu só concordo com cara de poucos amigos.
Saio do ônibus e minha cara de merda logo é percebida pelas minhas amigas.
-Você deveria falar para ele o que você tem sentido com essas ''brincadeiras'' dele. -Diz Milca.
-Vocês me conhecem né? -Falo olhando para um ponto invisível na minha frente.
-Claro Rafa. -Diz Ana e me abraça pela cintura.
-Pior que eu não sei o que fazer? -Não quero perder a amizade dele por conta desse sentimento idiota.
-Mas Rafaela, está claro pra gente que ele sente algo por você, nem que seja atração, observe mais minha amiga. -Diz Ana e eu a encaro.
-Vocês acham isso mesmo? -Pergunto parando no meio da rua.
-Claro. Respondem em uníssono.
-Rafa ele está perto de você o tempo todo, te da beijos no pescoço, te ajuda a fazer ciúmes para Alberto, você acha que a gente não reparou nisso hoje. -Milca fala e vejo Ana concordando com tudo.
-Rafa só queremos que você aproveite, mas você o viu com aquela garota hoje, ele tem atração por você, isso é fato, mas não caia mais uma vez nisso de paixão amiga, ele não vai mudar e talvez você só devesse aproveitar o momento.
-Uma amizade com benefícios? Isso que você propõe? -Falo.
-Exatamente, uma amizade colorida, sem apego, só aproveita o momento e não se apegue a sinais e nem fique triste quando o ver com outras, aliás faça o mesmo, beije na boca de quem você quiser. -Diz Milca e eu fico envergonhada.
-Acho que posso tentar evitar o sentimento não prometo, mas estou perdidamente louca para beijar aquela boca.
-Vai minha amiga, investe e divirta-se. -Ana fala e vejo o quanto ela mudou.
-Ana cadê aquela timidez toda? -Falo rindo e ela me olha vermelha.
-Está aqui ainda, mas preciso viver e conhecer pessoas e me apaixonar e desapaixonar, preciso viver amiga e você também, ergue essa cabeça se ame, você é linda.
Me despedi delas e entrei em casa quietinha pois papai já dormia, subi para o meu quarto e me olhei no espelho, observei cada detalhe, meus olhos, boca, nariz, cabelo, as bochechas rosadas, talvez Ana tenha razão, preciso viver, erguer a minha cabeça e me amar.
Me levanto e tiro minha roupa ficando apenas de lingerie, observo meu corpo, cada dobrinha, cada estria, cada manchinha, me olho nos olhos e lagrimas brotam dos meus olhos, a quanto tempo fui cega para mim, a quanto tempo evito de fazer isso, olhando para mim, lembro me dá minha história, lembro dos almoços com mamãe regados a massas e bolos gelados, dos churrascos e das noites no cinema com a minha família, cada momento bom da minha vida, havia comida e risadas, e me dou conta de cada quilo a mais, cada marca na verdade são registros do que eu sou, do que eu fui e de momentos que vivi. E ali eu me entrego ao choro, e me olhando nos olhos eu digo para mim mesma.
-Você é linda, cada marca é necessária e tem história, e eu te amo. -Fico ali me repetindo isso várias vezes, entro no banho, choro por muitos motivos, mas choro de felicidade por ter me encontrado e por ter a sorte de me ter, e o melhor de tudo, de ter a certeza de que quem me perdeu nesse caminho, não passam de idiotas.
Me deito e coloco o despertador, caio num sono profundo e calmo, aliviada e feliz, sonho com mamãe, correndo em um lindo campo gramado, cheios de flores amarelas e um céu azul, o mais lindo que já vi, ela me olhava e sorria.
Acordei as seis e meia com os primeiros raios de sol, me levanto, vou para o espelho do meu quarto.
-Bom dia amor da minha vida, você está linda e eu amo você.
Vou para o banheiro e tomo uma ducha rápida, arrumo meu cabelo em um rabo de cavalo alto, e passo hidratante pelo meu corpo todo, coloco minha calça jeans e meinha camiseta do uniforme da farmácia, passo um batom e um pouco de blush nas bochechas, sorrio para o que vejo no espelho e vou para cozinha.
-Bom dia pai. -Digo e ele me observa.
-Bom dia minha filha, você está radiante hoje. -Obrigada pai.
Nisso o barulho da buzina ecoa pela casa, papai vai recebe-lo, parece que sentiu muito a falta de Wellington.
-Entre, vamos tomar café, Rafaela já está organizando as xícaras.
Ele entra e nossos olhos se encontram, seu olhar me olha de um jeito diferente.
-Você está diferente, está linda e radiante, nunca te vi assim. -Diz e se aproxima me dando um beijo na bochecha.
-Bom dia pra você também. Digo e acabamos rindo.
Tomamos café e conversando sobre a festa, já avisei papai que não teremos hora para chegar, e Wellington precisou prometer que não beberia umas quinze vezes.
Fomos para a farmácia, seu Paulo nos recebeu como de costume, com café e olhamos na bancada o jornal já estava dividido, nos sentamos e olhei para Wellington e começamos a rir, pois aquilo tudo estava se tornando uma rotina gostosa para nos três.
-Se continuarem se olhando assim, por favor me chamem para padrinho. Diz seu Paulo sem desgrudar o olho do jornal e tomando um gole do seu café.
-Pode ter certeza seu Paulo. Wellington ri e logo em seguida Wellington foi para o segundo andar no escritório de notas e eu fui limpar algumas prateleiras.
O dia passou rapidamente e quando foi três da tarde pedi para ir embora, já tinha combinado com o seu Paulo, fiquei sem tirar minha hora de almoço para poder sair mais cedo, queria passar no salão por conta da festa.
-Seu Paulo até amanhã então. -Lhe dei um beijo na face e fui para o salão mais próximo.
Passei no salão, resolvi pintar meus cabelos num tom mel, e fiz um corte mais moderno, ele foi escovado e estava perfeito, sai do cabelereiro as cinco da tarde, íamos sair as seis e meia, Wellington me pegaria em casa.
Porém vi um vestido numa vitrine de roupas plussize, já havia comprado minha roupa, mas aquele vestido me chamou muito a atenção.
Entrei, experimentei e gostei muito do resultado, levei para casa.
Tomei meu banho e coloquei meu vestido e uma sandália de salto médio preta também, meu cabelo ficou todo de lado, fiz uma maquiagem forte, com delineado marcando meu olhar e batom nude, pois teríamos que ir a aula ainda, depois retocaria a maquiagem para ir ao show.
As seis e meia recebo uma mensagem de Wellington.
''Em cinco minutos chego aí.''
Fui para sala e papai não estava, ele tinha saído fazer umas compras.
Logo o barulho da buzina e das risadas dos meus amigos ecoaram pela minha sala, peguei meu material e minha bolsa, saí pela porta a trancando.
Vejo meus amigos me observarem e parem de riso, Ana e Milca sorriam e me faziam joínha, já Thomas ergueu a sobrancelha, Wellington que era o único que não tinha me visto ainda, parou de rir quando percebeu o silencio do carro, enfim nossos olhos se cruzaram e ele perdeu o riso e ali ficou me observando até me aproximar.
-Vai Thomas, para o banco de trás agora. -Ordenou Wellington e as meninas caíram na risada.
-Vixe, não precisa me expulsar também, tenho sentimentos. -Diz fazendo drama.
Me aproximo e ocupo o banco do passageiro.
-Você está linda Rafa, se não fosse tão minha amiga hoje você ia para o meu cafofo.
Mal ele sabe que é só ele chamar que eu vou. Mas me limito a um sorriso sem graça.
Fomos o caminho todo falando sobre a festa, e passamos no mercado antes da faculdade comprar umas bebidas.
Saindo do mercado encontramos Pedro na sua moto e mais dois carros de amigos dos meninos, eles iam para o centro ficar na praça e depois de lá seguiriam para a festa, resumindo eles não iriam para a faculdade, porém como eu, Milca e Ana tínhamos a sorte de ter uma apresentação nas duas primeiras aulas, Wellington nos levou para a faculdade e voltou com os amigos dele para a praça.
Entramos no pátio da faculdade e as meninas já começaram a me contar umas coisas.
-Rafa, Wellington e Thomas estavam com um papo sobre você antes de você sair da sua casa.
-Que papo? -Pergunto curiosa.
-Não sei direito por que aparentemente eles já vinham falando do assunto antes de passar em casa, então pegamos meio pelo meio a conversa. -Fala e Ana concorda.
-Mas o que vocês ouviram?
-Thomas falou sobre você não se achar bonita, entendi isso, e Wellington falou que só não ficava com você por causa da amizade, que não queria estragar.
-Como assim? -Falaram perto de vocês isso?
-Eu entendi que ele usou de exemplo Rafa, tipo que ele te pegaria fácil. -Diz Ana.
-Aí meninas eu não sei o que fazer, recebo tantos sinais de Wellington, sem contar que todo mundo acha que a gente tem alguma coisa, e eu não consigo decifrar.
-Rafa você é muito lerda. -Milca fala me olhando nos olhos.
-Como assim Milca?
-Rafa se você quiser ele vai te pegar de jeito isso é fato, e ele só não fez isso por conta da tal amizade de vocês, mas amiga se você quiser e conseguir não envolver sentimento aquele corpo vai ser todo seu. -Entendeu ou quer que eu desenhe?
-Você está falando sério, tem certeza? -Falo pois não consigo acreditar que ele me queira.
-Temos Rafaela. -Diz em uníssono.
-Vou fazer um teste hoje então e a gente vê no que dá, o único problema é não envolver sentimento.
-Pelo menos esse é sincero, e amiga, melhor um amigo te beijando sem compromisso, do que você apaixonada em segredo vai por mim.
-Vou me arriscar, vamos ver o que vai dar.
Fomos para a sala e nossa apresentação foi a primeira, pouco depois das nove já estávamos liberadas, passamos no banheiro retocamos a maquiagem, passei um batom vermelho dessa vez, e escureci meu olhar, pronta para o show e por umas boas doses de vodca e quem sabe a atenção de um amigo bonitão.
Saímos da faculdade e Wellington com Thomas nos esperava, entramos no carro e fomos para a praça com o restante do pessoal.
Chegando lá, vejo que Barbara e a Tati loira já estão lá, como concorrer com isso, elas são perfeitas, lembro-me do episódio de ontem, lembro da minha imagem no espelho, ergo a cabeça, abro meu melhor sorriso, todas somos belas, e nenhuma diminuía beleza da outra, não deve ter comparações e nem competições.
Me sento ao lado de Pedro e Thomas em um banco da praça, Wellington está com os amigos falando alguma piada ruim e dando risada.
Milca e Thomas estavam trocando caricias e eu vi isso, aliás eu vivi para ver isso, já Ana estava ao lado de um rapaz alto um pouco distante de nós, deve ser o peguete de ontem.
Não queria ficar de vela e nem olhando para a Pedro que mexia no celular sem parar conversando com uma moça chamada Bruna, sim eu dei uma olhada.
Me levantei e fui em direção ao banheiro, quando sai vejo Wellington encostado na porta.
-Está me seguindo? -Digo e dou uma risadinha.
-Te vi saindo e vim ver se precisava de alguma coisa, e está na hora de começar a encher a cara e não queria começar a encher sem você.
Me aproximo dele e ele arrega-la os olhos, mas não se afasta, dou um beijo em sua bochecha igual ele faz comigo, vejo seus olhos fecharem.
-Muito obrigada por ter lembrado de mim. -Digo rindo.
-Não tem de que. Me pega pela mão e sai me puxando, tento me soltar já que vejo todos os seus amigos nos olhando.
-Nem pense em soltar, você é minha amiga e a gente anda abraçado, de mãos e se eu quiser te dar um selinho que seja na frente deles, eles não têm nada a ver com isso.
-Você não faria isso com uma amiga. -Sorrio e ele me puxa para seus braços.
Cola nossos lábios em um selinho inocente, se afasta rapidamente pois eu sei que sentiu a mesma sensação que eu.
-Viu, não tem nada a ver, e continuamos amigos e meus amigos e os seus nem ligam para esse tipo de carinho, aliás sua boca é macia, vou fazer isso mais vezes. -Fala e cai em uma gargalhada.
-Se fosse só a boca macia né Wellington. -Falo rindo, referindo-se ao meu peso, referindo a ser gordinha.
Seus olhos escurecem, ele se aproxima e diz baixinho.
-Por favor, não me faça querer sentir a maciez do seu corpo, ainda quero ser seu amigo.
Ele se afasta e vai atrás das bebidas e fico ali imaginado o que ele quis dizer com isso, e acabo passando a língua pelos lábios, e meu corpo pedia por mais, Ah Wellington, eu não sei até quando nossa amizade vai durar.