— Os vizinhos ouviram a gritaria e chamaram uns policiais que estavam na redondeza. — Elena, continuou a contar. — Por sorte, eles chegaram a tempo, e tiram aquele homem de cima de mim, antes que ele terminasse, me matando.
— Depois disso, vocês foram direito para a delegacia? — Pergunto.
— Sim, foi tudo muito rápido. Não tive tempo de pegar nada, apenas fui com os policiais para prestar queixa na delegacia.
— E a sua mãe? Ela vai ficar do lado dele?
Ela suspira, triste.
— Sim, ela sempre ficou do lado dele, mesmo sabendo de tudo que ele fez comigo. — Elena continua. — Ela provavelmente está me ligar como louca, para mandar eu retirar as acusações contra ele ou então dar o dinheiro para a fiança, e como não estou com o celular, ela vai terminar indo me procurar em casa.
— Você pretende fazer alguma das duas opções?
— Não, dessa vez não, eu cansei de ser o banco sem fundo, e o saco de bancada deles. Sabe, a minha mãe, é a minha única parente viva.
Elena, parece dividida, ela não quer mais viver da mesma forma que antes, mas ainda pensa na mãe, mesmo com a mãe em questão, não a valorizando.
— Sabe como as pessoas que conheceram a mim e os outros quatros, Edna, Gabriel, Dominique e Henry, na época da escola, nos chamam?
Elena, balança a cabeça que não.
— Nos chamam de "os seis".
— Mas, vocês são apenas cinco. — Ela fala.
— Exatamente, agora somos cinco, mas já fomos seis.
Levantei do sofá e peguei o porta retrato que sempre fica na estante, próximo à televisão e mostrei para Elena.
— Você já esteve aqui várias vezes, já deve ter prestado atenção nessa foto.
Ela balança a cabeça em confirmação.
— Tiramos ela, quando estávamos estudando num internato em Paris.
— Quem é a garota? — Ela pergunta, pela única do grupo que não a conheceu.
— O nome dela era, "Zahra Osman", ela era egípcia, nasceu em Assuã, uma cidade do sul do Egito. O seu pai era médico e mudou-se para a França, com a sua família, quando ainda era um bebê.
Continuei a contar.
— Conheci Zahra, no internato, assim como os outros quatros, e não demorou muito, para que nos tornássemos inseparáveis. — Quando estávamos no internato, dizíamos o que iríamos ser, após sair de lá. Dom queria cantar. Gabriel, queria ser baterista. Henry, queria pintar. Zahra, sonhava em ser modelo. Edna, estilista e eu, apenas queria que fôssemos felizes, então decidi que quando saísse de lá, abriria uma empresa de moda, para que Zahra e Edna, trabalhassem comigo. — Continuei. — Os meninos ficaram zangados por serem os únicos que iriam trabalhar separados, então decidiram que As pinturas de Henry, seriam expostas nos eventos da empresa, Enquanto Dom, iria cantar e Gabriel tocar. E assim, nos tornamos formalmente o famoso grupo dos seis. Naquela época éramos bem sonhadores, e nunca imaginamos que as coisas não sairiam como havíamos planejado.
— Ela morreu? — Elena perguntou.
— Ela foi assassinada, antes de nos formarmos.
— Como?
— No nosso último ano no internato, houve uma troca de professores e um dos substitutos era muito bonito. Zahra, se apaixonou por ele, disso todos sabíamos. O que não sabíamos, era que esse professor, estava flertando com ela, assim como com outras alunas. — Um dia Zahra sumiu e ninguém conseguiu entrar, ela. A direção disse para os pais que ela havia fugido, mas nós cinco, que a conhecíamos bem, sabíamos que esse tipo de coisa não era o estilo dela.
— Ela estava viva, quando a encontraram? — Elena perguntou.
— Não, o corpo dela foi encontrado, dias depois, às margens do rio sena. A autópsia determinou que a causa da morte foi enforcamento, na autópsia também descobriram que o professor, era o culpado, pois foi achado um pedaço da pele dele, em baixo das unhas dela. Zahra havia lutado para sobreviver, mas não conseguiu escapar.
— E o cara que fez isso com ela, foi preso?
— Não, ele conseguiu fugir, um pouco antes de ser descoberto, até hoje o paradeiro dele é desconhecido.
— E a família dela ainda continua morando na França?
— Não, eles voltaram para a cidade natal deles, depois que o corpo de Zahra foi enterrado. — Continuei. — Depois que nos formamos, muitas coisas mudaram. Dom, decidiu se tornar policial para um dia encontrar aquele cara e o prender. Gabriel, assumiu os negócios da família na empresa, e os únicos quadros que pintou foram o da Zahra, e um com nós seis. Edna, criou toda uma coleção com o nome dela. Gabriel, desistiu de se tornar baterista e tornou-se barman, e sempre carrega com ele, uma pulseira com o nome dela, no braço. E eu, continuo igual, apenas tenho uma empresa, com o nome que Zahra, escolheu antes de morrer.
— Vocês amavam-na muito, não é mesmo?
— Sim, Zahra era como um anjo, a morte dela foi muito dolorosa para nós e mais ainda para os pais dela.
— Porque está me contando sobre ela? — Perguntou Elena, sem entender.
— Porque eu me importo com você, e acredito que não vou aguentar perder alguém que amo outra vez. Então, por favor, Elena. Deixa eu ajudar você a se livrar dos seus problemas.
— Diana...
Antes que ela diga algo, para tentar fazer com que eu desista de ajudá-la, falo:
— Quando olhei para o seu pescoço, marcado com marcas de enforcamento, eu fiquei paralisada por um momento, e quando você me contou tudo, tudo o que aconteceu no passado passou pela minha cabeça. Eu sei que as coisas que aconteceram com você e com Zahran, são totalmente diferentes. Mas, eu não quero que você tenha o mesmo final que ela.
— E não vou ter, Diana. Eu juro, o que aconteceu hoje, não vai mais se repetir, e eu vou parar de dar dinheiro a eles, vou me afastar deles. Eu estou feliz com você, e quero continuar vivendo feliz, e com você.
— Então, deixa eu te ajudar. — Peço.
— Não, você não entende. Depois de tudo que eu passei, eu quero resolver as coisas com as minhas próprias mãos, quero fazer o que deveria ter feito há muito tempo, e não fiz, porque amo a minha mãe, apesar de tudo.
— Tudo bem, se você quer resolver as coisas sozinha. Eu não me importo, apenas peço que não me esconda nada, e não retire as acusações contra esse cara e por favor, não pague a fiança dele, ele merece pagar pelo mal que fez a você.
— Eu não vou, prometo que não.
Elena se aproxima de mim e me abraça.
— Obrigada, por se importar comigo Diana.
— De nada, diabinha.
Ela sorrir.
— Posso tomar banho? Quero me limpar e tirar essa roupa com o sangue daquele cara.
— Claro, pode ir. Pega uma roupa para você no closet, depois. — Eu vou ligar e pedir comida, ainda não almocei.
— Tudo bem.
Elena, vai para o quarto tomar banho. Espero ela começar a tomar banho e pego o meu celular e ligo para Dom, que atende no terceiro toque.
— Eu sei que sou irresistível, mas tenho que dizer que sou comprometido. — Ele fala com brincadeira.
— Essa é a sua frase ensaiada, que você usa para espantar as mulheres, depois de uma noite?
— Sabe como é, elas sempre ficam loucas e começam a me perseguir. — Ele sorri.
— Dom, eu preciso de um favor.
— Claro, pode falar.
— O padrasto da minha garota, tentou matá-la...
— Ela está bem? — Ele pergunta, antes que eu termine de falar.
— Sim, mas eu preciso que você mecha uns pauzinhos, descobrir em qual cela temporária ele está no momento, e transferi-lo, para uma bem amigável, com bastante colegas, que odeiam homens que agridem e assediam mulheres. E se você quiser, dar um jeitinho de pedir para algum dia policiais que trabalham na delegacia onde ele está, deixarem algumas marcas amigáveis no seu corpo, eu ficaria muito grata.
— Entendi, vou dar um jeito de fazer com que ele receba um tratamento vip. Qual é o nome dele?
— Michael Jones. — Continuo. — Dom, eu nunca pedi isso para você, certo?
— Sim senhora, resolvi fazer por conta própria.
— Obrigada Dom.
Sei que Elena quer que eu não me envolva, e eu não vou me envolver, mas não posso garantir, que não irei pedir para outras pessoas se envolverem no meu lugar.