Caça às Bruxas (CONCLUÍDO)

By tamires_menaldo

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Em meados do século XV, na época da Inquisição, a Igreja perseguia os bruxos acusando-os de heresia e condena... More

Introdução - Personagens e Playlist
Prólogo
Capitulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capitulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulos 07
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capitulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Epílogo

Capítulo 08

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By tamires_menaldo

Tribunal do Santo Oficio



A porta pesada da cela, onde Freya encontrava-se presa, é aberta por um dos carrascos e Bispo Domênico adentra o minúsculo quadrado aproximando-se da bruxa.


- Está pronta para começar a falar? - indaga o Bispo, rispidamente.


- O que você quer que eu fale? - A bruxa retruca encostada de pé no canto da parede com seus longos cabelos pretos cobrindo seu rosto.


- Onde os seus estão escondidos? - interroga Domênico dando um passo para perto dela, que espiava o movimento dele por entre os fios de suas madeixas.


Ela reconhece se tratar do mesmo homem alto, magro e de cabelos grisalhos espessos vestido em uma túnica branca de seda, que recebera a ela e ao caçador na entrada do Tribunal.


- Eu não vou falar nada.


- Prefere morrer então?


- No momento em que coloquei meus pés nesse lugar, já sabia que o meu destino seria a morte.


- Pelo menos está pronta para confessar, bruxa? - Ele dá outro passo na direção dela.


- Eu não tenho nada para confessar - dispara Freya sacudindo a cabeça para tirar os cabelos do rosto e encara o Bispo com seus olhos verdes brilhando de raiva.


- Você é filha do diabo, uma alma perdida, que precisa ser purificada. - Ele brada apontando o dedo em riste para a bruxa. - É claro que está cheia de pecados


- Quem usa do mal para se beneficiar é a própria Igreja. - Ela avança furiosa na direção do Bispo, que dá alguns passos para trás arregalando os olhos pretos. As correntes que a prendiam esticam-se no limite fazendo-a, com o tranco, ser puxada para trás. - Vocês são uns hipócritas, piores que nós bruxos - desdenha a bruxa cuspindo no rosto do Sarcedote.


Domênico, em uma reação instintiva, dá um tapa no rosto de Freya, que o vira para o lado com o impacto sentindo sua bochecha direita arder e sua pele clara ficar avermelhada.


- Os bruxos são uma maldição neste mundo, que vamos exterminar. - Ele afasta-se. - E você bruxa insolente vai falar por bem ou por mal.


Freya não responde, apenas vira o rosto de volta para ele encarando-o com fúria. Sentindo seu sangue ferver, ela fecha os punhos cravando as unhas na palma de suas mãos deixando marcas avermelhadas.


- Levem-na para a Sala de Confissão - ordena o Bispo aos carrascos, que aguardavam parados perto da porta do lado de fora da cela.


O Reverendo retira-se da cela e afasta-se pelo corredor enquanto dois homens trajados com capas vermelho-sangue agarram Freya pelos braços e desprendem as correntes mantendo as algemas em volta dos pulsos dela. Eles a arrastam para fora da cela e pelo corredor estreito em penumbra até o final onde ficava a Sala de Confissão. A bruxa debatia-se tentando se soltar das mãos dos carrascos, que eram mais fortes.


Ao entrar na sala, Freya se depara com equipamentos de tortura. Ela apavora-se internamente sentindo seu estômago afundar de pânico, mas mantém-se calada e sem expressão, com olhar gélido para não demonstrar seu temor. Enquanto os carrascos obrigavam-na a se deitar em uma mesa de madeira rústica com farpas e prendiam-na pelos tornozelos e pulsos, um homem alto de cabelos castanhos ondulados vestido com túnica preta entra na sala e aproxima-se da mesa.


- Sou o Padre Bartolomeu. - Ele comunica tentando parecer gentil. - Você, mesmo sendo bruxa, deve ter um nome.


Freya apenas encara os olhos amendoados dele, furiosa.


- Pelo visto o diabo deve estar tomando conta do seu corpo - comenta ele ao perceber o olhar dela.


- Vocês matam inocentes e depois dizem que os bruxos são filhos do diabo.


- Bruxos não são inocentes, são pessoas que preferem adorar o maligno do que se converterem a Igreja.


- A Igreja é hipócrita. - Ela cospe cada palavra com desprezo.


- Podem apertar as correntes - ordena o Padre aos carrascos ignorando o comentário dela.


Eles obedecem e Freya dá um grito de dor ao sentir seus pés e suas mãos sendo apertados e puxados.


- Está pronta para confessar, bruxa?


- Eu não tenho nada para confessar.


- Então você vai preferir ser purificada pela fogueira?


- Não importa o que eu diga, eu vou morrer de qualquer jeito.


- Se confessar, sua morte será mais rápida, na forca e seu corpo será queimado. - Bartolomeu explica com enfado. - Se continuar se negando a falar, morrerá de forma mais lenta sendo queimada viva na fogueira.


Freya fica calada por alguns segundos. A visão da mãe sendo queimada na fogueira e ela sentindo toda a dor da outra, invade sua mente.


- Eu não tenho nada para confessar.


- Então terá que ser do jeito mais difícil, bruxa.


- Meu nome é Freya - rebate ela irritada.


- É um nome até bonito para uma bruxa.


O Padre pega um funil e segurando, firmemente, o rosto de Freya coloca-o na boca dela, um dos carrascos com um jarro de barro joga água pelo funil sufocando-a.


- Pode parar. - O carrasco obedece interrompendo sua ação e o Padre retira o funil da boca dela. - Está pronta para confessar?


Freya vira a cabeça para o lado cuspindo água e tossindo tentando recuperar o ar.


- Vocês é que deviam morrer na fogueira - esbraveja Freya com a voz falhada.


- Mais uma vez. - O Padre dirige-se ao carrasco colocando o funil na boca dela novamente.


O homem, outra vez, entorna a água do jarro pelo funil. Quando percebe que ela estava afogando-se, o Padre faz sinal com a mão para que o outro cessasse a sua ação e retira o funil da boca de Freya.


- Está pronta para confessar?


Freya, mais uma vez, vira o rosto de lado cuspindo mais água e tossindo desesperadamente, tentando puxar o ar dos pulmões. Ela não responde ao Padre.


- Geralmente, os bruxos começam a falar logo na primeira tortura, alguns são até um pouco mais resistentes, mas a maioria morre antes mesmo da execução. - Bartolomeu informa com tédio na voz. - O que vai preferir? Confessar e ter sua alma purificada o quanto antes ou mantê-la atormentada por mais tempo?


- Eu prefiro que todos vocês morram - dispara a bruxa com a voz rouca e encarando furiosamente cada um presente na sala.


- Mais uma vez.


O ciclo de tortura se repete. Dessa vez o Padre coloca o funil mais fundo e o carrasco joga uma quantidade maior de água, fazendo-a sufocar mais rápido.


- Pare! - O Padre retira o funil.


Freya, sem forças para virar a cabeça para o lado, cospe a água junto com sague em seu vestido, já arruinado. Ela sente sua garganta doer e um gosto amargo na boca.


- Está pronta para confessar?


- Pode...continuar, eu não...vou falar...nada - diz ela devagar, devido a sua garganta estar dolorida.


- Você parece ser mais resistente que a maioria dos bruxos, mas isso não vai te livrar do seu destino.


- Eu...sei.


- Por hoje, basta - comunica o Padre aos carrascos. - Ela não vai conseguir falar nada. Podem tirar as correntes e levá-la de volta a cela.


Os homens obedecem tirando as correntes de Freya, que além de sentir a garganta dolorida também estava com as costas arranhada devido as farpas da mesa, e arrastam-na pelo braço até a cela. Depois, novamente, afivelam as correntes presas as paredes nas algemas em torno dos pulsos e dos tornozelos da bruxa.


Após os carrascos saírem da cela deixando-a sozinha na escuridão, ela, sentada no chão encostada na parede sentindo suas costas arderem, olha para os seus pulsos, que estavam ficando arroxeados em volta das algemas e, em seguida, para o seu vestido e manto rasgados, molhados e manchados de sangue seco.


- Mãe, foi...por isso...pelo que...passou...para...me proteger - balbucia ela para si mesma, deixando as lágrimas rolarem soltas pelo seu rosto.


Freya encosta a cabeça na parede fria e úmida perdendo suas forças e desmaiando.



○○○



Mosteiro da Graça



Após algumas horas de viagem, ao qual o dia já havia amanhecido, os vagões da comitiva do Rei haviam saído da estrada principal e seguido por trilhas mais estreitas pela Floresta da Lua. Henrique manda pararem o vagão em frente ao Mosteiro da Graça, que era cercado por uma muralha enorme e um portão pesado de ferro.


- Precisamos descansar - anuncia o Monarca cutucando Cassius, que estava absorto em seus pensamentos.


- Não podemos parar - resmunga o outro percebendo que o veículo havia parado -, não temos tempo para isso, Henrique. - Cassius protesta em vão, pois o Rei já estava ordenando a um de seus cavaleiros que pedissem passagem aos vigias da muralha.


- Eu não aguento mais ficar dentro desse vagão. - Henrique desabafa voltando sua atenção ao outro bruxo. - Já estamos perto do Tribunal do Santo Oficio.


- Mas a vida da sua filha está em risco - rebate Cassius com voz irritada.


- Nunca mais diga isso em voz alta - recrimina o Rei com o dedo em riste na direção do outro -, as pessoas não precisam saber dessa história.


- Henrique, precisamos chegar até Freya antes que... - insiste o bruxo abaixando o tom de voz.


- Vamos continuar seguindo viagem amanhã de manhã - diz Henrique irredutível interrompendo o outro.


- Mas pode ser que Freya não sobreviva até amanhã de manhã.


- Eu conheço os métodos da Igreja - garante o Rei -, quando chegarmos lá, ela ainda estará viva.


Ambos sentem o vagão movimentando-se novamente. Ao dar uma espiada para fora, Henrique vê que o portão de ferro havia sido aberto e sua comitiva estava adentrando o local. O transporte passa por um caminho de cascalhos com um pequeno jardim em volta até chegar a um portal ordenado por pedras em formato de semicírculo.


A construção do Mosteiro era em formato de "U", onde do lado esquerdo ficava a enfermaria e a hospedaria para viajantes pernoitarem. Do lado direito, em dois andares, estava o dormitório dos monges e no piso superior era a biblioteca e o scriptorium, onde os manuscritos eram copiados. Ao fundo ficava a capela para as orações, o claustro, que era um lugar aberto, mas com cobertura para a realização das meditações do clero e o refeitório. Também havia em um canto a horta com plantações de alimentos para o próprio consumo e o cultivo de ervas medicinais. E o espaço no meio ao ar livre era o pátio.


O vagão para após passar pelo portal. Henrique desce do veículo sendo imitado por Cassius apesar de estar contrariado. Então, também acompanhado por seus cavaleiros, o Rei entra na ala dos dormitórios deparando-se com um hall em absoluto silêncio, até que das escadas surge um homem alto de cabelos castanhos, mas com o topo da cabeça raspado e vestido com uma túnica longa bege de lã com capuz amarrada na cintura por um cinto de couro, que após descer os degraus aproxima-se do Monarca reverenciando-o.


- Vossa Majestade, que honra recebê-lo em nossa humilde abadia.


- Abade Carlo, só precisamos da sua hospitalidade por uma noite.


- Vossa Majestade e sua comitiva sempre serão bem-vindos em nosso mosteiro.


- Ficamos agradecidos.


- Podem me acompanhar. - O Abade segue para o pátio atravessando-o até a ala do outro lado sendo acompanhado pelo Rei e seus homens. - Os seus cavaleiros podem ficar com os quartos do fundo e Vossa Majestade com o aposento maior.


- Você fica nos quartos junto com meus cavaleiros - sussurra Henrique para Cassius, que apenas faz sinal afirmativo com a cabeça.


Cassius junto com os outros seguem para os quartos dispostos ao longo de um corredor enquanto Abade Carlo acompanha Henrique até seu aposento.


- Agradeço a hospitalidade, Abade Carlo, mais uma vez - agradece o Rei ao parar em frente à porta do quarto.


- Fique à vontade, Vossa Majestade, nossa refeição será servida daqui a três horas no refeitório, que fica na ala dos fundos como já bem conhece. Tem esse tempo para descansar da viagem. - O Abade afasta-se a passos vagarosos e Henrique entra no quarto.



No horário da refeição, os cavaleiros e Cassius se juntam aos monges, todos com o topo de suas cabeças raspadas e vestidos, igualmente, com túnicas longas carmesim de lá com capuz. O refeitório era um salão, ao lado do claustro, que possuía algumas mesas grandes e retangulares com bancos cumpridos, colocados um de cada lado, dispostas por todo o local, ao qual a cozinha ficava ao fundo separada por uma parede de pedra.


Henrique preferiu que sua refeição fosse servida em seu aposento, ao qual foi, prontamente, atendido e um de seus cavaleiros levou até ele uma bandeja com sopa de legumes.



Na manhã seguinte, enquanto os monges faziam suas orações matinais na capela, o Rei junto com sua comitiva, após o café da manhã com pão e queijo, segue viagem rumo ao Tribunal do Santo Oficio.


- Espero que você tenha razão e que Freya ainda esteja viva - comenta Cassius para Henrique, já acomodados dentro do vagão.


- Como eu disse, conheço os métodos da Igreja.


- Que métodos são esses?


O vagão, assim como toda a comitiva, é colocado em movimento saindo do Mosteiro da Graça rumo a estrada principal, que dava acesso ao Tribunal.


- Quando não estão com pressa, eles deixam o bruxo preso por dias, o torturam na tentativa de conseguir uma confissão, para, após um julgamento simbólico, executá-los em praça pública.


- Então, neste momento, ela, possivelmente, está sendo torturada.


- Pode ser que sim.


- E você mesmo sabendo disso, está com essa calma?


- Eu vou tentar livrá-la da execução, mas não falei que ela não iria sofrer.


- Você é a pior pessoa que já conheci - dispara Cassius olhando com desgosto para o outro.


- E mesmo assim, você veio até mim para pedir ajuda - rebate o Rei fingindo não perceber a amargura na voz e no olhar do outro.


- Você nem sempre foi assim.


- As pessoas mudam, meu velho amigo Cassius. - Henrique dá de ombros.


- Percebo o quanto você mudou. O que foi capaz de fazer para chegar onde está e alcançar o poder que tanto almejava.


- E que consegui, não sem sacrifícios - torna o Rei com desdém encarando o antigo amigo.


Ao ouvir aquilo, Cassius desvia o olhar sentindo seu estômago embrulhar e um nó apertar-lhe a garganta. Ele se cala diante do desprezo do outro.


Ambos seguem o resto do caminho em silêncio.


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