A chaleira fez um barulho quase ensurdecedor mostrando que a água já havia esquentado para o chá de camomila que Rafael disse estar preparando para Siena.
- Se enrola no edredom, que eu já vou buscar o chá! - Disse Rafael beijando-a na testa, depois de ter secado ela e a colocado sobre a cama toda enrolada.
A campainha tocou, mas Siena estava com o corpo todo trêmulo e não foi até lá atender. Ouviu alguns gritos e logo a porta abriu de uma vez.
- Amiga, pelo amor de deus!!! O que aconteceu?? - Era Lilly, que abraçou Siena chorando. - Como assim você se afogou?
- Oh, Lilly... Eu já estou melhor agora! - Disse Siena um pouco lenta.
- Olha aqui, toma esse chá Siena! - Disse Rafael entrando rapidamente trazendo uma xícara com chá fervendo. - E foi sorte eu aparecer aqui, vim pegar uns papéis no quarto de Lilly e ouvi o barulho de um engasgo.
- Acho que preciso ir num médico... - Disse Siena espirrando.
- Eu posso chamar o Dr. Pedrosa para ver se você está bem! - Interrompeu Rafael.
- Não, não estou falando para agora. Preciso ir em um psiquiatra! Eu não estou bem, tudo está estranho e...
- Amiga, eu vou com você! - Disse Lilly abraçando-a. - E-eu acho que você não precisa, mas se você acha, eu tenho um que pode te ajudar.
Siena apenas balançou a cabeça concordando por educação.
- Bom meninas... Fico aliviado em saber que Siena está bem, mas agora eu preciso ir. - Disse Rafael digitando no celular, saindo e fechando a porta.
Siena o acompanhou com os olhos sem conseguir desviar a visão. Sentiu seu coração apertar estranhamente, quando Rafael fechou a porta.
- Vocês estão brigados? - Indagou Siena percebendo o afastamento dos dois.
- Ã!?A gente? Eu e Rafael? Não amiga. B-bem é que... Rafael deve estar chateado. Era um fim de semana só nosso e eu tive que ir às pressas receber minha nomeação de sócia!!! - Respondeu Lilly com um sorriso amarelo coçando a cabeça.
Siena viu uma mancha arroxeada e quase um pouco amarelada debaixo do braço de Lilly.
- Lilly... O que é isso? Que mancha é essa? - Perguntou Siena tocando.
- O-oh... T-tem uma mancha aqui? - Disse Lilly baixando o braço. - Eu nem senti!
- Puta merda, o que é isso? Rafael está te batendo Lilly Anne? - Perguntou Siena enfurecida.
- Caralho, você viaja ein garota? - Respondeu Lilly chateada. - Eu devo ter batido em algum canto e não vi, ficou a marca roxa.
- Hum...
- Para com isso Siena! Porque não me dá os parabéns pela nomeação? - Indagou Lilly.
- Meus parabéns!! Fico realmente muito feliz por você ter virado sócia. - Siena a abraçou. - Você realmente é merecedora!
- Ér... - Lilly sorriu sem graça.
- Não precisa ficar sem graça, poxa! - Siena gargalhou.
- Sempre fico! Mas... Bem, pra comemorar hoje eu vou fazer uma festinha na boate Xenon, uma nova que abriram na zona norte, só para os mais íntimos. - Disse Lilly se levantando rapidamente e indo em direção à porta.
- Uma festa? - Indagou Siena.
- Sim! Não é bem uma festa, mas sim uma comemoraçãozinha. - Disse Lilly em êxtase. - Lá tem pole dance no balcão de drinks amiga e todo mundo pode dançar!!!
- E você vai dançar?!
- Nós vamos! - Disse Lilly sorrindo enquanto Siena a olhava com os olhos arregalados.
- A propósito... Onde você estava esse fim de semana? Não dormiu em casa... Não foi trabalhar hoje... Onde você estava? - Indagou Lilly virando-se devagar.
- Com Antony. - Respondeu seca.
- Hum, sei. Antony. Tá bem então, né!? - Disse Lilly se retirando do quarto. - Bem, eu vou precisar dar uma saidinha pra organizar o local por lá, só volto mais tarde. Você vai né?
Siena confirmou com a cabeça e Lilly saiu. Com dois minutos, a campainha tocou.
- Ué, você esqueceu a chave, Lilly? - Gritou Siena indo até a porta atender.
- Será que agora você pode falar comigo? - Disse Antony segurando a porta enfurecido.
Siena revirou os olhos e foi em direção a sala de estar.
- E o que eu tenho pra falar com você? - Disse ela se jogando no sofá.
- Você saiu como uma louca da casa dos meus pais, não me dá explicações, não me fala nada... E quando eu ligo pra você, descubro que você tá com um homem! - Antony surtou.
- Dá pra você falar baixo? Estou com dor de cabeça.
- Ah claro, o cínico e cafajeste irá falar mais baixo. - Disse ele baixando o tom de voz.
- Você come a sua ex e ainda acha que está certo?
- Como é? - Indagou Antony sentindo-se injustiçado.
- Pois é santinho do pau oco. Acreditei nas suas conversas, no seu papinho de que gostava de mim e não esperou nem um tempinho pra estar comendo sua ex! - Disse Siena com deboche.
- De onde você tirou essa história Siena? Transar com ex? E como assim esperar um tempinho? - Antony se enfureceu. - Não foi você que saiu da minha casa direto pro seu lobo? Não gostaria que o idiota aqui também limpasse a camisinha usada por você e por ele? Se é que usaram...
- Escuta aqui... - Gritou Siena.
- Escuta aqui você Siena. - Ele interrompeu. - Eu cansei disso. Você me tem fácil demais, me descarta na mesma proporção. Você me quer pra lamber a porra de um desconhecido, pra que eu seja sua escuta e amacie seu ego frágil. E sabe o que é o pior de tudo isso?
Siena ouviu calada.
- Que você mudou para caralho nas últimas semanas. Eu não sei mais quem é você! - Antony começou a chorar.
Siena estranhou. Pensou em como sentia que gostava de Antony, ao mesmo tempo que não conseguia se comover com o que estava acontecendo, como se suas lágrimas estivessem bloqueadas. Não sentia pena, não sentia tristeza ao mesmo tempo que sentia que ali existia amor. Era como uma depressão com um transtorno de ansiedade, os dois sentimentos antagônicos coexistiam.
- Antony... - Ela o chamou pegando na mão dele, que tirou rapidamente.
- Existe um jeito simples de terminar as coisas. - Ele limpou as lágrimas. - E não é saindo e se encontrando com outro.
- Antony, a Sabrinna estava chupando você...
- Não era eu caralho! - Antony voltou a chorar. - Eu não quero saber da porra da Sabrinna. Ela não me interessa e você sabe disso! Que injusto isso cara...
- Então alguém se passou por você e ela o chupou dizendo que era você! - Siena respondeu. - A pessoa até usava um tênis vermelho igual o seu.
- Caralho e você sequer foi ver se era realmente eu? - Ele perguntou. - Eu recebi um recado seu dizendo pra me encontrar no jardim externo... E quando vi, você estava saindo de casa praticamente gritando!
- Armaram pra gente! - Disse Siena.
- Sabrinna! E você caiu direitinho. - Antony baixou a cabeça demonstrando certa decepção.
- Mas ela não agiu sozinha. Teve um homem. Provavelmente o Olavo!
- Peraí... - Antony arregalou os olhos. - Se a Sabrinna tava chupando o Olavo, significa que aqueles dois estão enganando minha irmã e o resto da minha família... E com certeza estão tramando alguma coisa. Preciso investigar isso!
- Está vendo Antony... E-eu e você, precisamos organizar nossa vida. Tá tudo uma bagunça! - Disse ela com preocupação. - Estou tendo sonhos estranhos, recebendo SMS's estranhos, perseguições e nem sei se isso aqui tá acontecendo de verdade ou se eu tô sonhando de novo...
- Não sabia que sua vida estava desse jeito, quer desabafar?
- Querer eu quero, mas não posso. - Siena baixou a cabeça e desviou os olhos de Antony.
- Porque?
- Por que você me julgaria!
- Eu não vou te julgar. Eu estou chateado com você, mas não sou um julgador. Siena... - Ele tocou o queixo dela. - Eu transei com um desconhecido porque você estava com vontade, fui em um lugar que nem mesmo você sabia. Eu confio totalmente em você e não te julguei por isso! Porque você não confia em mim também?
- Antony, eu realmente não posso falar nada agora. Eu preciso saber tudo o que está acontecendo e depois eu falo tudo pra você. Eu prometo! - Siena deu um beijo de leve em Antony mas não conseguiu sentir a mesma paixão que no dia anterior, pelo contrário, sentiu um formigamento insuportável ao beijá-lo.
- O que houve? - Perguntou Antony ao perceber que ela se afastou da boca dele de uma vez.
- Nada. Preciso sair agora, dar uma passadinha na SandUp.
- Tudo bem! Tenho que trabalhar também. Ah, você vai na festa da Lilly?
- Vou sim! - Sorriu Siena.
- Te vejo lá então.
Antony se despediu. Siena arrumou-se rapidamente. Pensou que precisava recuperar seu celular e saber se de fato esteve com Rafael pela manhã. No fundo também estava querendo vê-lo. Colocou um vestido canelado Marsala curtinho de alça fina, com um salto quadrado de tiras todo branco. O relógio ainda batia 15h e ela precisava se apressar antes da festa de Lilly. Não demorou a chegar na SandUp.
- S-senhorita Siena... O-o que faz por aqui? - Indagou Jade Garcia espantada na recepção principal. - Não a esperava hoje.
- Quero falar com o Sr. Rafael Baudin!