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Thomas não esperou mais. Agarrou Scarllet pela mão, Minho pelo braço, e os três se encaminharam para a saída, desviando dos corpos no chão e abrindo caminho para o labirinto de mantas. Minho não resistiu e se entregou a um choro sentido, Thomas não se atreveu a olhar para ele. Scarllet não disse uma única palavra, nem mesmo deixou que as lágrimas caíssem. As palavras de Nick ficavam se repetindo em sua cabeça, em um looping infinito que a atormentaria pelo resto da vida.
"O final que deveríamos ter."
Ninguém deveria ter um final como esse. Ela não queria que eles tivessem um final como esse. E a única solução que tinha para que Newt e Nick continuassem vivos, não era aceita por nenhum dos seus amigos. Eles morreriam de qualquer forma, longe dela.
Thomas torceu para que Jorge e Brenda estivessem atrás deles. Continuou indo em frente, cruzando o salão, as portas, rumo à Zona Central, para longe do ambiente caótico provocado pelos Cranks.
Para longe de Newt e Nick. Para longe de dois grandes amigos, e de seus cérebros doentes.
Não havia nem sinal dos guardas que os tinham escoltado até ali, mas havia mais Cranks do que quando tinham entrado no salão de boliche. E a maioria deles parecia aguardar os recém-chegados.
Provavelmente tinham escutado o ruído do Lança-Granadas e os gritos do sujeito que havia sido atingido. Ou talvez alguém tivesse saído para contar a notícia. Fosse como fosse, Thomas sentia como se cada pessoas que o olhasse já houvesse passado pela Insanidade e estivesse faminta por um almoço regado a carne humana.
- Olhem estes idiotas aqui. - alguém gritou.
- É mesmo! Não são uma graça? - outro comentou. - Venham brincar com os Cranks. Ou não querem se juntar a nós?
Thomas continuou andando, agora próximo do arco de entrada da Zona Central. Havia soltado o braço de Minho, mas ainda segurava a mão de Scarllet, com medo de que ela retornasse caso a soltasse. Passaram pela multidão, e, enfim, Thomas não precisou mais encarar o olhar das pessoas. Tudo que vira nele fora loucura e sede de sangue, bem como a inveja estampada em rostos sangrentos e mutilados. Desejava correr, mas tinha sensação que, se o fizesse, toda aquela multidão os atacaria como um bando de lobos.
Chegaram ao arco e o cruzaram sem hesitação. Thomas seguiu à frente, liderando-os, até a rua principal, passando por várias casas dilapidadas. Com saída deles, o tumulto da Zona Central parecia ter recomeçado, e os sons assustadores de risos histéricos e gritos selvagens acompanhavam o grupo em sua jornada. Quanto mais se afastavam do ruído, menos tenso Thomas se sentia. No entanto, ainda não se atrevia a perguntar a Minho como ele estava. Afinal, já sabia a resposta.
Passavam por mais um conjunto de construções em péssimo estado, quando ouviu gritos soando, e em seguida o som de passos.
- Corram! - gritou alguém. - Corram!
Thomas se voltou para trás e avistou os dois guardas, ausentes até então, correndo na direção deles com rapidez. Não diminuíram o ritmo ao passarem por eles, apressando-se rumo à extremidade mais distante do Palácio. Nenhum deles portava mais o Lança-Granadas.
- Ei! - gritou Minho. - Voltem aqui!
O guarda de bigode olhou para trás.
- Disse para correrem, seus idiotas! Vamos!
Thomas não hesitou mais. Correu atrás deles, e Minho, Jorge e Brenda o seguiram. Relanceou o olhar para trás e viu um bando de Cranks em seu encalço. Pelo menos uma dúzia deles. E distante do grupo estava Scarllet, parada, os olhos perdidos nos Cranks malucos, como se não ligasse pro que fosse acontecer. Thomas freou, arrependido de ter a soltado. Sabia que isso poderia acontecer. Antes mesmo que pudesse fazer ou dizer algo, Minho já estava correndo de volta até a garota, agarrando sua mão com rapidez e a obrigando a correr ao seu lado.
- Nós vamos embora, Scar! - ele gritou enquanto corriam, a mão apertando a da garota como se nunca mais fosse soltar. - Eu não vou te deixar, entendeu? Não importa o que aconteça!
Thomas e os outros voltaram a correr, tentando alcançar os guardas mais a frente, mas não se distanciando muito do casal atrás deles. A mente de Scarllet pareceu finalmente ter retornado a terra, e agora ela se esforçava para correr ao lado de Minho. Pareciam estar relembrando os dias dentro do Labirinto, e aquilo com certeza era melhor do que fugir de Cranks Insanos.
- O que aconteceu? - perguntou Minho, as palavras entrecortadas pela respiração pesada.
- Nos expulsaram da Zona Central! - gritou o guarda mais baixo. - Juro por Deus que iam nos comer vivos. Escapamos por pouco.
- Não parem de correr! - gritou o outro guarda. Os dois de repente partiram em outra direção, aparentemente tomando um atalho.
Eles seguiram o caminho rumo ao Berg. Assobios e vaias os acompanhavam, os Cranks com roupas esfarrapadas, cabelos ensebados e rostos imundos continuavam os perseguindo. Mas ainda não haviam se aproximado o suficiente para apresentar risco. Naquele momento, Scarllet e Minho já haviam alcançado o grupo a frente, e não demoraria muito para alcançarem os guardas. As raízes de corredores continuavam impregnadas em suas veias, não importava quanto tempo se passasse.
O grupo conseguiu chegar ao portão e o transpôs sem se deter por um segundo sequer. Não se deram ao trabalho de fechá-lo, apenas se apressaram em direção ao Berg, a porta abrindo assim que Jorge acionou os botões do controle.
Alcançaram a rampa, Scarllet e Minho foram os primeiros a chegar. Thomas praticamente se lançou porta de carga adentro. Os três viraram-se e viram que os amigos estavam por perto, a rampa já rangendo ao começar a se mover para cima. O bando de Cranks que os perseguia jamais chegaria a tempo, mas ainda assim continuavam a correr, assobiando e bradando palavras sem sentido. Um deles chegou perto o suficiente para pegar uma pedra e arremessar contra ele. Ela caiu a alguns metros da nave.
O Berg decolou assim que a porta se fechou.
Jorge manteu a aeronave a alguns metros de altura, enquanto recuperavam o folego. Lá embaixo, os Cranks não eram mais uma ameaça.
Thomas, Minho e Brenda apinharam-se em uma das janelas da nave, assistindo à multidão em um delírio furiosos abaixo deles. Era difícil acreditar que o que viam ali era uma cena real.
- Olhem para eles. - disse Thomas. - Quem sabe o que fazia apenas a alguns meses atrás. Talvez vivessem em um prédio alto, ou trabalhassem em um escritório. Agora estão caçando pessoas como animais selvagens.
- Vou lhe dizer o que faziam alguns meses atrás. - disse Brenda. - Eram sujeitos infelizes, aterrorizados pela possibilidade de contrair o Fulgor, pela consciência de que a exposição a ele é inevitável.
Minho ergueu as mãos.
- Como podem se preocupar com eles? Que tal se preocuparem com meus amigos? Os nomes deles são Newt e Nick.
- Não pudemos fazer nada. - disse Jorge, da cabine do piloto.
- Cale a boca, seu mértila! Você não estaria dizendo isso se fosse Brenda dizendo aquelas coisas. -bradou Scarllet.
- Só voe para longe daqui. - disse Minho.
- Farei o melhor que puder. - respondeu Jorge com um suspiro. Ocupou-se com os instrumentos e pôs o Berg em movimento. Minho se esparramou no chão, como se houvesse derretido.
- Então é isso o que acontece quando um amigo lhe aponta um Lança Granadas? - perguntou a ninguém em particular, o olhar vazio perdido na parede.
Scarllet caminhou até ele, sentando-se ao seu lado. Segurou a mão solta do garoto sobre os joelhos e a apertou, a outra levando até o queixo de Minho e o erguendo para que ele a olhasse. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, e saber que nada que Scarllet dissesse mudaria aquilo era como se seu coração quebrasse em mil pedaços.
- Não vou te deixar. Não importa o que aconteça.
Ela sussurrou, tão baixo que Minho era o único que conseguia ouvi-la. Por fim selou os lábios nos dele por um segundo, para relembra-lo do que acabara de dizer e então terminando a conversa com um último sussurro;
- Você é o meu inalcançável.
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