Scarllet levantou a cabeça, mordendo o interior das bochechas, completamente ansiosa.
— Matamos o Hans.
Ela comentou, o pensamento sendo exposto sem comando, não tinha a intenção de ter dito nada em voz alta. Brenda se levantou em um salto.
— Vamos embora. Agora!
Jorge e Minho se levantaram. Thomas se juntou a eles em seguida. Brenda tinha razão. Encontrar Hans era mesmo prioridade. Tinham de se livrar daquele maldito dispositivo colocado no cérebro deles pelo CRUEL. Precisavam com urgência encontra-lo, antes que a organização o fizesse. Scarllet continuou na mesma posição, os olhos fixos em Gally enquanto os outros se apressavam para ir embora.
— Gally, – Thomas o chamou. – você jura que tudo o que nos disse é verdade?
— Cada detalhe. – o clareano não havia se movido, ainda sentado no chão. – O Braço Direito está pronto para agir. Estão esboçando um plano enquanto conversamos aqui. No entanto, precisam de mais informações sobre o CRUEL, e quem melhor que vocês para nos ajudar? Se pudermos conseguir a adesão de Teresa e dos outros, melhor ainda. Precisamos de todo o auxilio possível.
— Bem, o que temos que fazer para ajudar o Braço Direito? – perguntou Thomas depois de alguns segundos em silencio. – Voltamos aqui? Ou temos de ir para outro lugar?
Gally sorriu.
— Voltem aqui. Antes das nove da manhã, por mais uma semana. Devo ficar por aqui também. Não creio que faremos nenhum movimento antes disso.
— Movimento? – Thomas estava morrendo de curiosidade.
— Já contei o suficiente. Se quiserem saber além disso, voltem amanhã. Estarei aqui.
Thomas fez que sim com a cabeça e depois estendeu a mão. Gally a apertou.
— Não o culpo por nada. – disse Thomas. – Você viu o que fiz em nome do CRUEL quando passou pela Transformação. Também não teria confiado em mim mesmo. E sei que não queria matar Chuck. Bem... é isso. A gente também não precisa trocar abraços a cada encontro, certo?
— O sentimento é reciproco.
Brenda já aguardava Thomas à porta. Minho esperava Scarllet se levantar, ficando entre ela e Thomas, que ainda conversava com Gally. A garota não fez nem um movimento. Continuava sentada, a palma das mãos encostadas nos joelhos dobrados, os dedos inquietos batucando em ordem, indo e voltando no mesmo ritmo enquanto ela aumentava a velocidade cada vez que se sentia mais ansiosa.
Minho se agachou, pousando a mão sobre a dela, chamando sua atenção. Scarllet levantou a cabeça, virando em direção a ele.
— Precisa dizer a ele logo. – ele sussurrou. – Não podemos ficar por muito tempo.
Minho a ajudou a levantar. Os dois pararam de frente para Gally, que acabara de dizer algo para Thomas, fazendo com o que o garoto afirmasse que eles não demorariam a voltar a esse apartamento. Gally virou o rosto, olhando para Scarllet. A garota percebeu a diferença no mesmo instante. Por algum motivo, desde que se encontraram, toda vez que Gally a olhava, sua expressão mudava repentinamente para a de um garoto triste e preocupado. Ela franziu as sobrancelhas, inclinando ligeiramente a cabeça para o lado, como fazia sempre que se irritava com algo que alguém fazia e ela não sabia o motivo.
— O que você tem? – sua voz saiu normalmente, mas era perceptível a pontada de advertência na pergunta. Gally riu, triste.
— Você não mudou nada. – ele sussurrou. Scarllet abriu a boca para responder, mas fechou quando Gally continuou a falar. – Preciso te dizer algo.
Ele fitou o chão. Mais uma vez, seu coração acelerou. Ela apertou a mão de Minho, que continuava ao seu lado.
— O que?
— Como eu disse, recuperei minhas memórias. – seus olhos voltaram para Scarllet. – Lembrei da minha família.
Scarllet não conseguiu esperar que ele terminasse.
— Você se lembra? – Gally fez uma careta, confuso. – Se lembra, Gally?
— Do que você está falando?
— De nós dois.
— Espera. Você sabe?
— É claro que eu sei. Eu sei disso desde que você se matou.
— Me matei? Como assim?
— A faca que você cravou no peito, mértila.
— Depois que matei Chuck?
— Sim.
— Ah, eu realmente não me lembro de nada que aconteceu depois do Thomas me bater. – eles ficaram em silencio por um segundo. – Espera aí. Então você sabia que nós somos irmãos e não disse nem uma palavra sobre isso até agora? Nós estamos conversando a mais de uma hora, Scarllet.
— Estava pensando em como te contar. Além disso, você disse que tinha recuperado a memória, então é você quem devia ter dito algo sobre sermos irmãos.
— Como você se lembrou?
— A picada daquele verdugo me fez lembrar de muitas coisas. A última lembrança que tenho é de nós dois, fugindo do CRUEL. Quando nossos pais morreram. Você se lembra?
— Definitivamente, a pior memória que você poderia ter tido sobre nós. Ei, – ele disse de repente se animando. – nós já tivemos um gato.
— Um gato? – ela se virou para o Minho e o grupo que os esperavam na porta. Dando um sorriso. – Eu tive um gato. Viram só? Por isso eu queria recuperar a memória.
— Diga isso a Hans, quando o encontrarmos. Temos que ir, Scarllet. – disse Brenda.
— Certo. – ela voltou-se para Gally. – Você vem com a gente?
Ele balançou a cabeça, negando.
— Não posso. Tenho que me encontrar com o Braço Direito. Quero que você venha comigo.
— Sem chance. – murmurou Minho, olhando para Scarllet. – Você tem que ver Hans o quanto antes. Sabe disso, Scarllet.
Ela assentiu.
— Tenho que ir com eles. Além disso, preciso encontrar Newt e Nick, eles ainda estão naquele Berg.
— Eu imaginei.
Gally colocou a mão direita no bolso da calça, a tirando dois segundos depois. Se aproximou de Scarllet, puxando delicadamente seu pulso e envolvendo um relógio digital nele. Era preto, um
retângulo pequeno com as pontas arredondadas mostrava as horas e a data. A lateral do relógio era repleta de botões, a maioria servia apenas para mudar as configurações, como data e hora. Havia também um pequeno botão redondo na ponta do relógio, quase imperceptível.
— Com isso, consigo ver onde você está vinte e quatro horas por dia. Tenho um igual, os dois tem as mesmas funções. – ele levantou a manga da blusa. – Aperte esse botão três vezes se estiver em perigo.
Ele apontou para o botão que Scarllet considerava imperceptível e fez uma demonstração. Quando o apertou pela terceira vez, o relógio no pulso do garoto brilhou com a luz vermelha, apitando
como um despertador. Ele desativou em seguida, clicando no mesmo botão, mas dessa vez o que ficava no seu relógio.
— Três vezes significa perigo. Duas vezes seria como... “assunto importante, preciso te encontrar”. Então vou mandar minha localização para você, vai aparecer na sua tela, nesse quadrado. – ele apontou para um quadrado amarelo na tela. – Se clicar uma vez, significa apenas que precisa me encontrar, mas nada urgente. Então vou vir para esse apartamento e esperar você chegar.
— E se a bateria acabar?
— Te encontro antes disso. – ele a abraçou. – Tome cuidado, por favor. E volte logo.
Assim que o abraço terminou, Gally deu um beijo na testa de Scarllet como uma despedida e virou-se para Minho,
franzindo as finas sobrancelhas de uma forma ameaçadora, mas a expressão séria de Minho conseguia ser ainda mais.
— E você, é melhor tomar conta dela.
— Foi o que eu fiz durante os últimos anos, não? – Minho respondeu sarcástico.
— A despedida já acabou? – Brenda resmungou.
— Como você é chata.
— Se você quiser podemos ficar aqui por mais uma hora, assim seu irmão pode te contar sobre o gato que vocês tiveram.
Scarllet revirou os olhos, caminhando até Brenda, estressada. A empurrou para fora do apartamento e acenou para Gally antes de sair, sendo seguida por Minho.
— Voltamos amanhã!
Ela gritou no fim do corredor, empurrando Brenda para frente enquanto ela reclamava sobre a demora. Scarllet estava feliz demais para discutir com ela no momento.
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