Assim que Nick se acalmou, Scarllet se separou de seu abraço e lhe enviou um sorriso, como se perguntasse "Você está bem?". Ele assentiu, entendendo sua mensagem. Ela tocou seu ombro, o sorriso ainda no rosto. Passou por ele, e quando Nick não pode mais ver seu rosto, deixou uma única lágrima escorrer por pouco mais de um segundo antes que ela a limpasse. Caminhou até o grupo e respirou fundo. Quando se aproximou o suficiente, Thomas deu um passo à frente e quase sussurrou, a voz diminuindo a cada palavra.
- Deixaram a gente pra trás. Não consigo acreditar nisso.
Scarllet foi a única a ouvi-lo.
- Hein? - perguntou Minho.
- Fale, Thommy.
- Deixaram a gente para trás. - repetiu logo depois de Nick se juntar ao grupo novamente. - Nós, pelo menos, voltamos e procuramos pro eles. Mas eles nos deixaram aqui para que o CRUEL fizesse o que quisesse conosco.
Ninguém respondeu, mas o olhar de todos revelava que pensavam o mesmo.
- Talvez tenham procurado por vocês... - disse Brenda. - e não conseguiram encontra-los. Ou talvez a troca de tiros tenha ficado tão terrível que foram obrigados a partir.
- Todos os guardas estão amarrados naquela sala lá atrás! - zombou Minho. - Tiveram tempo mais que suficiente para nos procurar. Não há explicação. Apenas nos abandonaram.
- De propósito. - acrescentou Newt num fio de voz.
- Tem algo que não me cheira bem. - começou Thomas. - Nos últimos tempo, Teresa vinha agindo como fã número um do CRUEL. Por que fugiria? Deve ser algum truque. Vamos, Brenda. Você me disse para não confiar neles, tem de ser alguma coisa. Desembuche.
Ela sacudiu a cabeça.
- Não sei nada sobre isso. Mas por que é tão difícil acreditar que os outros indivíduos tiveram a mesma ideia que nós? Só fizeram um trabalho melhor, ora.
Minho soltou um ruído que se assemelhou a um lobo uivando. Scarllet se adiantou, dizendo o que ele pretendia em sua frente.
- Insultar-nos é algo que não recomendaria neste momento. Use a palavra indivíduos de novo e arrebento você, garota.
- Tente fazer isso. - advertiu Jorge. - Você a arrebenta, e será a última coisa que fará nesta vida.
Minho se colocou a frente dele, apontando o Lança Granadas para o peito de Jorge.
- Repita isso. Quero ouvir de novo, para ter certeza antes de te matar
- Podemos parar um pouco com esses joguinhos de machões? - Brenda revirou os olhos. - Precisamos descobrir o que faremos agora.
- Não há nada para ser descoberto. - disse Newt. - Temos que sair daqui.
Scarllet segurou o braço de Minho, o afastando de Jorge e o obrigando a terminar com o contato visual que demonstrava claramente o que ele queria fazer. Pôs se a frente de Jorge, chamando sua atenção. Ele deu um sorriso, esquecendo-se totalmente da discussão que acabara de acontecer.
- Maluquinha, o seu namorado é igual a você.
- É, que bom que percebeu. Você é mesmo piloto?
Ele deu um sorriso debochado.
- Pode apostar, muchacha. Um dos melhores.
- Então, por que o mandaram para o Deserto, se é tão valioso?
Jorge desviou o olhar para Brenda.
- Onde Brenda for, irei também. Detesto dizer isso, mas ir para o Deserto foi melhor do que ficar aqui. Encarei aquilo como férias. Transformou-se em uma coisa um pouco mais difícil do que imaginava, é verdade, mas...
Um alarme começou a soar, o mesmo grito lamentoso de antes. Todos viraram-se para as portas que haviam transposto, e pelo menos uma dezena de guardas vestidos de preto atravessavam a passagem, as armas a postos.
Começaram a atirar.
No segundo seguinte, evitando serem atingidos pelas descargas elétricas dos Lança Granadas o grupo se separou, todos se escondendo atrás de um transporte de carga. Scarllet foi puxada para trás de uma das caixas. Minho a envolvia com força em um abraço enquanto estavam agachados, em uma tentativa de fazer um escudo com o próprio corpo e impedir que os destroços que voavam a atingissem.
- Quem os desamarrou? - gritou Minho.
- É difícil pensar nessas coisas neste momento! - gritou Newt.
- Em um segundo vão nos certar - gritou Jorge. - Temos de responder ao fogo!
- Como vamos lidar com isso? - perguntou Nick, encarando Thomas. Os dois logo desviraram o olhar para Scarllet.
- Você está no comando dessa vez!
Ela assentiu. Encostou as costas na madeira, abaixando a cabeça quando sentiu um vento forte passar por cima dela, por pouco não sendo atingida por um dos tiros. Trocou um olhar rápido com Minho, que continuava a protege-la. Balançou a cabeça, e ele entendeu o recado no mesmo instante.
- Newt e Nick atiram na esquerda, eu e Scar vamos ficar com a direita. Brenda e Thomas, façam com que Jorge chegue a esse maldito Berg para darmos o fora daqui! Que se dane se os outros partiram sem nós, os mais importantes ainda estão aqui, e não precisamos de mais ninguém! Sobrevivemos a tudo isso juntos até agora, não me digam que vão deixar esse bando de guardas inúteis nos fazer de prisioneiros, não é? - Ele sorriu, animando o resto do grupo com a energia contagiante.
- Ele está certo! - gritou Scarllet. - Atirem em qualquer coisa que se mover ou estiver de roupar preta. Preparem-se.
Eles se posicionaram, e demorou menos de dois segundos para Minho dar o sinal que esperavam.
- Agora!
Scarllet ficou de pé, erguendo o Lança Granadas e atirando por cima do compartimento de carga. Minho estava ao seu lado, a poucos centímetros de distância. Os dois se protegiam, impedindo que qualquer guarda chegasse perto demais. A eletricidade das granadas tomava conta de quase noventa porcento do hangar, tornando qualquer pequeno movimento mais perigoso que o normal. Thomas e Brenda corriam, protegendo Jorge logo no meio deles, que também atirava - de maneira aleatória - em qualquer pessoa vestida de preto que visse.
Guarda após guarda tombou, as mãos sobre a área atingida, principalmente nas pernas. Nenhum deles pretendia matar alguém se não fosse extremamente necessário. Os que restaram se espalharam em busca de proteção.
- Nós os pusemos para correr! - gritou Minho. - Mas isso não vai durar muito tempo. Demos sorte; provavelmente não perceberam a tempo que tínhamos armas.
- Thomas! - Scarllet o chamou. - Vocês estão bem?
- Estamos recarregando! Não falta muito até o Berg. - respondeu o garoto, a voz vinda de trás de outro compartimento de carga não muito longe. - E vocês?
- Estão todos bem. - ela olhou ao redor. Minho continuava ao seu lado, enchendo os bolsos de munições. Nick e Newt faziam o mesmo do outro lado do hangar, atrás de uma grossa pilastra. Assim que Newt assentiu, Scarllet deu o segundo aviso. - Então vamos! Vamos, vamos!
Todos voltaram a correr. Minho e Newt lançando granadas feitos loucos, fazendo-as voar pelo espaço aberto diante do Berg que os aguardava. Thomas e Brenda assumiram as respectivas posições, à esquerda e à direita de Jorge, e correram a toda velocidade, saindo da proteção do compartimento de madeira. Uma rajada de tiros alvejou o ar, mas haviam tanta eletricidade e fumaça que era impossível mirar em alguém.
O dedo de Scarllet apertava o gatilho frequentemente, sem parar por um único segundo. Olhava ao redor, procurando pelo guarda mais próximo e fazendo o possível para acerta-lo, mesmo que não conseguisse mirar direito.
- Corram! - gritou Jorge.
No minuto seguinte, após outra granada explodir, Brenda gritou. Scarllet virou-se para ela, os olhos arregalados. Minho continuou a atirar enquanto ela verificava o que acabara de acontecer, protegendo sua retaguarda para que outro deles não fossem atingidos. Brenda caiu, o rosto batendo contra o chão de concreto e teias de eletricidade percorrendo o corpo a poucos metros de distância do Berg. Thomas se deteve e jogou-se no chão para se proteger da mira inimiga. Scarllet sentiu o corpo ser empurrado para o chão e quando voltou a si, viu Minho em cima de seu corpo, os olhos arregalados e a respiração ofegante.
- Você está bem?
- Estou. - ela passou a mão pelo rosto do garoto, empurrando para o lado o cabelo que caia em seus olhos. - Temos que proteger Thomas e Brenda. Ele não vai conseguir levar ela para o Berg sem nossa ajuda.
- Eu não tenho mais munição. - ele olhou em direção ao Berg. - Ainda estamos muito longe.
- Vai dar certo. Toma - Scarllet lhe entregou seu Lança Granadas junto de algumas munições. - Me dê sua pistola.
Ele a entregou.
- Vamos conseguir, está bem? Sempre conseguimos.
Minho assentiu, aproximando o rosto do dela e selando seus lábios. Não durou muito tempo, uma granada explodindo ao lado deles os fizeram lembrar do momento em que estavam. Se posicionaram, e juntos contaram até três antes de levantar e voltar a atirar. O barulho agudo da pistola ecoando pelo hangar tão alto quanto os Lança Granadas.
- Vamos! - gritou Minho, chamando pelos outros dois garotos mais atrás.
- Protejam Thomas e Brenda! Eles precisam chegar ao Berg!
Nick e Newt alcançaram o garoto e se jogaram ao chão junto deles. Mais uma vez, Minho e Scarllet cessaram fogo e se esconderam, esperando por informações sobre a situação de Brenda.
- Jorge entrou no Berg! - era a voz de Nick. - Onde vocês estão?
- Mais longe do que deveríamos! - Minho respondeu. - Vocês conseguem entrar? Conseguem levar Brenda?
- Mas e vocês? - gritou Newt.
- Chegamos logo atrás! - disse Scarllet. - Estão prontos!? Agora!
Eles voltaram a atirar. Scarllet deu uma rápida olhada nos amigos. Thomas amparou os ombros de Brenda e Newt pegou as pernas dela. Reiniciaram o caminho em direção ao Berg. O hangar era um universo de ruídos, fumaça e luz faiscante. Uma bala passou de raspão pela perna de Thomas. Alguns centímetros a menos, e o tiro poderia tê-lo feito mancar pro toda a vida ou sangrar até a morte. Lançou um grito furiosos e a onda voraz de adrenalina o fez se arriscar, erguendo o Lança Granadas sob ele com uma das mãos, disparando em direções aleatórias, enquanto usava a outra para ajudar a carregar Brenda.
Os três conseguiram chegar ao pé da nave junto da garota machucada. Jorge imediatamente deixou pender a enorme arma e escorregou pela rampa para agarrar um dos braços de Brenda. Newt e Nick recomeçaram a disparar, lançando granadas à esquerda e à direita, protegendo o caminho para que os dois amigos que faltavam conseguissem passar até ficarem sem munição. Restavam poucas balas para que Scarllet e Minho também ficassem sem nada.
- Não dá para recarregar! - gritou Scarllet, sem diminuir o ritmo. - Vamos dar o fora daqui! Comecem a fechar a rampa!
Ela deu mais um tiro, atingindo a perna do guarda mais próximo, que caiu no chão. Minho atirou no que parou ao lado dele, em uma tentativa de joga-lo para longe do confronto. Quando a granada explodiu, a descarga elétrica correu pelo corpo dele, que logo começou a tremer. Finalmente chegaram à rampa do Berg. Minho entrou na frente, enquanto Scarllet descarregava as balas finais do seu último pente. Então, de repente, perdeu o controle. A mão se abriu involuntariamente, e a pistola caiu no chão. As pernas paralisaram e ela deu um passo para a frente, descendo a rampa.
Minho tentou puxa-la de volta quando viu algo voar do Lança Granadas de um dos guardas e atingir a garota. A granada explodiu em sua barriga. Em um instante, sentiu o poder ardente de mil raios de luz atingindo-a ao mesmo tempo. Tombou para trás, aterrissando na superfície do hangar, todo o corpo em convulsão e a vista escurecendo.
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