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Não podiam fazer nada, estavam presos. Mais uma vez, totalmente sobre o comando do CRUEL. Thomas pegou no sono e logo depois dele, a maioria dos garotos fizeram o mesmo. Não tinham muito com o que se ocupar naquele quarto, muito menos no salão cercados de janelas tampadas por muros. Scarllet saiu do quarto, incomodada de ter que ouvir os roncos do garoto por muito mais tempo, além da brincadeira entre Minho, Wiston e Jack que ela considerou sem graça depois de os ver jogar por tanto tempo.
Pegou o lençol de uma das camas, o esticando no chão e jogando um travesseiro em cima dele, se deitando em seguida. Fixou os olhos do teto cinzento, mas não os deixou abertos por muito tempo. O cansaço tomou conta do seu corpo, apenas cansaço, sem sono. Sentiu-se triste e desesperançosa. Ser parte de um experimento era definitivamente muito cansativo e a pior parte dele era a constante perda de pessoas. Lembranças invadiram sua mente, obrigando-a a vivencia-las mais uma vez. Deu um leve sorriso quando as memórias dos primeiros meses do Labirinto vieram, aqueles foram os melhores meses que já tivera naquele lugar.
- Está tudo bem? - Ela abriu os olhos, vendo Newt se sentar ao seu lado. - Por que está deitada no chão?
- Me faz lembrar dos encontros em volta da fogueira a noite. Lembra daquela noite onde Gally inventou uma história de terror horrível e passou a noite nos dando sustos?
Newt riu.
- Sim. Lembra daquela hora em que ele deu um susto tão grande em Minho que teve que correr dele pelo Clareira por quase cinco minutos pra não apanhar?
- E também teve aquela vez que você e Minho dançaram juntos enquanto Nick cantava a capela.
Os dois gargalharam. Minho entrou no quarto, lançando um simples sorriso.
- Do que estão rindo?
- Estamos lembrando dos primeiros meses no Labirinto. Scarllet está nos zoando por causa daquela dança. - Minho colocou as mãos na cintura.
- Pra sua informação, nós ensaiamos aquilo o dia inteiro e fomos ótimos. - Ele jogou um travesseiro no chão, se juntando a eles. - Também teve aquele dia que Scarllet decidiu fazer coroas de flores pra todo mundo e tivemos que usá-las durante o jantar inteiro.
- Aquilo coçava.
- Vocês ficaram lindos. Lembram de quando Gally inventou aquela bebida e Alby ficou tão bêbado que se declarou pra todo mundo?
Minho se levantou com um pulo, coçando a garganta e fazendo uma pose antes de começar a falar, engrossando a voz para se parecer com a de Alby. Ele se aproximou de Newt, dando uma batida forte em seu ombro e apoiando seu corpo nele.
- Você... quando chegou aqui, era um fedelho medroso e chorão. Fez tantas besteiras no primeiro mês que eu mal consigo me lembrar. Eu não lembro de nada, na verdade. - Minho encostou sua testa de Newt. - Você é um bom garoto, Newt, bem melhor que o bundão do Gally. Isso mesmo Gally, você é um bundão! Mas sendo sincero, você até que é engraçado. Ah, e você é tão leal quanto é briguento. Nick... ah, Nick, Nick, Nick. - Ele balançou a cabeça, falando com uma pessoa imaginária. - Você seria um ótimo pai, cuida tão bem de suas plantas. Scarllet, a nossa incrível estrelinha. - Com a ponta do dedo indicador ele tocou a testa de Scar, levemente forte, a fazendo inclinar a cabeça para trás. - Minha irmãzinha, incrivelmente chata e mandona, mas ao mesmo tempo fofa e engraçada. Minha protegida...não! Nossa protegida. - Ele rodopiou.
- Você esqueceu de uma parte. - Disse Newt, se levantando com um sorriso perverso. - Minho, querido e belo Minho.
- Qual é cara. - Minho retrucou, envergonhado.
- Como você é marrento, cabeça de mértila. - O loiro continuou, engrossando a voz como Minho havia feito. - Quando é que você vai assumir sua quedinha pela Estrela? É sério. Vocês fariam um ótimo casal. Não façam essas caretas, todo mundo aqui sabe que vocês se gostam. Tudo bem então. - Ele colocou as mãos na cintura. - Escutem o que eu estou dizendo, sinto que vocês já namoraram. Não, não. Acho que isso foi um sonho, mas tenho certeza que vão namorar um dia.
Scarllet deu um largo sorriso com o final da encenação dos dois. Se recordava desse dia, de todos os detalhes dele e de como Minho ficou vermelho depois que Alby terminou seu discurso, exatamente como agora. Observou a discussão dos meninos se iniciar, os dois imitando um ao outro, seja por vozes, poses e frases. Pela primeira vez desde que acordara do coma, Scarllet se sentiu feliz. Agradeceu por Minho e Newt continuarem em sua vida e se perguntou do que seria dela sem eles.
- Queria poder reviver esses momentos.
Sua voz saiu baixa, mas de alguma maneira os meninos conseguiram ouvi-la. Os dois se entreolharam e logo voltaram sua atenção para a garota. Minho parou em sua frente, esticando o braço e abrindo a mão para que ela a segurasse.
- Vamos realizar seu sonho, Estrela.
- Eu faço a capela. - Disse Newt, animado.
Scarllet segurou a mão de Minho, que a ajudou a levantar. Ele colocou as mãos em volta de sua cintura e Scarllet colocou as dela em seu pescoço. Assim que se posicionaram, Newt começou uma música baixa e desafinada, que de vez em quando aumentava o tom de voz. Minho e Scarllet dançavam a música lenta, os olhos fixados um no outro, lançando sorrisos envergonhados e dando passos desengonçados.
Por alguns minutos, os três se esqueceram de que participavam de um experimento comandado pelo CRUEL. Era como se fossem, literalmente, apenas três adolescentes curtindo a vida, sem preocupações. Não haviam mais mortes, Verdugos, CRUEL, Labirinto. O mundo era deles e de mais ninguém.
Os olhos de Minho se encontraram com o de Scarllet. Castanhos e brilhantes, transmitiam a garota paz e segurança. Ele deu um sorriso, mostrando seus dentes brancos e bonitos. Scarllet adorava seu sorriso. Sem aviso prévio, Minho segurou sua mão, rodando a garota e por um mísero segundo Scarllet se imaginou em um baile, usando um vestido longo, dançando com o seu par. Mais uma vez as mãos de Minho envolveram sua cintura e lentamente, ele a puxou para perto. A cantoria de Newt, de alguma forma, se tornou uma nota continua e muito bem afinada, como se ele estivesse dando duro para se sair bem em sua função.
Os rostos dos dançarinos estavam tão próximos que eles conseguiam sentir a respiração um do outro. Scarllet sentiu um frio na barriga ao perceber o olhar de Minho intercalar entre seus olhos e sua boca. Os centímetros de distância um do outro diminuíam cada vez mais e lentamente, eles fecharam os olhos. Os lábios quase se encostando, tão ocupados com o que estava prestes a acontecer que não perceberam que a música de Newt chegou ao fim, agora o loiro observava os dois com um sorriso animado e ansioso, esperou tanto por esse momento que mal acreditava que estava realmente acontecendo.
- Por que o Newt não para de cantar?
A voz de Thomas fez os dois se afastarem assustados.
- Eu te odeio Thomas, sério. - Murmurou Newt.
- O que eu fiz?
- O que você quer, cabeça de plong?
Perguntou Minho, sentando-se em uma das camas onde os garotos dormiram a noite.
- Temos alguma comida?
- Não. Mas tenho certeza que não vão nos deixar morrer de fome. - Disse Newt.
- E o que vamos fazer?
- Deitar e dormir.
- Vocês não pensaram em nada?
- Não. Você pensou?
Thomas balançou a cabeça negativamente e Scar deitou-se no chão novamente.
- E o pessoal?
- Olha, nós temos água e podemos sobreviver alguns dias sem comida. Se o CRUEL quisesse nos matar, por que não fizeram ainda? Estão tramando alguma coisa e como sempre nós temos que esperar.
- Ela está certa. Isso aqui é que nem o Labirinto, cara.
- Mas já exploramos isto aqui. - Thomas retrucou. - Não há sinal de animais, alimentos ou Labirinto.
- É, nós sabemos, mas pense bem. - Começou Newt. - O conceito é o mesmo. É evidente que há um maldito sentido de estarmos aqui. Vamos acabar descobrindo.
- Se a gente não morrer de fome primeiro.
- Pare de reclamar, Tommy. Nós temos água, não vamos morrer tão cedo.
- Mas e quanto aquelas pessoas mortas que vimos? Talvez tenham nos resgatado de verdade. Foram mortas, e agora estamos ferrados. Quem sabe não era para gente ter feito alguma coisa, mas agora está tudo perdido e fomos deixados aqui pra morrer.
- Você é a porcaria de um plong depressivo, cabeção. - Indagou Minho.
- Qual a parte de que foi tudo um plano do CRUEL você não entendeu? Não ouviu o que Aris contou?
- E como vamos saber se podemos confiar nele?
- Da mesma forma em que confiamos em você e na Teresa.
Thomas não falou mais nada. Scarllet se levantou de novo, ansiosa. Falar sobre Aris a fez lembrar de que precisava fazer algumas perguntas a ele. Ela passou pelo garoto, indo até o outro quarto e encontrando Aris deitado em uma das camas, acordado, mas quieto. Ela parou ao seu lado e na mesma hora ele a olhou, quase que assustado.
- Vem comigo.
Ela voltou para o quarto de antes, sendo seguida por Aris. Minho, Newt e Thomas ainda discutiam sobre o mesmo assunto. Eles ficaram em silencio quando Aris entrou no quarto, o encarando desconfiados. Aris parou, receoso. Scarllet lhe deu um leve empurrão, o fazendo voltar a andar e sentar-se em uma das camas vazias. O olhar dele se direcionou a ela, assim como os dos outros garotos, completamente confusos. O silencio tomou conta do quarto até que Thomas o interrompesse.
- Você não vai falar nada?
- O que? Eu?
- É, você o trouxe pra cá. O garoto está esperando você dizer algo e nós também.
- Ah, é verdade. Hum... não consigo pensar em nada.
Newt suspirou, arrastando as mãos no rosto e voltando a olha-la. Scar lhe lançou um sorriso e Newt o retribuiu, o loiro dificilmente conseguia ficar bravo com ela.
- Por que trouxe ele pra cá?
- Queria fazer perguntas.
- Então faça.
Ela balançou a cabeça.
- Estaria sendo muito invasiva.
- E qual o problema? Ele não vai fazer nada, não é Aris? - Minho o encarou, erguendo as sobrancelhas. Aris assentiu. - Faça as perguntas, Scar.
- Não. Eu não quero.
- Acho que ela enlouqueceu. - Murmurou Thomas.
- Não, seu trolho. Olhe para esse Fedelho, acha que ele está bem mentalmente para responder alguma pergunta? Acho que ele já respondeu o suficiente. Sabemos tudo que precisamos.
- Nenhum de nós está bem mentalmente.
- Se não vai fazer perguntas, por que o trouxe pra cá?
- Calem a boca. É nossa vez de responder as perguntas dele.
Aris arregalou os olhos, surpreso. Os outros fizeram o mesmo.
- Vamos, Aris. Comece. A sessão de perguntas está aberta.
- Achei que isso fosse apenas pra mim. - Thomas cruzou os braços.
- A sua sessão terminou a quase um mês, Thomas. Agora fique quieto e deixe o cabeção ali falar.
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