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Todos pareciam pensar na mesma coisa, Aris não estava mentindo. A expressão de horror em seu rosto ao lembrar do que passou dizia tudo. Thomas sentou-se em uma das camas, tampando o rosto com as mãos, preocupado com Teresa.
— É melhor sentar. Acho que temos muito o que conversar. – sugeriu Newt.
— O que quer dizer com isso? Quem são vocês? De onde vieram?
— Do Labirinto. Dos Verdugos. Do CRUEL. Chame como quiser.
Thomas teve a voz abafada pelas próprias mãos, mas sua frase foi perfeitamente audível.
— Estão mentindo.
— Ah, cara. Sente logo esse traseiro em uma das camas e nos deixe contar a história.
— Não, Scar. Primeiro precisamos achar Teresa. Ele deve estar em algum outro quarto.
Thomas tentou empurrar a cama em frente a porta. Scarllet o puxou para longe, o obrigando a se sentar novamente na cama.
— Preste atenção, Tommy. Esse é o único quarto no salão inteiro, eu passei por ele ontem quando nos levaram para tomar banho, não tem mais nada. Por acaso você viu alguma outra porta antes de entrarmos aqui? – ele negou. – Bom isso. Teresa não está aqui e nós vamos encontrá-la, mas agora, temos que nos preocupar com esse mértila aqui. – ela apontou para Aris.
— Do que me chamou?
— Fale, Aris. Conte tudo pra gente. – disse Minho, se sentando em uma das camas vazias.
Os clareanos estavam de frente um pro outro, em silêncio, esperando pela história do novo garoto. Aris estava frente a frente de Scarllet e recebia um olhar rígido da garota. Ele balançou a cabeça.
— De jeito nenhum. Vocês é quem começam.
— Ah, é? – retrucou Minho. – Que tal a gente se revezar para lhe dar uma surra até arrancar um plong dessa sua cara de mértila? Depois a gente pergunta de novo.
— Minho – chamou Newt. – Não há motivo...
Minho levantou a mão, apontando para Aris. Antes que abrisse a boca para falar, Scarllet colocou a mão sobre a dele, a abaixando. Ele se calou, era a vez de ela falar.
— Escuta, fedelho... quer dizer, Aris. – seus olhos se encontraram com os dele. O garoto se encolheu. – Você é o único aqui que não conhecemos. Me dá nojo pensar que esteja agindo assim, todo metido, enquanto somos vinte contra um. Conte o que quis dizer com a história do Labirinto. É melhor começar a falar, agora.
— Certo, então escutem. Fui atirado naquele lugar sem lembrar de nada sobre minha vida, só o meu nome. Vivi lá com um punhado de garotas, umas cinquenta delas. Escapamos a alguns dias e os que nos resgataram nos deixaram em um ginásio. Me trouxeram pra cá ontem a noite, mas ninguém me explicou nada. Que história é essa de terem ficado em um Labirinto também?
— Espere um minuto. – disse Newt. – Você viveu em um grande labirinto, numa fazenda, onde as paredes se fechavam todas as noites? Só você e umas garotas? Haviam criaturas lá com nome de Verdugos? Foi o último a entrar, e tudo ficou de pernas pro ar após sua chegada? Você ficou em coma, com um bilhete que dizia ser o último?
— Como sabe de tudo isso? Como...
— É o mesmo experimento de mértila. – falou Minho. – Só que no caso dele, eram várias garotas e dois garotos. O CRUEL deve ter construído dois daqueles labirintos para dois testes diferentes.
— Quem era o outro garoto?
— Não tinha outro garoto.
Scarllet se levantou, passando a mão pelo cabelo e o jogando para trás. Se encostou na parede e lançou a cabeça para o teto. Todos ficaram em silêncio, esperando por seu pronunciamento. Ela voltou-se para Aris.
— Quando vocês fugiram... – ela suspirou. – Quando chegaram no final e encontram aquela mulher loira. – Aris arregalou os olhos, tão surpreso quanto todos ali. – Ela estava controlando uma das garotas, não estava?
— Eles controlaram a Beth. Fizeram com que ela apunhalasse a minha amiga. O nome dela era Rachel. Ela está morta, cara. Está morta. Mataram a minha melhor amiga.
Aris cobriu o rosto com as mãos.
— Aris.
Ela o chamou, com voz calma e acolhedora. O garoto enfim levantou os olhos, enxugando as lágrimas sem se incomodar se os outros o vissem. Scarllet lhe lançou um sorriso triste.
— Depois que sua amiga morreu, a Beth se matou, não foi?
Ele assentiu e Scarllet balançou a cabeça, prestes a chorar. Respirou fundo e seguiu com seu raciocínio.
— A mulher que a controlava, como ela era?
— Como você disse. Cabelos loiros e um rosto magro. Usava uma blusa com a logo do CRUEL. Por que isso importa? Ela morreu assim que as pessoas que nos resgataram chegaram.
Ele chegou no ponto que ela queria. Todas as peças do quebra cabeça acabaram de se encaixar. Tudo que aconteceu agora foi planejado pelos Criadores, eles não fugiram, ninguém os resgatou. Ainda estavam sob a posse do CRUEL. Nunca estiveram a salvo. Até mesmo a morte de Chuck e Gally havia sido planejada. Scarllet deu um soco na parede, sentindo a dor consumir sua mão que por pouco ela não havia a quebrado. Minho correu até ela, a segurando antes que ela repetisse o movimento.
— Pare com isso. – ele sussurrou.
— Não estamos a salvo. Não fomos resgatados. Ainda estamos no CRUEL! Ainda somos a droga de um experimento!
— O que é isso no seu pescoço? – perguntou Caçarola. – Essa marca preta, logo abaixo da gola.
Scarllet tentou enxergar o que ele falava, mas não conseguia ver. Por mais que tentasse, era impossível enxergar o que havia naquela parte do corpo. Minho a segurou, vendo a linha grossa que cortava a lateral do pescoço, indo em direção às costas.
— É uma tatuagem.
— E o que diz ai? – ele não respondeu. – Minho! O que diz?
— Propriedade: CRUEL. Grupo A, Individuo A3. A Primeira.
— Desde quando você tem uma tatuagem? – indagou Wiston.
Scarllet o ignorou, virando Minho de costas para ela. Abaixou a gola de sua cabeça, vendo a tatuagem.
— Você também tem. Está dizendo Propriedade: CRUEL. Grupo A, Indivíduo A7. O Líder.
— O líder?
— É.
— Ei, Aris também tem uma! – assim que Caçarola terminou sua frase, Newt foi até o garoto, puxando sua camisa.
— Grupo B, Individuo B1. O Parceiro.
— Você está me zoando, cara. – reclamou Minho, abrindo caminho até o banheiro.
Os meninos começaram a falar ao mesmo tempo, um puxando a camisa do outro e dizendo em voz alta o que as tatuagens diziam.
— Individuo A19.
— A13.
— A9.
— Todas dizem propriedade CRUEL.
A maioria não tinha uma designação adicional como a de Minho e Aris. Newt ia de garoto em garoto, examinando com os próprios olhos. Seguiu por último em Thomas, que se encontrava ao lado de Scarllet, prestes a pedir para que ele lesse a dele.
— O que diz a minha? – perguntou Newt.
Scarllet ficou na ponta dos pés para alcançar o pescoço do garoto e ler sua mais nova tatuagem. Newt se agachou alguns centímetros, a ajudando.
— Você é o Indivíduo A5. Te chamam de O Grude.
— Grude?
— Deve ser porque você é a liga que mantem todos unidos. Não sei... leia a minha. – pediu Thomas para ele.
— Já li.
Newt disse baixo, com uma expressão estranha. Parecia com medo de dizer o que acabara de ler. Scarllet puxou Thomas para perto, empurrando sua camisa para baixo e lendo a tatuagem. Ela entendeu a hesitação do amigo, mas as palavras saíram de sua boca muito mais fáceis do que deveriam.
— E então?
— Você é o A2. Está dizendo, “a ser morto pelo Grupo B”
Antes que ele pudesse dizer algo, o mesmo alarme que tocava na Clareira para anunciar a chegada de um novo garoto soou por seus ouvidos, tão alto que Scarllet os tampou.
— É o maldito alarme que anuncia os Calouros!
— Eu sei! – Thomas respondeu o loiro.
— Temos que dar o fora daqui!
Caçarola se aproximou da porta, empurrando tudo que a tampava para longe. Outros garotos o ajudaram e logo eles estavam de volta ao salão cheio de corpos. A única diferença é dessa vez, não havia corpos.
Estava vazio, sem pessoas penduradas no teto, sem mau cheiro. Nem mesmos os Cranks das janelas do quarto onde dormiam estavam lá, foi erguido um muro de tijolos vermelhos em todas as janelas, sem exceção. Era inacreditável.
— Isso é impossível. Onde estão os corpos? E as pessoas malucas? – Thomas iniciou sua sessão de perguntas.
— Ficamos no quarto por menos de vinte minutos, não dá para eles sumirem com tudo em tão pouco tempo. – disse Minho, encostando a mão em um dos muros e o empurrando. – Está sólido.
— Isso não faz sentido. – murmurou Newt.
— Bem, seus trolhos, se querem bancar os espertos, tudo bem. – indagou Caçarola. – Mas olhem ao redor. Os corpos desapareceram. Portanto, pensem o que quiserem, de algum modo conseguiram se livrar dos corpos.
— Não importa se faz sentindo ou se isso deveria ser impossível. Os muros do Labirinto se mexiam também não era algo fisicamente possível, mas acontecia. Esses caras tem poder o suficiente para fazerem o que quiserem, quer vocês acreditem ou não.
Scarllet se virou, passando pelos garotos e entrando novamente no quarto onde encontraram Aris. Os garotos vieram logo atrás deles.
— Scar, você viu isso aqui? – Wiston a chamou, parado em frente a porta. A garota foi até ele, lendo a placa.
Aris Jones. Grupo B. Indivíduo B1. O Parceiro.
Ela colocou os braços na cintura, franzindo as sobrancelhas e colocando todo seu peso sobre uma perna só, exatamente como Newt costumava a fazer quando estava irritado. A placa do lado de fora de onde haviam encontrado Aris havia mudado de repente, junto de todas as outras novidades. Sentiu a presença dos garotos atrás dela, todos cochichando as mesmas coisas. Thomas passou por eles, parando ao lado de Scar, incapaz de desviar os olhos da placa que antes continha o nome de Teresa.
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