"Em Saturno
Vivem os filhos que nunca tivemos
Em Plutão
Ainda se ouvem gritos de amor"
Paulo entrou no famoso Sal's bar, em sua cidade natal, Laguna Larga, Argentina, o ponto de encontro de todos. Foi recebido por cumprimentos de todas os presentes, a maioria homens, e ex colegas de turma dele da época da escola. Ele queria beber um pouco, foi um dia muito estressante e o jogador precisava de uma fuga da sua realidade por alguns minutos. O bar do Salvador, um senhor de quase cinquenta anos a essa altura, tinha mudado desde a última vez que o homem apareceu com amigos para comemorarem a formatura do ensino médio.
Tinham duas mesas de bilhar no canto, e um palco para show ao vivo e karaokê. O bar era no canto, com bebidas expostas e banquetas além de mesas com poltronas de couro e a cabine para fotografias. Ele tinha uma tirinha com seis, que estavam guardadas numa caixa de chapéu azul e o nome de uma ex namorada em itálico, que Paulo ainda mantinha em seu closet na casa de Turim, na Itália.
Dybala fez um high five com alguns de seus antigos amigos, porque agora mal tinha contato com a maioria deles. Era algo péssimo e o argentino sabia disso, mas fazia parte da vida, todos seguiram seus próprios caminhos. Ele sentou-se em uma banqueta, apoiando os braços no balcão e pedindo uma bebida forte, para esquecer seus problemas por um momento, apenas isso.
Sn encarou o homem ao seu lado, com o coração batendo rapidamente, tanto quê teve medo de que o argentino pudesse o escutar.
Essa era a primeira vez que ela via Paulo depois de quase seis anos, afinal essa era também a primeira vez que ele voltava a Laguna após fazer ficar famoso com um jogador profissional. Sn pensou que não seria notada por ele, o atleta do Juventus, virou e olhou dentro dos seus olhos (cor) demonstrando surpresa por vê-la.
- Sn? - indagou, confuso, quando sua voz finalmente saiu, segundos depois.
Paulo não esperava ver a ex namorada de infância ali. Ok, isso era mentira. Na verdade, sabia que isso podia acontecer, mas tentou não se iludir com isso e ficar decepcionado depois. Ela sorriu, isso fez o coração dele bater ainda mais rápido e Dybala encarou aqueles lábios pintados de vermelho se abrindo, adorava o riso dela. Sn estava muito diferente, é claro, afinal tinha ganhado uma aparência e o corpo de mulher, e mesmo passando toda a adolescência pensando que era impossível a garota ficar ainda mais linda, se admirou em ver que ela podia sim e estava muito mais.
- Paulo. - ela cumprimentou. - Eu não fazia ideia de que estava na cidade, é uma grande surpresa vê-lo.
- É o aniversário de casamento dos meus padrinhos, os pais da Yrene. - ele deu de ombros, dando um gole na bebida, tentando acalmar o seu coração, diante da visão da mulher em um vestido azul colado.
- Mande minhas felicitações a eles. - a porta do bar abriu, e os dois se viraram para ver um casal jovem entrando com os seus amigos, fazendo-os sorrirem, já que era como olhar através do tempo. - Eu vi a sua mãe no supermercado esses dias, ela parecia empolgada, me chamou para um café da tarde.
- Não dúvido, você sabe o quando a dona Alicia ama essas ocasiões e o fato de poder me arrastar de Turim para casa. - sorriu. - E ela ama você.
Sn assentiu, pedindo mais uma bebida ao bartender.
- Você mudou muito. - disse, porque o argentino estava ainda mais lindo, e ele sorriu.
- Eu poderia dizer o mesmo de você.
- Touché. - o rapaz colocou um copo de tequila na frente dela, que agradeceu, e o mesmo se afastou dos dois, para falar com uma garota do outro lado.
- Então, quando voltou do Caribe?
- Faz um tempo, na verdade, uns dois anos. - ela apoiou o cotovelo no balcão e encarou Paulo. - Minha avó ficou um pouco adoentada, e eu precisei voltar, e cuidar da mesma.
- Ela está melhor?
- Alzheimer. - o homem viu nos olhos dela um lampejo de dor.
- Não deve ser nada fácil, eu sinto muito mesmo, Sn. - falou. - Tenho um carinho enorme pela dona (nome).
- Eu sei, agradeço, nós realmente não estamos em um momento muito bom, é muito difícil, mas vai dá tudo certo.
- Sim, pode contar comigo para o que precisarem.
Sn sorriu.
- Obrigada, Paulo. - falou, sentindo-se grata pelas palavras dele. - Me fala de você agora. Como é ser extremamente famoso?
Paulo riu nasalado, dando um gole em sua bebida, antes de responder:
- Estou satisfeito, tem um lado bom e um lado ruim, como todas as coisas.
- Era o seu maior sonho.
- Um dos, acho que depois percebi que existiam coisas mais importantes, você sabe qual era o meu maior sonho, mais do que qualquer outra pessoa.
Ela concordou, ficando em silêncio, ao lembrar de todas as promessas que eles fizeram um para o outro. Ficarem juntos para sempre. Paulo disse que queria se casar com ela, na noite que deixaram de ser virgens. Foi inesquecível para os dois e ele soube que o seu maior sonho era passa a vida inteira ao lado da sua garota atrevida. Mas a vida não era tão simples assim.
- Mas o que você está fazendo aqui? Vem sempre?
- Eu canto aqui todos os sábados. - Sn explicou e Dybala olhou para o palco, a brasileira sempre gostou de cantar.
- É a sua cara mesmo.
Sn nasceu em/no (estado), no Brasil e se mudou para Laguna Larga aos quatro anos de idade, com a mãe brasileira e o pai argentino. Ela foi colega de sala de Paulo, desde muito pequenos, ainda na pré escola. Se apaixonaram aos quatorze ano, e foram o primeiro beijo um do outro.
- Minha avó costumava dizer que eu escolhi a profissão errada. - riu, dando de ombros.
- Mas aposto que você também ama ser biologa marinha.
- Sim, mas como você sabe disso? - a mulher questionou e ele ficou com as bochechas vermelhas.
- Hum, minha prima comentou isso a um tempo atrás, contou sobre o Caribe, sobre a faculdade.
- Sei bem de quem estamos falando, nós ainda somos amigas.
Paulo sorriu com pesar.
- Eu sinto saudades daquela época. - confidenciou. - Nosso grupo de amigo, todos os momentos que vivemos.
- É, acho que entendo, sinto o mesmo.
- Pretende partir novamente?
- Sim, não sei quando, mas eu costumo estar dois meses em terra e dois no mar.
- Você sempre teve a alma livre.
- E ainda sim, você partiu primeiro. - murmurou com certo pesar, mas logo trocou de assunto. - Eu sou especialista em Orcas, amo meu trabalho, melhorar as condições da vida marinha e evitar os problemas que nós humanos causamos.
- Baleias assassinas?
- Não fala assim dos meus bebês, eles são tão inteligentes, adoráveis, você só tem que saber os limites, para segurança e bem estar delas, principalmente.
- Você realmente gosta disso.
- Sim.
Paulo sorriu.
- Eu sinto muito pela forma como fui embora, Sn, fui um idiota. Me perdoa.
Ele tocou a mão dela sobre a mesa, e sentiu um corrente elétrica por todo o seu corpo.
- Está tudo bem, Paulo, fomos atrás daquilo que queríamos e realizamos os nossos sonhos.
- Tem razão. - ele retirou sua mão da dela. - Mas tínhamos tantos planos e nós éramos felizes.
- E agora você não é mais?
- Eu não sei. - respondeu. - Às vezes, muitas vezes, na verdade, eu sinto um vazio enorme no peito.
Sn permanceu em silêncio, apesar de saber do que ele estava falando, pois também sentia-se assim, desde os vinte anos, quando Paulo foi embora, depois que ambos decidiram que seria melhor terminarem.
- Você é feliz?
- Ninguém é feliz o tempo todo.
- Mas também não deveria ser triste a maior parte dele.
- Certo. - revirou os olhos. - Mas sim, acho que sou feliz, mas falta algo aqui dentro, a muito tempo.
- Não seguiu em frente? - indagou ele, com a testa franzida, esperançoso que a resposta fosse negativa. - Você sabe, depois da gente.
- Eu tentei, e namorei por quase três anos com um rapaz na universidade, mas não foi para frente. - explicou. - E você? Yrene mostrou-me algumas fotos suas com a sua namorada ou noiva, eu não tenho certeza.
- Ela é bem inconveniente.
Sn gargalhou, e Paulo achou adorável.
- É sua prima, afinal. - brincou.
- Oriana. - disse o nome da mulher da foto em questão.
- Ela é muito bonita.
- Sim. - ele respondeu. - Nós ficamos noivos por um tempo, mas não estamos mais juntos, ela acha que estou preso ao passado e isso não deixa de ser verdade, eu estou mesmo, fiz o pedido porque foi o que pareceu correto depois um tempo namorando.
- Ah, eu não sei o que responder.
- Muita informação, me desculpa. - ele riu, um pouco sem graça.
- Tudo bem.
- Eu ainda guardo aquela caixa com o seu nome, e sempre releio suas cartas, nunca tive coragem de queimar nossas fotos juntos. - explicou. - Não acho que uma namorada fiquei feliz, sabendo que seu parceiro ainda guarda lembranças da ex e que nunca vai esquecer ela.
- Suponho que não. - Sn disse. - E eu também guardo uma com seu nome no meu armário, e todos os presentes que me deu ao longo dos anos, ainda estão comigo.
- Jura?
- Sim. - deu de ombros, vendo os olhos dele brilharem. - Tem seis anos de boas memórias guardadas nela.
- Nós planejamos uma vida juntos. - comentou, sorrindo.
- Uma casa na praia. - relembrou. - Bem pertinho do mar por minha causa.
- Adotar três crianças.
- Um cachorro chamado Maradona e outro com nome de Pelé.
Paulo gargalhou, alto, fazendo as outras pessoas olharem para eles.
- Estamos cercados de argentinos, não é de bom tom, falar sobre isso.
- Mas você sabe bem que é o melhor.
- Sim, sim. - revirou os olhos.
A porta abriu, e um homem alto, entrou no Sal's, e caminhou até Sn, que sorriu e acenou para ele.
- Ei, princesa. - beijou a bochecha da brasileira. - Hora do show.
- Pietro, esse é o Paulo.
Dybala encarou o jovem de olhos azuis turquesa, e apertou sua mão, de forma firme.
- Eu realmente não estou acreditando! - arregalou os olhos. - Você ficou mais bonito com o tempo, está melhor agora do quê nas fotos que ela tem.
Sn deu um tapa no amigo, fazendo ele rir.
- E você é?
- Sou amigo dessa estrelinha aqui. - Pietro falou, sorrindo. - Sinto como se conhecesse você a muitos anos, escutei tantas histórias a seu respeito.
- Espero que tenham sido apenas boas histórias.
- A maioria delas eram. - confirmou Sn, se levantando da banqueta. - Eu tenho que cantar, vai ficar para ver o show?
Pietro, nesse momento, fez um toque com Paulo e foi para o palco.
- É claro que sim.
- Que bom.
Ela deu as costas para ele, se movendo apenas alguns passos antes de ouvir o seu nome.
- Oi. - Sn encarou os olhos de Paulo, perdendo o fôlego por um instante.
- Talvez pudéssemos sair, um jantar, ainda vou ficar alguns dias por aqui e podemos recuperar um pouco o tempo perdido, não sei.
- É claro. - o sorriso dela apareceu. - Isso seria ótimo.
- Isso, ok. - falou. - É um encontro.
Sn riu.
- Tudo bem, Dybala, um encontro então.
- Acertamos tudo depois. - sorriu. - Bom show.
Ela se aproximou, tocando o ombro do argentino e beijando o rosto dele.
Paulo ficou observando ela subir os cinco degraus do palanque e se sentar em um banco alto, ajustando o microfone. Pietro fazia o mesmo, com um violão no colo.
- Boa noite. - cumprimentou Sn. - Eu estou feliz que não desistam de mim e ainda venham aqui todos os sábados.
- Não temos tantas opções assim. - um homem falou alto, fazendo Paulo olhar para ele com atenção.
- Não seria o mesmo sem suas piadas, Theodoro, você nunca muda. - riu.
Ele conhecia bem o homem, havia sido um dos melhores amigos de Paulo e Sn, e ali estava o mesmo com a sua esposa grávida, aparentemente. Podia ser eles construindo uma família, como sempre pensará em fazer.
- Hoje vou começar cantando Saturno, e espero muito que gostem.
No momento seguinte a voz dela ecoou pelo local. Paulo quase chorou na parte do refrão, vendo todo tempo que podia ter passado ao lado de Sn. Mas às vezes o destino agia dessa forma, para que as pessoas pudessem amadurecer e saber o que de fato querem. Tudo que é para ser seu, sempre encontra o caminho até você. E aqui estavam eles, anos depois, no entanto, Dybala parceiro que nunca deixou de amar aquela mulher, nunca, nem um dia sequer.
Ele ainda faria dela sua esposa, porque sempre foi e sempre seria Sn, o grande amor da sua vida.
{oi, meus amores, voltei, novamente hoje, porque essa música perfeita me encheu de inspiração para essa história, espero que tenha gostado, já vai deixando seu voto e um comentário bem bonito para que eu volte logo}
XOXO, MAY.