Depois de passar numa loja para comprar uma chapinha nova – ouvindo muitas reclamações do Diogo por "minha demora para escolher" – finalmente chegamos na fila do cinema.
— Já escolheu o filme? – Diogo pergunta, e eu olho para os filmes em cartaz.
Não demoro a encontrar o filme perfeito. Com um sorriso no rosto aponto para o cartaz que tem um casal apaixonado estampado.
— Aquele ali. – Ele olha para onde estou apontando e faz uma careta ao ver o filme que escolhi.
— Tá falando sério? – Sorrio da sua cara emburrada. — Comédia Romântica adolescente, Heloísa? Eu acho melhor a gente voltar para casa e ver Crepúsculo.
— Você disse que a gente iria assistir o que eu escolhesse! – reclamo, fingindo irritação.
— Eu achei que você iria escolher um filme que prestasse. – O encaro, indignada.
— Você nem viu o filme! Como pode saber que é ruim?
— Só pelo título ridículo já dá para saber. – Me preparo para protestar, mas penso melhor e até que, por esse lado, ele tem razão. "Um amor proibido em Veneza" é, de fato, um título pouco atrativo.
— Você disse que eu podia escolher! – insisto no mesmo argumento.
— Tem certeza de que quer ver esse? Acho que você ainda não conseguiu escolher o pior filme disponível. Espera! – Franze a testa, com ar sério, e olha ao redor. Faço o mesmo, sem fazer a menor ideia do que ele está procurando. — Não, eu me enganei. Esse é o pior mesmo! – Fecho a cara na hora.
Abro a boca, pronta para reclamar de novo, mas percebo que ele está só brincando quando vejo um sorriso cínico aparecer em seus lábios. Um frio estranho se apodera do meu estômago e eu trato de espantá-lo para longe. Chega desses momentos esquisitos quando estou perto dele!
Nossa vez na fila chega, e eu não posso evitar a sensação de triunfo quando ele compra duas entradas para "Um amor proibido em Veneza".
Como ele pagou pelas entradas, eu compro os dois baldes de pipoca e os refrigerantes. Seguimos trocando brincadeirinhas até a sala de cinema, que está parcialmente vazia.
— O filme é tão bom que ninguém apareceu para assistir – Diogo resmunga.
— Veja pelo lado bom…
— Tem um lado bom? – ele me interrompe
— Aham. Não vamos ter aquela dificuldade enorme de chegar às nossas poltronas, tendo que desviar de todas aquelas pernas que sempre ficam pelo caminho. – Diogo revira os olhos de um jeito tão exagerado que não consigo segurar o riso.
Os trailers dos próximos lançamentos começam a passar na tela enquanto nos sentamos nos nossos lugares. Estamos sentados bem na frente, e mesmo com o ambiente totalmente sem luz, a claridade da telona a nossa frente faz eu enxergá-lo perfeitamente.
— Como foi o encontro com a Maia? – pergunto, e ele para de comer a pipoca e me encara.
— Nada de mais. – Dá de ombros. — Saímos para almoçar num restaurante perto da minha casa. No começo foi meio esquisito, mas depois de um tempo a conversa fluiu tranquilamente. Quando me deixou em casa ela perguntou se podíamos nos encontrar de novo antes da sua viagem, e eu concordei.
— Fico feliz que esteja dando certo sua aproximação com ela – falo, sincera. — Quando ela vai viajar?
— Na próxima segunda.
— Nossa! Tão rápido? – levanto as sobrancelhas, surpresa.
— Ela precisa começar o tratamento logo – explica, e dá para perceber seu desconforto em falar sobre a doença. O que é de se esperar. Não é fácil saber que alguém que a gente conhece está doente. Ainda mais quando essa pessoa é sua mãe. — Até falamos sobre possíveis visitas minhas durante as férias. Ela disse que eu posso até ir morar com ela e terminar o ensino médio lá, se eu quiser.
— E você aceitou? – Sinto meu coração apertar ao pensar nele indo para tão longe. Acabei me acostumando com a sua companhia e ele faria uma falta enorme.
— Concordei com uma possível visita. Mas seria muito estranho morar com ela, a gente mal se conhece – sinto tanto alívio ao ouvir sua recusa que fico surpresa. Eu nem tinha me dado conta no quanto me apeguei ao Diogo nesses poucos meses de convivência.
— Então você não vai se mudar. – Sorrio.
— Não. Não daria certo. Já não foi fácil me mudar para cá para morar com o tio Alex, imagina ir para tão longe? E também não conseguiria ficar tão longe da minha avó.
— Te entendo. Não conseguiria ir para longe dos meus avós e da tia Lúcia também. – Sinto uma tristeza só de imaginar ficar sem a companhia de algum deles.
— Pois é. E além do mais, já fiz bons amigos aqui. Não quero ter que começar tudo de novo num outro país.
— E eu estou incluída entre esses bons amigos? – Abro um sorriso e ele retribui, concordando com a cabeça.
— Com toda certeza – ele fala, e eu me sinto contente em ouvir isso.
Já o considero um amigo a muito tempo e é bom ouvir que isso é recíproco.
Quem diria que fazer aquele trabalho junto com ele seria o melhor desastre que a vida já fez por mim...
O filme começa e paramos de conversar para encarar a tela.
A história do filme é legal, apesar do título duvidoso. Fico tão compenetrada na tela que nem vejo o tempo passar.
Alguns minutos se passam, quando eu desvio os olhos da tela para observar o Diogo, e ele está totalmente concentrado no filme, quase sem piscar.
Fez tanta piada sobre o título e agora nem desviar os olhos da tela, sorrio com o pensamento.
Me recosto na cadeira e me encolho no assento, sentindo meus braços arrepiarem de frio. Os esfrego, tentando me aquecer. O clima estava ótimo do lado de fora, mas o ar-condicionado ligado aqui dentro está começando a me incomodar.
— Tudo bem? – Diogo sussurra ao meu lado, me encarando. Minha tentativa de me aquecer acabou chamando sua atenção.
— Sim – sussurro de volta. — Só estou com um pouco de frio, mas não é nada que não dê para suportar.
Sem falar nada, ele me abraça de lado, me fazendo ficar mais próxima dele. Sinto meu coração acelerar com seu gesto repentino.
— Melhor? – ele pergunta e eu apenas concordo, sem encará-lo.
O silêncio recai sobre nós, e quando viro a cabeça em sua direção, vejo que ele já está prestando atenção no filme de novo, como se não tivesse feito nada demais.
E não fez nada demais mesmo!, penso, me recriminando mentalmente.
Eu só estava com frio e ele me abraçou em um gesto solidário de usar o próprio corpo para me aquecer. Os amigos fazem isso o tempo todo, tenho certeza. Aposto meu box de Harry Potter que o Arthur já fez isso com a Cristine.
Mas, por que, então, meu coração está batendo tão rápido? E por que minha respiração ficou tão acelerada de repente?
Minha mente fica tão embaralhada de emoções que eu nem presto atenção ao filme direito. A única coisa que consigo me concentrar é em como o cheiro do perfume do Diogo é maravilhosamente bom. Já tinha sentido ele antes, é claro, mas nunca de tão perto. Não diretamente da fonte.
Só volto meus pensamentos para o agora quando a tela fica escura e os créditos finais começam a subir.
Acabou tão rápido assim? Ou foi só eu que estava com os pensamentos em lugares "questionáveis" e nem vi o tempo passar?
— Vamos? – Me afasto repentinamente do Diogo, e me levanto sem nem esperar por sua resposta.
— Vamos.
Começo a andar em direção a saída, desviando das outras poucas pessoas no caminho, ele vem logo atrás de mim.
Não consigo parar de me questionar sobre os pensamentos que tive agora a pouco.
Qual é, afinal, o meu problema?
Gostou do capítulo? Então não esqueça de deixar seu voto e comentário!
E essas reações da Helô, hein? 👀 hehehe