Capítulo XXXIV

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Hoje recebi um ultimato do meu pai. Ele exigiu que eu voltasse às minhas atividades com a ONG ou minhas férias de julho seriam trancada em casa, de castigo. Papai voltou a me questionar a razão de eu ter deixado de lado o que eu mais amo fazer, e sustentar essas mentiras está acabando comigo. Eu não soube o que responder, obviamente, então mamãe mudou de assunto, enquanto ele continuava a me encarar desconfiado. O que me deixa atônita é não saber quanto tempo demorará para que a verdade venha à tona.

Eu tomei a pílula que Nick havia comprado para mim, mas é inevitável não me sentir apreensiva com o fato de que ela não é cento por cento eficaz. Mas sua gentileza e preocupação comigo acalentaram um pouco a minha aflição, nós conversamos muito naquela noite e eu pude descobrir um lado bem divertido e despreocupado dele, um lado bem diferente do que ele demonstra para outras pessoas. É quase como se ele estivesse me deixando entrar e vê-lo por dentro, embora eu soubesse que estava vendo apenas o que ele queria que eu visse.

Uma música pop genérica toca no rádio em um volume baixo, mas a doce voz suave não é capaz de preencher o constrangedor silêncio entre papai e eu no carro. Depois da nossa conversa nada amigável no café da manhã, tudo que restou entre nós foi um clima um tanto quanto desagradável.

— Eu... — Papai começa, apertando ligeiramente os dedos em volta do volante. — Sei que tenho sido muito rígido com você em relação àquele rapaz, seu pai e eu temos uma ótima relação e nossos planos de negócios avançam positivamente...

Me viro para ele, com o cenho franzido.

— O quê? Mas ele não serve para mim? É isso? Já ouvi esse discurso, pai.

— Queria lhe propor um acordo — Ele continua, ignorando minha raiva.

Desconfiada, balanço a cabeça, incentivando-o a continuar. Não tenho certeza de que queira realmente saber, mas a curiosidade queima em meu interior.

— Vamos marcar um novo jantar, almoço ou seja lá o que for, e posso então pensar — Ele enfatiza. — Em dar um voto de confiança para esse garoto.

Com suas palavras, algo dentro mim se agita, quase como um gritante sinal de alerta, a mudança repentina nas suas convicções não me parece algo natural a ele. Papai não muda de ideia em sua opinião sobre alguém, se ele odeia uma pessoa, isso realmente nunca se acaba.

— Qual é o truque?

— Eu não jogo com truques, querida.

Seus olhos parecem estranhamente sombrios quando me encaram por cima de seu óculos de sol redondo.

Eu não consigo pronunciar mais nenhuma palavra, meus olhos ainda encaram os seus com perplexidade. Sua atenção volta à estrada e o silêncio desconfortável volta a reinar, entretanto, um turbilhão de pensamentos e dúvidas nublam minha mente. Algo está muito errado.

[...]

Não demorou muito para que Eduardo viesse me incomodar enquanto guardava alguns livros em meu armário, tentei fugir dele, mas fui impedida com sua mão puxando meu pulso, o sorriso de escárnio nunca parece deixar seu rosto.

— Diga ao Dominic que sei onde encontrar um bom doce — Ele pisca para mim, seu olhar desce para os meus lábios e ele molha os lábios, em um flerte descarado e não recíproco.

Franzo as sobrancelhas.

— Como assim?

Seus lábios se abrem largamente e sua cabeça se inclina para o lado, como se estivesse me achando uma estúpida.

— Só diga isso, ele vai saber do que estou falando.

Então ele se aproxima e se inclina para mim, sussurrando em meu ouvido com um evidente sarcasmo:

— Depois me conte o que ele disse, estou muitíssimo curioso.

Então ele vira as costas e se afasta, despreocupado.

Na aula de inglês eu só tinha em mente as palavras debochadas de Eduardo, enquanto tentava entender o significado delas. Jessy estava em dupla comigo, o que significava que eu teria paz durante o resto da aula. Mantive a expressão séria e concentrada, talvez isso a convencesse de que eu não estava com ânimo para conversa. No entanto, isso não funcionou.

— O que aquela peste queria com você? — Jessy aponta com a cabeça na direção do meu carrasco. — Vi vocês dois no corredor.

Suspiro, eu certamente deveria lhe contar sobre as chantagens dele, nós somos melhores amigas e deveríamos contar tudo à outra, sempre foi assim. Mas ao mesmo tempo, tenho medo da sua maneira impulsiva de querer resolver conflitos, como fez com Dominic da última vez.

— Beca — Seus dedos seguram meu queixo delicadamente, me forçando a encarar seus olhos. — Me conta o que está havendo, por favor.

Inspiro profudamente, o nervosismo domina-me. Então cedo ao seu pedido insistente.

— Ele está me chantageando — digo de uma vez, desviando o olhar.

— Como assim? Ele tem fotos suas ou alguma coisa do tipo?

— Ele sabe sobre Dominic e eu, você bem sabe o que isso significa.

— Filho da puta... — Ela lança um olhar mortal na direção do garoto, que despreocupadamente mantém as pernas sobre a mesa. — Você quer que eu quebre a cara dele?

Reviro os olhos e volto a escrever, tentando manter minha atenção nas questões, nada facéis, de inglês.

— Se você fizer isso, vai estar incentivando ele a me delatar — respondo, apagando pela centésima vez a mesma frase, não estou conseguindo concentração o suficiente. Jessy não me permite com toda sua tagarelice.

Ela suspira e se recosta na cadeira, sem ter mais o que dizer. Respiro aliviada e continuo minha atividade, ignorando sua inatividade ao meu lado. Na aula de física, tivemos um trabalho em grupo, para minha infelicidade, Nick e eu não ficamos no mesmo grupo, nem mesmo Jessy. Então, pela grande e fodida ironia do destino, fui colocada no mesmo grupo em que o Theo. Sua cara não era das melhores quando a professora pronunciou o meu nome dentre os outros três que fariam parte conosco, incluindo Alice, a garota que havia descaradamente dando cima de Nick.

Nós tínhamos uma semana para entregá-lo, então Alice se intrometeu em nossa pequena discussão sobre o local em que nos encontrariamos, determinando que seria em sua casa, tentei argumentar contra, mas ninguém do grupo parecia ser contrário a ideia, então, contra a minha própria vontade tive de aceitar. Theo não dirigiu uma palavra sequer a mim.

Naquela tarde, fui até à ONG, não era mais tão emocionante quanto antes, embora eu sempre amarei o fato de ajudar os menos favorecidos, meu ânimo para ir até lá já não era mais o mesmo. Eu só não conseguia decifrar a razão disso. Assisti algumas séries durante a noite, me alimentando tão mal quanto sempre. Não recebi nenhuma mensagem do Nick, ele estava novamente distante, isso trouxe lembranças das palavras da Jessy, sobre o fato de ele me usar apenas para satisfazer os próprios desejos. Foi inevitável sentir aquela conhecida e incômoda dor no peito. Eu não queria aceitar o que, de fato, parecia ser a verdade.






♡♡♡

Obrigada pela paciência. Beijos.

ConsequênciasWhere stories live. Discover now