Capítulo XLIX

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Dominic

Era um saco ver a Rebeca todos os dias e não poder tocá-la ou sequer trocar uma palavra na escola. Estava sendo uma tortura, ainda mais depois de ter dito ao seu pai, e na frente dela, o que eu sentia. Não era algo que eu pretendia fazer tão cedo, não queria dizer aquelas palavras, não sei se me sentia pronto. Mas a possibilidade dele afastá-la de mim me obrigou a admitir o que eu escondia dela, toda a porra de sentimento que estava me consumindo. Orgulho sempre foi um dos meus maiores defeitos, então quebrá-lo não era uma tarefa muito fácil e muito menos agradável, mas por ela, talvez fosse capaz de deixar o meu ego de lado e tentar amar. No entanto, o medo de me machucar novamente ainda me domina.

Como de costume, acendo meu cigarro e vou até a varanda, admirar o quão bonita a cidade fica a noite, iluminada pelas luzes. Olhando-a assim, de longe e sob a penumbra, não parece que uma multidão de imbecis habitam nela. Meu celular toca em cima do sofá e eu caminho até ele para checar do que se trata. Fecho os olhos, sentindo a ira me invadir. Já é a sétima vez que recebo uma mensagem da Valéria, estou me esforçando para evitá-la. Ela não pode simplesmente voltar depois de meses e agir como se nada tivesse acontecido. Foi ela que desapareceu e me deixou semanas ligando e mandando mensagens, se mudou sem se despedir de mim, sem terminar o que nós tínhamos, não é justo querer que eu a escute agora. Não agora que estou disposto a recomeçar com a Rebeca. Mas é um fato inegável que Valéria me marcou, de formas boas e muito ruins também, ela me ensinou boa parte do que sei hoje, desde transar à acalmar meus conflitos internos com medicamentos e drogas. Eu não a amava, era apenas obcecado pela forma como ela conseguia me fazer fugir da realidade, mas estaria mentindo se disesse que não sofri por ela. E por um longo tempo.

[...]

O pub está mais vazio do que costuma estar, desde que Felipe começou a namorar com Jessy, sua dedicação ao próprio negócio não é mais a mesma, seus esforços com divulgação diminuiram, o que também influenciou na diminuição de pessoas frequentando. Eu tenho que dar uma lição sobre negócios a esse estúpido ou ele irá a falência.

Me movo até o bar e aceno para Davi, o barman, que prontamente desliza um copo de uísque em cima do balcão. Todas as vezes ele sabe o que quero, porque sempre peço a mesma bebida. Engulo o líquido em um único gole, deixando o copo sobre o balcão novamente. Então me dirijo até o escritório do Felipe, nos fundos. A porta está entreaberta então apenas entro, me arrependendo no mesmo instante. O idiota está sentado em sua cadeira com Jessy em cima dele, com a saia levantada, seus grunhidos cessam assim que eles percebem minha presença.

- Filho da puta, você não sabe bater? - resmunga se levantando em um rompante e subindo o zíper de sua calça.

- Primeiro, a porta estava entreaberta, segundo, como eu ia adivinha que vocês iam estar trepando no seu local de trabalho?

Lanço um olhar para Jessy, que sequer parece constrangida, muito pelo contrário, ela abre um grande sorriso para mim. Volto a encarar Felipe.

- Porra, esqueci de fechar a porta, mas fala aí, você adorou assistir - um pequeno sorriso pervetido surge em seus lábios e eu tenho vontade de lhe dar um soco.

- Queria lavar meus olhos com álcool - resmungo, me sentando na cadeira de frente para sua mesa. - A gente tem que conversar, babaca.

- Bem, vou deixá-los conversarem, bom te ver Nick - Jessy sorri para mim e eu retribuo. Quando a porta se fecha, me ajeito na cadeira.

- Você está muito relapso com seu pub, Felipe.

- Eu sei, mas é que... porra, não consigo me concentrar, só consigo pensar naquela garota maravilhosa que agora é minha.

Sorrio com suas palavras, há alguns meses eu jamais imagiria que alguém seria capaz de fazê-lo se comportar como um bobo, sua fama era horrível e dormir com uma garota diferente a cada noite era seu passatempo favorito, no fundo eu sempre soube que ele apenas queria competir, mas o que ele não sabia é que eu nunca tive orgulho de transar com garotas diferentes a cada semana, sempre foi apenas uma válvula de escape e uma ótima forma de irritar meu pai com sua religiosidade hipócrita. Então sua atitude era completamente estúpida, ele não precisa me impressionar, eu já o acho uma pessoa incrível e não é pelo número de garotas com quem ele dorme.

- Mas você tem razão, Dom - Ele continua. - Vou me focar mais no trabalho, não posso perder o que conquistei.

Depois de conversar besteiras com Felipe por um longo tempo, volto para o bar e peço mais um copo de uísque, pego meu celular e navego distraidamente pelas redes sociais, logo percebo que não há nada de interessante, então entro no whatsapp e envio uma mensagem para a Rebeca. Me segurei o dia inteiro para não mandar mensagens e parecer um desesperado, mas a verdade é que estava morrendo de vontade de falar com ela, não só falar, mas muitas outras coisas. Pergunto a ela quanto tempo ainda falta para aguentar a tortura sem poder tê-la, em poucos segundos ela responde, dizendo que faltam três meses e seis dias, sorrio com sua resposta, ela contou até o dias.

Pelo canto de olho percebo Nataniel se aproximando de mim, solto um longo suspiro e digito uma última mensagem para a minha garota, dizendo à ela que tínhamos que conversar sobre nós. Guardo o celular em meu bolso e lanço um olhar pouco amigável para o cara que já está ao meu lado. Ele me encara por um momento, tão sério quanto eu. Quando estou prestes a perguntar o que ele perdeu na minha cara, finalmente ele se manifesta.

- Você ganhou, tá? Não vou competir com você pela Rebeca, é bem nítido quem ela ama - Essas palavras ainda me causam um certo desconforto, porque ainda não a ouvi dizê-las. Então desvio meu olhar me remexendo na banqueta.

- A gente pode ficar numa boa? E fingir que não estávamos brigando por causa de uma mulher? - Ele insiste e eu suspiro irritado.

- E o que foi que te fez mudar de ideia sobre isso? - pergunto, encarando bem os seus olhos.

Ele balança a cabeça e um pequeno sorriso surge em seus lábios, em seguida, ele se senta, acenando para o barman e pedindo uma dose de tequila. Bem a cara dele.

- Tive uma longa conversa inspiradora com uma certa garota, ela me disse algumas coisas. - sua expressão é enigmática, mas decido não insistir em uma explicação, não me interessa de qualquer maneira.

- Sei que tenho sido meio babaca desde que namorei a Valéria - murmuro e desvio o olhar. Talvez a bebida já esteja me fazendo falar besteiras. - Sinto muito por isso.

- Sobre isso... - Ele começa, parecendo muito hesitante, franzo o cenho e me viro para ele. - Ela tem sido muito insistente em que eu o convença a ouvi-la.

Suspiro, essa garota está realmente passando da porra do limite. Eu sei que Nataniel e ela sempre foram muito amigos, então não é uma supresa que eles ainda troquem mensagens, mas usá-lo como pombo correio é quase infantil.

- Pois então diga à ela que vá se foder - respondo secamente.

- Você sabe muito bem que sua mãe a fez se afastar, ela não foi embora porque quis - Ele tenta argumentar. Sempre defendendo sua amiga.

Suspiro, levando mais uma vez o copo à boca. Eu sempre soube que minha mãe a afastou de mim, ela sempre fez questão de me lembrar de que fez isso para o meu próprio bem. O problema é que Valéria sequer se despediu de mim quando se mudou para o Canadá, sofri pra caralho com sua ausência, nem minhas mensagens ela respondia. E eu nunca soube o que exatamente Helena fez para afastá-la de mim, qual foi a sua chantagem é uma resposta que nunca tive. E esse é o único motivo que lá no fundo, muito profundamente, me faz cogitar ouvir o que Valéria tem a dizer. Talvez assim eu obtenha a resposta que tanto me intrigou nesse último ano desde que fomos separados. Mas eu não sei se estou preparado para falar com ela novamente. E nem para como a Rebeca pode reagir a isso.

ConsequênciasWhere stories live. Discover now