Capítulo IX

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Dominic


Fiquei a noite inteira pensando no quão filho da puta eu sou, quando lembro da expressão daquela garota no momento em que eu a rejeitei, tudo o que consigo sentir é raiva de mim mesmo. Não tive nem a decência de falar de uma forma um pouco menos grossa e direta. E ainda tem fato de tê-la trato com indiferença por causa da sua curiosidade irritante. Ela deve ter me achado um grosso.

- Ei Dom! - A voz irritante do Felipe me tira do transe. - Uísque?

- Valeu - balanço a cabeça concordando e volto a fitar o chão, tão sujo quanto todo o resto da casa dele, me pergunto se os seus móveis alguma vez viram um pano. Não entendo a razão para ele não contratar uma empregada.

Ele se aproxima e me entrega o copo com o líquido âmbar, logo em seguida se joga ao meu lado no sofá, passando a mão direita em seus cabelos encaracolados, enquanto a esquerda segura a garrafa de uísque, que em seguida vira em sua boca sem cerimônia. Felipe bebe como se fosse água. Viro o copo de uma vez, sentindo o líquido amargo queimar minha garganta e todo o trajeto até o meu estômago.

- O que tá rolando?

- Nada. - resmungo enquanto procuro desesperadamente pelo maço de cigarro em meu bolso, ultimamente com tanto estresse por causa dos meus pais, tenho fumado mais que o de costume.

- Qual é? Tá com cara de idiota e não ouve nada do que eu falo. - Ele abre um sorriso presunçoso. - Tá apaixonado, babaca?

- Não diz isso nem de brincadeira. - Esfrego a mão no rosto, me sentindo irritado. - É só que...

- Que...?

- Eu dei um fora em uma garota hoje. - Não sei bem o que dizer e nem porquê isso me incomoda tanto.

- E daí? Você faz isso direto. - Felipe de repente, balança a cabeça rindo. - Já sei, ela é gostosa e você se arrependeu.

- Sim... quero dizer, não! - suspiro. - Não é isso, droga! É que a expressão dela, sei lá, não queria ter magoado ela.

Que merda eu estou fazendo? Estou parecendo um daqueles retardados apaixonados que ficam pedindo conselho amoroso para os amigos. Eu nem sequer sinto nada pela garota. Isso não deveria estar me incomodando, de maneira nenhuma. Tenho problemas demais para me preocupar com os sentimentos de alguém. A última vez que me apaixonei foi... bem, completamente desastroso.

- Ah puta que pariu Dominic, agora vai pedir desculpa por não querer ficar com uma mulher? - Felipe parece indignado, não esperava que ele fosse entender, de qualquer maneira. A única coisa que ele saber fazer é tratar as garotas como se fossem um pedaço de carne no açougue. Um completo imbecil, não me admira que não tenha uma namorada.

- Eu sei lá. - suspiro, colocando meus cotovelos sobre os joelhos, enquanto minhas mãos passeiam nervosamente pelos meus cabelos.

- Não respondeu minha pergunta, ela é gostosa? - Arqueia a sobrancelha, um sorriso malicioso perdura em seus lábios.

Pondero por um momento, buscando em minha memória os mínimos detalhes sobre seu corpo, então quando me lembro das delicadas curvas de sua cintura e de como o seu traseiro parece grande e arrebitado naquela saia do uniforme, tenho a certeza da minha resposta.

- Merda, ela é. - constato, relutante em admitir.

- Então por que só não transa com ela, sem compromisso? Como sempre faz com as outras garotas. - sugere, como se fosse a coisa mais simples do mundo.

- Você sabe muito bem o tipo de garota com quem fico, a Rebeca não é assim. E segundo que duvido que ela aceitaria isso.

- A grande questão é: Você quer transar com ela?

- Vai se foder. - jogo uma almofada em seu rosto, que levanta tanto pó que parece ter estado em um porão durante trinta anos.

A campainha toca e ele se levanta para atender, me salvando de ter que responder sua pergunta estúpida e intrometida. Merda, por que ele tinha que perguntar isso? Agora vai foder com a minha cabeça e me fazer questionar se isso é uma coisa que eu quero. Não tenho a intenção de ser o responsável por quebrar nenhum coração, alimentar as esperanças dela é a última coisa que desejo fazer. Não importa o quão linda ela seja, ou o quanto seus longos cabelos castanhos balançam com o movimento delicado do seu quadril. Droga, para onde diabos a minha mente está me levando?

- E aí, cara? - Nathaniel desliza a palma de sua mão sobre a minha, em seguida cerramos os punhos e batemos um contra o outro fracamente. Então se senta no outro sofá, de frente para nós.

- Como você está? - indago me referindo ao fato de ele ter levado um tremendo fora da garota que gosta.

- Estou muito bem, tenho uma maravilhosa companhia agora. - desdenha, apontando para a latinha de cerveja que trouxe consigo. Ele pode até tentar, mas é péssimo em disfarça o quanto está mal.

- Ainda bem que nenhuma garota entra aqui. - Felipe proclama com um sorrisinho vitorioso, apontando em direção ao seu próprio coração.

- Me lembre de esfregar essas palavras na sua cara quando isso acontecer., principalmente se for aquela garota. - lanço-lhe uma piscadela.

Ele me devolve de forma muito educada, o seu dedo do meio e lança novamente em mim a almofada imunda.

- E aquelas tatuagens que você jurou que seria a primeira coisa que faria quando se livrasse das garras dos seus pais? - questiona, mudando completamente de assunto, o que só me desperta desconfiança. Normalmente, ele faria um discurso sobre como se apaixonar e namorar é uma coisa terrível. Mas decido não me importar com isso.

Por hoje.

- Eu não mudei de ideia vou fazer essa semana e segundo, eu não me livrei da garra deles.

- Cara, não quero nem imaginar a reação catastrófica dos seus pais, do jeito que são vão considera-lo o próprio anticristo. - Nathaniel diz.

- Já consigo imaginar ele dizendo: "Como você irá assumir meus negócios com a pele cheia de desenhos satânicos?" ou algo como: "Que tipo de exemplo você está dando para sua irmã?" - Felipe força a voz tentando imitar meu pai. O que me arranca um sorriso involuntário.

Um dos motivos para eu ser praticamente expulso de casa foi o fato de eu não concordar com algumas regras absurdas dos meus pais. Eles queriam enfiar a todo custo na minha cabeça toda essa estupidez religiosa deles.

Meu celular vibra no bolso e coincidentemente, o nome na tela é mãe.

"Jantar às 20:00 no sábado, seu pai quer falar sobre o seu futuro, não traga aquela garota. Beijos amo você filho."

Suspiro pesadamente, pelo menos tenho a semana inteira para me preparar psicologicamente para suportar meu pai sem desrespeitá-lo. Não faço questão de respondê-la, ela sabe que irei. Sempre vou, se eu sequer ousar não comparecer quando eles querem perco o apartamento, meu carro e tudo que me deram. Essa é uma motivação mais que suficiente para me fazer querer ser independente da influência e do dinheiro deles. Termino a noite bebendo mais do que deveria, o que acaba me obrigando a dormir na casa do Felipe. O sono não veio e tudo que restou da escuridão silenciosa foi a minha insônia e as pequenas gotas de chuva lá fora.



Um capítulo curto para mostrar o ponto de vista do Nick. O que acharam de descobrir um pouquinho mais sobre sua vida e seus pensamentos?

O livro não vai ser narrado pelo ponto de vista dele, exceto em alguns momentos específicos da narrativa.

Beijinhos. ♡

ConsequênciasWhere stories live. Discover now