Parte II

3K 132 17
                                    

II

Marcos chegou com Alicia na casa dela e ajudou a entrar. A enfermeira estava sentada no sofá com os senhores Rodolfo e Rosana, e pararam de conversar quando Marcos entrou com Alicia no colo e a colocou no sofá. Marcos cumprimentou os pais de Alicia com um movimento de cabeça e depois saiu lançando um olhar assustador para a garota.

            A enfermeira reparou no comportamento da menina e achou que deveria se ausentar por alguns minutos.

- Com licença, vou ao banheiro.

Os pais de Alicia ficaram olhando a filha enquanto ela permanecia com uma cara de total infelicidade.

- Algum problema, querida? – perguntou sua mãe.

- Porque vocês... porque não me co-contaram antes?... – gaguejou ela, segurando as lágrimas para o final, mas não conseguiu.

- Porque está chorando filhinha? – seu pai levantou e foi sentar junto a ela, e foi que reparou mais de perto o que a filha segurava no colo. Levou um choque e pegou o fichário dela sem nenhuma dificuldade. – De onde pegou isso?

            A senhora Rosana também compreendeu o que era aquilo e deixou um gemido de lamentação escapar da boca.

- Eu vi os senhores saindo daquele orfanato...

- Alicia, minha amada filha não é isso que está pensando... por Deus não é isso! – adiantou sua mãe apavorada.

            Alicia permitiu rir de ironia.

- E o que estou pensando, mamãe?

O pai de Alicia passou a mão nos cabelos dela.

- Sinto muito querida... não queríamos que você soubesse dessa forma.

- Acho que vocês não queriam que eu soubesse nunca, não é mesmo?

- Nós te amamos como filha de sangue, Alicia, e isso não vai mudar agora. Você é nossa filha e somos seus pais...

- Quem foram meus pais?

- Nós somos seus pais! – respondeu ele irritado.

Rosana começou a soluçar.

- Meus pais biológicos.

- P-Porque isso agora? P-Para quê nos t-torturar com isso? – tentou se controlar sua mãe.

- Quero saber quem foram eles! E porque me deixaram naquele orfanato! – respondeu Alicia as lágrimas escorrendo pela face.

 - Nós não chegamos a conhecer seus pais... foram seus avôs quem... quem doou você ao orfanato. – disse seu pai-adotivo.

- E onde meus avôs moram?

- NÃO! – gritou Rosana como se quisesse proibir que aquela conversa continuasse. – JÁ CHEGA, POR FAVOR! – e ela não aguentando saiu correndo dali.

- Alicia... por favor, não faça isso com a gente, pelo amor de Deus... – implorava seu pai pegando em suas mãos. – Se não te contamos foi porque queríamos que pensasse até o dia de sua morte que pertencia a essa família, que seu amor por nós não acabasse ou diminuísse nunca. Sua mãe não teve condições de gerar e quando você entrou na nossa vida foi como se um anjo tivesse nos presenteado com o melhor presente do mundo. Nós te amamos como se fosse nossa filha de verdade! E damos a nossa vida para você ser feliz, acredite, mas se não acreditar agora fará sua mãe, principalmente ela a sofrer um castigo insuportável... pense nisso, Alicia... – e beijou seu rosto, e a deixou no sofá, saindo para consolar sua esposa.

O Inferno de AliciaWhere stories live. Discover now