O primeiro encontro

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Alicia acordou com o despertador na cabeceira da cama e esfregou os olhos. A luz do lado de fora estava bem forte, revelando uma bela manhã ensolarada. Alicia olhou à hora, quinze para as oito.

Levantou e calçou os chinelos. Espreguiçou, mas esforçou para caminhar para o banheiro e tomar um refrescante banho a fim de despertá-la totalmente, e prepará-la para a surpresa daquele dia. A visita de seu pai biológico iria ser impactante, e precisaria se manter boa fisicamente e psicologicamente. Sua vida tinha virado de pernas para o ar, ainda sentia um peso tomar seu peito quando se lembrava de seus pais adotivos... ela prometera que jamais iria ter eles como seus pais adotivos, e sim como seus verdadeiros pais, e que seu pai biológico seria seu pai adotivo. Ela ficava pensando enquanto se despia para entrar no chuveiro ligado, se quando vesse seu pai biológico frente a frente iria despertar algo nela, como muitos diziam, o sangue reconhece seu sangue, tinha medo de trair os seus sentimentos jurado aos seus pais adotivos... ela pensava se o seu pai biológico parecia um pouco com ela. Será que ia se adaptar rápido com ele? E se ele fosse casado? E tivesse outros filhos? Irmãos de parte de pai... nossa ela estava com a mente fervilhando de curiosidade, e ficou ali minutos debaixo da água, imóvel e pensando nessas possibilidades. Ela sentia o coração acelerar nas batidas, e estava nervosa. Pensava se era uma boa ideia abraçar ele no primeiro encontro? Por ele ser um pai é obvio que ele iria querer esse abraço, abraço de pai e filha era normal, ninguém consegue segurar as emoções. E ela ia abraçá-lo se vesse a intenção dele para fazer isso. Saiu do banho enrolada numa toalha e vestiu um short curto jeans e uma camisa de manga comprida que se ajustava bem a sua pele, e calçou os chinelos.

Uma funcionária adentrou no quarto de Alicia trazendo o café da manhã, e saiu seguinte. Alicia sentou diante da mesinha e se serviu de suco de laranja e torradas com geleia de morango. Comeu um pãozinho com manteiga, e uma banda de um mamão com açúcar. Depois Alicia escovou os dentes, e resolveu percorrer os corredores para fazer a digestão, mas torcia para não encontrar Fabrício pelos corredores porque não sabia se ia se conter em não dar um tapa na cara dele se ele viesse com suas provocações. Por sorte não encontrou ele, deveria ter ganhado um castigo por ter sumido na noite anterior. Só de lembrar nele sua vagina parecia sentir a dor...

Alicia desceu as escadas, e deu bom dia a uma funcionária que passava carregando uma cesta de toalhas limpas, e depois caminhou para a porta que dava para o jardim da frente. Ela aspirou o ar do lado de fora com vontade, ficar tanto tempo dentro do quarto estava sufocando-a. Alicia começou a andar pelo jardim, e logo percebeu que um carro preto estacionara um pouco ao lado da calçada, e o motorista, um homem de cabelos um pouco branco, mas que não era idoso e deveria ter uns 45 anos, bem vestido num esporte chique, à primeira vista um sujeito agradável. Ele foi entrando pelo portãozinho aberto e caminhava para a porta de entrada, mas parou e cumprimentou Alicia ao lado, parada.

- Bom dia senhorita.

Alicia sentiu um pouco tímida.

- Bom dia.

- Um lindo dia para aproveitar o jardim, não é?

- É, acho que sim. – ela tava meio que encantada pelo porte físico e o entusiasmo que ele transmitia. Ele parecia um ator de Hollywood, educado e com um ar de ser bem interessante, e sua mente já começou a imaginar certas coisas... afugentou seus pensamentos rapidamente quando ele tocou de leveza as pontas de seus cabelos.

- Seus cabelos lembram muito os dela... - ele disse e Alicia sentiu o coração a disparar, como se tivesse entendido e compreendido que aquele homem a sua frente era o seu...

- O senhor... o senhor é o meu pai? - ela estava ofegante, como se tivesse mergulhado num rio bem gelado. Pela expressão que ela observava do rosto do homem, ela sabia, e não recusou do abraço que ele a deu, envolvendo-a em seus braços.

- Sim Alicia, eu sou seu pai.

Alicia ficou com o rosto de lado, recostado no tórax do homem bem vestido, que agora sabia quem era e de quem lhe pertencia, e depois, timidamente, abraçou-o também. Sentiu as mãos dele acariciar seu rosto, enquanto ela chorava silenciosamente.

- O senhor é meu pai biológico, mas eu amo meu pai de criação e não quero perder o que sinto por ele, o senhor me entende?

O senhor Xavier levantou o queixo de Alicia com o seu dedo indicador, sutilmente, e olhando fixo nos olhos lagrimosos da sua filha, lhe sorriu, abaixando-lhe beijou a sua testa.

- De forma nenhuma quero tirar isso de você, Alicia, eu ainda sou um completo desconhecido para você mesmo você sabendo que é sangue do meu sangue, do meu e de sua mãe biológica.

Alicia piscou duas vezes, e abriu um pouco a boca.

- Minha mãe...

- Você quer saber como tudo aconteceu?

Alicia não respondeu em palavras, mas balançou a cabeça positivamente. O senhor Xavier soltou de Alicia do seu abraço, mas ficou segurando suas mãos com ternura.

- Eu lhe peço que aceite morar comigo, se não gostar poderá voltar para sua antiga casa já que está para completar 18 anos e ela é sua. E nesse meio tempo te direi tudo que sei.

Alicia engoliu seco, se afastou para trás indecisa, e suas mãos se soltou as do seu pai.

- Eu... eu não sei... ainda não sei se quero saber, tenho medo o que posso descobrir.

- Alicia, por favor, dê essa chance para mim, já que sua mãe biológica infelizmente não está mais entre nós, desde o seu nascimento Alicia, ela morreu para te salvar.

- Me salvar? - ela estava mais atordoada. Sua mãe de sangue morrera ao seu nascimento, e agora o único parente de sangue estava a sua frente contando coisas sem sentido, mas que faria todo quando ela decidisse aceitar. Ela sabia que nunca ficaria em paz consigo mesmo se não soubesse como tudo aconteceu... e aquele homem era sua única esperança agora. - Eu vou pensar um pouco sozinha, me desculpe, mas eu preciso entrar.

- Voltarei amanha Alicia nesse mesmo horário, se até lá decidir, eu a levarei comigo, se não, deixarei você seguir seu caminho - ele disse, num tom de voz baixa e triste, se virou e começou a se afastar, quando ouviu a voz dela.

- Pai.

Ele se virou lentamente, com um sorriso nos lábios e abriu os braços, e Alicia não queria mais pensar, queria estar em seus braços e senti-lo em sua vida.

- Eu sempre te amei Alicia, sempre esperei que esse dia chegasse.

- Eu quero também te amar, como o senhor merece, mas preciso de tempo, o senhor me compreende? - ela pedia.

- Pra quem esperou por todos esses anos, ouvir isso da minha filha, eu esperaria toda a eternidade, só pra ouvir dizer que me ama. 


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⏰ Last updated: May 26, 2016 ⏰

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O Inferno de AliciaWhere stories live. Discover now